GOVERNO E INFRA-ESTRUTURA ECONÔMICA:
a logística no processo de
reestruturação espacial da região Centro-Oeste, no
Brasil

Adauto de Oliveira
Souza

Silvana de
Abreu
Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD/Brasil)
GOVERNMENT AND THE
ECONOMIC INFRA-STRUCTURE: the logistics in the process of spatial
restructuration of the Center-West region, in Brazil
ABSTRACT - The main objective
of this work is to analyze the logistics’ thematic in the Brazilian Center-West,
focusing on their relations with the process of spatial restructuration: their
contradictions, tensions and articulations. The logistic, in a wide sense, and
the transport as activities-means of support to the production of goods and
services are essential for seizing the productive potential of a particular
space and they exert induction over the economy and over the production of the
geographical space. During the 20th century, profound transformations
have occurred in the productive process. Since 1980, still, the characteristics
of the production have drastically altered as a consequence of the accelerated
globalization. The concept of logistic followed these changes. As its origin
come from the military application, the II World War was the period from which
the concept of logistic started to comprehend a complete range of activities.
This new economical context and the intense debate about the historical
trajectory of the capitalism for the 21st century - “End of the
State” - impose a globalization discourse, a discourse about the search for
insertion and international competitiveness and of economical liberation, which
led to the re-definition of the policies and the ways of public investments. In
this sense, theories and practices have been denied. For example, the theory of
the development poles widely used as theoretical basis in the Brazilian
Governmental Plans and Programs (between 1950 and 1970) and in Latin America it
has given place to the policy of Integration and Development National Axis,
inside which logistic, intermodality, the rationalization and the integration of
the transports are highlighted. We have verifies that at present, the
financialization, the concentration and the concentration of capital facilitates
the corporative use of the territory. The exacerbation of the regional
productive specialization - sugarcane-sector regions, for
example – characterizes a type of productive region which is adapted to the
international markets, i.e., functional to globalization. In this context, in
the Brazilian Center-West and particularly in Mato Grosso do Sul, logistic
expressed the corporative circulation, the implantation of the bio-oceanic
routes, of the polyduct and the implantation of the railway line, for instance,
are geographical expressions of this current production.
Key words: Integration and Development Axis; Logistics;
corporative use of the territory.
Gobierno y
infraestructura económica: la logística en el proceso de reestructuración
espacial de la región Centro-Oeste, en Brasil
RESUMEN – El
objetivo principal de este trabajo es analizar la temática de la logística en el
Centro-Oeste brasilero, enfocando en sus relaciones con el proceso de
reestructuración espacial: sus contradicciones, tensiones y articulaciones. La
logística en su sentido ancho y el transporte como actividades-medio de apoyo a
la producción de bienes y servicios son esenciales para el aprovechamiento
del potencial productivo de un determinado espacio y ejercen inducción sobre la
economía y la producción del espacio geográfico. En el transcurso del siglo XX,
profundas transformaciones ocurrieron en el proceso productivo. A partir de
1980, todavía, las características de producción cambiaron vehemente como
consecuencia de la acelerada globalización. El concepto de logística siguió esos
cambios. De origen de la aplicación militar, fue después de la Segunda Guerra
Mundial que el concepto de logística pasó a tener toda una variedad de
actividades. Ese nuevo contexto económico y el intenso debate sobre los rumbos
históricos del capitalismo para el siglo XXI - “Fin del Estado” - impuso un
discurso de globalización, de busca de inserción y competitividad internacional
y de liberalización económica, teniendo conducido a la redefinición de las
políticas y caminos de los investimentos públicos. En ese sentido, muchos
conceptos, teorías y prácticas han sido rechazados. Por ejemplo, la teoría de
los polos de desarrollo muy utilizada cono base teórica en los Planes y
Programas gubernamentales en Brasil (entre los años de 1950 y 1970) y en la
América Latina ha surgido la política de los Ejes nacionales de Integración y
Desarrollo, en el interior de la cual la logística, la intermodalidad, la
racionalización y la integración de los transportes asumen una posición de
destaque. Ha sido constatado que en el presente, la financierización, la
concentración y la centralización del capital facilitan el uso corporativo del
territorio. La exacerbación regional productiva - regiones sucro-alcoholeras,
por ejemplo - caracteriza una clase de región productiva adaptada a los mercados
internacionales, eso es, funcional a la globalización. En este contexto, en el
Centro-Oeste brasilero y particularmente en Mato Grosso do Sul la logística
expresa la circulación corporativa y la implantación de las rutas biocenánicas,
del poliducto y del ramal ferroviario, por ejemplo, son expresiones geográficas
de esa producción rural.
