AS TRANSFORMAÇÕES TÉCNICAS DA ATIVIDADE LEITEIRA NO OESTE
CATARINENSE - BRASIL
Jóice Konrad
Mestranda em Geografia –
UFSC
Bolsista CNPq
Clécio Azevedo da
Silva
Prof. do Depto de Geociências – UFSC
RESUMO: No Brasil, o estado de Santa Catarina possui duas
importantes bacias leiteiras: Oeste Catarinense e o Vale do Itajaí. Até meados
de 1970, o Vale do Itajaí se destacava como principal região produtora de leite
do estado. Com a intensificação de atividades urbano-industriais no Vale do
Itajaí, há redução na produção de leite. Enquanto no Oeste, a produção
apresentava-se crescente. Isso permitiu o deslocamento de capitais industriais
para o Oeste Catarinense, ocorreu a (re) organização da atividade leiteira no
estado. Atualmente, a principal bacia leiteira é o Oeste Catarinense,
responsável por cerca de 70% da produção de leite do estado. Esta atividade é
desenvolvida em sua maioria por produtores familiares, que não conseguiram se
inserir/permanecer na suinocultura. Nos últimos anos, nota-se que a atividade
leiteira no Oeste Catarinense tem passado por transformações, especialmente a
inserção de objetos técnicos nas unidades de produção, dessa forma,
transformando e dinamizando o espaço rural dessa região. Este processo de
modernização tem sido induzido tanto pelo Estado, por meio da criação de normas
específicas para a produção de leite, como por indústrias que atuam na
industrialização de leite e derivados. Assim, este artigo tem por objetivo
analisar a (re) organização espacial da atividade leiteira no Oeste Catarinense
ao longo do processo histórico. E a partir disso, procurou-se identificar
características da atividade leiteira, bem como,
as transformações recentes que a atividade vem
sofrendo.
Palavras- Chaves: Atividade leiteira; Transformações; Organização
espacial; Oeste Catarinense;
THE TECHNICAL TRANSFORMATIONS OF THE DAIRY ACTIVITY IN THE WEST OF
SANTA CATARINA - BRAZIL
ABSTRACT: The state of Santa Catarina in Brazil has two important
dairy basins: the West Catarinense of the state and the Vale do Itajaí. Untill
around 1970 the Vale do Itajaí stood out as the main dairy producer region in
the state. With the intensification of urban-industrial activities in the Vale
do Itajaí, the dairy production decreased, while in the West of the state the
production kept increasing. It allowed the transference of industrial capital to
the west of the state, and so there was a reorganization of the dairy activities
in the state. Nowadays, the main dairy basin is the west of the state, which
produces around 70% of the state’s milk. This activity is made on its majority
by family farmers that were not able to get into or keep their business on pig
farming. In the last years the dairy activity in the west of the state has been
going through a process of transformation, especially the input of technical
objects in the production units, which in turn has been transforming and
increasing the dynamics of the rural areas in that region. This process of
modernization has been induced both by the state, through the creation of
specific regulations for dairy production, and by industries that operate in the
sector of milk and derivatives industrialization. Therefore, this article aims
on analysing the space reorganization of the dairy activity in the west of Santa
Catarina along the historic process. From that we attempt to identify the
characteristics of the dairy activity developed in the region, as well as the
transformations that it has been undergoing.
Key words: Milking activity; Transformations; Space organization;
West of Santa Catarina
INTRODUÇÃO
Nos
últimos trinta anos, o espaço rural catarinense tem sofrido profundas
transformações, sobretudo, sociais e técnicas. Isso se deve em parte a
modernização da agropecuária brasileira, ocorrida a partir de 1960, a qual
contribuiu para uma maior inserção da agricultura na economia de mercado,
intensificando as relações entre campo-cidade.
Na
região oeste de Santa Catarina, essas mudanças refletem como agricultura
familiar tem se organizado no espaço rural.
A principal transformação foi à reestruturação da
suinocultura, decorrente da política de modernização da agropecuária, criada
pelo governo federal nos anos 1960.
Até meados dos anos 1980, a suinocultura
predominava em pequenos estabelecimentos rurais. O sistema de criação de suínos
praticado na região se baseava no ciclo completo, isto é, todas as fases da
criação dos suínos, desde a gestação e maternidade até a engorda, era
desenvolvidas na mesma unidade de produção. Assim, a produtividade estava
relacionada com o aumento no número de produtores.
Nos
anos 1980, ocorreu a reestruturação da suinocultura, ou seja, a modernização da
atividade, conseqüentemente, a redução no número de produtores. Esse processo se
intensifica nos anos 1990, quando algumas empresas da região, transformam o
sistema de ciclo completo em um modelo mais intensivo, dividindo o processo
produtivo em várias fases, ocorrendo assim um desmembramento dessas atividades
em outros estabelecimentos, dando origem, por exemplo, as Unidades de Produção
de Leitão (UPL) e Unidade de Terminação (UT) (MIELE,
1997).
Essa
mudança organizacional da atividade permitiu a redução do número de produtores,
sem diminuir a quantidade da produção. Assim, o processo de intensificação da
suinocultura levou a concentração espacial da atividade em determinadas
microrregiões, especialmente aquelas localizadas nas proximidades dos
frigoríficos abatedouros.
