TERRITÓRIOS DA CIDADANIA: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO
E
EFETIVAÇÃO DO TERRITÓRIO CONE SUL – MS
Gilson Carlos Visú
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE
DOURADOS
RESUMO:
Neste artigo tecemos uma proposta de analise inicial de uma Política
Pública, o Programa Territórios da Cidadania, especificamente o Território Cone
Sul (MS). O objetivo é analisar a implantação do programa quanto aos seus
propósitos de desenvolver territorialmente uma porção do espaço
sul-mato-grossense, que compreende oito municípios. Este trabalho introdutório
possibilitara um futuro aprofundamento da implantação desta política que tem o
propósito de alavancar o desenvolvimento socioeconômico a partir da formação de
“engrenagens” territoriais, ou seja, através de ações que envolvam todo o
território pretendido, incluindo campo e cidade e não somente municípios
isolados. O propósito principal ao avançarmos no trabalho, será identificar se
esta Política Pública possibilita ou não a integração e o desenvolvimento de
forma territorial entre os municípios envolvidos.
PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento. Políticas Públicas. Territórios da Cidadania.
ABSTRACT: In this article the goal is to analyze the implementation of the program as their purpose to develop a portion of the territorial space of South Mato Grosso, which
comprises eight counties. This introductory work made possible a future deepening of
the implementation of this policy that aims to boost socioeconomic development
through the formation of
"gears" territorial, that is, through actions
that involve the whole intended, including country and city, not just isolated
cities. The main purpose of the move at
work, this will identify whether or not public policy enables the integration and development in
a territory between the
municipalities involved.
KEYWORDS: Development. Public Policy. Citizenship Territories.
1 – INTRODUÇÃO
O presente
trabalho tem como objetivo básico analisar as ações projetadas e/ou empreendidas
através do Programa Territórios da Cidadania, na região do Cone Sul, de Mato
Grosso do Sul. Implantado pelo Governo Federal, o mencionado Programa tem como
objetivo declarado de suprir as desigualdades regionais, induzindo o
desenvolvimento em regiões com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) e
baixo dinamismo econômico.
Pelas fontes oficiais, o Programa se diferencia
dos demais, por não se limitar ao enfrentamento de problemas específicos com
ações dirigidas. Ao contrário, ele combina uma gama de medidas para reduzir as
desigualdades sociais e promover o desenvolvimento. O programa Territórios da
Cidadania foi lançado oficialmente no dia 25 de fevereiro de 2008 inicialmente
com a missão de suprir 60 territórios em todo o país, estimando um investimento
de R$ 11,3 bilhões no seu primeiro ano de atividades. Em 2009 o número de
territórios atendidos salta para 120 e o os investimentos para R$ 23,5 bilhões.
Já em 2010 permaneceram os 120 territórios e o investimento foi da ordem de R$
27 bilhões.
O programa “Territórios da Cidadania” funciona como uma plataforma de
gerenciamento de políticas públicas, visando à integração da sociedade para
decidirem e discutirem a viabilidade e a urgência das medidas a serem
empregadas. Esta diretriz programática possibilita que a definição dos projetos
seja amplamente discutida pela sociedade, através dos seus Comitês, em
diferentes escalas: municipal, estadual e federal.
Ademais, nos Comitês estão presentes várias
representações sociais potencializando a possibilidade de que os interesses
populares possam ser atendidos. Está extensão aos diversos segmentos sociais,
provavelmente, democratiza as políticas públicas que envolvem o Programa
Territórios da Cidadania, funcionando também como se fosse uma comissão
fiscalizadora dos direcionamentos das políticas e da suas eficácias em relação
aos propósitos destinados.
Para conseguirmos atingir os nossos propósitos de
analisar o Programa Territórios da Cidadania faz-se necessário discorrermos um
pouco sobre conceitos de região e território.
