Fronteiras, sistema de movimento e vida de
relações:
proposições metodológicas

Márcio Cataia
Universidade Estadual de Campinas
Instituto de Geociências
Departamento de Geografia
Pesquisador do CNPq
Resumo
Propomos discutir as fronteiras a partir de dois recortes analíticos,
o sistema de movimento, representado pelos fluxos de todas as ordens que
impactam os lugares, e a vida de relações, representada pelas solidariedades
internas aos lugares. A dialética entre estas duas forças promovem arranjos
espaciais próprios, característico de cada meio construído, forjando assim
situações geográficas, elas próprias constituídas por elementos móveis,
dinâmicos, por isso uma situação é sempre híbrida e não pode ser aprisionada
pelos limites político-administrativos locais, pois os fluxos orientados pelas
redes ultrapassam esses limites de solidez variável. Do mesmo modo, só
excepcionalmente os lugares entram em contato com apenas um dos elementos dos
fluxos, pois todos agem em conjunto, reforçando-se ou contrariando-se,
competindo às vezes de maneira contraditória, outras vezes
complementando-se.
Abstract
We propose discussing boundaries from two analytical approaches, the
motion/movement system, represented by the flows of all the orders that impact
places, and the life of relations, represented by the internal solidarity of
places. The dialectics between these two forces promote specific spatial
arrangements, characteristic of each environment built, thus forging
geographical situations, which are themselves made up of dynamic, mobile
elements, for which reason a situation is always hybrid and cannot be imprisoned
by local political and administrative limits, as the flows driven by networks
surpass these limits of variable solidity. Likewise, places only come into
contact with just one the elements of the flows in exceptional cases, since they
all act together, reinforcing or counteracting one another, competing in a
contradictory manner on some occasions, and complementing one another on
others.
Fronteiras e limites na
construção do território nacional
As
preocupações econômicas, culturais e políticas com as fronteiras têm que ver com
o surgimento do Estado moderno (com a Paz de Westphalia). Até então, como afirma
Machado (1998), as fronteiras faziam referências social à sua etimologia, o que
está na frente. Representavam os espaços entre os ecúmenos e, à medida que as trocas foram
se tornando mais frequentes, elas vão se transformando em lugares de comunicação, em elos da
divisão territorial do trabalho. Com o aparecimento do Estado moderno e seu
ímpeto por um espaço exclusivo de exercício do poder, a fronteira também passou
a designar os espaços anecúmenos, ou
seja, os espaços para onde o Estado podia se expandir.
Num
ensaio histórico que buscou traçar a formação do ecúmeno norte-americano Turner
(1963) destaca a singularidade da fronteira por sua amplidão – implicou todo o
espaço americano, de Leste a Oeste – e sua duração – marcou durante mais de dois
séculos a história americana –, afirmando que estudar a fronteira americana é
verdadeiramente se debruçar sobre a parte realmente americana da história dos
Estados Unidos, “a fronteira é o fator de americanização o mais rápido e o mais
eficaz” (idem, 1963:3) e é ela que permite a liberação progressiva dos modos de
pensar e agir europeus. Na interpretação de Guichonnet e
Raffestin (1974), as investigações das “franjas pioneiras” elaboradas por Turner
são um tema da geografia humana e tem um lugar significativo no estudo mais
amplo das fronteiras.
De
acordo com Smith (1988), a tradição agrária norte-americana opõe civilização e
natureza em sua interpretação da conquista. Em toda literatura da conquista são
encontradadas descrições pitorescas de florestas habitadas por dragões,
demônios, bruxas, serpetentes voadoras, ou seja, seres míticos produto da
imaginação puritana que alimentou a antítese entre civilização e sertão, sendo
este estérial, terrível e até mesmo sinistro, “não tanto por ser a morada do
selvagem, mas por ser seu habitat
‘natural’. O natural e o selvagem eram uma coisa só; eles eram obstáculos a
serem vencidos na marcha do progresso e da civilização.” (idem, p. 37). A
fronteira era o lugar a ser vencido.
