ABORDAGENS E CONCEPÇÕES TEÓRICO-METODOLOGICAS
DA CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA
Elisandra Carolina Almeida Martins de Souza
Charlei Aparecido da Silva
Resumo
No
presente artigo objetiva-se compreender as abordagens teórico-metodologicas da
Climatologia Geográfica, importante área de conhecimento da Geografia. Busca-se dessa maneira estudar a
distribuição das chuvas da bacia do rio Ivinhema. A bacia encontra-se localizada
em uma faixa de limite zonal, havendo um equilíbrio na atuação dos fluxos
extratropicais e intertropicais com pluviosidade anual variando entre 1500 mm e
1700 mm, podendo chegar até 2000 mm em certos anos. O estudo da pluviosidade na
bacia do rio Ivinhema decorre pelo fato de sua grande importância no Estado de
Mato Grosso do Sul. A região apresenta grande interesse agrícola, com o
predomínio do cultivo de cana-de-açúcar, soja, milho e atividades de
agropecuárias. A bacia congrega grande parte da população sul-mato-grossense e
atualmente passa por uma grande transformação socioambiental decorrente de
atividades ligadas ao setor sucroalcooleiro. Busca-se abordar assim temas
referentes à Climatologia Geográfica e ao ritmo pluvial. Dessa forma, para o
entendimento do regime pluvial da bacia do rio Ivinhema, foram construídos
pluviogramas a partir de técnicas de análise clássicas na Climatologia, esses
possibilitaram a compreensão do regime das chuvas sobre o espaço geográfico
dessa região tão significativa para o Mato Grosso do Sul.
Palavras
chave: Climatologia Geográfica; Bacia do Rio Ivinhema; Regime
Pluvial.
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Resumen
En
el presente artículo tiene como objetivo entender los planteamientos teóricos y
metodológicos de la climatología geográfica, una importante área de conocimiento
de la geografía. El objetivo es, pues, para estudiar la distribución de las
precipitaciones en la cuenca del Ivinhema. La cuenca se encuentra en una gama de
límites de zona, con un equilibrio en los flujos de trabajo y intertropical
extratropical con precipitaciones anuales que oscilan entre los 1500 mm y 1700
mm, llegando hasta los 2000 mm en algunos años. El estudio de las
precipitaciones en la cuenca del río Ivinhema surge debido a su gran importancia
en Mato Grosso do Sul. La región tiene gran interés agrícola, con predominio del
cultivo de la caña de azúcar, soja, maíz y las actividades agrícolas . La cuenca
abarca gran parte de la población del sur de Mato Grosso y está experimentando
una gran transformación debido a las actividades sociales y ambientales
relacionados con los productores de etanol. Por lo tanto se trata de abordar
cuestiones relacionadas con la climatología geográfica y la tasa de
precipitaciones. Por lo tanto, para entender los patrones de las precipitaciones
de la cuenca del río Ivinhema, gráficos precipitaciones se construye a partir de
técnicas de análisis tradicionales de la climatología, estos proporcionan una
comprensión de los patrones de las precipitaciones sobre el área geográfica de
esta región tan importante para el Mato Grosso do Sul.
Palabras clave: Climatología
Geográfica; Ivinhema la Cuenca del Río; régimen de
lluvias.
Abstract
In the present article aims to understand the theoretical and
methodological approaches of Geographical Climatology, an important area of
knowledge of geography. The aim is thus to study the distribution of rainfall in
the basin of Ivinhema. The basin is located in a range of zonal boundary, with a
balance in the work flows and extratropical intertropical with annual rainfall
ranging between 1500 mm and 1700 mm, reaching up to 2000 mm in some years. The
study of rainfall in the river basin Ivinhema arises because of its great
importance in Mato Grosso do Sul The region has great agricultural interest,
with the predominance of the cultivation of sugar cane, soybeans, corn and
agricultural activities . The basin embraces much of the population of South
Mato Grosso and is currently undergoing a major transformation due to social and
environmental activities related to ethanol producers. Thus seeks to address
issues related to Geographical Climatology and rainfall rate. Thus, to
understand the rainfall patterns of river basin Ivinhema, rainfall charts were
constructed from traditional analysis techniques in climatology, these provided
an understanding of the rainfall patterns over the geographical area of this
region as significant for the Mato Grosso do Sul .Parte superior do
formulário
Keywords:
Geographical Climatology; River Basin Ivinhema; Rain
Regime.