Com a
redução do número de suinocultores, a produção do leite que até então tinha um
caráter secundário e/ou complementar nas unidades produtivas, surge como uma
alternativa de renda para as propriedades que foram excluídas do sistema de
integração de criação de suínos. Apesar da baixa competitividade da produção
leiteira, devido a forma heterogênea e desconcentrada da atividade, esta
possibilitou renda e, permitiu que esses agricultores familiares permanência no campo (MELLO,
1998).
Diante
dessas transformações, este trabalho revisa a formação sócio-espacial do Oeste
Catarinense, a partir desta busca analisar a (re) organização espacial da
atividade leiteira no Oeste Catarinense ao longo do processo histórico.
Procurou-se ainda, identificar suas características, bem como, as transformações recentes que a
atividade vem sofrendo.
Para o
desenvolvimento desse trabalho foi realizada revisão bibliográfica sobre a
produção de leite no Oeste Catarinense e sua organização espacial, afim fornecer
subsídios para interpretação da realidade empírica da bovinocultura de
leite no Oeste Catarinense. Para caracterização da atual organização da
bovinocultura de leite foram utilizados dados de fontes secundárias como o Censo
Agropecuário (IBGE); foi realizado também, entrevista com pesquisadores da Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
(EPAGRI).
O
artigo está estruturado em três momentos, além da introdução e das considerações
finais. No primeiro momento, deu ênfase para a formação sócio-espacial do Oeste
Catarinense, de forma a apreender sua história e sua configuração espacial, a
qual está baseada em atividades agropecuárias e agroindustriais. Em segundo
momento, discuti-se sobre a (re) organização da atividade leiteira no Oeste
Catarinense, destaca-se a importância da atividade leiteira na agricultura
familiar regional, a partir da reestruturação da suinocultura a partir dos anos
80. E por último, destacam-se as transformações espaciais decorrentes dessa (re)
organização espacial e como está tem/podem interferir nas unidades produtivas.
FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DO OESTE CATARINENSE
Com o
intuito de compreender a formação sócio-espacial do Oeste Catarinense,
elaboramos uma releitura do processo de ocupação, identificando agentes
envolvidos, os sistemas de produção, que contribuíram para articulação da agricultura
familiar regional com as agroindústrias.
O Oeste
de Santa Catarina é delimitado ao norte pelo estado do Paraná; ao sul pelo
estado do Rio Grande do Sul; a oeste com a Argentina; com a mesorregião Norte
Catarinense ao nordeste e ao sudeste com a mesorregião Serrana do estado de
Santa Catarina.
Esta
possui uma área territorial de 27.288.763km², a qual está dividida em cinco
microrregiões: São Miguel do Oeste, Chapecó, Xanxerê, Concórdia e Joaçaba,
constituindo ao todo 122 municípios, aproximadamente 29% do estado (IBGE,
2006).
O Oeste
Catarinense compreendeu área de muita disputa, inicialmente internacional, entre
Portugal e Espanha, quando o Brasil era colônia de Portugal; em segundo momento,
entre Brasil e Argentina – questão que ficou conhecida por “Questão de Palmas”
ou “Questão de Missiones” e, num terceiro interestadual, entre Paraná e Santa Catarina.
Assim,
a configuração do limite do estado de Santa Catarina é datada do século XX. Foi a partir de 1916, que a região oeste
foi incorporada ao estado, após disputar a posse com o Paraná – a qual
contribuiu para eclosão da Guerra do Contestado. De acordo com Werlang (2006, p.22), “[...] a área em disputa
possuía aproximadamente 48 mil km2, e tinha os rios Uruguai ao sul e
Iguaçu ao norte como limites”.
A
definição dos limites entre estes dois estados foi resolvida em 1916, por meio
de um acordo o qual estabeleceu divisão da área disputada em duas partes, dessa
forma, o Paraná ficou com a aproximadamente 20 mil km² e Santa Catarina com 28
mil km² (WERLANG, 2006).
A fim
de legitimar sua posse sobre a área, o governo de Santa Catarina em 1917, criou
os municípios de Mafra, Porto União, Cruzeiro (atualmente Joaçaba) e Chapecó.
Buscou ocupar esse vazio, repassando imensas glebas
de terras a empresas particulares de colonização,
a maioria de origem rio-grandense (WERLANG, 2006).
Assim,
competia às companhias colonizadoras abrir estradas e povoar as terras.
Inicialmente, estas empresas exploravam a madeira, pois possuía um grande valor
comercial. A partir de então demarcavam os lotes ao longo das estradas vicinais
e vendiam aos migrantes (STÜRMER, 2008), especialmente das
colônias velhas do Rio Grande do Sul.
Os
lotes possuíam uma área de 20 a 30 ha – sendo denominada regionalmente
“colônia”, as quais contavam com áreas destinadas a campos de culturas e matas
(CAMPOS, 1987; ESPÍNDOLA, 1996). Este tipo de apropriação contribuiu para a
formação da estrutura fundiária, baseada na produção familiar em pequenas
propriedades.
Os
migrantes buscavam terras baratas e melhores condições de vida, já que o
crescimento das famílias e a divisão dos lotes contribuíram para inviabilizar
sua reprodução. Essa situação levou muitos descendentes de alemães, italianos,
poloneses a emigrar para outras áreas, sobretudo a partir de 1920, ao Oeste
Catarinense e ao Sudoeste do Paraná.