2 – REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO
A noção de
região é popular e bem difundida, no entanto, não possui uma unicidade de
sentido, já que as pessoas podem pensar região da forma que o conceito chegou
até a construção deste significado para elas. Mas na maioria dos casos esta
relacionada ao conceito de espaço, para haver uma região, é preciso de um espaço
físico e as demais características que moldam a região como uma região. Gomes
(2008, pág. 50) afirma que:
“a palavra região
deriva do latin regere, palavra
composta pelo radical reg, que deu
origem a outras palavras como regente, regência, regra et. Regione nos tempos do
Império Romano era a denominação utilizada para designar áreas que, ainda que
dispusessem de uma administração local, estavam subordinadas às regras gerais e
hegemônicas das magistraturas sediadas em Roma”.
A região seria a área de influência de outra área, ou seja, um local
dirigido, dominado pela matriz, a capital, assim a região seria a filial de um
domínio. No caso brasileiro a regionalização do espaço sempre foi desigual, com
uma tendência natural a concentração populacional e de riquezas na costa
atlântica, mais especificamente no sudeste brasileiro.
“Foi nos anos cinqüenta que o regional emergiu como questão,
tornando-se um referencial para se compreender e atuar sobre o território
brasileiro. As desigualdades do desenvolvimento territorial não eram um fato
novo. Novidade era apenas que a preocupação com as diferenças territoriais,
denominadas de desequilíbrios regionais, passaram a ser uma questão de Estado,
norteando discursos e planos governamentais de intervenção num determinado
espaço” (Lencioni, 1989, pág. 120).
A grande desigualdade do espaço brasileiro,
segundo a autora, gerou a preocupação efetiva em promover uma regionalização
mais equitativa, assim a partir dos anos cinqüenta, políticas públicas começaram
a ser formuladas para a expansão, o desenvolvimento do interior do
Brasil.
“A marcha para o oeste no Estado Novo e no
nacional-desenvolvimentismo dos anos 50 foi muito mais um discurso legitimador
do Estado do que uma pratica concreta, limitada a poucas iniciativas
descontínuas no tempo e no espaço, a reboque da dinâmica social espontânea, e
que culminou com a construção de Brasilia, símbolo do poder estatal a ser
estendido por todo o território nacional” (Becker, 1991, pág.
48).
As desigualdades regionais realmente são fatos até hoje, no entanto
aliado à necessidade de sanar estas carências regionais o Estado como gestor de
regiões e territórios, aproveita para sensibilizar e propagar a nação as
políticas que seriam praticadas daquele momento em diante, um exemplo como a
autora citou, é a construção de Brasília, que além de mudar o pólo de controle
político também trouxe um efetivo populacional para o seu entorno com a missão
da própria construção.
Segundo Limonad (2004, pág. 57) “devemos recordar
que a região a despeito de todas as adjetivações que a acompanham e perseguem, é
antes de qualquer coisa uma construção social que atende interesses políticos
precisos, mesmo em se tratando de uma região funcional, ou da região natural”. A
definição das regiões, neste contexto, segue os objetivos pretendidos por um
grupo, que pensam um modelo de planejamento para aquele espaço de acordo com as
necessidades de extração de proveitos do ambiente a ser regionalizado.
A mesma autora (2004, pág. 57 – 58) indaga: “como
estabelecer que uma região econômica, social, natural esteja delimitada por
coordenadas geográficas precisas? Qual o significado de tal ato?”; e segue
justificando: “Ora, tal região é produto do pensamento social, de práticas
hegemônicas e contra-hegemônicas, assim, é uma representação, e parte da
construção social do espaço de uma sociedade”.