Palabras-clave: Ejes de integración y
Desarrollo: Logística; uso corporativo del territorio.
Introdução
O objetivo principal deste trabalho é enfocar a temática da
logística no Centro-Oeste brasileiro, com destaque para as suas relações com o
processo de reestruturação espacial - suas contradições, tensões e articulações.
Entendemos ser importante a análise geográfica dos planos, programas e projetos governamentais
relacionados ao processo de expansão, racionalização, integração, modernização
dos transportes pois o estudo destas políticas públicas poderá contribuir para a compreensão da
produção do espaço regional.
A logística, em sentido amplo, e o
transporte, como atividades-meio de apoio à produção de bens e serviços, são
essenciais para o aproveitamento do potencial produtivo de um determinado
espaço, país ou mesmo bloco econômico. Estão estreitamente relacionados às
questões vinculadas ao desenvolvimento econômico e social, à geração de
empregos, à (re)produção espacial, à geração e transmissão de energia e ao meio
ambiente. Requerem ainda, para a manutenção, operação e ampliação de seus
serviços, substanciais parcelas de recursos
públicos.
Nesse sentido, organizamos o trabalho a partir da contextualização
histórica da ascensão da logística; situando-a, em termos de Brasil, no contexto
da década de 1990, através da substituição da política dos pólos de
desenvolvimento para política dos Eixos Nacionais de Integração e
Desenvolvimento, referimo-nos aos dois governos do Presidente Fernando Henrique
Cardoso (FHC, 1995/98 e 1999/2002). Também faremos algumas considerações acerca da
logística em dias atuais, no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2007-2011);
no Plano Estratégico de Desenvolvimento do Centro-Oeste, para o período
2007-2020 e por fim, identificamos
os projetos e as ações planejadas e/ou em execução no Mato Grosso do Sul,
tomando-se como referência a inserção de Mato Grosso do Sul no PAC e também ao Plano Plurianual de
Investimentos (PPA (2008-2011) dessa Unidade da Federação.
Mudanças produtivas e evolução na
logística
Parece não existir dúvidas quanto à
indução que a logística (em sentido amplo) e os transportes, como um dos mais
importantes elos da cadeia logística, exercem sobre o processo econômico e
espacial. O movimento de diferentes vias, instalações e equipamentos, de um
lado, eliminam obstáculos à propagação de inovações, fluxos mais intensos,
extensos e coletivos e, de outro, propiciam a expansão de mercados e a
mobilidade dos meios de produção. Assim, participam na determinação do processo
de estruturação do espaço geoeconômico, ao condicionar a produção espacial e a
localização das atividades e requerem para a sua manutenção, operação e
ampliação vultosos fundos públicos.
Kurz (1998, p.99) afirma que as áreas infra-estruturais
desenvolveram-se com a industrialização e a cientifização da produção como
necessidades práticas de uma produção total de mercadorias. Em suas
palavras:
Trata-se de inputs gerais, relativos à sociedade como um todo, que
entram na produção ao nível da empresa, sem que eles mesmos possam ser
representados em medida suficiente pela racionalidade da administração
empresarial (...). Por isso, não é por caso que os agregados infra-estruturais
são operados (ou subsidiados), na sua maior parte, pelo Estado em todos os
lugares e, com isso, abre-se mais um campo gigantesco da reprodução social, que
faz inchar a atividade estatal e as finanças
públicas.
Com tais pressupostos, as definições
de políticas governamentais e de instrumentos de planejamento adquirem especial
relevância nos momentos em que são exigidas – neste caso pelo mercado -
reformulações na estratégia, diretrizes e nos objetivos de expansão da economia.
No decorrer do século XX ocorreram
profundas transformações no processo de produção industrial. A partir da década
de 1980, todavia, as características da produção alteraram radicalmente em
consequência da acelerada evolução tecnológica e da intensificação das trocas
internacionais, ou seja, do fenômeno conhecido como “globalização.”