Com isso, houve a expansão da fronteira agrícola para
hinterland do país, onde havia uma
grande quantidade de terras ainda não ocupadas (WAIBEL,
1979)
Estes
migrantes vinham por meio de transporte ferroviário até a estação de Marcelino
Ramos, no Rio Grande do Sul. E de lá o transporte era feito em lombo de animais
ou em carroças, puxadas a cavalo ou boi (MARCHESAN, 2003). Na
bagagem, trouxeram
além da tradição cultural, os sistemas produtivos e técnicos das colônias velhas
baseados na policultura (PIZZOLATTI, 1996).
Os
sistemas agrícolas desenvolvidos pelos migrantes baseavam-se no cultivo de
mandioca, batata, feijão e milho. Dedicavam-se ainda, ao criatório de animais
que servia para o consumo (carne e leite), o trabalho na lavoura e ainda, como
meio de transporte. Ressalta-se que o milho, era o principal cereal utilizado na
alimentação das famílias e dos animais, enquanto que a criação de suínos era a
principal atividade pecuária, voltada a produção de banha.
A
produção do leite, até 1970, era voltada para subsistência da família e para a produção de
derivados, especialmente queijos e manteiga, sendo que o excedente era
comercializado, voltado para atender o mercado local. Assim, ele possuía um
papel secundário nas propriedades. Mesmo assim, de acordo com a Enciclopédia dos
Municípios, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no
ano de 1959, a região Oeste apresenta vinte municípios, dos quais treze o leite já se destacava como principal produto transformado ou
não de origem animais (IBGE, 2009).
Assim,
o excedente produzido representava uma reserva econômica para os produtores
familiares, o qual podia ser vendido ou permutado por outros gêneros não
produzidos na unidade de produção, como o sal, tecidos e
medicamentos, em casas comerciais ou atravessadores, que abastecia o incipiente
mercado local, (PIZZOLATTI, 1996).
Campos
(1987) afirma no estágio inicial da colonização no Oeste de Santa Catarina, a
inexistência de um mercado local e o isolamento, fez com que estes praticassem
uma agricultura de subsistência, embora alguns migrantes já praticavam no Rio
Grande do Sul, uma agricultura “mercantilizada” ou “comercial”.
No
entanto, foi com a estrada de ferro São Paulo – Rio Grande que os excedentes
alcançaram mercados mais longínquos, sendo escoados principalmente para São
Paulo (WAIBEL, 1979). À medida que
“as
frentes agrícolas vão se avolumando e diversificando, as pequenas cidades vão
tomando corpo. O Oeste começa a despontar por sua grande produção agrícola e
pecuária. A industrialização dos produtos agrícolas começa a diversificar as
atividades” (POLI,1995, p.94-95)
Em
outras palavras, a medida que o meio rural demandas por produtos, houve a constituição de
núcleos urbanos, os quais supriam as necessidades básicas, comerciais e
produtivas da região (ESPÍNDOLA, 1999), além de na melhoria das vias de transporte e
comunicação.
A criação de suínos desenvolvida na região foi responsável pela
dinamização econômica local e regional. A partir de 1940, surgem os primeiros
frigoríficos de abate de suínos no Oeste Catarinense, o que possibilitando a
acumulação de capital e a intensificação das relações
comerciais.
Estes
foram beneficiados com as políticas públicas do Estado, que a partir da década
de 1930, voltou-se
para a industrialização do país, tendo como objetivo substituir as
importações. A partir de 1960, o processo de modernização da agricultura, causou
significativas transformações na estrutura técnica do país. Em síntese,
“a
indústria deveria liderar o processo de desenvolvimento econômico e que à
agricultura caberiam os papéis de “financiar” o esforço de substituição de
importações, promover matérias-primas para a indústria nacional nascente e
alimentar a crescente população urbana do país” (GRAZIANO DA SILVA, 2003,
p.87).
Assim,
no Oeste Catarinense “a evolução da agroindústria se deu a partir do aumento da
produção, pelas facilidades encontradas na comercialização” (POLI, 1995,
p.94-95). Com isso, houve
expansão
das unidades de industrialização de carne e derivados, dando origem a
importantes Complexos Agroindustriais (CAIs), como Sadia, Perdigão, Seara Alimentos, atuando em vários ramos
da atividade industrial.
A criação do sistema de integração agroindustrial, responsável pela articulação entre a
agroindústria e produtor, contribuiu para o sucesso da suinocultura e
avicultura, bem como, para o desenvolvimento
econômico e regional.
Além
disso, a modernização da agricultura em Santa Catarina contribuiu para cimentar
a relação entre agroindústria e produtor, isto é, estreitando relações com o
mercado, permitindo assim, que uma significativa parte da agricultura familiar
se modernizasse. Porém, este fato não pode ser generalizado, pois “o processo de
modernização da agricultura não se verifica, no entanto, de forma homogênea: a
modernização é lenta em algumas partes, rápida em outras e, fundamentalmente,
desigual” (MOREIRA, 1999, p.130).
