A Análise integrada da paisagem nos estudos das
TRANSFORMAÇÕES SóCIOESPACIAIS NO MUNICÍPIO DE ITAÚNA DO SUL-PR
INTEGRATED ANALYSIS OF LANDSCAPE IN THE STUDY OF CHANGES SOCIOSPATIAL IN THE CITY OF ITAÚNA DO SUL – PARANÁ
Lucas César Frediani Sant’ana
Liana Gomes Netto
Messias Modesto dos Passos
RESUMO
Localizado no Brasil, estado do Paraná, na microrregião de
Paranavaí, o município de Itaúna do Sul passou nos últimos cinqüenta anos
inúmeras transformações em seu território principalmente quando se trata do
espaço agrário devido às variáveis que influem no funcionamento deste, como as
flutuações econômicas, fatores climáticos e políticas públicas. Este artigo
considera os estudos realizados em dissertação de mestrado sobre as dinâmicas
sócio-espaciais e ambientais do município de Itaúna do Sul utilizando para isso
a análise integrada da paisagem como ferramenta para se abordar o espaço
geográfico. A importância da realização desta pesquisa se embasa na
possibilidade compreender a dinâmica territorial e de diagnosticar a realidade
sócio-espacial e ambiental do município.
Palavras-chave: paisagem; dinâmicas
sócio-espaciais; políticas públicas; meio ambiente; Itaúna do Sul –
PR
ABSTRACT
Located in Brazil, Paraná, in the micro region of Paranavai, the
Itaúna do Sul has been through many changes in the last fifty years
in its territory especially when it comes to an agrarian landscape due to the variables that influence its functioning, such as
economic fluctuations, climatic factors and public policy. This
Article considers the studies performed in the master's
dissertation of socio-spatial and environmental dynamics in Itaúnado
Sul making use of integrated analysis of landscape as a tool
for addressing the geographic space. The importance of
holding this research is based upon the ability to understand
the territorial dynamics and socio-diagnose and environmental space in
the city.
Key-boards: landscape; socio spatial
dynamics; public policies; environment; Itaúna do Sul, state of
Paraná
1.
INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado da pesquisa realizada com o objetivo
de diagnosticar e prognosticar a partir do modelo GTP e de ferramentas como
dados primário, secundários, imagens de satélites entre outros, a dinâmica
sócio-espacial e ambiental do município de Itaúna do Sul – PR e de que forma as
Políticas Públicas locais aplicadas pelos gestores municipais interferem nesta
configuração.
Itaúna do Sul, localizada na porção noroeste do estado do Paraná,
na microrregião de Paranavaí, constitui-se como um município de instalação
recente. Desmembrou-se de Nova Londrina e veio a tornar-se município em
1961. O município é recortado pela rodovia estadual
PR – 182, sendo este trecho uma importante ligação entre o noroeste e oeste do
estado do Paraná, com o Pontal do Paranapanema/sudoeste do estado de São Paulo.
Esta ligação foi dinamizada a partir da construção da ponte sobre o rio
Paranapanema pela CESP (Companhia Energética de São Paulo), onde se localiza a usina hidrelétrica (UHE) de Rosana na
divisa dos estados de São Paulo e Paraná.
A base da economia do município é a agropecuária que, em 2002,
representava 45% do PIB do município. As principais culturas agrícolas são: o
café, a cana-de-açúcar, o milho, a mandioca. Destaca-se também, a pecuária de
corte e de leite.
O meio ambiente e sua e sua problemática vêm atraindo cada vez
mais olhares das mais diversas áreas do conhecimento científico e da mídia. Para o biogeógrafo G. Bertrand, o meio
ambiente pode ser definido como um conjunto de elementos externos que rodeiam a
sociedade e que com ela interage. Esta “humanização” da problemática ambiental
ainda não parece ser bem gerida pelos geógrafos, sobretudo àqueles que insistem
na geografia de uma natureza “congelada”, à montante da ação antrópica e da
problemática ambiental.
Para isso é preciso adentrar a um modelo, que ao mesmo tempo em que
agregue toda a complexidade do território, tenha a capacidade de interpretá-lo
em suas relações e seja objeto de apoio àqueles que estão diretamente ligados à
gestão deste território.
2.
ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA
Esta pesquisa tem por base a obra de Claude e Georges. Bertrand: “Uma
geografia transversal - e de travessias. O meio ambiente através dos territórios
e das temporalidades” cuja tradução foi coordenada por Passos (2007), onde a
partir dos fundamentos estudados nesta obra, acrescido de cursos que se
desenvolveram ao longo da vida acadêmica e da pós graduação, resulta com a
proposta de utilizar-se o modelo GTP - geossistema, território e paisagem – que
em síntese é um modelo tripolar de entrada – estudo - do território para o estudo das
dinâmicas sócio espaciais e ambientais dentro do município de Itaúna do Sul-PR,
bem como as Políticas Públicas interferem nesta configuração. O modelo GTP vem
para suprir a necessidade de um método científico mais complexo, para isso,
contemplando três abordagens ou entradas.
A primeira delas é o geossistema. Uma entrada de caráter
naturalista, contemplando os elementos geo-biofísicos, com seu maior ou menor
grau de antropização.
Outra entrada é o território onde já são contemplados os fatores
socioeconômicos como também a gestão do meio
ambiente.
Por último, temos a entrada da paisagem, abordando as dimensões
socioculturais, a artealização inscrita neste geossistema, neste
território.
Segundo BERTRAND estas entradas do GTP, correspondem
respectivamente a source = fonte; ressource = recurso; ressourcement =
identidade[4]. Abordagem
esta que será constante neste artigo, porém não de forma explicitada a que
categoria se estará trabalhando, a fim de se obter ao máximo, a análise da
dinâmica e funcionamento de nosso recorte geográfico, dentro de sua
globalidade.
Segundo MOREIRA, 2007 e HÖFLING, 2001, entende-se por Políticas Públicas, o conjunto de ações coletivas
voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso
público que visa dar conta de determinada demanda em diversas áreas, sob
responsabilidade, em nosso caso de estudo, do Estado onde compete a este as
etapas de implementação e de manutenção.
Não é possível a preservação dos “recursos naturais” onde não há a
melhoria de condição de vida da população. Com base neste propósito, o
desenvolvimento sustentável objetiva diretamente a satisfação das necessidades
básicas humanas tais como: alimentação, vestuário, água, moradia e saneamento
básico, onde não diz respeito somente ao crescimento
econômico.
Entende-se aqui como desenvolvimento sustentável, a exploração dos
recursos da Terra atendendo às necessidades do presente, porém sem comprometer
a possibilidade das futuras gerações atenderem
as suas próprias necessidades, sendo
considerado como objetivo a ser alcançado por alguns estudiosos e gestores e
tido ainda como utopia por outros, porém fato é inegável nosso instinto de
sobrevivência, com busca de soluções diante de problemas que põe em risco o
nosso futuro.
Os materiais utilizados nesta pesquisa foram dados primários e
secundários pertinentes, bem como a realização de saídas de campo, entrevistas e
análise de imagens de satélite e uso de cartas topográficas e
temáticas.
Com a utilização do material levantado e do processo metodológico
elegido para a presente dissertação, chegou-se a um diagnóstico da área e com o
uso deste diagnóstico mais a identificação de processos, chegou-se a um
prognóstico para o recorte de estudo, destacando assim, a pertinência de um
projeto científico com o propósito de auxiliar/esclarecer a comunidade como um
todo e não prevalecer a sua funcionalidade – como de tantos projetos - apenas
dentro dos muros da universidade como sendo apenas uma dissertação de conclusão
do curso de mestrado em geografia.
3.
DESENVOLVIMENTO
Para efeito de abordagem das políticas públicas em nossa área de
estudo, foram levantados materiais junto a EMATER, onde estão documentados uma
série de planejamento de política pública aplicada ao setor rural.
O Município de Itaúna do Sul apresenta em sua economia, grande
representatividade ligada ao setor agropecuário, apresentando para uma área
rural de 4.490 ha, um total de 289 estabelecimentos rurais (média de 15,5 ha por
estabelecimento). Para nosso propósito de trabalho nos ateremos às políticas
públicas desenvolvidas e aplicadas ao nosso recorte geográfico voltadas
basicamente à área rural e ao pequeno produtor.
Desenvolveu-se neste primeiro momento um levantamento de políticas
públicas aplicadas à área rural, especificamente do programa estadual “Paraná
Rural”, “Corredor Caiuá”, desenvolvido junto à SEMA e EMATER e FUNRURAL da
esfera federal.
O Projeto Paraná Rural, é fruto de uma parceria entre o Governo do
Estado do Paraná, durante o governo de Álvaro Dias e o Banco Internacional para
a Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD. A Secretaria de Agricultura e
Abastecimento constituiu um grupo de trabalho encarregado da elaboração do
Programa para o pleito junto ao BIRD no ano de 1987, levando à constituição do
contrato de empréstimo no ano de 1989 e à direção dos trabalhos até o
encerramento do Programa no ano de 1996.