Reflexões como estas são muito oportunas para
pensar a regionalização de uma forma mais transparente e sem ilusões de cunho
eleitoreiro. Cano (1998, pág. 23 – 24) faz quatro críticas ao que ele chama de
equívocos e mitos na questão regional:
a) o mito de tornar como paradigma do “desenvolvimento” as regiões
industrializadas como SP, e advogar, para as regiões mais pobres do país, uma
política de industrialização como meio de eliminar o atraso, as disparidades, o
desemprego e o subemprego. A industrialização seria, enfim, o mecanismo redentor
do sofrimento regional. b) a forma com que se tem escamoteado a questão agrária
e o problema das migrações rurais, pela alegação de que “existe muita terra
inculta a desbravar no país” e, portanto, não temos com que nos preocupar com
nosso “excedente populacional”. Bastaria, segundo os arautos da “grandeza
nacional”, encaminhar os migrantes para os vastos “espaços vazios” a serem
desbravados e colonizados. c) o mito de que a “felicidade” (o desenvolvimento)
de SP se deve à “desgraça” (o subdesenvolvimento) da periferia nacional. Ou
seja: o de que a economia de SP se desenvolveu e continua se expandindo, em boa
parte, à custa do resto do Brasil, de quem extrai excedente. d) o equívoco de se
pensar que, apenas através de um sistema de planejamento regional, se possa
obter a panacéia para o atraso
regional.
O grande contraste regional brasileiro é exibido
a todos a pujança e o progresso do estado de São Paulo em detrimento da grande
maioria dos outros estados. Assim, São Paulo desponta como um espelho de
desenvolvimento para as regiões precárias quanto ao progresso. Nas críticas de
Cano nos é possibilitada uma visão das comparações populares do desenvolvimento,
suas causas, seus efeitos, suas vantagens, desvantagens e mesmo os motivos de
sucesso ou fracasso das regiões.
Para Haesbaert (2005, pág. 23) a “regionalização não é apenas o produto
do exercício acadêmico de identificação de “regiões” como recortes coerentes,
mas um processo social complexo de formação de contextos regionais”. O objetivo
não é somente a critica acadêmica de determinação da região de acordo com a
cultura, a identidade e a topografia, vai além da reflexão do juízo de valor, pois se
trata de uma questão realmente séria, que carece de ser pensada sistematicamente
para que soluções possam ser criadas para a elaboração de planos
desenvolvimentistas coerentes, que vão além da propaganda oficial de
governo.
“Pensar em
região, portanto, é pensar, antes de tudo, nos processos de regionalização, seja
priorizando o campo epistemológico, como um procedimento metodológico (...),
seja na esfera ontológica, como processo efetivamente vivido e produzido pelos
grupos sociais” afirma Haesbaert (2005b, pág. 4). A visão de região deve ser
ampla e não tendencioso para alguns interesses de frações da sociedade local ou
simplesmente como demarcação de espaços.
“Uma regionalização e uma análise regional que se prezem deve
envolver, sem dúvida, pelo menos, estas três grandes problemáticas: o aumento
das desigualdades (sócio-econômicas) e a precarização da “inclusão”
sócio-territorial, a constante (re)produção e/ou (re)invenção das diferenças
culturais (e das identidades), a crise de gestão (ou de “governança”),
principalmente através da reconfiguração do poder do Estado e dos novos
movimentos sociais, e a crescente importância da chamada questão ambiental”
(Haesbaert, 2005b, pág. 12).
Uma reorganização do espaço regional a partir destas direções,
seguramente teria êxito e um motivo mais abrangente do que pensar a região
apenas por dados numéricos. A base numérica é imprescindível sim, não negamos,
no entanto a complexidade regional é muito maior do que os planos meramente
racionais podem dar conta de solucionar problemas e sanar desigualdades
territoriais. Um exemplo é a nossa Região Sul de Mato Grosso do Sul, onde se
concentram uma grande diversidade cultural de povos, tanto de migrantes vindos
do Sul do país, outros do Paraguai e os próprios nativos que já ocupavam este
espaço há séculos. Políticas públicas sérias devem levar em consideração o
sócio-político-cultural configurados no ambiente espaço-temporal do
local.