(RE)
ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE LEITEIRA EM SANTA CATARINA: O CASO DA BACIA LEITEIRA DO
OESTE CATARINENSE
A
bovinocultura de leite no Oeste catarinense está associada ao processo de
ocupação e colonização dos descendentes de imigrantes, alemães e italianos,
vindos do Rio Grande do Sul ocorrida a partir da metade do século XX. A
estrutura fundiária dessa região caracterizava-se pela predominância de pequenas
propriedades, as quais são exploradas essencialmente pela mão-de-obra
familiar.
Até 1970, no oeste
catarinense, o rebanho de bovinos, tanto de leite quanto de corte, desempenhava
três funções nas unidades produtivas: auxiliava no preparo da lavoura; servia
ainda como meio de transporte e contribuía para a subsistência familiar com
abastecimento, especialmente, de carnes e leite in natura, e de produtos derivados como
a manteiga, queijo, requeijão entre outros.
O
excedente derivados era comercializado, dessa forma, abastecia os núcleos
urbanos. A renda obtida pela comercialização dos derivados era destinava a
aquisição de bens não produzidos na propriedade, como sal, café, medicamentos,
tecidos e ao pagamento da energia elétrica, quando existia.
Assim,
pode-se perceber que o leite era um produto secundário nas propriedades,
localizadas no Oeste Catarinense, significava apenas um complemento. A criação
de suínos, desde a colonização do Oeste, destacou-se na economia regional, de
forma que, a policultura familiar se tornou hierarquicamente subordinada à
suinocultura (MIOR, 2003).
Além
disso, a industrialização do leite se dava de forma artesanal, tendo como
objetivo o abastecimento do mercado local com produtos lácteos (leite, manteiga,
creme de leite e queijo). Apesar de, o leite já ser em alguns municípios o
principal produto de origem animal (ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS DE
1956, 2009).
A
EXPANSÃO DA ECONOMIA LEITEIRA NO OESTE CATARINENSE A PARTIR DA DÉCADA DE
1970
Até os
anos 70, a região do Vale do Itajaí era a principal região produtora de leiteira
de Santa Catarina (PAULILO e SCHMIDT, 2003). No final dos anos 70, o volume de
leite produzido no Oeste Catarinense supera a produção de leite do Vale do
Itajaí. Porém, está última continua sendo a principal quanto a industrialização
e o beneficiamento de leite in
natura.
Essa
redução no volume de leite produzido no Vale do Itajaí se deve especialmente a
expansão urbana e industrialização dessa região. Com isso, na de 1980, o Oeste
passa a ser a principal bacia leiteira de Santa Catarina, tanto no volume
produzido quanto na industrialização e no beneficiamento de
leite.
O
rápido fortalecimento da economia leiteira se deu paralelamente à decadência da
bacia leiteira do Vale do Itajaí. Mas isso não significa que está parou de
produzir, mas sim que deixou de ser a principal produtora. A produção da região Oeste, em 2006 correspondeu a 72,6% da
produção de todo leite produzido no estado, enquanto que o Vale do Itajaí 11,3%
(CENTRO DE INTELIGÊNCIA DO LEITE, 2009).
Segundo
Rover e Lazarin (2008) os principais fatores que potencializaram a produção de
leite no Oeste foram a possibilidade da utilização de terrenos não nobres, isto
é, que não eram utilizados; absorvia mão-de-obra em épocas ociosas de lavoura;
baixo investimento inicial na implantação da atividade na unidade produtiva.
Ressalta-se ainda outro fator, não apontado por estes autores, mas que possui
mesma ou maior relevância - a entrada de uma renda mensal, a partir da
comercialização do leite.
Este
aumento, que também ocorreu em outros estados, se deve em parte também ao fim do
tabelamento de preço do leite, pois desde 1945 até início dos anos 90, o Estado
controlava a importação e tabelava o preço do leite, fixando os valores a serem pagos ao produtor e
pelo consumidor, com intuito de garantir preço baixo no mercado interno
(COLI, 1992).
O
tabelamento não incentivou investimentos
na atividade leiteira, bem como, na sua industrialização, o que gerava um
déficit na produção do país. Assim, era necessário recorrer a importação para
abastecer o mercado interno.
Em
1976, o governo federal decreta a obrigatoriedade da inspeção sanitária para as
empresas que atuam com produtos de origem animal. Com isso, todas as empresas a
precisaram adequar seu sistema de produção, que era quase artesanal, já que
maioria delas operava de equipamentos obsoletos. Isso fez com que várias
empresas fossem fechadas, especialmente no Vale do Itajaí.
Até os anos 90, a cadeia produtiva do leite não se
caracterizava como dinâmica e moderna, sem falar, que a produção no Oeste, era
pulverizada e de baixa produtividade.
A década de 1990 foi marcado por profundas alterações, Alves
destaca algumas, tais como:
o fim
do tabelamento do leite pasteurizado; abertura da economia a concorrência
externa pela redução de barreiras tarifárias e não tarifárias; liberação das
importações de leite em pó e demais produtos lácteos para a iniciativa privada;
concentração no setor industrial de laticínios e, principalmente, no setor
varejista (grandes redes de supermercados) e início do crescimento das vendas de
leite longa vida (ALVES, 2001, p.79).
Com a efetivação do
MERCOSUL, intensificou-se a concorrência no mercado brasileiro, pois a Argentina
e o Uruguai possuíam índice de produtividade e qualidade superior em seus
produtos derivados, quando comparada com os brasileiros (PAULILO, 2002).