A priori, o projeto era composto por dois subcomponentes, porém
por problemas de liberação de financiamento, acabou que limitando-se apenas a
um: “Manejo e conservação do solo” aplicado no município de Itaúna do Sul, no
começo da década de 1990, em conjunto pela EMATER e Prefeitura. Este componente baseia-se na organização
dos produtores rurais, seccionado por microbacias e na assistência técnica
local. Temos então dentro do município duas áreas de microbacia seccionada para
este projeto: Microbacia Placa Itaúna cujo plano, do ano de 1992 e Microbacia
Zimaré/São Paulo Paraná, cujo plano data o mesmo
ano.
Um ponto pertinente contido no documento é a importância dada à
fixação do homem no campo. A área da microbacia, no passado (leia-se antes da
década de 1980), era ocupada em quase sua totalidade pela cultura do café, e a
partir do setor cafeeiro, foi sendo substituída pelas atividades pastoris.
Destaca-se que para a manutenção e sustentabilidade do pequeno produtor, deve
ser implantada a diversificação de culturas – base esta difundida e aplicada
junto aos produtores rurais de Itaúna do Sul pela
EMATER.
O caráter dessas políticas públicas é fundamentado no subsídio
técnico e material ao produtor – principalmente o pequeno - de forma a garantir
uma maior sustentabilidade de sua propriedade, gerando, como conseqüência
direta, a diminuição dos impactos sobre o meio ambiente e tentar assegurar a
permanência deste agricultor com sua família no campo, diminuindo assim os
impactos sociais gerados pelo êxodo rural.
O projeto: Paraná biodiversidade - corredor Caiuá/Ilha Grande, região
de Paranavai, é um projeto implementado pelo
Governo do Estado do Paraná em conjunto com outras instituições, com o apoio
financeiro do Fundo Mundial para o Meio Ambiente através do Banco Mundial a fim
de Promover a conectividade entre fragmentos florestais existentes,
visando a recuperação e conservação da Biodiversidade, permitindo o aumento dos
fluxos biológicos de fauna (terrestre, aérea e aquática) e flora, e
conseqüentemente o aumento da Biodiversidade, bem como difundir adoção de
sistemas agroflorestais (SAF) que reproduzem um sistema ecologicamente estável e
oferece retorno financeiro e social.
Em resumo o projeto visa servir como um modelo de desenvolvimento
sustentável atingindo os objetivos de promover a conectividade entre os
fragmentos florestais através de criação de trampolim ecológico,
compatibilização dos sistemas produtivos existentes com a conservação da
Biodiversidade; estimulando a implantação de reserva legal e área de preservação
permanente, conforme legislação vigente; realização de práticas de manejo e
conservação do solo, que aumente a infiltração da água possibilite maior
produção de cobertura vegetal, reduzindo o escorrimento superficial da água e a
compactação do solo, visando melhor controle da erosão hídrica e menor
degradação ambiental, diminuição da poluição ambiental pela utilização de
práticas de manejo e conservação do solo, manejo adequado das explorações e
destino correto das águas usadas, no esgoto doméstico e dejetos de animais,
serve como unidade demonstrativa de conservação da Biodiversidade e práticas
menos impactantes ao meio ambiente.
Uma política pública de âmbito Federal, o
Funrural ou Contribuição Social Rural é uma contribuição social destinada a
custear a seguridade (INSS). Este tributo é cobrado sobre o resultado bruto da
comercialização rural (de 2,3% a 2,85%) e descontado, pelo adquirente da
produção, no momento da comercialização, diferenciando do trabalhador urbano,
onde é descontado da folha de pagamento ou de
rendimentos.
Tal política de assistência previdenciária à população rural idosa
é de suma importância para o entendimento das dinâmicas sócioespaciais e
econômica da área de estudo, não por questões quantitativas, senão por
demonstrar que pela alta taxa de população idosa vivendo na área rural, grande
parte desta depende deste recurso da previdência, praticamente abandonando as
atividades agrícolas, mas não o campo. Constatação esta possível a partir de
pesquisa de campo e a realização de entrevista com moradores da área rural de
Itaúna do Sul.