3 – TERRITÓRIO
Da mesma forma que temos uma pré-noção de região,
temos também de território, que parece nos dar a idéia de propriedade de alguém,
de demarcação, de limites impostos ao que está fora ou auto-afirmação para o que
está dentro. Segundo Haesbaert (2009, pág. 43) “territorium em latin, é derivada
diretamente do vocábulo latino terra, e era utilizada pelo sistema jurídico
romano dentro do chamado jus
terrendi, (...) como o pedaço de terra apropriado, dentro dos limites de uma determinada jurisdição
político-administrativa”. Esta definição etimológica coincide um pouco com a
noção popularesca de território.
Para Becker (1991, pág. 48) “historicamente, a
posse e o controle do território sustentaram a construção do Estado e é este que
passa a produzir o seu próprio espaço, social e político, racional e técnico,
instrumentalizando o território”. O território precede o Estado, ou seja, antes
de se institucionalizar a formação do Estado, o território já está pronto. A
razão da existência do Estado é o território.
Na conceitualização de território, Haesbaert
(2009, pág. 40) apresenta uma síntese de variadas noções de território:
“- política ou jurídico-política: (...) a mais difundida, onde o
território é visto como um espaço delimitado e controlado, através do qual se
exerce um determinado poder, na maioria da vezes, mas não exclusivamente,
relacionado ao poder político do Estado; - cultural ou simbólico-cultural: (...)
prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto,
sobretudo, como o produto de apropriação/valorização simbólica de um grupo em
relação ao seu espaço vivido; - econômica: (...) muito menos difundida, enfatiza
a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos
e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho,
como produto da divisão “territorial” do trabalho”.
Esta conceitualização nos fornece uma visão mais
ampla de território, pois não podemos nos pautar apenas na concepção de
território como algo físico, como o espaço que estamos acostumados a imaginar. É
fundamental pensarmos o contexto integrado, espaço-político-cultural.
Outra conceitualização que coincide com estas que
vimos é a de Egler (1995, pág. 215) que diz que: “o conceito de território
pressupõe a existência de relações de poder, sejam elas definidas por relações
jurídicas, políticas ou econômicas”.
Rogério Haesbaert (2009, p. 37) afirma que há uma
tendência em “enfatizar a materialidade do território, em suas múltiplas
dimensões (que deve[ria] incluir a interação sociedade-natureza)”. Esta
tendência seria a de olhar para o território como um espaço a ser conquistado e
ou delimitado, sem considerar os aspectos sociais que compõe, que são na verdade
os elementos fundamentais para que haja uma territorialização do
espaço.
Haesbaert (2009, p. 40) também apresenta três
noções importantes de território, que são de ordem política; “a mais difundida,
onde o território é visto como um espaço delimitado e controlado, através do
qual se exerce um determinado poder”; de ordem cultural, que “prioriza a
dimensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobretudo,
como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao
seu espaço vivido”, e por último a noção econômica de território, sendo “a menos
difundida, enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território
como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na
relação capital-trabalho, como produto da divisão “territorial” do trabalho”.
Estas noções de território nos possibilitam pensar a complexidade que agrupa o
território, já que ele não é somente físico, mas um misto de interferências que
modela a sua característica enquanto território, ou seja, não basta aderirmos
apenas a uma definição, ao contrário, devemos considerar os variados aspectos
que direcionam o conceito de território, tornando-se uma tarefa um tanto
complexa a estipulação ou delimitação de um
território.
No entanto, vamos nos fixar no direcionamento que
Milton Santos e Maria Laura Silveira (2008, p. 247) dão para a estipulação
física de um território, onde dizem: “devemos levar em conta a interdependência
e a inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso,
que inclui a ação humana, isto é, trabalho e a política”. Esta união entre a
natureza e a ação humana nos faz pensar na tarefa que tem o Programa Territórios
da Cidadania, uma Política Pública que tem esta missão de integrar recursos
naturais e trabalho considerando o vasto conceito de território, que como vimos
anteriormente é moldado por elementos políticos, econômicos e sociais. Estes
autores ainda ressaltam que:
defrontamo-nos com o território vivo, vivendo.
