A GEOPOLITICA DAS FRONTEIRAS NO
BRASIL
Dante Severo
Giudice¹
Resumo
A grande extensão das fronteiras brasileiras que
se estendem desde o Chuí até o Oiapoque, sendo a maior parte em áreas remotas e
despovoadas, sempre foi a grande preocupação no contexto da geopolítica
brasileira, sobretudo durante os governos militares. É evidente que as redes de
informações desempenharam papel importante na consolidação dos princípios por
ela estabelecidos, vinculados sempre a obsessão pela segurança que passava pela
segurança nacional, num processo de apropriação do território que abrangeu a
ampliação da rede viária, e principalmente da rede de
telecomunicações.
Palavras chaves: geopolítica, fronteira,
Brasil.
Resumen
El enorme tamaño de las fronteras de
Brasil que se extiende desde el Chuy a Oiapoque, siendo las
zonas más remotas y despobladas, siempre ha sido una preocupación importante en
el contexto de
la geopolítica brasileña,
especialmente durante los gobiernos militares. Es evidente que las
redes de información jugó un papel
importante en la consolidación de los principios establecidos en ella,
siempre ligada a la obsesión por
la seguridad que pasaban por la seguridad nacional, un proceso de apropiación de la tierra que incluye la expansión de
la red de carreteras, especialmente la red de
telecomunicaciones. .
Palabras clave: la
geopolítica, la frontera, Brasil.
Abstract
The huge size of Brazil's borders stretching from the Chuy to
Oiapoque, being the most remote and unpopulated areas, has
always been a major concern
in the context of
Brazilian geopolitics, especially during the military governments. It is
clear that networks of information played an important role in consolidating the principles established by it, always tied to
the security obsession that passed for national security, a process of appropriation of land that included
the expansion of road network, especially the telecommunications network
Key words: geopolitics, border,
Brazil.
¹ Geógrafo/Geólogo
Mestre em Geografia pela Universidade Federal da
Bahia – UFBA.
Doutor em Geografia pela da Universidade Federal de Serjipe –
UFS.
Professor Ad"Anderson Epifania"
<androgomess@gmail.com>, j. do Curso de Geografia da Universidade Católica
do Salvador – UCSAL
Pesquisador do
Geoplan/UFS
Coordenador do
Gepogeo/UCSAL
Introdução
Este trabalho é um esforço conjunto do
GEPOGEO/UCSAL – Grupo de Estudo e Pesquisa em Geografia Política e Geopolítica,
da Universidade Católica do Salvador, que tem como coordenador o autor deste
artigo, e é constituído pelos discentes Deivisson Souza, Luis Eduardo Santos,
Débora Cavalcanti, Márcia Noronha e Eric Campos.
A geopolítica brasileira sempre esteve vinculada
aos círculos militares que sempre foram
obcecados pela questão da segurança nacional, e isso passava pela
integração de todo o território nacional, principalmente os rincões extremos e
praticamente desabitados da fronteira amazônica. Nesta perspectiva, durante os
regimes totalitários, muitas foram as tentativas de integração, mas durante o regime policial militar de
1964, essa preocupação tomou grandes proporções, engajada na megalomania do “Brasil Grande”. É neste período que as
redes ganharam importância na tentativa de integração plena de todo o território
pátrio, principalmente através da implantação da rede rodoviária nas regiões
isoladas, e das redes de telecomunicações.
A Questão da extensão e o controle das
fronteiras
O Brasil possui 23.086 km de fronteiras, sendo
7.367 km marítimas e 15.719 km terrestres. A exceção do Chile e Equador, todos
os países da América do Sul fazem fronteira como Brasil. Ao longo de toda
fronteira há apenas 23 postos oficiais de fiscalização da Policia Federal,
Receita Federal, e Ministério da Saúde, o que significa grande
vulnerabilidade.
Segundo Ancel,
“Durante a Idade Média a
fronteira não era mais do que uma ficção. Como poderia ser diferente, se faltava
toda instrumentação cartográfica de precisão. Foi na Renascença que, a criação
do mapa geográfico, provocou a projeção material da idéia. O espírito de
simplificação, traço manifesto da civilização moderna, introduz traçados
visíveis e precisos – fronteira linear, fronteira natural. Mais tarde, a
revolução francesa introduziu o conceito de nação ao vocabulário político,
invocando uma noção que, não sendo instável, pelo menos é mais subjetiva, a
fronteira espiritual”. (ANCEL, 1938).