Tal dado demonstra em um primeiro momento, que não há interesse
por parte dos descendentes dessa população em continuar na área rural, partindo
então à área urbana, trabalhando em sua maioria no setor de prestação de
serviços. Em um segundo momento, o processo de arrendamento de terras para
cultivo da cana-de-açúcar sendo esta um importante viés de rendimento junto aos
benefícios do FUNRURAL para esta população.
Com a crise ambiental e o incentivo à troca da matriz energética -
o etanol - pelo governo Federal, principalmente por via de liberação de recursos
do BNDES, está dinamizando a expansão da
monocultura da cana-de-açúcar que vem ocupando e “se utilizando” do noroeste do
Paraná, dada principalmente pela presença de duas grandes destilarias de álcool:
a COPAGRA em Nova Londrina e a
Santa Terezinha em Terra Rica que agem como atores da paisagem no município
estudado.
As políticas públicas municipais aplicadas à zona rural de Itaúna
do Sul, são destinadas principalmente ao pequeno produtor, o que caracteriza
também uma preocupação dos gestores na sustentabilidade da pequena propriedade e
da permanência das famílias nas áreas rurais, porém a cultura canavieira tem
avançado principalmente nas médias e grandes propriedades do município, onde
estas, ora são sustentadas pela pastagem, ora pela mandioca, associadas à
cultura do milho e do feijão. Por vários fatores que torna insustentáveis as
culturas anteriormente citadas, acabam estas terras
sendo arrendadas, total ou parcialmente para COPAGRA ou a Santa Terezinha
que em forma de contrato, pagam já um valor fixo mensalmente ao proprietário de
terra, ou pagam o equivalente à área colhida e valor de mercado da
cana-de-açúcar. Tal fato é comprovado ao analisar os dados do IBGE e Ipardes
onde mostra um grande aumento da área plantada de cana-de-açúcar a partir de
2004, com uma posterior queda no ano de 2006/2007 e novamente um aumento na área
de plantio em 2009.
Se analisado os dados
de área plantada de cultura temporária (por tipo de produtos cultivados),
registram basicamente dois processos neste período. Primeiro a clara evolução da
cultura da cana de açúcar, exceto no ano de 2006, onde segundo produtores
rurais, a cana-de-açúcar teve um impacto da queda do preço do Etanol e do
açúcar, por isso reduziu a área arrendada pelas usinas, porém voltou ao seu
normal crescimento já no ano seguinte.
O segundo processo observado nos gráficos é a crescente tendência
a diminuição da diversidade de cultura agrícola temporária desenvolvida no
município, predominando o cultivo da cana-de-açúcar e da mandioca.
Um dado pertinente a ser destacado é que no período de 2003 a 2007, não
houve substituição da cultura cafeeira pela canavieira, ou seja, o avanço da
cana-de-açúcar no município dá-se na grande-média
propriedade.
Outra conseqüência das políticas públicas tomadas no município é o
crescimento de sua população rural, que foi de 1,13% no período de 1991 a 2001,
conforme dados do IBGE. Tal fato é resultado
de políticas públicas locais, destinadas aos pequenos proprietários, sendo, uma
vez mantida a estrutura fundiária de pequenas propriedades, facilita a aquisição
destas, mesmo por pessoas com menor poder de
compra.
Análise do uso do solo a partir do sensoriamento
remoto
Segundo ANDERSON et al (1979), o conhecimento no uso e ocupação da
terra – ou espaço - é imprescindível a qualquer território, onde o gestor
empenha-se em equacionar problemas para assim poder
resolvê-los.
O sensoriamento remoto surge então, numa perspectiva de ser uma
ferramenta de auxilio à compreensão do espaço geográfico, gerando ações mais
eficientes e precisas sob este espaço.
As imagens de satélite constituem a melhor síntese global da
paisagem, representando um combinado dos reflexos das sociedades passadas bem
como as dinâmicas atuais que ainda estão (re)construindo esta
paisagem.
As imagens orbitais utilizadas, é aquela proveniente do satélite
LANDSAT-5 TM e para efeito do proposto neste trabalho, utilizou-se das bandas
345 com composição colorida RGB respectivamente, apresentando assim na imagem,
cores semelhantes às verdadeiras que compõe a paisagem, facilitando a
interpretação da imagem. Segue abaixo alguns padrões – embora não aplicável a
todas as imagens – de cores, texturas e formas utilizadas na interpretação e uso
dos mosaicos de imagens.