Nele devemos considerar os fixos, isto é, o que é imóvel, e os fluxos, isto é, o
que é móvel. Os fixos são geralmente, constituintes da ordem pública ou social,
enquanto os fluxos são formados por elementos públicos e privados (Santos, M;
Silveira, M. L., p. 247).
Os autores usam no trecho acima a teoria dos fixos e fluxos que Milton
Santos já havia formulado. E para a análise do nosso objeto de pesquisa
acreditamos que este direcionamento de território será satisfatório para
analisarmos se determinado ação ou projeto, possui característica territorial,
ou seja, se envolve realmente tanto os fixos, quanto os fluxos do espaço
delimitado.
4 – TERRITÓRIOS DA CIDADANIA
O critério utilizado pelo Governo para a escolha
destes “territórios” é quanto ao desenvolvimento social de cada região, como já
mencionamos anteriormente, conforme o índice de desenvolvimento humano (IDH) e
de acordo a economia dos territórios. Há uma busca racional por necessidades de
desenvolvimento, isto diferencia o “Territórios da Cidadania” de outras
políticas públicas. Assim a sociedade começa a enxergar nesta política um
compromisso com o crescimento econômico, a exemplo disso temos uma citação da
imprensa sul-matogrossense que afirma:
O Territórios da Cidadania representa um novo olhar sobre políticas
sociais e fortalece a visão de promoção integrada de políticas públicas. O
programa parte de experiências exitosas já existentes no Governo Federal
voltadas para a promoção do desenvolvimento regional sustentável.
O Território escolhido para a analisarmos é o
“Cone Sul”, na porção austral de Mato Grosso do Sul, está delimitação
possibilita um dinamismo entre o levantamento teórico e a pesquisa de campo,
assim este território é constituído
(...) pelos municípios de Eldorado, Iguatemi,
Itaquiraí, Japorã, Mundo Novo, Naviraí, Sete Quedas e Tacuru. A população total
do território é de 128.662 habitantes, dos quais 35.037 vivem na área rural, o
que corresponde a 27,23% do total. Possui 2.197 agricultores familiares, 3.250
famílias assentadas e 6 terras indígenas. Seu IDH médio é 0,73. (comunidades.mda.gov.br/) Acesso em
18/10/2010
Atualmente o programa
envolve 22 Ministérios surgindo, portanto, como uma das maiores políticas
públicas inter-setorial já apresentada no Brasil. O conjunto de ações dos
Ministérios englobados nos Territórios da Cidadania visa à melhoria da qualidade
de vida de milhões de brasileiros e nas palavras de Guilherme Cassel, ministro
do Desenvolvimento Agrário:
Territórios da Cidadania é um esforço concentrado
do Governo Federal para superar de vez a pobreza no meio rural com um
planejamento que alia visão territorial e eficiência nos investimentos públicos.
O País está crescendo e já era hora de fazermos um programa desta magnitude para
que ele cresça para todos. (Fonte: www.mda.gov.br) Acesso em
18/10/2010.
A estrutura do Programa é composta pelos Comitês
que integram uma parceria para a execução e planejamento das ações a serem
implantadas nos territórios. São eles o Comitê Gestor Nacional, o Comitê de
Articulação Estadual e o Colegiado Territorial.
O Comitê Gestor Nacional se responsabiliza por
reunir os Ministérios e órgãos governamentais parceiros, e por definir os
Territórios atendidos, aprovar diretrizes, organizar ações federais e avaliar o
Programa.