No
Oeste Catarinense, outro fator que contribuiu para esse aumento foi a
reestruturação da suinocultura nos anos de 1990, onde os produtores
marginalizados do sistema de integração, encontraram na comercialização do leite
in natura a alternativa de fonte de
renda e trabalho (MELLO,1998).
Essa
conjuntura atraiu capitais industriais à região, permitindo assim expansão e a
consolidação da atividade (SOUZA, 2009). Atualmente, o
Oeste Catarinense continua sendo a principal bacia leiteira de Santa Catarina.
De acordo com estudo realizado pelo Departamento de Estudos Sócio-econômicos
Rurais, a bacia leiteira do Oeste Catarinense apresentou a maior variação (391%)
entre os 1990 e 2007 no país, conforme pode ser visualizado na tabela
1.
Tabela
1.
Principais
Mesorregiões produtoras de leite no Brasil - 1990 e 2007 (mil
litros) |
Mesorregião |
Produção de leite
(mil Litros) |
1990 |
2007 |
Variação
(%) |
1 |
Noroeste
Rio-Grandense –RS |
610.548 |
1.853.343 |
204 |
2 |
Triângulo Mineiro/
Alto Paranaíba – MG |
941.388 |
1.766.897 |
88 |
3 |
Oeste
Catarinense – SC |
274.798 |
1.348.291 |
391 |
4 |
Sul
Goiano – GO |
544.618 |
1.301.837 |
139 |
5 |
Sul/Sudoeste de
Minas – MG |
812.158 |
1.234.277 |
52 |
6 |
Oeste
Paranaense – PR |
226.492 |
783.177 |
246 |
7 |
Zona da
Mata – MG |
525.316 |
728.497 |
39 |
8 |
Centro
Goiano – GO |
295.760 |
688.014 |
133 |
9 |
Leste
Rondoniense – RO |
147.969 |
631.078 |
327 |
10 |
Oeste
de Minas – MG |
350.251 |
604.145 |
73 |
Fonte:
Pesquisa Pecuária Municipal - IBGE. Elaboração:
Deser. |
Pode-se
perceber na tabela 1, que a bacia leiteira do Oeste Catarinense compõe na
verdade uma macrobacia leiteira que compreende o Noroeste do Rio Grande do Sul e
Sudoeste do Paraná, ultrapassando os limites
político-administrativos.
De
acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a atividade leiteira
é desenvolvida por mais 50 mil produtores no estado de Santa Catarina (IBGE,
2006), tendo uma grande importância econômica e social para população
rural.
TRANSFORMAÇÕES TÉCNICAS NA BOVINOCULTURA DE LEITE DO OESTE
CATARINENSE
Para
compreender as transformações socioespaciais, é fundamental contextualizar no
tempo e no espaço as relações, tendo em vista que estas são dinâmicas e também
dialéticas. As metamorfoses espaciais, não se limitam as explicações locais, o
processo é muito mais amplo e complexo, envolvem diversas escalas.
A
partir dos anos 1960, as transformações na agropecuária foram intensas, marcadas
pelo período da modernização da agropecuária brasileira, a qual contribui para a
integração das atividades comerciais entre campo-cidade. Dessa forma, as
políticas públicas buscavam o desenvolvimento agrícola do país. Além de
transformar a base técnica e socioeconômica do campo brasileiro, especialmente
entre os anos 60 e 80. Entretanto, essas transformações se desenvolvem com
intensidades e formas distintas.
De acordo com Santos (1996) o espaço
geográfico é constituído de um sistema indissociado de objetos e de ações. Os
objetos podem ser tanto naturais como sociais. Para este autor, os fixos “são os
próprios instrumentos de trabalho e as forças produtivas em geral, incluindo a
massa dos homens” (2008, p.86). Já os fluxos, seria
o
movimento, a circulação e assim eles nos dão também a explicação dos fenômenos
da distribuição e o consumo [...] Os fixos, como instrumentos de trabalho, criam
massas. Mas não basta criar massas, impõe-se fazer com que se movam. E a
capacidade de mobilizar uma massa no espaço é dada exatamente pelo poder
econômico, político ou social – poder que, por isso, é maior ou menor segundo as
firmas, as instituições e os homens em ação (SANTOS, 2008,
p.86-87).
Assim,
os fixos dão origem aos fluxos, cujos chegam novamente aos fixos, num processo
dialético de interação e alteração. E, através desse movimento, o espaço é
constituído.
Dessa
forma, os fluxos transformam constantemente a organização espacial, (re) definem
os meios de produção e as relações sociais de trabalho, contribuindo nas
mudanças da paisagem, novas formas e até funções do espaço rural.
Estes
correspondem aos fixos, os instrumentos de utilizados na produção do leite
(ordenhadeira, tanque de resfriador) ou que dão algum suporte para que a
produção (posto de resfriamento de leite, as estradas); já as ações, são os
fluxos decorrentes dos fixos, neste caso o caminho que a captação da
matéria-prima percorre do produtor até indústria; é também, as relações entre
empresa e produtor; as códigos que normatizam a
produção.