Neste sentido, optamos usar como critério o estágio atual e
multi-temporal da evolução da paisagem no municio de Itaúna do Sul – PR, sendo
então utilizadas as imagens dos anos de 1985, 1995, 2005 e 2009. Vale ressaltar
que, para o conhecimento sobre a dinâmica da paisagem, não se satisfaz apenas
com o uso do recurso de sensoriamento remoto (Passos, 2008), senão que para isso
deve estar este inserido em um conjunto de outros dados, onde a somatória destes
faz com que algo tão complexo como é a paisagem tenha seus processos
identificados.
As imagens de satélite, foram adquirida junto ao INPE, e após o
processo de aquisição, estas imagens passaram pelo processo de composição,
classificação e quantificação.
A composição colorida é a atribuição de cores aos canais
selecionados. A atribuição de cores é feita com base em três cores, vermelho,
verde e azul (Red, Green, Blue) que
neste caso foram atribuídas aos canais 543
respectivamente.
O processo de classificação consiste
em agrupar em classes
áreas da imagem de satélite que sejam homogêneas, como por exemplo, áreas de
plantio de cana, de solo exposto, vegetação densa ou áreas urbanas.
A classificação das imagens foi realizada pelo método de classificação
por regiões. Inicialmente foi necessária a segmentação da imagem, que fragmenta
a imagem em unidades homogêneas, seguindo as características da imagem, como a
escala de nível de cinza dos pixels, textura e contraste (Woodcook et al 1994).
Em seguida, essas regiões foram associadas às seguintes classes: a) Mata; b)
Solo nu; c) Agricultura/pastagem; d) Área urbana. Não foi utilizada a classe
“corpo hídrico” pois para efeito de estudo de nosso recorte, esta categoria não
tem representatividade na escala de análise, no caso , imagem de satélite, pois
grande parte dos ribeirões presentes no recorte espacial apresentam um canal
fluvial menor que 10 metros.
A quantificação Por meio da função de medidas de classes do software SPRING foi possível quantificar
a distribuição de cada classe gerada, com os dados fornecidos pelo programa
medidos em km² geraram-se gráficos para auxiliar a interpretação das classes da
imagem;
Os dados foram agregados em um único gráfico no
formado de barras para que fossem comparados, de modo a analisar a distribuição
desses elementos ao longo da série histórica de imagens a cada 10 anos, em um
período de 30 anos;
A última etapa foi a de análise de todos os dados para a interpretação
das informações obtidas.
Foi utilizado nesta etapa do trabalho, alguns mapas gerados pelo
projeto CanaSat.
O Projeto Canasat, é um projeto desenvolvido em conjunto por
alguns órgãos e instituições com o objetivo de fornece informações sobre a
distribuição espacial da área cultivada com cana-de-açúcar na região centro-sul
do Brasil utilizando três bases de dados: imagens de satélite geradas pelo programa
Canaat, do INPE (base na imagem do satélite Landsat-5 TM); dados levantados pelo
IBGE sobre a produção agrícola e pecuária; e relatórios de impacto ambiental
produzidos pelas usinas, no qual elas relatam seu plano para produção ― quanto
vai produzir, quanto de área precisa, em que áreas vão plantar, e o que havia
nessas áreas antes do cultivo da cana. Essa análise com dados secundários
complementa a análise por satélite.
A Partir da interpolação dos dados, é possível chegar ao
diagnóstico de que a classe temática de uso do solo correspondente à
agricultura/pastagem abrange toda área do município ocupada com agricultura
temporária e permanente além das áreas ocupadas por pastagens (desde que não
degradadas onde esta se enquadra na classe “solo nu”, como visto
anteriormente).
As áreas de agricultura/pastagem do município de Itaúna do Sul, do
ano de 1985 a 2005, obtiveram um acréscimo de área, dado principalmente sobre
áreas de solo nu e em menor proporção sobre áreas de mata, notadamente no
período de 1985 a 1995.
No ano de 2009 há um decréscimo desta área em 17% em relação ao
período anterior. Isto se deve, com visto anteriormente, ao aumento da classe
“solo nu” ocasionado principalmente pelo avanço da cana de açúcar em áreas de
pastagens e de lavoura temporária de mandioca.