1. Introdução
O estudo do tempo e do clima ocupa uma posição central e importante no
amplo campo da ciência ambiental. A Climatologia como área de conhecimento
pertencente à Geografia, procura estabelecer as relações que existem entre os
fenômenos do clima e do tempo com a sociedade, ou seja, possibilita o
entendimento da relação homem-natureza.
Nesse sentido o clima deve ser compreendido, segundo SORRE (1951), como a
série habitual de estados atmosféricos sobre um lugar na sua sucessão habitual,
condição que permite incluir a importância da sociedade nas transformações dos
processos de interação da atmosfera com a superfície terrestre.
As mudanças climáticas ocorridas nos últimos séculos podem ser
evidenciadas com a alteração do regime pluviométrico e aumento da temperatura na
atmosfera em suas camadas mais baixas, a troposfera, em diversos locais do
planeta. Acredita-se que a ação de caráter antrópico e natural tem contribuído
significativamente para que isso aconteça. Camargo (2006) corrobora com essa
afirmação:
Recentemente, temos visto em todo o globo terrestre, possíveis
indícios de alterações climáticas, associadas às novas tendências de aumento de
temperatura e ao surgimento de eventos, às vezes catastróficos. Segundo os dados
ligados a ciência de plantão, a culpa desses fenômenos relaciona-se á ação
humana, que devido ao seu meio técnico cientifico, causaria os graves problemas
que tem atingido a humanidade contemporânea.
A dinâmica atmosférica influência os processos do ambiente,
principalmente na biosfera, hidrosfera e litosfera (AYOADE, 2007). Nesse
processo de interdependência e de inter-relação é necessário compreender o tempo
como uma combinação passageira, efêmera e até mesmo acidental, enquanto o clima
é um conjunto de tendências estáveis que resultam de condições permanentes
durante um longo período, determinado pela Organização Mundial de Meteorologia
(OMM) como de 30 anos por definição (PEDELABORDE, 1970).
Atualmente a temática sobre as mudanças climáticas ocorridas nos últimos
séculos tem ganhado cada vez mais relevância nos estudos do tempo e do clima. Os
fenômenos atmosféricos em que se tem uma maior sensibilidade, tais como a
pluviosidade e a temperatura, são aqueles cujos estudos têm demonstrado as
variações mais significativas e visíveis para a sociedade.
Segundo MENDONÇA et. al. (2003), os efeitos oriundos do aquecimento
global resultariam em previsões alarmantes, como a da elevação média da
temperatura do planeta da ordem de 3,5ºC a 6ºC por volta do ano de 2100, muito
superior àquelas registradas atualmente.
A mudança nesse padrão aponta Mendonça, também para a possível
intensificação de eventos climáticos extremos, como as chuvas muito intensas,
tempestades e inundações, com seus malefícios correlacionados, principalmente
para a sociedade. Fatos que corroboram com os argumentos de Sant’Anna Neto
(1999):
Mesmo considerando uma série de problemas e dificuldades para a
avaliação correta do grau de derivação do regime e distribuição dos fenômenos
atmosféricos sobre a superfície terrestre, há já indícios de que venham
ocorrendo mudanças climáticas.
As maiores dificuldades para a análise geográfica do clima se referem ao
curto segmento temporal das séries históricas e às falhas e as inconsistências
dos dados meteorológicos. Desta forma, a tarefa de elucidação da gênese das
alterações dos elementos do clima, como tem se verificado nas últimas décadas,
fica obviamente prejudicada, pois, a partir da análise de dados das séries
temporais, que não são suficientemente longas, é muito difícil separar as
oscilações climáticas naturais daquelas decorrentes dos processos
antropogênicos, (TARIFA, 1994).