De acordo com Barat (2007, p.20), o
conceito de logística acompanhou essas mudanças, apesar de ter se originado na
aplicação militar, com seu objetivo envolvendo os processos de abastecimento
para suporte às operações bélicas. Foi somente a partir das estratégias e ações
militares de grande envergadura na Segunda Guerra Mundial que a logística passou
a abranger toda uma plêiade de atividades. Envolveu desde planejamento, execução
de projeto e desenvolvimento técnico até as etapas de obtenção, armazenamento,
transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação de material (para
fins operativos ou administrativos). A aplicação da logística às atividades
voltou-se, mormente, para a compatibilidade das etapas dos processos de
escoamento e distribuição, além da redução de custos decorrentes de gargalos
físicos, ineficiências operacionais e obstáculos burocráticos, institucionais e
jurídicos.
O processo de consolidação da
globalização na década de 1990 fez com que as prioridades e as estratégias
fossem alteradas: racionalizar o tempo e o custo passou a ser primordial e
concorrer unicamente em razão de qualidade e preço já não garantiria a
sustentação de uma vantagem competitiva significativa. Assim, a demanda pela
utilização de operadores logísticos tem aumentado.
Esse novo contexto e o intenso debate sobre os rumos históricos do
capitalismo para o século XXI - “Fim do Estado”, o
discurso de globalização, de busca de inserção e competitividade internacional e
de liberalização econômica - conduziriam a práticas de governos na
Europa, nos Estados Unidos e também na América Latina. Referimo-nos à
redefinição das políticas e caminhos dos investimentos públicos e as
privatizações.
Nesse sentido, muitos conceitos, teorias e práticas foram
rechaçadas.
O
exemplo do Brasil: o “Avança Brasil” (2000-2003) e o PAC
(2007-2011)
No Brasil, ao assumir governo em
2005, na concepção do Presidente FHC, o modelo de desenvolvimento e a estratégia
de ação que respaldavam as políticas de desenvolvimento regional estavam
esgotados, impondo-se uma reflexão sobre os rumos da política de desenvolvimento
nacional, indicando a urgência de conceber novas estratégias, rever políticas,
reestruturar instituições e renovar instrumentos de ação, a fim de que as
regiões periféricas pudessem dispor das condições de enfrentar os desafios
impostos pela competitividade e pelo desenvolvimento
sustentável.
Não é aleatória que o documento básico de sustentação à política
de investimentos do “Brasil em Ação” (PPA 1996/99), na primeira gestão do
governo Fernando Henrique (FCH 1995/98), contemple ásperas críticas ao
planejamento executado durante o “Brasil Potência”, fundamentalmente a partir do
II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND 1975/79) e aponte para o século
XXI, a necessidade de novas concepções, diretrizes e instrumentos para pensar o
desenvolvimento regional e a política econômica no
Brasil.
Uma das novas concepções surgidas foi a
dos Eixos Nacionais de
Integração e Desenvolvimento,
“
como uma tentativa de traçar uma estratégia de desenvolvimento para o Brasil que
permitisse a redução dos desequilíbrios regionais e sociais. A idéia básica era
tratar esses desequilíbrios sob uma nova ótica, levando em conta a geografia econômica do País e os fluxos
de bens e serviços, sem considerar, para efeito do planejamento, os limites
dos Estados e regiões.”
Tal concepção foi expressada na fala do então Presidente FHC:
“precisamos integrar o Brasil de maneira
equilibrada. E, precisamos preparar o Brasil para que ele possa participar da
economia, em nível internacional. (...) é a concepção moderna de desenvolvimento.
Não se trata de um pólo de
desenvolvimento que se concentre numa região, mas de um eixo que distribua seus efeitos numa
área mais ampla, pois é necessário que o Governo preste atenção ao conjunto do
Brasil.”
Desse modo, o Governo
FHC lançou o seu segundo PPA (2000-2003), denominado Programa “Avança Brasil” –
no qual o País foi delimitado geograficamente em nove Eixos de Integração e
Desenvolvimento: 1) Arco Norte; 2) Madeira-Amazonas; 3) Oeste; 4)
Araguaia-Tocantins; 5) Transnordestino; 6) São Francisco; 7) Rótula; 8) Sudoeste; e 9)
Mercosul.