A cultura do café, impulsora da colonização de Itaúna do Sul,
apresentava ainda no ano de 1985, mais da metade de toda área com culturas
agrícolas do município. No ano de 1995, já a reflexo da queda acentuada do valor
do produto durante toda a década de 1980 e acentuado pela geada que ocorreu no
município em 1994 – a partir de relados dos produtores de café – se reduz a
apenas 6% de área agrícola, acarretando no desmonte pequenas propriedades,
ocorrendo processo de formação de média/grandes propriedades no município. Porém
no ano de 2005 apresenta expressiva recuperação alcançando o índice de 31% de
área agrícola. Tal índice pode ser reflexo das políticas públicas destinada ao
pequeno produtor, onde predominantemente está alocada as áreas de cultivo do
café no município, localizados em sua maioria na porção norte, onde ainda são
preservadas as estruturas de pequenas propriedades dentro do
município.
A cultura da mandioca vem em um primeiro momento, a avançar sobre
áreas antes destinadas à cultura do café. O cambio a esta nova cultura deve-se
principalmente ao fato da presença de fecularias nas proximidades de Itaúna do
Sul e ao preço
convidativo para este tipo de produto (além de comprovado estatisticamente, tal
fato já fora antes revelado em entrevistas com produtores do
município).
Com a queda do preço da mandioca no mercado e a partir da
instalação da usina COPAGRA em Nova Londrina em meados da década de 1990 e de
Santa Terezinha em Terra Rica, em 2005, a cultura da mandioca, desenvolvida
principalmente na média-grande propriedade passa por um processo de substituição
pela cana-de-açúcar.
A cana-de-açúcar, como já referida anteriormente, teve uma
expansão acentuada no município nos últimos aproximadamente 15 anos devido à
instalação de duas usinas próximas à Itaúna do Sul. Esta cultura avança em médias-grandes
propriedades do município, substituindo predominantemente a cultura da mandioca
e pastagens degradadas.
A classe temática de uso do solo “Mata” engloba toda área do
município recoberta por espécies arbóreas nativas ou exóticas, podendo estas
estar alocadas tanto em áreas de APPs, RLs, regulamentadas pelo código florestal
nº 4771/65 (vide anexo), quanto em áreas destinadas à
silvicultura.
No período de 1985 a 1995 houve perda expressiva de áreas
florestadas, porém em averiguação em imagem sintética do mesmo período indica
que esta perda ocorreu principalmente da degradação de relictos de mata ainda
existente no município, não sendo contribuinte para este dado a degradação da
mata ciliar neste período já que este processo esta à jusante, quando ocorreu o
processo de colonização e expansão da cultura cafeeira no município, seguindo o
molde implantado pela CTNP no norte do Paraná
Porém a evolução da área de mata entre os anos de 2005 e 2009
indica uma política atuante junto aos produtores rurais de preservação e
recuperação da área de preservação permanente, atendendo assim a legislação
vigente.
Prognóstico das dinâmicas sócio-espaciais e
ambientais
Prognóstico, que em latim prognosticu (pro= antecipado, anterior,
prévio" + gnosticu="alusivo ao conhecimento de"), vem a ser então, o ato
antecipado ou prévio sobre algo. Em compreensão
ampla, o prognóstico é complemento lógico do diagnóstico.
Para a construção deste prognóstico no município estudado, houve uma reflexão a partir de
dados secundários, empíricos – entrevistas com moradores e gestores municipais e
de empresas – e de imagens de
satélite.
O uso das imagens de satélite para constatação da atual forma de uso
do solo no município de Itaúna do Sul foi de grande relevância, pois além dos
dados (secundários e empíricos) que demonstram os processos ocorrentes na
construção da paisagem no município, houve o uso das imagens de satélite para
interpretar os processos de territorialização e de espacialização.
Como esboço na tentativa de se espacializar um prognóstico de uso e
ocupação do solo do município de Itaúna do sul, frente ao avanço da
cana-de-açúcar no município, produziu-se
uma carta, onde foram destacadas as principais áreas do município onde se
prognosticou as dinâmicas sócio-espaciais e
ambientais.
Destacaram-se as áreas onde a cultura da cana-de-açúcar é
desenvolvida para um prognóstico de curto/médio prazo. Esta cultura passa a
ocupar aproximadamente 70% do município, onde se destacam algumas
áreas:
– avanço da cana-de-açúcar frente à área antes destinada às pastagens
e cultura da mandioca. Característica da estrutura fundiária da área é de
grandes propriedades. A lógica de ocupação da área pela cana-de-açúcar dá-se
também pelo fácil escoamento da produção, pois esta área é atravessada pela
rodovia PR-182.
– embora a área junto ao
ribeirão Água da Abelha apresente todos os indicativos para ser uma possível
área de avanço da cana-de-açúcar, a mesma não foi prognosticada, pois é nesta
localidade que encontramos maior extensão dos processos de degradação no
município, a mais extensa área com aptidão agrícola restrita, por conta de
processos erosivos e integrado a isso, as maiores declividades do município,
encontram-se nesta localidade.