Essas dificuldades são maiores principalmente em escalas meso e macro
devido às generalizações. Nesse sentido ganha cada vez mais importância estudos
climáticos em escalas de detalhe e semi-detalhe, haja vista a possibilidade de
compreensão das alterações dos padrões climáticos, ficando mais evidenciado as
condições causadoras das mudanças e suas conseqüências diretas e indiretas.
Dentre os fatores climáticos, a precipitação envolve um papel fundamental
para o entendimento do clima, ainda mais nas escalas de detalhe e semi-detalhe.
Sabe-se que o padrão de distribuição da precipitação sobre o globo é bastante
complexo devido à influência de vários fatores, tais como a topografia
(elevação), à distância a partir dos grandes corpos hídricos, a direção e
caráter das massas de ar predominantes, dentre outros.
Desse modo, a distribuição sazonal da precipitação é tão importante
quanto o volume total, tanto nas áreas tropicais como nas extratropicais. Em
muitas partes dos trópicos, a precipitação ocorre principalmente durante o verão
e abrangendo metade do ano, sendo outra estação relativamente seca,
principalmente no inverno. As épocas do início, duração e término da estação
chuvosa controlam as atividades agrícolas nos trópicos (AYOADE, 2007). O
conhecimento do padrão pluvial permite, portanto a elaboração de propostas de
planejamentos ambientais regionais que possibilitem uma ordenação melhor do
território em função do ritmo pluvial.
O clima pode ser melhor compreendido e representado pelo estudo e análise
de seus elementos, tais como, a temperatura, a pressão atmosférica, a umidade
relativa, a precipitação, a direção dos ventos e a velocidade dos ventos. Por
sua vez, o estudo da precipitação ou do regime pluvial de uma área pode ser
feito utilizando conceitos da análise rítmica do clima, em grande parte,
utilizando-se de técnicas, conceitos e métodos, como a construção de
pluviogramas.
Nesse caso o interesse do estudo da pluviosidade na bacia do rio Ivinhema
decorre pelo fato de sua grande importância no Estado de Mato Grosso do Sul. A
região apresenta grande interesse agrícola, com o predomínio do cultivo de
cana-de-açúcar e atividades de pecuária. A bacia congrega grande parte da
população sul-mato-grossense e atualmente passa por uma grande transformação
socioambiental decorrente de atividades ligadas ao setor sucroalcooleiro.
Sob o ponto de vista da dinâmica climática, a bacia do rio Ivinhema,
segundo ZAVATINI (1992), encontra-se em uma faixa de limite zonal, havendo um
equilíbrio na atuação dos fluxos extratropicais e intertropicais com
pluviosidade anual variando entre 1500 mm e 1700 mm, podendo chegar até 2000 mm
em certos anos. A presente proposta de dissertação objetiva-se em compreender a
distribuição habitual, temporal e espacial da pluviosidade. Com isso, reúnem-se
condições de compreender melhor a influência do regime de chuvas sobre o espaço
geográfico da região.
1.1 Climatologia e Meteorologia – diferenciações
teóricas
Tanto o clima como o tempo são estudados pela Climatologia e Meteorologia
respectivamente, são duas ciências que possuem a mesma base referencial
científica para suas análises. Ambas se preocupam com a dinâmica da atmosfera,
sendo que a diferença preside muito mais no escopo da
análise.
A Meteorologia está inserida na categoria das ciências físicas, que se
utiliza de métodos matemáticos e físicos para a descrição do clima, e pouco se
atenta às interações que ocorrem na baixa troposfera.
A Climatologia Geográfica, por sua vez, trata de padrões de comportamento
atmosférico e sua relação com a sociedade. Na atmosfera estão inseridos o clima
e o tempo, que ocupam papel importante no amplo campo da ciência ambiental na
atualidade, dessa forma havendo destaque em estudos de Geografia Física. Por sua
vez a Climatologia é uma ciência, além da Geografia, dotada de individualidade,
por permitir a compreensão do clima, e estuda de diversas formas os fenômenos
presentes na atmosfera. Para Sorre (2006, p. 89):
O que se propõe é fixar com nitidez a individualidade da climatologia
e, particularmente, da climatologia entre as disciplinas que estudam a atmosfera
e, dessa forma, chegar a uma definição correta da noção de clima. Os fenômenos
que tem como teatro a atmosfera podem ser estudados sob muitos pontos de
vista.