Ao Comitê de Articulação Estadual, cabe apoiar a
organização dos Territórios, fomentar a articulação e a integração de políticas
públicas e acompanhar as execuções das ações do Programa. Este Comitê é composto
pelos órgãos federais que atuam em cada Unidade da Federação, por
órgãos estaduais indicados pelo Governo do Estado e por representantes das
prefeituras dos Territórios.
Já o Colegiado Territorial é composto por
representantes governamentais e pela sociedade civil. A sua função é articular
discussões sobre o planejamento e a execução de ações para o desenvolvimento do
Território. Atua identificando as carências do Território, promovendo a
integração de esforços e discute alternativas para o desenvolvimento do
Território.
Atualmente os investimentos no Programa
deslancharam e vem demonstrando uma estrutura aparentemente sólida, esta
afirmação fazemos baseado em um balanço do próprio governo em relação ao
programa. Temos a avaliação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme
Cassel, na qual ele destaca que:
(...) em 2008 e 2009, o Programa destinou R$ 31,1 bilhões para mais
12 mil obras e serviços nos Territórios da Cidadania. O valor corresponde à
execução de 82,5% do total de recursos disponibilizado (R$ 37,7 bilhões). “É um
percentual extremamente elevado para programas do Governo Federal”, afirmou
Cassel. (Disponível em:
http://www.incra.gov.br Acesso em
18/10/2010)
O ministro salientou que as ações do Território da Cidadania abrangem
42,4 milhões de pessoas, das quais 12,8 milhões (45,3%) vivem no meio rural. Ao
referir-se ao Programa, o Presidente Lula (PT, gestão 2006-2010), salientou
que:
(...) o Territórios da Cidadania vai ainda passar
dois, três, quatro anos, vai ter um tempo em que ele vai se aperfeiçoando cada
vez mais. E nós queremos fazer de tal organização que quem quer que seja que
ganhe a Presidência da República – e eu espero que seja quem eu estou pensando
que será – quem quer que seja, não terá coragem de mudar. Essa é a grandeza do
envolvimento da sociedade na produção e na execução das políticas sociais: é
você enraizar a sociedade para participar, que ninguém vai conseguir tirar.
(Disponível em: www.imprensa.planalto.gov.br
Acesso em 18/10/2010).
Trata-se, portanto, de um Programa de grande
magnitude de investimentos e que se espera seja uma política pública que
ultrapasse as fronteiras de governos e se torne permanente. Todavia, como
analisa Poulantzas (1995), o estabelecimento das políticas é resultante das
contradições de classe inseridas no interior do próprio Estado. Isso significa
que nada garante a execução de políticas
permanentes.
5 – O TERRITÓRIO CONE-SUL
A porção
austral de Mato Grosso do Sul - que compreende o Território Cone-Sul - esta
localizada numa área de fronteiras entre o Paraguai e o Estado do Paraná, tendo
o rio Paraná como limite entre o Brasil e o
Paraguai.
Esta região desde o seu processo de colonização e
a formação das cidades – meados do século XX - ocorreu de maneira totalmente
extrativista, atraindo colonizadores para a extração de madeira. Quando termina
o ciclo da madeira no limiar das décadas de 70 e 80 na região que corresponde ao
espaço do “Território Cone Sul”, a agricultura é impulsionada e passa a ter
papel importante na cultura regional, juntamente com a pecuária. Mas, no
entanto, as propriedades existentes são grandes latifúndios, o que resulta em um
acentuado desnível de distribuição de renda e capital.
Neste contexto, uma parcela significativa da sociedade regional, como a
indígena, é marginalizada, ficando submetida a precárias condições de
sobrevivência, graças às ofertas de sub-trabalho no campo, ora como funcionários
de latifundiários, ora como subempregados de usinas de cana-de-açúcar.
Dentre os municípios integrantes do Território Cone-Sul, temos Japorã,
onde 50% dos alunos das escolas públicas são indígenas. Esses alunos já iniciam
o processo de aprendizagem em uma segunda língua.