O conceito de pólos de desenvolvimento de Perroux que, fora
largamente utilizado no Brasil e que fundamentou as diretrizes de política
econômica e regional, sob a égide das diversas superintendências de
desenvolvimento regional (SUDECO, SUDAM, SUDENE), foi rechaçado dando lugar aos
Eixos de Integração e Desenvolvimento.
Nesta concepção o conceito de integração foi
definido:
“como
relação de interdependência passa pelas seguintes combinações de articulações:
espacialmente, entre Eixos, entre um dado Eixo e o mercado internacional, entre
um dado Eixo e o Mercosul, e um dado Eixo e a costa (cabotagem); funcionalmente,
entre enfoques de natureza setorial (...).”
Por sua vez, o Eixo
foi definido como:
“Corte espacial composto por unidades territoriais contíguas,
efetuado com objetivos de planejamento, e cuja lógica está relacionada às
perspectivas de integração e desenvolvimento (...). Nesse sentido, dois
critérios devem ser levados em conta na sua definição e delimitação: a
existência de rede multimodal de transporte de carga (...) e a presença de
possibilidades de estruturação produtiva interna, em termos de um conjunto de
atividades econômicas que definem a inserção do eixo em um espaço mais amplo e a
maximização dos efeitos multiplicadores dentro de sua área de
influência.”
Assim, para a definição dos Eixos utilizou o critério da
“logística” para o atendimento de fluxos de bens e serviços em suas áreas de
influências. Isto é: “os eixos devem ser aptos à agilização e barateamento de
todas as operações de logística ligadas aos fluxos de bens e serviços.”
Consórcio Brasiliana (1997, p.I-51).
Portanto, nessa concepção, as redes de transportes assumem um
papel estruturador, aglutinador e dinamizador dos
Eixos.
Em cada um destes Eixos, a empresa multinacional de consultoria,
fez um diagnóstico econômico e de
seus pontos de estrangulamento em infra-estrutura, apontando-se igualmente, as
oportunidades de investimentos, e, principalmente, definindo-se os espaços e os
setores prioritários na execução dos projetos governamentais. Em outros termos,
que setores e locais, efetiva e diretamente seriam contemplados com a aplicação
dos investimentos públicos.
Neste contexto, definiu o montante de
investimentos para o País, conforme exposto no Quadro
01
Quadro
01
Brasil - Portfólio de investimentos por
áreas ( 2000-2007)
(em US$
bilhões)
Áreas de
investimentos |
Valor |
Percentual (%) |
Infra-estrutura
econômica |
101,4 |
61,41 |
Desenvolvimento
social |
52,1 |
32,16 |
Meio
ambiente |
9,00 |
5,45 |
Informação e
conhecimento |
1,6 |
0,98 |
TOTAL |
165,1 |
100,00 |
Fonte:
PPA 2000-2003 apud Piva
(1999).
Havia uma concepção governamental de que a competitividade da
economia nacional era obstacularizada, dentre outros fatores, pelo que se
convencionou chamar "custo Brasil". Esse paradigma de
desenvolvimento pressupunha, de um lado, a liberalização econômica, o
fortalecimento da economia de mercado como base para a inserção competitiva nos
mercados estrangeiros e, de outro lado, a reforma do Estado com a revisão de
suas relações com a economia e a
sociedade.
Trata-se de uma intervenção
governamental planejada, cujas premissas estão voltadas para a viabilização de
grandes eixos de transporte multimodal definidos como Eixos Nacionais de
Integração e Desenvolvimento que visam eliminar desvantagens locacionais das
regiões periféricas. Mais do que isso, procuram enquadrar o espaço regional a
partir de um balizamento externo.
O discurso é o de busca da competitividade e da inserção mundial.
São estes os pressupostos ideológicos que buscavam reconhecer que o governo FHC
adotava uma visão de longo prazo para o desenvolvimento sustentável do País e
que vão justificar os elevados dispêndios em setores infra-estruturais no
“Brasil em Ação” (PPA 1996/99) e no “Avança Brasil” (PPA 2000/03) Portanto, em
toda a segunda metade dos anos de 1990 e início de
2000.
Como analisar essa questão na atualidade? Como tem se dado a
relação governamental com a questão da logística e dos transportes no Governo
Lula? Recorremos ao PAC – Plano de Aceleração do Crescimento para tentarmos,
elucidar alguns aspectos dessa temática.