Nesta
(re) organização, o papel do estado não pode ser ignorado. Tendo em vista que
este financiou a modernização da agropecuária brasileira, bem como, tem criado
diretrizes com objetivo de melhorar a qualidade do leite produzido no Brasil. É
recentemente que a atividade leiteira no Oeste Catarinense tem se modernizado.
A
bovinocultura de leite se distingue da suinocultura e avicultura, pois não há
contrato formal entre os produtores e os laticínios.
A
cadeia produtiva não está fechada, não há uma rigidez no sistema de produção. O
produtor continua autônomo na escolha como do sistema de produção, além de ser
livre para escolher para quem deseja comercializar.
Mas a
medida que ocorre a (re) organização da atividade leiteira, novas técnicas são
inseridas, desde a diversificação de pastagens até o uso de inseminação para o
melhoramento genético do rebanho. O uso da ordenhadeira torna-se cada vez mais
comum. Assim, vai ocorrendo adequação técnica da atividade conforme a
legislação.
Assim,
este processo tem sido conduzido e normatizado pelo interesse econômico de
cooperativas e laticínios que buscam expandir sua produção e, também, pelo o
Estado, através de políticas de iniciativa e modernização da atividade. No
entanto, a forma como esta se configura sobre o espaço regional, é marcada por
singularidades, dadas pela formação socioespacial da região, e algumas vezes,
resiste as modificações impostas.
Para
tanto, criou-se programas como Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do
Leite (PNMQL, 2009), juntamente com a Instrução Normativa 51 exige alterações no
sistema de produção de leite, com intuito de padronizar a produção. As regras
estabelecem índices mais rígidos em relação a contagem de células somáticas,
contagem bacteriana, detecção de resíduos e temperatura do leite. Além de
análises adicionais como: teor de gordura, de proteína, sólidos totais, contagem
bacteriana e de células somáticas deverão ser realizadas quinzenalmente por
laboratório credenciado pelo ministério da Agricultura (MAPA,
2009).
Outro
programa lançado é o de Incentivo à Mecanização, ao Resfriamento e ao Transporte
Granelizado da Produção de Leite (PROLEITE), criado pelo BNDES, e tem por
objetivo financiar a aquisição de máquinas e equipamentos necessários à
modernização da pecuária leiteira (MAPA, 2009).
Dessa
forma, o produtor familiar é um importante elo da cadeia produtiva do leite,
pois é ele o responsável pela produção da matéria-prima. No entanto, a relação indústria e produtor é conduzida por uma
nebulosa, há dissenso, além de um carater dialético (PAULILO,
1990)
Os
contratos de produção são um meio de ajustar a atividade do agricultor a uma
economia dominada pela indústria: as indústrias agroalimentares têm necessidade
de planificar; os agricultores têm a necessidade de assegurar o escoamento de
sua produção em boas condições. Parece ser cada vez mais evidente que uma
transformação das ligações entre os circuitos de compra ou de distribuição das
indústrias alimentares e a agricultura é necessária (BODIGUEL apud TEDESCO,
1999, p.133)
Com
essas transformações em andamento, muito se especula sobre ao destino dos
produtores familiares de leite, sobretudo, se ocorrerá o processo seleção dos
produtores que responde com maior eficiência as exigências da indústria, ou
seja, especialização do produtor como ocorreu em outras atividades no Oeste
Catarinense.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
modelo de desenvolvimento regional no Oeste está calcado principalmente
atividade agroindustrial e na agropecuária, característica de sua formação
socioespacial. A produção de aves e suínos
talvez seja, até o momento, a expressão máxima da organizaçao da produção
moderna e do modelo produtivista implementados na região.
Embora,
atividade leiteira sempre esteve presente nas unidades produtiva, para atender
seu consumo; é nos últimos vinte anos que ela tem ganhado outra conotação com a
(re) organização da atividade, sendo o leite comercializado para empresas na
forma in natural. Mas, isso não significa que ela seja a principal atividade da
unidade, mas que ela, mesmo com essas transformações ela continua sendo, uma
atividade estratégica para as unidades de produção.
No Oeste Catarinense, esta atividade não é formalizada por
contrato, diferente das atividades de suínos e aves desenvolvidas na região.
Dessa forma, o produtor possui maior autonomia e liberdade na produção e na
comercialização desta quando comparada com outras atividades como suinocultura e
avicultura.
Porém, com a
(re) organização da bacia leiteira no Oeste e a legislação sanitária federal
vigente, tem exigido mudanças no sistema de produção
leiteira com o intuito de modernizar e o aperfeiçoar as unidades produtivas
tendo em vista os níveis de qualidade estabelecidos.
O uso deste critério é um diferencial no mercado crescentemente
competitivo, revelando a seletividade face aos custos de investimento e escala
de produção que começa a exigir,
poderá ocasionar alguns limites para o
desenvolvimento da atividade, promovendo uma nova fase de exclusão
sócio-econômica dos agricultores.
No entanto, não existe nenhuma política estatal específica que
auxilie nesse processo de transição. Caberia ao Estado, reconhecer as
particularidades do setor do agropecuário, especialmente da agricultura
familiar, e desenvolver políticas agrícolas e agrárias que possibilitasse estes
produtores sua manutenção na atividade, logo, no espaço rural com dignidade,
evitando, assim, o êxodo rural.