A questão das fronteiras no Brasil teve, sob a
gestão do Barão de Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores, o seu
período mais decisivo. Ele teve grande atuação mesmo antes de assumir seu posto,
quando defendeu importantes questões com a Argentina, relacionada a questão de
Palmas/Missões, e com a França, na fronteira norte (Guiana Francesa) relacionada
a posse da região do Amapá. Durante a sua gestão, de quase dez anos, através de
quatro governos, resolveu pendências antigas e importantes, como a do Acre, teve
influência na solução do caso da Guiana Inglesa, definiu de forma favorável para
o Brasil, os limites com a Colômbia e o Peru, e da generosa cessão do condomínio
da Lagoa Mirim e do rio Jaguarão ao Uruguai.
A fronteira marítima, ao longo do Atlântico pode
ser dividida no que podemos chamar segmento este-oeste, e segmento norte-sul. O
primeiro de importância mais secundária, apesar da maior proximidade da África
do Norte, Europa Ocidental, Caribe e América do Norte, devido ser uma área ainda
pouco desenvolvida. O segredo é o que podemos de fronteira viva, conforme
conceito do geógrafo francês Vallaux, pois aí estão os principais portos e a
região econômica mais desenvolvida e mais povoada. Estrategicamente está ligado
aos nossos vizinhos do sul, e concentra o maior interesse econômico de nosso
comércio exterior, com a América do Norte, Europa Ocidental, Oriente Médio e
Extremo Oriente.
Muitas foram as modificações pretendidas na
delimitação dessa fronteira, mas ao final, o Brasil firmou a Convenção da
Jamaica que estabelece “como mar territorial, a faixa de doze milhas marítimas
contíguas ao litoral, onde os países exercem a plenitude de sua soberania; e
como mar territorial, a faixa de duzentas milhas marítimas contíguas ao litoral,
que os países poderão explora-la como sua zona econômica exclusiva” (Convenção
da Jamaica, 1982). Após a retificação, deverá ser revogado o decreto-lei nº
1098, de 1970.
As fronteiras terrestres são mais diversas e de
maior complexidade para controle. Temos, por exemplo, as fronteiras naturais,
determinadas por acidentes físicos determinados (rios, montanhas) e fronteiras
artificiais cujos traçados seguem linhas imaginárias. , bem como as fronteiras
povoadas e as despovoadas (sobretudo na Amazônia). Também ocorrem as fronteiras
vivas, onde os núcleos populacionais confrontantes são mais densos, como a
tríplice fronteira de Iguaçu. Pela constituição de 1988 (cap. II, art. 20,
alínea XI, parágrafo II) “a faixa de até 150 km de largura, ao longo das
fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada
fundamental para a defesa do território nacional e sua ocupação e utilização
serão regulamentadas por lei”. Entretanto como até o presente momento não foi
feito a regulamentação, estas áreas ficam bastante
vulneráveis.
A vulnerabilidade das nossas fronteiras sempre
foi uma grande preocupação dos governos, sobretudo os totalitários. Desta forma,
a constituição do Estado Novo (1937), na era Vargas, incorporando uma idéia do
Brasil Colônia, e com a finalidade de melhor organizar o espaço brasileiro e
atender as justificativas de povoamento adequado, bem como atualizar a
nacionalização e defesa das fronteiras, sugeria a criação dos territórios
federais. Assim, por Decreto-Lei, sem consulta a população por plebiscitos, nem
às Assembléias Legislativas, ou seja, foram impostos pelo governo central, sob a
ideologia da defesa nacional, se criou os territórios de Fernando de Noronha
(arquipélago desmembrado de Pernambuco), do Amapá (PA), do Rio Branco (AM –
atual estado de Roraima), do Guaporé (MT – atual estado de Rondônia), de Ponta
Porá (MT – no atual Mato Grosso do sul) e do Iguaçu (PR/SC). O Acre já era
território. Os dois últimos depois foram reincorporados aos territórios dos
estados de origem, e os demais se tornaram estados.
As redes e a consolidação das
fronteiras
As redes desempenham papel importante na
organização e ocupação do espaço, e fizeram uma verdadeira revolução no mapa do
mundo à partir do século XIX, já
que tornaram os lugares mais próximos, facilitando a circulação de informações,
bens e pessoas, com maior velocidade.