A individualidade da Climatologia é um elemento das características
geográficas, a qual compreende um conjunto de elementos climáticos
individualmente, expressando uma interdependência entre esses elementos. Esta
particularidade climática é, por sua vez, apenas um elemento das características
geográficas, as quais compreendem, ainda, a forma do terreno, as águas, o mundo
vivo. Essa particularidade apresentada por Sorre nos permite pensar na
Climatologia como uma disciplina que tem por objetivo central estudar a
atmosfera e os fenômenos que ocorrem nela sob diversos
olhares.
A Climatologia pode ser definida como a ciência que faz um estudo
científico do clima. Pertence ao ramo das ciências de observação, que trabalha
com a interação das baixas camadas da atmosfera com a superfície terrestre,
buscando assim, estabelecer e demonstrar a relação existente entre o clima e o
tempo com a sociedade, nesse caso aproximando-se do escopo da
Geografia.
O conceito de clima e de tempo é diferente daquele adotado por Ayoade
(2007, p. 2) que pode ser compreendido como o estado médio da atmosfera numa
dada porção de tempo e em determinado lugar. O clima para o referido autor é a
síntese do tempo num dado lugar durante um período de aproximadamente 30-35
anos. Para a elaboração desta pesquisa cientifica adotam-se as propostas de
Sorre e Pédélaborde, bem como a proposta de Monteiro sobre o ritmo climático.
O tempo e o clima são combinações dos elementos climáticos: temperatura,
pressão, umidade, precipitação, etc. e são essas combinações que caracterizam os
estados da atmosfera. Não podemos analisar o clima sem antes considerarmos o
tempo, pois são as sucessões dos tipos de tempo que caracterizam o clima de um
determinado lugar.
Para Pédélaborde (1970) o tempo deve ser
entendido como uma combinação passageira, efêmera, e, em muitas ocasiões como
uma combinação única e singular da atmosfera. Essa combinação de elementos
ocorre em um determinado lugar e é tão precisa que jamais ocorrerá nas mesmas
condições que ocorreram naquele momento. A combinação ocorre em um lugar
determinado, isto é, num ponto preciso da superfície da terra.
Para Max Sorre o clima é definido como: á série de estados atmosféricos
sobre um lugar na sua sucessão habitual. Sorre leva em consideração a dinâmica
da atmosfera em geral, ao considerar a sucessão dos estados da atmosfera, bem
como seus elementos em particular, pressão, umidade, precipitação, velocidade
dos ventos, etc. Sendo a atmosfera analisada sob a ótica da Climatologia
Dinâmica, que enfatiza os movimentos da atmosfera em várias escalas,
particularmente na circulação geral da atmosfera.
Dessa forma o clima não deve ser considerado como o estado médio da
atmosfera. O estado médio corresponde ao uso de médias aritméticas para
apresentar os fenômenos da atmosfera e também não menciona o movimento geral da
atmosfera.
Por meio da definição proposta por Max Sorre, o clima por sua vez
leva em consideração os tipos de tempo e a sua sucessão. A sucessão de tipos de
tempo nos apresenta a noção de ritmo climático. Mendonça (2007, p.21) apud
Monteiro (1971):
O ritmo climático só poderá ser compreendido através da representação
concomitante dos elementos fundamentais do clima em unidades de tempo
cronológico pelo menos diárias, compatíveis com a representação da circulação
atmosférica regional, geradora dos estados atmosféricos que se sucedem e
constituem o fundamento do ritmo.
A Climatologia Geográfica assim é a base teórica e metodológica para a
realização desta pesquisa. Tais condições permitem incluir a importância da
sociedade nas transformações dos processos de interação da atmosfera com a
superfície terrestre.