Para
Machado (1998) a fronteira não se confunde com o limite, pois este indica o fim
de uma coesão político-territorial, ou seja, os limites designariam os contornos
de um território no interior do qual vigora um dado regime jurídico-político,
sendo assim, demarca uma soberania onde é exercido o poder do Estado
territorial. Tendo em vista a integração do Brasil na década de 1950, a
proposição de Couto e Silva (1981) de fazer coincidir os espaços econômico e
político com o espaço físico (o polígono) é a investidura de uma política
territorial que tinha como pressuposto teórico a expansão da fronteira
brasileira, por meio de sua apropriação econômica – com a abertura da fronteira
agrícola – e política – com a criação de novos estados, territórios federais e
municípios – até os limites demarcados do Estado territorial brasileiro.A
geopolítica de Golbery, claramente, visava “preencher” toda fronteira brasileira
com o modo de produção dominante e o poder dominante, buscando enquadrar todo
espaço nacional a um projeto de uso hegemônico do
território.
Raffestin (1993) também distingue limite e fronteira, para ele o
primeiro é um sinal ou, mais exatamente um sistema sêmico utilizado para
demarcar o território, mesmo nas ações cotidianas os relacionamentos com
indivíduos ou coisas implica em traçar limites e se chocar com limites, pois
toda relação depende da delimitação de um campo no interior do qual as relações
são originadas e esgotadas.Assim, o território é esquadrinhado, enquadrado ou
circunscrito por limites que cristalizam, que tornam espetacular, as relações de
poder. Por isso, para Raffestin (idem), o limite é uma “classe geral”, um
conjunto cuja fronteira é um subconjunto transformada num sinal pelos
Estados-nações e como tal, ela é um instrumento para comunicar uma ideologia. A
fronteira se torna um sinal quando o Estado é capaz de um controle “absoluto” do
território transmitindo a informação de que a fronteira é igual ao limite
“sagrado” da soberania do Estado. De fato, era isso que Golbery do Couto e Silva
propunha para o território brasileiro e tinha consciência das condições
específicas para tal empreitada visando a proteção do território, sendo algumas
delas, a linerarização das fronteiras brasileiras, ou seja, transformar as zonas-fronteira, de demarcação incerta
em linhas-fronteira, de demarcação
exata; a dinamização da economia da fronteira para estimular os fluxos nacionais
em direção aos limites físicos do território brasileiro com os países lindeiros;
a instalação de núcleos de povoamento para fixação da população, o que sempre
redunda, em áreas de fronteira, na criação de novas municipalidades para
responder aos imperativos da vida cívica local e ao exercício do poder das
elites locais; uma nova organização da vida político-administrativa da
fronteira, com o desmembramento e criação de novas unidades, como estados e
territórios federais (que futuramente também se transformaram em entes da
federação); e, além disso, a implantação de um sistema de fluidez territorial –
rodoviário e aeroviário – que franqueou a fronteira aos fluxos materiais,
buscando aproximar a fronteira dos centros econômico e político do país (Cataia,
2006).
A
ocupação da fronteira, impondo-lhe novos usos do espaço, possibilita a
efetivação da demarcação dos limites do território nacional, circunscrevendo
assim uma área no interior da qual prevalece um conjunto de instituições e
normas jurídicas que regulamentam a existência de uma sociedade política, ou
seja, o território é integrado aos centros político e econômico da nação. Ainda
que a fluidez não seja a mesma para toda extensão do espaço nacional, este
encontra-se hoje integrado em toda sua extensão. Sobretudo, o espaço
centroestino encontra-se estruturado e integrado ao espaço nacional, em especial
o Mato Grosso do Sul.
Para
Foucher (1988) a circunscrição de um território nacional – que a chamemos de
limite ou seu nome político, fronteiras nacionais – se subdivide em díades. Cada
díade é representada por um segmento, limítrofe com um único país, portanto, uma
fronteira nacional seria subdivida em tantas díades quantos forem os países
lindeiros, porque as articulações internacionais, regra geral, são construídas
país a país.