É neste contexto que a atuação governamental no Cone Sul se reveste de
importância. A necessidade de
“desenvolver” o Território é inquestionável, dentre outros motivos porque a
sociedade se torna vítima de um corredor internacional de trafico, estando à
mercê de toda problemática social que o trafico envolve as pessoas. Obviamente
que não se desconhece os pressupostos ideológicos implícitos na questão do
desenvolvimento.
A problemática social existente nos Territórios – no Cone Sul, em
particular - são conseqüências de um mercado capitalista faminto por uma ótica
de dominação e imposição do consumo como realização das necessidades humanas.
Nesse sentido, Programas como o "Territórios da Cidadania", dosaria a força
gigantesca do sistema capitalista sobre uma classe dominada? O Estado cumpre seu
papel com um programa desta dimensão? Até que ponto supriu realmente as
necessidades de desenvolvimento? O que é o desenvolvimento para o Território
Cone Sul?
São diversas indagações que afloram quando passamos analisar a
envergadura do Programa na região, isto porque quando tratamos de
desenvolvimento ele não ocorre de maneira homogênea em todos os espaços onde ele
é proposto, mas obedece a uma dinâmica social-econômico-político integradora: “O
crescimento não surge em toda a parte ao mesmo tempo; manifesta-se com
intensidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento; propaga-se segundo
vias diferentes e com efeitos finais variáveis, no conjunto da economia.”
(Perroux 1975, p.98).
Para o vice-prefeito de Naviraí e Gerente de
Desenvolvimento Econômico e Turismo do município, Ronaldo Botelho (PMDB), quando
apenas uma das cidades se desenvolve há um processo de atração de pessoas de
outros lugares. Assim ele justifica a necessidade do desenvolvimento do conjunto
de municípios formando um território da seguinte forma: “Migração de coisas boas e coisas ruins.
Portanto, é necessário que se desenvolvam todos os municípios do Cone Sul.”
(www.navirai.ms.gov.br/node/1159 Acesso em
18/10/2010).
É neste contexto que as cidades de Naviraí,
Itaquiraí, Eldorado, Mundo Novo, Iguatemi, Japorã, Tacuru e Sete Quedas,
integrantes do Encontro do Território da Cidadania do Cone-Sul, estão sendo
beneficiados com a integração de ações de ministérios e órgãos do governo
federal que estimulam o desenvolvimento regional e asseguram direitos
sociais.
O processo de organização territorial destes
municípios teve início em 2003, mais precisamente no dia 14 de julho, quando a
partir de então o desenvolvimento territorial da agricultura e pecuária passou a
não ser mais por município e sim regional; com a proposta de implantação
conjunta de as ações.
Ademais, ainda segundo Ronaldo
Botelho:
“O alvo das ações decididas em conjunto por esses
municípios é o agricultor familiar e o pequeno produtor rural como um todo. São
elaborados os projetos onde as prefeituras são as proponentes e o público alvo
recebe o benefício de acordo com a ação programada”. (www.navirai.ms.gov.br/node/1159 Acesso em
18/10/2010).
A intenção de “desenvolvimento” através da
formação de territórios agrupados por uma semelhança econômico-social nos
desperta o interesse em avaliarmos a eficácia de políticas públicas desta
magnitude, que visam inferir nas características geográficas brasileira,
promovendo a possibilidade de crescimento econômico e aumento da qualidade de
vida dos cidadãos.
No percurso desta pesquisa pretendemos aprofundar
estes conceitos para analisarmos o “Território Cone Sul de Mato Grosso do
Sul”.
O estudo do Programa Territórios da Cidadania se
reveste de importância para que possamos construir uma análise de suas
diretrizes, os seus propósitos principais, verificando se os mesmos são
realmente atingidos. Até que ponto um programa de desenvolvimento, promove
realmente o índice de desenvolvimento humano (IDH)? Não se perdem os objetivos
na própria política? Aspectos como esses nos motivam a pesquisar, levantar dados
e refletir acerca dos seus pressupostos, seus instrumentos de ação e suas
contradições.