1.2 Climatologia Geográfica Brasileira e sua influência teórica
A Climatologia Geográfica Brasileira nas últimas décadas têm seu
referencial teórico fortemente ligado ao paradigma do ritmo climático. Esse
paradigma surge de proposições derivadas da obra de Max Sorre e de Pédélaborde.
Monteiro propõe um novo paradigma de análise haja vista que os estudos clássicos
de climatologia não davam conta da complexidade e da dinâmica exigida nas
análises geográficas.
Essas mudanças ou a crise climatológica que o autor discute, se referem à
rediscussão do paradigma do ritmo climático. Procurando estar relacionada com as
freqüentes e constantes mudanças que ocorrem no clima, em âmbito regional e
mundial.
Os fundamentos climatológicos que estão presentes nas obras de Carlos
Augusto de Figueiredo Monteiro, sendo este o semeador do ritmo climático em
Climatologia no Brasil, têm sua base teórico-metodologica nos fundamentos das
pesquisas de Sorre e Pédélaborde. Segundo Mendonça (2007,
p.20):
Baseando-se na noção de tipos de tempo de Pierre Pédélaborde e nos
questionamentos acerca do ritmo climático de Max Sorre, Monteiro propôs a
abordagem da atmosfera a partir da análise do ritmo dos tipos de tempos, ou
sucessão dos estados atmosféricos, sobre um determinado
lugar.
Por meio da análise rítmica tornou-se possível a obtenção de um estudo
mais dinâmico do clima no país. O principal escopo de análise do método
geográfico deve ser a explicação dos fenômenos climáticos pela compreensão do
método dinâmico dos tipos de tempo. Para Monteiro (1979) apud Zavattini
(2004):
A finalidade precípua do método geográfico é a explicação do fenômeno
climático, se essa compreensão só pode ser obtida pela circulação atmosférica
regional, regulada pelos centros de ação térmicos ou dinâmicos que, embora
distribuídos, zonalmente, na superfície do globo, são células cuja circulação e
conflito sob a ação dos fatores geográficos, se definem na escala regional, esse
objetivo só poderá ser alcançado pelo método dinâmico.
Na Climatologia Dinâmica estão presentes no estudo de seus elementos como
um todo, e não dissociados. Para a realização desse trabalho tomamos como
fundamento as bases epistemológicas da Climatologia
Geográfica.
Contudo a Climatologia é uma ciência de cunho complexo. Discutiremos a seguir os métodos e técnicas que permitem uma análise dos elementos
climáticos, focaremos dessa maneira na análise da pluviosidade como elemento
indissociável do clima.
2.
Metodologia aplicada para analise a tratamento dos dados
pluviais
Para que essa pesquisa fosse consolidada tornou-se necessário dispor
de técnicas e métodos que nos auxiliaram na construção desse contexto,
permitindo-nos chegar aos objetivos ora propostos.
Os princípios da Climatologia Geográfica foram de fundamental
importância, e sem eles não seria possível ter uma análise correta do ponto de
vista da Geografia, especificamente dos dados pluviais da bacia hidrográfica em
estudo. Dessa maneira, o método é importante para que ao término do trabalho se
obtenha êxito nos objetivos ora explicitados. Lakatos e Marconi (1985, p. 81)
nos ensinam que:
O método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com
maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos validos
e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando
as decisões do cientista.
A técnica possui uma relação muito próxima ao método, sendo ela a
responsável pela execução dos objetivos propostos. Cervo; Brevian et.al (2007,
p. 29) propõe a relação que existe entre técnica e método:
[...] a técnica, por sua vez, é a aplicação do plano metodológico e a
forma especial de executar. Comparando pode-se dizer que a relação que existe
entre método e técnica é a mesma que existe entre estratégia e tática. A técnica
está subordinada ao método, sendo sua auxiliar imprescindível.
Nesse sentido com relação ao tratamento e análise dos dados foi utilizado
o modelo teórico-metodológico proposto por Silva (2001), enquanto o estudo do
regime das chuvas foi realizado por meio da aplicação da proposta de Schröder
(1956) adaptada por Silva (2001) que se utiliza de programas estatísticos para
sua elaboração em meio digital, ambos propuseram a técnica de pluviogramas para
o estudo das chuvas em uma região.