De
fato, as fronteiras brasileiras possuem aproximadamente 16 Km de extensão e
abarcam distintas regiões, o que faz desses limites internacionais expressões de
distintas situações geográficas
(Silveira, 1999). Estas são constituídas por elementos móveis, dinâmicos, por
isso uma situação é sempre híbrida, (i) não é aprisionada pelos limites
político-administrativos locais, pois os fluxos orientados pelas redes
ultrapassam esses limites de solidez variável, e (ii) só excepcionalmente os
lugares entram em contato isolado com somente um dos elementos dos fluxos, pois
todos agem em conjunto, reforçando-se ou contrariando-se, competindo às vezes de
maneira contraditória, outras vezes complementando-se. Os lugares não vivem com
cada elemento de seu meio, mas com todos ao mesmo tempo, reforçando assim a
ideia de que o lugar é uma totalidade. Portanto, uma situação geográfica é um
complexo de forças em ação presente, organizada segundo um feixe de variáveis
que se juntam numa combinação única e inédita num dado momento e num dado
subespaço. A dificuldade para a governabilidade da vida política municipal
resulta da interação de um grande número de variáveis independentes, as quais,
como regra, não se reduzem a instituições espacialmente circunscritas. O lugar
reúne e precipita as variáveis independentes que o mundo da globalização produz.
Quando mudam as combinações entre as variáveis, ao sabor de eventos nacionais ou
globais que escapam ao controle do lugar, surgem situações geográficas inéditas
que redefinem o campo de forças.
Num
mundo que se globaliza para além das fronteiras nacionais, novas geografias são
estabelecidas sem os controles dos Estados, novas geografias são estabelecidas
pelas grandes empresas – que se utilizam dos blocos econômicos, expressão da
divisão política do trabalho do capital hegemônico –, mas também novas
geografizações são estabelecidas por uma miríade de pequenos negociantes que
resistem à aceitação das rígidas normatizações fronteiriças. Como
metodologicamente apreender essa geografia?
Dialéticas entre sistema de
movimento e vida de relações locais
Nos
espaços transfronteiriços podemos reconhecer a existência de dois recortes
analíticos, a vida de circulação e a vida
de relações. As dinâmicas transfronteiriças acontecem num contexto de modernização periférica onde poderíamos
abordá-las a partir dessas duas forças contraditórias, porém solidárias. A
primeira obriga quantitativa e qualitativamente à produção de um meio
técnico-científico e informacional moderno, onde os impulsos produtivos são extralocais, por isso são indiferentes
às realidades locais e regionais. Estas forças provêm dos fluxos globais do
circuito superior da economia (Santos, 1979). A segunda é realizada sob bases
locais e regionais, onde os círculos de cooperação encontram-se articulados ao
tempo plural do cotidiano, onde a co-presença obriga à existência de um espaço
solidário, de um mesmo entorno, de uma territorialidade. A complexa trama entre
vetores externos e territorialidades produz um meio conflitivo que impõe
mudanças radicais aos lugares, conformando situações geográficas singulares à
fronteira. A constituição do meio técnico-científico e informacional (Santos,
1996) tanto no campo, com todas as exigências das normas e das formas para
viabilizar a economia regional (constituída sob a égide do agronegócio,
especialmente em Mato Grosso do Sul), quanto nas cidades (as elevadas taxas de
urbanização também são a marca da região centro-oestina), surge como elemento da
explicação do contexto regional.
Como
recorte de método, consideramos as forças das ações (políticas, econômicas e
culturais) que norteiam os arranjos espaciais em suas estruturas e funções.
Nesse recorte, impõe considerar as influências externas sobre o meio ambiente
construído, pois, das combinações inéditas entre forças externas e internas,
decorrem os atributos de cada lugar. As relações entre os recortes analíticos
(vida de relações e vida de circulação) não são “bilaterais”, um a um, mas
“relações generalizadas”, ou seja, fazem parte de um todo coerente. Dessa forma,
como estratégia operacional, suscetível de permitir uma abordagem descritiva e
explicativa dos novos usos do
território (George, 1972; Santos, 1994), assim como de suas causas e
conseqüências, dois eixos temáticos, ou, analíticos podem ser
enfocados.