Para
tanto, vem sendo crescente a busca por técnicas alternativas de produção de
leite, de forma a minimizar os custos de produção e manter a produtividade.
Além, de incentivos pela diversificação da produção nas unidades
produtivas.
REFERÊNCIAS
ALVES, Daniela Rodrigues. Industrialização e Comercialização do leite de
consumo no Brasil. In: MADALENA, Fernando Enrique; MATOS, Leovegildo Lopes de;
HOLANDA JR., Evandro Vasconcelos (orgs). Produção de leite e Sociedade. Belo Horizonte: FEPMVZ, 2001.
p.75-83.
CENTRO
DE INTELIGÊNCIA DO LEITE. Disponível em: <http://www.cileite.com.br/panorama/edicao29.html>. Acesso em 30 abr. 2009
CAMPOS, I. Os colonos do Uruguai: relações entre a pequena produção e
agroindústrias no Oeste Catarinense. (Dissertação) Universidade Federal da
Paraíba. 1987. 370p.
COLI, Luiz Eurico Junqueira. Análise da dinâmica do sistema produtivo de
leite do estado de Santa Catarina. 1992, 287f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis.
ESPÍNDOLA, Carlos José. Agroindústrias do Oeste Catarinense: o caso
Sadia. (Dissertação) Universidade de São Paulo. São Paulo. 1996.
310p.
______________________. As agroindústrias no Brasil: o caso SADIA.
CHAPECÓ: ed. Grifos, 1999.
GOMES, Ézio José. Dados do Censo Agropecuário confirmam
concentração da atividade leiteira no Brasil. Departamento de Estudos
Sócio-Econômicos Rurais. N.170, Nov. 2009. <http://www.deser.org.br/documentos/imagem/ConjunturaLeite_Novembro09.pdf>
GRAZIANO DA SILVA, José. Tecnologia e Agricultura Familiar. Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2003. 238p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa da
Pecuária Municipal, Rio de Janeiro, v. 34, p.1-62, 2006 Disponível
em <http://www.ibge.gov.br/home/> Acesso em 28 de dezembro de
2008.
___________________________________________________________. Censo
agropecuário 2006. Disponível em < http://www.ibge.gov.br/cidadesat>
Acesso: 30 abr. 2009
_____________________________________________________.
Enciclopédia dos municípios de 1956. Rio de Janeiro: IBGE, 1959. Disponível em
< http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/EMB-Enciclopedia%20dos%20Municipios%20Brasileiros/EMB_Volume32_SC.pdf>
Acesso em 30 abr. 2009
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. Estatísticas
cadastrais – municipais. Recadastramento 1992.2002, vol. I. Disponível
em < http://www.incra.gov.br
>
Acesso em 28 de dezembro de 2007.
MARCHESAN, J. . A questão ambiental na produção agrícola: um estudo
sócio-histórico -cultural no município de Concórdia (SC). 1ª. ed. Ijuí: Unijuí,
2003. 232 p.
MELLO, Márcio Antonio de. A trajetória da produção e transformação do
leite no oeste catarinense e a busca de vias alternativas. (Dissertação).
Universidade Federal de Santa Catarina. 1998.
165p.
MIELE, Marcelo. Cadeia Produtiva da carne suína no Brasil.
Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/6/97.pdf>.
Acesso: 30 out. 2008
MINISTÉRIO DA ARICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Sistema de
Legislação Agrícola Federal. Disponível em < http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=1695>
Acesso em: 30
abr. 2009
MIOR, Luis Carlos. Agricultores familiares,
agroindústrias e território: a dinâmica das redes de desenvolvimento rural no
Oeste Catarinense. (Tese) Universidade Federal de Santa
Catarina. Santa Catarina. 2003. 316p.
__________________. Agricultores Familiares, Agroindústrias e redes de
desenvolvimento rural. Chapecó:
Argos, 2005. 338p.
MOREIRA, Roberto José. Agricultura Familiar: processos sociais e
competitividade. Rio Janeiro: Mauad,
1999,198p.
MULLER, Geraldo. O Complexo Agroindustrial Brasileiro. Relatório de
Pesquisa. Escola de Administração de Empresas de São Paulo – Fundação Getúlio
Vargas, 1981. 115p.
PAULILO,
M. I. S. leite:
produção familiar, mercado e saúde pública.
Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas. Disponível em
<
http://www.cfh.ufsc.br/~naf/doc/Leite-prod.pdf>
Acesso
em: 30
abr. 2009
_______________. Produtor e Agroindústria: Consensos e Dissensos.
Florianópolis/SC: Ed. da UFSC/ Secretaria de Estado da Cultura e do Desporto,
1990. 182 p.
PAULILO, M. I. S.; SCHMIDT, W. (orgs.) Agricultura
e espaço rural em Santa Catarina. Florianópolis: ed. da UFSC, 2003.
311p.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. RS: agropecuária colonial industrialização.
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. 216p.
PIZZOLATTI, R. L. Os pequenos produtores do oeste catarinense: integrados
ou entregados? (Tese) Universidade de São Paulo. São Paulo.
1996.343p.
POLI, Jaci. Caboclo: pioneiro e marginalização. In:
CENTRO DE ORGANIZAÇÃO DA MEMÓRIA SÓCIO-CULTURAL DO OESTE. Para uma história do
oeste catarinense: 10 anos de CEOM. Chapecó: UNOESC, 1995.
p.71-110.