A técnica dos pluviogramas nos dá condições de conhecer a
distribuição e o regime das chuvas de uma determinada área, no caso deste
trabalho os pluviogramas permitem analisar o comportamento do regime pluvial da
bacia do rio Ivinhema. Para Schröder (1956, p. 234):
O pluviograma possibilita-nos fazer uma idéia rápida não só da média
anual da chuva, mas também sobre cada ano de observação, ressaltando ainda os
meses mais secos e os mais chuvosos. Permite ainda, classificar com restrição,
um determinado mês como muito seco, apenas seco, apenas úmido ou muito
úmido.
Diante do exposto essa pesquisa visa o estudo do regime pluviométrico
da bacia do rio Ivinhema tendo como base fundamentos da Climatologia Geográfica,
os quais permitem uma explicação mais apropriada aos interesses da
Geografia.
Em sua elaboração
fez-se o uso dos dados pluviais da ANA (Agência Nacional de Águas) presente na
área da pesquisa e de outras instituições de pesquisa disponíveis, como a
Embrapa Agropecuária Oeste. Ao mesmo tempo foram aplicadas técnicas específicas
de Climatologia Geográfica e técnicas estatísticas de softwares como o Excel 2003, permitindo que os dados
pluviais fossem tabulados, ordenados e trabalhados na escala temporal
mensal.
2.1
O levantamento e tratamento dos dados
pluviais
Primeiramente foram selecionados os municípios que pertencem à bacia
do Ivinhema, isso para que, posteriormente, fosse realizado cuidadosamente o
levantamento dos dados pluviais. Foi selecionado o maior número de estações
meteorológicas e de estações pluviométricas da bacia, a intenção foi minimizar a
possibilidade de erro.
Nesse contexto recorreu-se a uma base de dados presentes e
disponíveis na EMPRAPA-CPAO, que disponibiliza as chuvas mensais e decendiais de
58 municípios de Mato Grosso do Sul a partir de dados fornecidos pela ANA.
Dentre esses municípios selecionaram-se os 25 municípios presentes na bacia e 11
municípios do seu entorno, totalizando assim 36
municípios.
No que diz respeito aos municípios do entorno da bacia do
Ivinhema sua escolha é justificada pelo fato apontado por Zavattini (2009) de
que em estudos climatológicos, não se devem respeitar rigorosamente as
fronteiras político-administrativas.
Nesse sentido constatou-se em consulta às séries pluviométricas da
bacia que não são todos os municípios selecionados que possuem dados pluviais.
Os dados foram organizados em 40 planilhas no software Excel 2003, sendo que para cada
respectivo município com dados disponíveis foram construídas planilhas com os
valores mensais dos postos pluviométricos.
Ao término da confecção das planilhas foi constatado que existem anos
com falhas, ou seja, com dados não disponíveis em alguns meses e chegando até
mesmo a obter anos inteiros onde não houve dados disponíveis do registro de
chuvas. É nesse sentido que SILVA (2001, p.71) nos adverte
que:
Todavia, a primeira barreira enfrentada por quem realiza trabalhos
climatológicos é a obtenção de dados meteorológicos de boa qualidade, sem
falhas, e que venham a cobrir a área pesquisada de maneira satisfatória. A
dificuldade deve-se à precariedade das redes coletoras de tais
dados.
As falhas existentes na rede de estações meteorológicas do Estado são
evidentes, fato este destacado por Zavattini (2009, p. 16): “Como a rede de
estações e postos meteorológicos do estado de Mato Grosso do Sul possui sérias
limitações, tanto no que se refere à existência de lacunas nas séries temporais
quanto à sua distribuição espacial.”
2.2 Escolha dos postos pluviais utilizados na
pesquisa
Durante o processo de levantamento de dados e de informações sobre os
postos pluviométricos, identificou-se na bacia do rio Ivinhema a existência de
22 postos. Após análise primária dos dados existentes, da espacialização dos
postos pluviais e da configuração da bacia, optou-se, por escolher àqueles que
fossem efetivamente representativos, priorizando aqueles localizados no
alto-médio-baixo cursos da bacia.