A vida de circulação (Gottmann, 1952) é o
primeiro eixo. Dele, são destacados os fluxos transfronteiriços permeabilizados
pela circulação vinculada ao circuito superior da economia, que é insensível às
realidades locais e a sede de sua ação ou motor dos fluxos, origina-se fora do
lugar. A este espaço dos fluxos ou recorte territorial, organizado por pontos
separados uns dos outros e que asseguram o funcionamento da economia global,
Santos (1996) chamou verticalidades. Elas referem-se às variáveis
exógenas, sem referência direta com o cotidiano daqueles que vivem no lugar.
Sendo o veículo de uma cooperação mais ampla, as verticalidades são vetores de
modernização entrópica, trazendo desordem aos lugares onde se instalam, pois a
ordem que criam é setorial e seletiva.
A vida de relações (George, 1968) é outro eixo. Dele destacamos as
relações transfronteiriças locais, onde pessoas e mercadorias serão apreendidas
segundo critérios do circuito inferior da economia urbana (Santos, 1979), onde a
cidade é apreendida como mercado e este como o centro da “vida de relações”, ou,
da solidariedade proveniente da contiguidade, da proximidade, porém é uma
proximidade cindida em duas ordens, porque cindida por duas formações
socioespaciais. Esse meio local caracterizado pelo trabalho coletivo implica num
esforço solidário de todos os atores; esse recorte territorial de análise foi
chamado por Santos (1996) de horizontalidade. Nos espaços da
horizontalidade, alvo freqüente das verticalidades, a vida de relações é
cotidianamente recriada, onde ações e objetos adaptam-se às ordens externas, mas
ao mesmo tempo encontram uma lógica interna própria, um sentido próprio do
lugar. É assim que se criam as territorialidades e o circuito inferior da
economia encontra sua expressão.
Novas ordens nas
fronteiras
O
enfrentamento do fenômeno da escassez
(Sartre, 2002[1960]), ou, em outras palavras, o enfrentamento da complexidade
que a divisão social e territorial do trabalho impõe, supõe uma adaptação
permanente das formas e das normas à dinâmica da globalização. Esta pode ser
definida como um período da história no qual se cria um meio, um meio geográfico
caracterizado pela técnica, pela ciência e pela informação, sendo cada um desses
atributos solidário e interdependente dos demais, conformando um sistema
técnico-científico e informacional (Santos, 1996). No trabalho social de
superação dos constrangimentos, passamos ao longo da história de uma autonomia
relativa entre os lugares e regiões a uma interdependência crescente entre
lugares, regiões e territórios nacionais. Quando cada lugar ou região era capaz
de produzir a totalidade daquilo que consumia, os circuitos espaciais produtivos (Moraes,
1989; Santos, 1994; Santos & Silveira, 2001) eram reduzidos à sua mais
simples expressão: os dois pólos da equação econômica, produção e consumo, eram
absorvidos localmente, tanto quanto também se desenvolvia localmente os fluxos
de pessoas, informações e ideias. Havia neste caso uma territorialidade quase
que absoluta, identificando os grupos sociais com seu meio.
Hoje,
circuitos espaciais produtivos locais continuam existindo, porém não são mais
suficientes para explicar a atual dinâmica de organização dos espaços regionais.
Os circuitos espaciais produtivos se ampliam e seus respectivos círculos de
cooperação chegam à escala do planeta. As regiões encontram-se organizadas
dentro de uma lógica global, por isso a explicação do fenômeno regional não
reside somente na escala regional. Com a crescente especialização das regiões,
atravessadas por inúmeros fluxos de todos os tipos, intensidades e direções,
teríamos que considerar a existência de circuitos espaciais de produção e não
somente circuitos regionais de produção. Os circuitos espaciais produtivos são
caracterizados pelas diversas etapas pelas quais passa uma mercadoria, desde o
começo do processo até o consumo final.