O PAC foi lançado pelo Governo Federal, em janeiro de 2007, com
recursos de investimentos previstos em R$503,9 bilhões para serem executados
através de um cronograma que se estende de 2007 à 2011, nas áreas de transporte,
energia, saneamento, habitação e recursos hídricos.
Segundo o Governo, o PAC é um programa de desenvolvimento que vai
promover: “a aceleração do crescimento
econômico; o aumento do emprego; e a melhoria das condições de vida da população
brasileira”. Nesse sentido, o Programa
consiste em um conjunto de medidas destinadas a: a) incentivar o investimento
privado; b) aumentar o investimento público em infra-estrutura; e c) remover
obstáculos (burocráticos, administrativos, normativos, jurídicos e legislativos)
ao crescimento.”
Nesse contexto, o PAC é um programa inserido no PPA (2008-2011),
sancionado em abril de 2008, pelo Presidente Lula, e, agora denominado
“Desenvolvimento com Inclusão Social e Educação de Qualidade”. O PPA, vale
dizer, é o instrumento constitucional onde consta a definição das prioridades do
governo por um período de quatro anos, e estabelece, de forma regionalizada, as
diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública federal para a
realização de investimentos.
Portanto, o PPA 2008-2011 prioriza as obras do PAC.
Quadro
02
PREVISÃO DE INVESTIMENTO DO PAC
(2007-2010)
R$
bilhões
SETORES |
2007 |
2008-2010 |
TOTAL |
% |
Logística |
13,4 |
44,9 |
58,3 |
11,6 |
Energia |
55,0 |
219,8 |
274,8 |
54,5 |
Social e
Urbana |
43,6 |
127,2 |
170,8 |
33,9 |
TOTAL |
112,0 |
391,9 |
503,9 |
100 |
Fonte: www.planejamento.gov.br 01.08.08.
Org.: Souza (2009)
Nota-se, no bojo do Programa que há uma atenção especial nas
questões relacionadas à melhoria na infra-estrutura. Acerca dessa questão, o
governo brasileiro afirma que:
A expansão do investimento em
infra-estrutura é condição fundamental para a aceleração do desenvolvimento
sustentável no Brasil. Dessa forma, o país poderá superar os gargalos da
economia e estimular o aumento da produtividade e a diminuição das desigualdades
regionais e sociais. Mais que um plano de expansão do investimento, o PAC quer
introduzir um novo conceito de investimento em infra-estrutura no Brasil. Um
conceito que faz das obras de infra-estrutura um instrumento de universalização
dos benefícios econômicos e sociais para todas as regiões do país, para que elas
sejam capazes de trazer riqueza a todos e não apenas lucro para poucos. (www.brasil.gov.br/pac acesso
18.09.08)
Com tais pressupostos, se constata duas diretrizes governamentais.
Primeira, os investimentos foram concentrados na infra-estrutura, entendida como
condição para a aceleração do desenvolvimento sustentável; segunda, a questão do
aumento da produtividade e da diminuição das desigualdades regionais e
sociais.
Ademais, se levados em consideração a disposição dos valores
conforme o Quadro 02, constatamos
também que os maiores percentuais de investimentos se concentram no setor de
Energia (54,5%), seguido pelo investimento “social e urbano”
(33,9%).
Uma
“leitura” da região Centro-Oeste
De acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento Regional do
Centro-Oeste (2007-2020), que
segundo o Ministério da Integração Nacional
deve orientar e organizar as
iniciativas e ações dos governos e da sociedade, e preparar a região para os
desafios do futuro. Nesse sentido, o plano constitui referencial para negociação e implementação articulada de
projetos de desenvolvimento, que envolve o governo federal, por meio de seus
órgãos, ministérios, governos estaduais e
diversos segmentos da sociedade centro-oestina.(...) Deve constituir, de
fato, referencial para a sociedade regional, seus atores sociais e agentes
públicos. (BRASIL. Ministério da Integração Nacional, S.d,
p.3)
A região Centro-Oeste volta a contar a partir de 2008,
com a “nova” SUDECO que passa a ser a base do sistema de gestão para a execução
do citado Plano, principal instrumento de orientação de suas ações e projetos de
desenvolvimento regional. Vale mencionar que a antiga SUDECO havia sido extinta,
em 1991, pelo Presidente Collor (Abreu, 2000).
No interior deste Plano Estratégico, adota-se oficialmente o
desenvolvimento sustentável como modelo futuro, indicando os principais
problemas e as principais potencialidades regionais.