Entre os critérios utilizados nessa escolha está a consistência das
séries de dados, ou seja, aquelas que apresentavam o menor número de falhas, o
que permite uma melhor análise das chuvas da bacia..
A escolha do posto de Sidrolândia, Dourados e Ivinhema se dá também por
sua importância no contexto geográfico da área em estudo. Abaixo segue a tabela
01 com os postos pluviométricos utilizados para a confecção dos
pluviogramas.
Tabela 01:
Postos pluviométricos utilizados na construção dos pluviogramas e preenchimento
da série histórica disponível.
POSTOS PLUVIOMÉTRICOS E SÉRIE HISTÓRICA DISPONÍVEL
|
Alto Curso |
Médio Curso |
Baixo Curso |
Sidrolândia - 2154002 |
Dourados - 2254001 |
Ivinhema – 2253000 |
1974/2004 |
1974/2004 |
1974/1998 |
POSTOS PLUVIOMÉTRICOS UTILIZADOS NO PREENCHIMENTO
DA
SÉRIE HISTÓRICA DISPONÍVEL |
Maracaju – 2155000 |
Glória de Dourados -2354003 |
Anaurilândia - 2255000
|
Agosto e Dezembro/1998
Janeiro e Fevereiro/1999 |
Novembro/1980
Maio e Junho/1990
Fevereiro a Novembro/1992
|
Janeiro a Novembro/1974
Fevereiro a Novembro/1992
Julho a Dezembro/1998
Anos: 1988,1989,1999, 2000,2001,2002,2003e
2004
|
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|
|
Organização: SOUZA, Elisandra Carolina Almeida Martins
(2010)
O período utilizado durante a análise foi de 30 anos, condição aceita
e clássica em estudos como esse, todavia, para o posto de Ivinhema essa condição
não foi possível, pois, sua série histórica é de 24 anos. Nessa circunstância
para o posto de Ivinhema em específico, os anos de 1974/1988/1989/1992/1998
utilizou-se os dados de Anaurilândia.
Acredita-se que esse procedimento não trouxe prejuízos na análise, isso devido à
consistência da série de dados utilizada no preenchimento das
falhas.
2.3 O uso do software Excel Versão 2003 na construção
dos pluviogramas
Durante o processo de construção dos pluviogramas fez-se uso da
proposta metodológica elaborada por Silva (2001). O uso dessa proposta
demonstra-se melhor adaptada aos objetivos da pesquisa, principalmente no que se
refere ao uso de softwares, condição não prevista em Schroder (1956). Nesse contexto utilizou-se o software Excel 2003, o qual se demonstrou de
grande importância como recurso para que as figuras e os cálculos tomassem a
forma apresentada nesse trabalho.
Silva (op.cit.) propõe os intervalos relacionados a seguir, que
permitiram que as chuvas tivessem analise em escala de detalhe. Os sete
intervalos ora propostos foram utilizados como referencia para a construção dos
pluviogramas, como segue na figura 02.

Figura 02: Intervalos utilizados na construção dos
Pluviogramas.
Fonte: SILVA (2001), p. 82.
O pluviograma por sua vez é composto por colunas que demonstram os
anos e seus respectivos meses e aqueles meses onde a chuva atingiu seu valor
máximo. Já para a identificação do mês mais seco foi utilizado um círculo
identificando esse mês. Para os
sete intervalos foram utilizadas as cores magenta, azul escuro, azul claro,
verde escuro, verde claro, amarelo e vermelho, que permitem uma visão mais clara
das contribuições mensais da chuva na área. Também foi elaborado um gráfico de
barras que é responsável por demonstrar o comportamento médio e o resumo da
freqüência das chuvas anuais – conforme se verifica no exemplo apresentado a
seguir denominado de figura 03:

Figura 03: Modelo de Pluviograma.