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo apresentamos o Programa Territórios
da Cidadania, uma Política Pública de cunho territorial, com a intenção de
iniciar uma pesquisa sobre este assunto. Trata-se de um trabalho a ser
desenvolvido com pesquisas de campo, análises de dados, entrevistas e um
levantamento bibliográfico que dê suporte teórico para elucidar e emitir critica
aos desdobramentos do Território Cone-Sul.
Inicialmente visualizamos a possibilidade de
comprovar a viabilidade de uma Política Pública que parece ser de grande vulto
para as porções regionais que compõem os territórios delimitados pelo Governo
Federal no Programa em questão.
O percebemos nesta etapa inicial é uma
preocupação de direcionar Políticas Públicas que fomentem desenvolvimento não
apenas para alguns pólos regionais, mas para um território a ser moldado por
estas ações que integra a natureza e a sociedade local. A partir desta
integração o território seria auto-sustentável, ou seja, a característica de
envolvimento territorial permitiria um desenvolvimento que geraria mais riquezas
pra a área delimitada.
O entrelaçamento das dinâmicas territoriais
possivelmente elevaria o IDH do território em questão, no nosso caso, do
Território Cone-Sul. Por isso a proposta do presente trabalho foi a de
apresentar e comunicar a necessidade desta pesquisa para termos uma constatação
futura da validade ou não de uma Política Pública desta
amplitude.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
BECKER, Bertha. K.. Modernidade
e gestão do território no Brasil: da integração nacional à integração
competitiva. IN: Revista de Estudos Regionais e Urbanos, Ano XI. São
Paulo, 1991.
BRASIL. Prefeitura Municipal de Naviraí – MS.
Disponível em: http://www.navirai.ms.gov.br/node/1159 Acesso em
18/10/2010.
BRASIL. Discurso do Presidente da República.
Palácio do Planalto, 25 de
fevereiro de 2008. Disponível em:
www.territoriosdacidadania.gov.br/ Acesso em
18/10/2010.
CANO, Wilson. Desequilíbrios Regionais e Concentração
Industrial no Brasil. São Paulo: Ed. da Unicamp,
1998.
LIMONAD, Ester. Brasil século XXI, regionalizar para que?
Para quem? In LIMONAD, Ester. HAESBAERT, Rogério e MOREIRA, Ruy (Orgs.).
Brasil Século XXI por uma nova regionalização – agentes, processos e
escalas. Max Lomonad. São Paulo, 2004. pp.54 - 66.
GOMES, Paulo C. da Costa. O Conceito de Região e
Sua Discussão. IN: CASTRO, Iná. Elias de. Et al (org.). Geografia: Conceitos e Temas. Bertrand
Brasil, 11ª ed. Rio de Janeiro, 2008, pág. 49 – 76.
ITAPORÃ – MS. http://www.itaporahoje.com/?noticia=36360/territorios-da-cidadania-modernizam-producao-de-goiaba-em-itapora
Acesso em 18/10/2010.
LENCIONI, Sandra. A Mudança do Discurso Desenvolvimentista
Face a Crise da Economia. IN: Anais. III Encontro da ANPUR. Vol. 1. Águas de
São Pedro, 1989.
MATO GROSSO DO SUL. Governo de. Construindo o novo Mato Grosso do Sul.
Campo Grande: SEPLANCT, 2003.
SANTOS, Milton. Economia Espacial: Críticas e Alternativas. São Paulo: Ed.
Hucitec, 1979.
SANTOS, Milton; Silveira, M. L. Brasil: Território e sociedade no início do
século XXI. São Paulo: Ed. Record, 2008.
Reportagem pública no jornal on-line “Itaporã Hoje” da cidade de
Itaporã, região de Dourados – MS. Fonte:
http://www.itaporahoje.com Acesso em
23/10/2010.