Conforme Giudice & Toledo
Jr,
“A referência ao termo rede é muito antiga e remonta a antiguidade
grega. Entretanto, nos tempos mais recentes, sua primeira referência acontece
como conceito-chave do pensamento de Saint-Simon que defendia a criação de um
Estado organizado racionalmente por cientistas e industriais, e exerceu grande
influência sobre intelectuais, políticos e governantes europeus” (GIUDICE & TOLEDO JR., 2007).
A partir daí o conceito de rede passou a ser
utilizado de várias formas, como o fez Chevalier, apub Dias ( 2005) que era
adepto do sansimonismo, e utilizou o termo para evocar a relação entre as
comunidades e o crédito. Vários foram os trabalhos que se seguiram, seguindo a escola de Saint-Simon que objetivava o
estabelecimento de um sistema geral de comunicações, onde se unia a idéia de
conexão à noção de rede, a exemplo do que ocorreu na França, onde se integram os
vários modos de vias de comunicação.
Segundo Dias (2005) a grande ruptura que introduz
novo conceito de rede acontece na
segunda metade do século XVIII, quando deixa de representar a metáfora do corpo
e passa a representar formas
geométricas do território que se multiplicam graças à triangulação do
espaço em rede. É neste período que
engenheiros cartógrafos, com freqüência militares, passam a empregar o termo
rede no sentido moderno de rede de comunicação e representam o território como
um plano de linhas imaginárias, ordenadas em rede, para quantificá-lo
matematicamente e construir o mapa.
O sistema de redes envolve duas premissas,
circular e comunicar, mas no entanto isso não está ao alcance de todo o mundo,
existe parte do ecúmeno que está excluída do processo, a exemplo da África e de
outras regiões dentro do mundo subdesenvolvido que estão à margem do processo de
integração, seja pela falta de recursos ou mesmo por um processo de “manipulação
exclusão” como forma de dominação.
As redes têm importante papel no processo de
apropriação do espaço tendo em vista que são responsáveis pelas transformações
causadas quando se constroem rodovias, ferrovias, canais, rotas aéreas, linhas
de comunicação, etc. Com a evolução tecnológica, as redes promoveram a
eliminação de barreiras de todas as ordens, vindo acelerar a velocidade de
circulação das informações e do saber, que passaram a ser em “tempo real”, dando
um novo significado a compreensão tempo-espaço.
Nesta perspectiva contemporânea do debate sobre redes, surgem as
idéias de Castells, em seu trabalho “A sociedade em rede” onde elas são
representadas como organismo planetário que parece desenhar a infra-estrutura
invisível de uma sociedade, a qual é pensada como rede. Estas idéias são
seguidas por vários autores, mas também criticada por outros, como R. Randolf,
que considera a análise dele surpreendente e paradoxalmente conservadora, e
Jean-Marc Offner que afirma haver certa contradição, já que ele projeta as redes
num universo de auto-regulação, sucumbindo ao determinismo tecnológico que ele
pensa combater.
No caso brasileiro, elas são de grande importância, pois desde o
período colonial, o sentido de nação esteve sempre articulado ao de território,
e desta forma a idéia de unidade nacional, confunde-se com integridade
territorial.
A questão da coesão interna, alvo principal dos geopolíticos para
ação dos Estados, adquire no Brasil um caráter particular, devido a imensidão do
território, o povoamento disperso, e o fraco poder articulado inter-regional da
economia agrário-exportadora (Costa, 1992). Aliado a isso o poder central
instalado no centro-sul, e formado por oligarquias locais e regionais, evidencia
um quadro político-administrativo-territorial unitário, extremamente
desarticulado em nível nacional.
Assim, o discurso político territorial do “Estado Novo” era a idéia
de integração nacional, e por fim aos regionalismos desenfreados. É desta época
o “Plano de Viação” que visavam, a integração territorial, e pode ser
considerado o precursor de um sistema de rede viária.
Como cita Costa (1992), a idéia de unidade nacional, enquanto
integração territorial, foi exposta por Getúlio Vargas de maneira
eloqüente:
“O imperialismo do Brasil consiste em ampliar as suas fronteiras
econômicas e integrar um sistema coerente, em que a circulação das riquezas e
utilidades se faça livre e rapidamente, baseada em meios de transportes
eficientes, que aniquilarão as forças desintegradoras da
nacionalidade”.(COSTA, 1992).