As
novas possibilidades de fluidez, bases da expansão do intercâmbio, aumentam a
quantidade e a qualidade das trocas entre os lugares, regiões, territórios e
continentes. Assim, os fluxos – de pessoas, de mercadorias, de idéias e das
finanças – assumem papel relevante na conformação do mapa político-econômico do
mundo. Todos os lugares, mesmo os mais recônditos, estão enlaçados por tramas
políticas, econômicas e culturais que se solidificam e generalizam. A escala e o
nível de desenvolvimento regional deixam de ser os únicos elementos definidores
do devir dos subespaços, pois variáveis externas à região passam a fazer parte
de sua realidade.
A
circulação das ideias, das mercadorias e a configuração dos fluxos financeiros
são componentes incontestáveis do processo de integração competitiva ou
subordinada do qual fazem parte as nações. Por um lado, a globalização é um
elemento explicativo importante das atuais transformações sociais, econômicas,
políticas e culturais vividas pelos territórios nacionais, mas por outro lado o
fato regional ganha relevo. Em seu processo de difusão, a dinâmica espacial da
globalização não se reduz à integração passiva das partes, pois os fluxos não
são só financeiros – tendentes à homogeneização –, mas também migratórios
(inclusive turísticos), informacionais e culturais – tendentes à diferenciação
–, o que promove a valorização da diferença e a descoberta de que a organização
interna das sociedades se revela decisiva nas dinâmicas globais, ou seja, a
força das horizontalidades singulariza as situações geográficas, pois os atores
internos não são desprovidos de meios de ação e os atores externos estão longe
de ter pleno poder de manipulação de todas as variáveis em
jogo.
Além
das hegemonias, distinguíveis entre nações, organismos internacionais e empresas
(Ianni, 2004), a globalização representa também a possibilidade de começarmos a
divisar com maior nitidez as diversidades dos lugares, regiões e nações. Esse
processo de nova regionalização do mundo, que é acelerado no pós-guerra, se
desenvolve num contexto de grandes avanços, denominados por revolução
informacional e comunicacional, revolução telemática (telecomunicações +
informática), revolução micro-eletrônica, revolução da genética e revolução da
biotecnologia, além de processos revolucionários ligados à gerência científica
dos negócios globais (Sousa Santos, 2006). Nesse contexto é forçoso reconhecer a
integração regional supranacional, como um processo que se fortalece a cada dia,
onde os blocos econômicos são a ponta de lança desse processo, como é o caso do
MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), portanto as fronteiras nacionais e as relações
transfronteiriças ganham em importância no período atual.
A
integração regional decorre de duas forças distintas, solidárias e
contraditórias. Por um lado a velocidade dos fluxos representativa do circuito
superior da economia: as exigências de transnacionalização dos mercados,
consoante os interesses das grandes corporações transnacionais, e; por outro
lado a vida de relações local com sua própria temporalidade e velocidade: as
exigências das economias territoriais (aquelas que se mantêm nacionais porque
carecem das contiguidades) e das sociedades nacionais que, fortalecendo-se por
meio das integrações, buscam a autodefesa frente ao invasor processo de
globalização econômica.
A
integração sul-americana, que aparentemente se mostra irreversível (o caso do
MERCOSUL é patente), já vem promovendo uma maior sensibilização demográfica e
econômica das zonas de fronteira, por isso é necessário também uma “política de
fronteiras”. Esta política diz respeito às possibilidades que se abrem no campo
da cooperação transfronteiriça visando um melhor aproveitamento das
potencialidades e virtualidades sociais, econômicas, políticas e culturais de
lugares que, mesmo sendo divisados por fronteiras internacionais, estão unidos
por especializações funcionais, por interações espaciais (Corrêa, 1997). A
realização de uma “política de fronteiras” exige um maior conhecimento das
interações transfronteiriças, daí a importância de tal
tema.
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Para Martins (1996), apesar da tentativa de antropólogos de importar
ideias que Turner desenvolveu para explicar a franja pioneira nos Estados Unidos
– com as influências da fronteira na formação do caráter nacional americano –,
essas ideias, a rigor, não se aplicariam no caso brasileiro.
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