Organização: SOUZA, Elisandra Carolina Almeida Martins
(2010)
- O ESTUDO DO
REGIME PLUVIAL DA BACIA DO RIO IVINHEMA
O estudo do regime pluvial permite-nos obter o conhecimento do
comportamento da pluviosidade durante períodos mensais, sazonais e anuais. No
caso especifico desta pesquisa o regime pluvial nos dá perfeitas condições de
saber como ocorre à distribuição das chuvas na bacia do rio Ivinhema durante um
período estabelecido. Dessa forma a compreensão do regime pluvial, possibilita
que haja o planejamento das atividades a serem desenvolvidas sobre a bacia em
estudo.
Para o estudo do regime pluvial da bacia foram construídos 3
pluviogramas utilizando-se postos pluviométricos e estações meteorológicas,
esses localizados no alto, médio e baixo cursos da bacia. A seguir apresenta-se
a conclusão obtida a partir de sua análise.
Os pluviogramas passaram por um processo de analise individual e em
conjunto, para que o resultado do estudo do comportamento das chuvas fosse o
mais completo possível. O período de 30 anos, 1974/2003, foi analisado em
escalas anuais, sazonais e mensais.
A partir da análise dos três pluviogramas elaborados para o alto,
médio e baixo cursos, respectivamente, foi possível identificar que o trimestre
mais seco é composto pelos meses de Junho, Julho e Agosto. Enquanto que o
período mais chuvoso corresponde aos trimestres de Janeiro/Fevereiro/Março e
Outubro/Novembro/ Dezembro. Abril e Maio são os dois meses que antecedem o
período de estiagem. Entretanto Maio sempre apresentou valores de chuvas maiores
que Abril, o que é próprio do regime pluvial da área. O mês de Setembro é aquele
em que as chuvas começam a aumentar seus valores e logo após o período chuvoso
tem inicio.
As chuvas de Verão são sempre maiores que as de Primavera. As duas
estações totalizam 68% das chuvas da bacia, com contribuições em seis meses do
ano. Enquanto que o período de Inverno é sempre mais seco que o de Outono. As
chuvas de Outono e Inverno correspondem a apenas 32% das chuvas da
bacia.
Os anos que apresentaram valores abaixo de 1300 mm nos três postos
pluviométricos foram: 1978; 1984; 1985; 1988; 1991; 1994; 1995 e 1999. Não houve
anos idênticos para os três postos em que as chuvas estiveram dentro do padrão
médio. E os anos em que as chuvas ultrapassaram 1500 mm nos três postos foram
somente 1989 e 1979.
Destaca-se o ano de 1985 como aquele mais seco, ou seja, com
pluviosidade reduzida, o que corrobora com Zavattini (2009, p.73) quando afirma
que: “a primeira metade da década de 1980 revelou mais anos chuvosos (1980, 1982
e 1983) que secos (1981) ou de pluviosidade média (1984). Contudo, 1985 já
apresentou uma pluviosidade muito reduzida.” Merece destaque também o ano de
1989 como o mais chuvoso, com pluviosidade acima de 1500 mm durante o período de
análise.
Portanto, o regime pluvial da bacia do rio Ivinhema apresentou chuvas
bem distribuídas. Contudo em alguns casos houve períodos em que ocorreram
excepcionalidades como o período seco de 1985 e as chuvas abundantes de
1989.
Ao final desta pesquisa acredita-se que os objetivos propostos
inicialmente foram sanados e abre-se uma nova perspectiva para que estudos desse
porte na bacia do rio Ivinhema sejam realizados, o que possibilitaria um estudo
climatológico bacia hidrográfica em estudo.
Abaixo segue os três pluviogramas elaborados para o alto, médio e
baixo curso da bacia do Ivinhema.

Pluviograma 01 – Posto de Sidrolândia
Organização: SOUZA, Elisandra Carolina Almeida Martins
(2010)

Pluviograma 02 – Posto de Dourados
Organização: SOUZA, Elisandra Carolina Almeida Martins
(2010)

Pluviograma 02 – Posto de Dourados
Organização: SOUZA, Elisandra Carolina Almeida Martins
(2010)
4.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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