Dentro das concepções de Backheuser (1933), está a antiga idéia
geopolítica de que a grande extensão territorial só se torna uma vantagem
política e econômica quando associada à ocupação e povoamento adequados, ao
mesmo tempo que o poder central, bem localizado, possa estabelecer relações de
coesão eficazes no todo territorial. Desta forma a defesa da capital
centralizada se confirmou como eficaz e integrou grande parte do território, e
transformou Brasília no “centro” irradiador do país, na verdade o “centro de
gravidade do sistema geopolítico”.
Como a geopolítica brasileira esteve sempre vinculada aos militares,
obcecados com a questão da unidade nacional, também o Brigadeiro Rodrigues
(1947), concorda que todas as medidas dos governos imperiais e republicanos, no
tocante as redes de circulação, procuraram, cada um a seu modo, enfrentar esta
questão crucial.
Por outro lado, o General Travassos (1947), se preocupava com o
controle do “heartland” sul-americano, onde considerava que era natural e
possível a influência brasileira, devido à possibilidade de avanços argentinos,
já que o “controle” da Bolívia, por ele considerada região-pivô do continente,
daria ao Brasil o domínio político-econômico sul-americano. Para tal, bastava a
utilização das potencialidades das vias fluviais amazônicas para uma rede de
circulação que articulasse o “heartland” boliviano à costa atlântica brasileira,
apoiada pela ferrovia Madeira-Mamoré.
O último dos “clássicos” dentro do que podemos chamar de geopolíticos
de Estado-Maior, é o General Golbery do Couto e Silva (1981) que apesar de ter
suas idéias dentro do conservadorismo autoritário, apresenta alguma novidade em
vários aspectos que, se não implicam ruptura com o pensamento vigente, apontam
pelo menos para uma sofisticação de análise que o distancia do esquematismo
excessivo até então predominante no setor. Apresenta alinhamento com teses
norte-americanas, especialmente Spykmam, natural para quem viveu o apogeu da
“guerra fria”. A sua análise geopolítica
do território brasileiro parte de uma premissa comum a todos os autores
do setor, isto é, de que se trata de um imenso espaço desigualmente ocupado e
carente de integração, dada a pobreza das
comunicações.
Com base nessas premissas, ele afirma que a integração do território
nacional passa pela necessidade de ligar o nordeste e o sul, ao núcleo do país,
já iniciado com a inauguração de Brasília, através de redes de rodovias, e de
ampliação do sistema de telecomunicação, o que impulsionaria o avanço da onda
colonizadora para noroeste, para integrar o centro-oeste ao ecúmeno nacional, e
“inundar de civilização” a hiléia amazônica, visando a proteção das zonas de
fronteiras.
Segundo Benakouche (1989), Golbery não faz referências aos meios de
comunicação na sua estratégia de ocupação, pela simples razão de que naquele
momento a revolução dos meios de comunicação ainda não estava em curso. Dentro
da sua proposição geopolítica, os meios a que ele se refere muito provavelmente
eram os satélites, ainda que estes na época fossem tão
conhecidos.
Para Giudice e Toledo Jr.(2007),
Essas idéias foram plenamente adotadas pelo governo policial militar,
mas já vinha se desenvolvendo desde o governo JK, que adotava a máxima de
“governar é abrir estradas”, assim se lançou os projetos de rasgar toda a
Amazônia de rodovias como a Transamazônica, Perimetral Norte, e Cuiabá-Santarém,
para promover um sistema de integração, que se mostrou inócuo, pelas
dificuldades naturais, e se estendeu linha de telecomunicação por toda a região,
estas sim, responsáveis pela real interligação dos pais como um todo, ainda que
a custo de perda das peculiaridades regionais (GIUDICE & TOLEDO JR., 2007).
.
Segundo Théry (2005), a situação econômica e
estratégica da Amazônia começou a mudar com a abertura das rodovias nos anos 60
e continuou com a melhoria das hidrovias e das redes de telecomunicação:
"Passou-se de um espaço reticular a outro, da Amazônia estruturada em função das
vias navegáveis, drenando os fluxos para o Leste, a uma região dominada pelas
estradas que levam ao Sul-Sudeste". De acordo com ele, os "nós" dessas duas
redes, as cidades que polarizam o espaço, não são os mesmos, o que levou à
decadência de algumas e à ascensão de outras, uma redistribuição que alterou
profundamente as hierarquias urbanas da região.