Fato este que além de acelerar o processo erosivo, não se recomenda o
plantio da cana em área com declividade maior que 12%, pois este já não se torna
apto à mecanização, que será utilizada na colheita da cana à médio/longo
prazo.
– área do bairro rural Zimaré São Paulo/Paraná, onde há uma grande
concentração de pequenas propriedades, grande parte de proprietários idosos, que
hoje sobrevivem com o recebimento de aposentadoria (FUNRURAL). Esta área a
curto/médio prazo, tende a ser vendida ou arrendada pelo herdeiros à usina de
álcool, passando a partir da aglutinação de pequenas propriedades, a se cultivar
cana-de-açúcar nesta área.
– localidade onde está inserida uma área remanescente da antiga
fazenda São Paulo/Paraná, caracterizado como uma grande propriedade com
pastagens, milho e uma área com cultivo de café. Em entrevista realizada com o
atual proprietário, se constatou a iniciativa deste de estar arrendando as
terras junto à usina de álcool Copagra para o cultivo da
cana-de-açúcar.
Foi destacada outra localidade, onde demonstram as áreas de
preservação permanente (APP) e as áreas de reserva legal (RL), procurando
representar as áreas de RL já constituída dentro do município e as APP de mata
ciliar, obedecendo a legislação vigente de se reservar 30 metros para ambas as
margens do rio (dentro da configuração de corpo hídrico presente no município)
para constituição de mata ciliar e de 50 metros para as áreas de nascentes,
sendo estas áreas em médio/longo prazo, totalmente em conforme com a legislação
vigente, representando assim, um grande avanço para a sustentabilidade ambiental
do município.
A partir desse momento é possível expor algumas considerações sobre a
dinâmica de uso e ocupação do solo ocorridos no município.
A primeira delas é a de que o avanço da cana-de-açúcar no município
tende a ser junto à média/grande propriedade onde antes praticava a cultura da
mandioca e/ou pastagem, não promovendo este avanço, impacto ambiental, no que se
diz a abertura de novas áreas por meio de desmatamentos.
Com este prognóstico de uso e ocupação do solo já desenvolvido,
parte-se para uma segunda etapa, que é o prognóstico dos impactos sociais destas
dinâmicas
A
diminuição do número de habitantes da zona rural aconteceu entre os períodos de
1970 e 1990, sendo que a partir deste ano, ocorreu seu incremento. Com o
desenvolvimento massivo da cultura da cana-de-açúcar no município, é possível
prognosticar uma estabilização do número de habitantes, podendo até ocorrer
incremento desta, porém para área urbana tendo como parâmetro que os cortadores
de cana do município, moram em sua grande maioria, no perímetro urbano de Itaúna
do Sul, e podendo haver perda de populacional
da zona rural.
A perda da população rural dá-se em um primeiro
momento pelo arrendamento de terras e aglutinação de pequenas propriedades para
o plantio da cana-de-açúcar. Propriedades estas atualmente sob os cuidados de
agricultores idosos, principalmente nas áreas
do bairro rural Zimaré São Paulo/Paraná. Com relação a esta área,
um prognóstico seria a manutenção desta pequena propriedade,
associando a algum projeto (vaca leiteira, por exemplo) que não utilize grande
mão-de-obra, cena esta que deve durar até a passagem destas terras aos
herdeiros, já em sua grande maioria, trabalhadores da cidade, sem apego à terra,
que poderá estar vendendo esta
propriedade ou arrendando para usinas de álcool da região.
Em um
segundo momento, já com a expansão do plantio de cana-de-açúcar, a queimada do
canavial utilizada no processo de colheita é um motivo de repulsa desta
população já que há a impossibilidade de habitação próxima às áreas onde ocorrem
estas queimadas. A queima da palha da cana-de-açúcar é extremamente danosa à
saúde e ao meio ambiente. A queimada consiste em atear fogo no canavial para
destruir cerca de 30% da biomassa (folhas secas e verdes), que não interessam à
indústria do açúcar e do álcool além de facilitar o
trabalho de corte da cana-de-açúcar.