PROGRAMA NACIONAL DE MELHORIA DA QUALIDADE DE LEITE. Disponível em
< http://www.cbql.com.br/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1> Acesso em: 30
abr. 2009
RENK, Arlene. A luta da erva: um ofício étnico da
nação brasileira no oeste catarinense. Chapecó-SC: Argos, 2006.
250p.
ROVER, Oscar José; LANZARIN, Alison. O
cooperativismo de leite do oeste de Santa Catarina/Brasil e a inclusão
sócio-econômica de agricultores familiares em condições vulneráveis.
Anais
do V Encontro de Pesquisadores Latino-americanos de Cooperativismo. Disponível
em <
http://www.fundace.org.br/cooperativismo/arquivos_pesquisa_ica_la_2008/058-rover.pdf>.
Acesso em:
30 abr. 2009
SANTOS, Geraldo Tadeu dos, e VILELA, Duarte. Produção leiteira –
analisando o passado, entendendo o presente e planejando o futuro. Anais da XXXVII
Reunião Anual da SBZ, Viçosa – MG, 24 a 27 de julho de 2000, p.231 – 266.
Disponível em <http://www.nupel.uem.br/producaoleiteira.pdf>,
Acesso em: 30
abr. 2009
SANTOS, Milton. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como
método. In: Espaço e Sociedade. Petrópolis- RJ: Vozes, 1979.
p.09-27.
______________. A natureza do espaço: técnica e tempo. Razão e Emoção.
São Paulo: Ed. Hucitec, 1996. 293p.
_______________. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Edusp,
2008.132p.
SILVA, Jussara Maria. Os Marcos Referênciais na Estruturação
Sócio-espacial da Cidade de Concórdia/SC. (Dissertação). Universidade Federal do
Paraná, 2001. Disponível em <http://www.uepg.br/rhr/v7n1/6-Jussara%20OK.pdf >,
acesso em 28 de dezembro de 2007.
SOUZA,
Joel José de. Gênese e Desenvolvimento da Indústria de Latícinios na região
Oeste Catarinense. 2009, 119f. Dissertação (Mestrado em Geografia)
Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis.
STÜRMER,
Nádia Roberta. O mundo rural em transformação: possibilidades e perspectivas
para os filhos de agricultores familiares em Barra Bonita (SC). (Dissertação)
Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. Disponível em < http://www.tede.ufsc.br/teses/PGCN0339-D.pdf>,acesso em 01 de maio de
2010.
TEDESCO, João Carlos. Contratualização
e racionalidade familiar. In: TEDESCO, João Carlos (org). Agricultura Familiar:
realidades e perspectivas. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. p.107-145
WAIBEL,
Leo. Capítulos de Geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE,
1979.328p.
WERLANG, Alceu Antonio. Disputas e Ocupação do espaço no Oeste
Catarinense: A atuação da Companhia Territorial Sul Brasil. Chapecó: Argos,
2006. 149p.
Este trabalho é parte do projeto de mestrado
desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal de Santa Catarina/UFSC - Brasil.
A área foi reivindicada pela Argentina durante quase
todo o século XIX, como parte de sua província de Missiones, tendo limite a
Leste os rios Chapecó e Chopim. Esta área corresponde a 30.620 km2.
Sendo esta considerada um grande vazio demográfico. A controvérsia entre os
países surge a partir da designação de dois rios limítrofes. O Brasil tinha como
fronteira ocidental o rio Peperiguaçu e seu a fluente Santo Antonio. Os
argentinos reivindicavam o estabelecimento da fronteira sobre outros dois rios a
cerca de cem quilômetros a leste: Pequirí-Guazú e San Antonio –Iguazú e pelos brasileiros de Chapecó e Chopim,
respectivamente (WERLANG, 2006).
A Guerra do Contestado foi um movimento armado,
ocorrido de 1912 a 1915, teve por um lado uma motivação econômica – a luta pela
posse dos ricos ervais da região, entre os estados de Santa Catarina e o Paraná;
e, por outro, uma motivação social – a reação dos caboclos expulsos das terras,
devido à concessão das mesmas pelo governo brasileiro a companhias colonizadoras
estrangeiras, devido a construção da ferrovia São Paulo - Rio Grande do Sul
(FERREIRA apud SILVA, 2001).
No entanto, as terras do Oeste Catarinense eram povoadas por
vários grupos de indígenas, conforme apontam historiadores e
pesquisadores. Além
disso, encontravam-se caboclos, os quais foram ao longo da história
marginalizados/invisibilizados (RENK, 2006).
Consideram-se as práticas produtivas dos produtores
familiares adaptadas aos moldes modernos de produção e vinculadas
especificamente a um produto. No entanto, acredita-se que hoje a agricultura
moderna, principalmente no Sul do Brasil, está, de uma forma ou de outra,
integrada aos vários ramos da dinâmica mercantil. O seu envolvimento, o seu grau
de dependência e de influencia são muito diferenciados entre produtores
(TEDESCO, 1999, p.118)
Ponencia presentada en el XII
Encuentro Internacional Humboldt "El Capitalismo como Geografía", La Rioja,
Argentina - 20 al 24 de setiembre de 2010.