Estas rodovias de “longo curso” nos sentidos dos paralelos e
meridianos, parte do chamado Plano de Integração Nacional, dos governos
militares, constituem para Meira Mattos (apud Costa, 1992), elementos poderosos
de articulação do território e, além disso, viabilizam o início da exploração
dos recursos naturais amazônicos. Por isso, ele aplaude a assinatura do “Tratado
de Cooperação Amazônica” e assinala que ao Brasil caberia, nesse processo, a
vitalização de suas fronteiras, criando “pólos de irradiação fronteiriças”
capazes de impulsionarem o progresso, e a influência brasileira até os limites
com os demais paí8ses amazônicos. Nesta perspectiva, se tentou implantar uma
rede de agrovilas fadadas ao fracasso, pela dificuldade de produzir, e a falta
de mercados consumidores próximos.
Nesta linha de pensamento, foram desenvolvidas várias outras
geopolíticas de integrar o país, e as telecomunicações tiveram papel
preponderante, através das redes de televisão, à princípio com o sistema de
vídeo-tape, e depois pelo sistema via satélite que passou a permitir recebimento
de toda programação em tempo real, em espaços longínquos do território,
consolidando a unidade, e uniformizando os costumes, linguagem, etc. Também o sistema de rede de telefonia
veio revolucionar as comunicações e tornar as distâncias mais curtas. Atualmente
a internet dinamizou o processo, integrando mais eficazmente todo o
país.
A preocupação com o isolamento, fez com que a Amazônia fosse
contemplada com vários projetos que visavam a sua integração plena, a exemplo do
Corredor de Exportação e Abastecimento que se utiliza a natural rede hidroviária
de mais de 24.000 km de vias navegáveis, associada a rede rodoviária, que
atendem à função de penetração e integração, com a implantação de vasto programa
de desenvolvimento, através de projetos industriais, pecuários, agrícolas e de
colonização; e do SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia, uma rede de coleta
e processamento de informações, criado para estabelecer uma nova ordem na
região, com um Centro de Coordenação Geral (CGC) em Brasília, três Centros Regionais de Vigilância
(CRV), em Manaus, Belém e Porto Velho, e diversos órgãos remotos, e sensores
espalhados por toda a Região Amazônica, os quais terão os seus dados agrupados e
processados nas CRV (Fig. 1).
Figura 1
Rede do Sistema de Vigilância da Amazônia

Fonte: www.sivam.gov.br/
Deste modo, fica evidente que a estrutura de redes de informação,
teve papel importante na Consolidação da ocupação territorial, e como
conseqüência, contribuiu para a consolidação das
fronteiras.
Considerações Finais
A consolidação das fronteiras do Brasil é ainda um processo em
andamento, pois temos uma imensa fronteira terrestre e também um longo litoral,
com áreas muito pouco povoadas, o que as tornam bastante
vulneráveis.
É claro que muito se fez na tentativa de evitar essa vulnerabilidade,
principalmente durante os períodos de governos totalitários que eram obcecados
pela segurança nacional. Neste contexto as redes diversas, sobretudo de estradas
e comunicação tiveram um papel geopolítico muito importante, mas não conseguiram
sucesso pleno, como demonstramos neste trabalho.
Apesar de todo esse esforço o Brasil nunca foi capaz de controlar
plenamente suas fronteiras pela ausência total de interesse e recursos. O SIVAM
foi a primeira tentativa real e um grande passo, mas muito se tem a fazer,
procurando equipar os órgãos competentes para faze-lo, pois grandes são os
problemas de contrabando, tráfego de drogas, etc.
Atualmente, com a transferência do foco de dominação do político para
o econômico, não existe mais o perigo de ‘invasão’ do território, como era o
temor dos militares, mas as invasões de outras naturezas, camufladas de ajudas
humanitárias, ONGS, missões religiosas, etc. que fazem um silencioso trabalho
que aos poucos vão se apropriando da nossa biodiversidade, uma das nossas
maiores riquezas.
Assim sendo, muito se deve investir na segurança de nossas
fronteiras, sobretudo no item
controle/fiscalização, mas não esse ridículo controle aduaneiro, algo
muito maior, pois é necessário grande rigor, uma vez que essa ‘falha’ vem
contribuindo para o esvaziamento das nossas veias econômicas.
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