A queima da palha libera gás carbônico e outros gases na atmosfera nocivos à
saúde. Entre as substâncias químicas liberados destacam-se os
HAPs (Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos), componente altamente
cancerígeno onde de acordo com estudo realizado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente,
foi constatado um aumento de HPAs no organismo dos cortadores de cana e no
ar das imediações de canaviais durante a época de safra. Com base nesses dados é
de se esperar um aumento da procura de atendimento médico pela população, com
problemas relacionados principalmente ao sistema respiratório. Portanto cabe aos
gestores tomar consciência, que para um prognóstico de curto prazo, haverá um
aumento de verbas destinadas à saúde
pública.
Para um prognóstico de médio prazo, mantendo-se as condições previstas
anteriormente, poderá se iniciar novamente o processo de perda de população do
município, pois as áreas prognosticadas para o avanço da cana-de-açúcar
compreendem terrenos propícios à mecanização. O conceito de
"área mecanizável" pode ser encontrado em diversos trabalhos como Ripolli (1992)
e Sparovek (1997), e segue basicamente uma limitação topográfica. Segundo o
conceito, terrenos com declividade superior a 12% não são passíveis de
mecanização, em razão do aumento do percentual de perdas em matéria prima, e do
risco que é exposta à máquina colhedora. Portanto, de acordo com a legislação
vigente de substituição gradual de queimadas pelo uso da mecanização,
proporcionará uma redução considerável do número de empregos para o corte da
cana, transformando-se também em um grande problema
social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Noroeste paranaense tem passado, nos últimos 50 anos, por
inúmeras transformações no âmbito social, econômico e ambiental. Isso tem
dinamizado os processos e formas de uso e ocupação do território onde se deve
tomar a devida atenção com a proteção dos recursos naturais, tão fragilizado
pelo modo de ocupação e apropriação ocorrido neste território.
A cultura do algodão e principalmente a do café, foram propulsoras
à ocupação do noroeste do Paraná, porém de forma não sustentável. Isso se deve,
principalmente pela forma de divisão dos lotes rurais, pelo mercado externo
muito instável e pelas sucessivas pragas e geadas que acabaram posteriormente,
fragilizando a já decadente cultura do café do noroeste
paranaense.
No momento atual, encontramos presente na região, a expansão da
cana-de-açúcar, motivada principalmente por:
·
princípio de troca da matriz energética do
país;
·
relatório do aquecimento global, relacionando o fato à emissão de
CO2;
·
mercado crescente do ETANOL;
·
instalação de duas usinas
sucro-alcooleiras : Santa Terezinha, no município de Terra Rica, e
COPAGRA em Nova Londrina.
No município de Itaúna do Sul, quando houve a crise da
cafeicultura, ocorreu um processo de desmonte de parte das grandes propriedades,
que foram divididas em lotes menores onde hoje há a prática da policultura em
muitas propriedades, porém não há a sustentabilidade econômica ainda para este
pequeno produtor, pois:
- idade avançada de
grande parte dos pequenos produtores;
- descendentes em sua
grande maioria não se encontram mais no município, ou os que ainda estão,
trabalham no setor de serviços da área urbana;
- extensão da propriedade muito pequena, dificultando uma produção
que seja mais competitiva no mercado;
- falta iniciativa de
uma associação de pequenos produtores.
Com Relação ao prognóstico da área, é eminente o avanço da cultura
da cana-de-açúcar no município de Itaúna do Sul, mesmo com a preocupação que
existe por parte dos gestores municipais com este
fato.
O desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao pequeno
produtor rural, em um primeiro momento, é capaz de gerar a sustentabilidade,
porém na menor oscilação de rendimentos, este produtor rural acaba que cedendo à
cultura canavieira, vendendo sua propriedade ou então a
arrendando.
Portanto, se demonstraram importante as iniciativas da gestão
pública municipal no fato de garantir a estabilidade fundiária no município e
promover avanços na área ambiental, no que se diz na recuperação de APPs e
RLs.
Porém, as políticas públicas de apoio ao pequeno produtor, entram
em conflito com a política de expansão da cana-de-açúcar, com o incentivo de
produção de etanol por parte do governo Federal, onde esta força apresenta muito
mais capacidade de se concretizar e dinamizar o território do que as políticas
públicas citadas anteriormente.
Cabe então à gestão pública não tornar-se inoperante frente a esta
perspectiva mais sim, procurar gerar políticas públicas ao menos de redução dos
danos gerados pelo avanço da cana-de-açúcar no município.
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Mestrado. Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Estadual de
Maringá. Maringá.
Doutorando pelo programa de pós–graduação
em geografia pela Universidade Estadual de Maringá.
lucas.geografia@gmail.com