Dentre as principais potencialidades do Centro-Oeste consta a
“posição estratégica no contexto sul-americano” no qual é concebida como a
região que articula as regiões do Brasil e o território nacional com parte da
América do Sul, através da Bolívia e do Paraguai. A integração
físico-territorial das áreas mais industrializadas do Brasil com os países
andinos e com uma eventual saída para o Pacífico, passa necessariamente pelo
Centro-Oeste.” Portanto, sua localização confere um papel central no processo de
integração regional.
Argumenta que caso sejam implantados os projetos defendidos pela
IIRSA – Iniciativa para a Integração Regional Sul-Americana - o subcontinente
sulamericano terá uma forte integração físico-territorial e logística que
ampliará o comércio regional, além de possibilitar uma saída dos produtos
brasileiros para o Pacífico, facilitando o acesso aos mercados asiáticos.
Constatamos ações nesse
sentido. No início de julho de 2008, aconteceu em Campo Grande (MS) – O Encontro
Trilateral sobre o Corredor Interoceânico Chile–Bolívia–Brasil contando com a
participação de representantes do Governo Federal que mostraram as ações que
beneficiam o referido corredor. O objetivo foi identificar problemas e discutir
alternativas que pudessem contribuir para a efetiva ativação desse importante
elemento de integração entre os Países.
Segundo a Secretaria de Política Nacional de Transportes
(DNIT), o Plano Nacional de
Logística e Transportes, que é o principal instrumento de planejamento de
transporte do governo brasileiro, também inclui projetos de integração regional
sul-americana. “Este corredor interoceânico é o mais expressivo corredor que se
insere no vetor logístico Centro Sudeste, de maior importância do nosso país”,
disse o Secretário Perrupato.
Dos 3.300 quilômetros que constituem esse corredor internacional,
1.500 estão em território brasileiro. Este vetor logístico inclui os Estados de
São Paulo, Mato Grosso do Sul, sudeste de Minas Gerais, sul de Goiás, sul de
Mato Grosso e norte do Paraná. Esta área possui 31,5% da população nacional e
produz 42,5% do PIB nacional (dados de 2002). O PIB estimado do Corredor vai
abranger quase US$ 300 bilhões, 46% do PIB desses Países e 26% do PIB
sul-americano.
O
corredor interoceânico vai passar pelas rodovias SP-150, SP-280, SP-209, SP-300
e pela BR-262. Estão previstos
investimentos de US$ 250 milhões em Mato Grosso do Sul. Em Corumbá serão
investidos US$10 milhões para o contorno rodoviário da cidade; mais US$170
milhões para o trecho entre Corumbá e Aquidauana e mais US$60 milhões para a
ponte que liga MS a São Paulo em Três Lagoas e ainda US$10 milhões para a
rodovia entre Campo Grande e Aquidauana. “Teremos a parte brasileira em
excelentes condições até 2010”, afirmou o diretor geral do DNIT.
Na mesma reunião foi dito que os 450 quilômetros de estradas
bolivianas não-pavimentadas que integram o corredor interoceânico
Chile-Bolívia-Brasil já estão sendo alvo de ação de empreiteiras. Esse trecho
rodoviário na região oriental da Bolívia é o último que falta para completar a
pavimentação completa do corredor. Há previsão era de que as obras estivessem
prontas em 2009.
No território brasileiro, o principal eixo do corredor
interoceânico compreende a BR-262 - que cruza Mato Grosso do Sul de Oeste a
Leste e segue em território paulista. A referida rodovia, segundo o governo
brasileiro já está recebendo investimentos para recuperar diversos trechos que
precisam de melhoria de trafegabilidade.
Além da BR-262, outras duas importantes rodovias integram o
corredor: a Castello Branco (no Oeste de São Paulo) e a Imigrantes (ligação da
Capital paulista ao litoral).
Diversos organismos internacionais têm se dedicado a estudos,
proposições e financiamentos da logística e dos transportes na América do Sul:
Banco Mundial, Corporación Andina de Fomento (CAF), Fundo para o Desenvolvimento
do Prata (FONPLATA), a IIRSA, dentre outros.
A IIRSA, por exemplo, delimitou dez Eixos de Integração
continental dos quais o Eixo Interoceânico tem um grande impacto no
Centro-Oeste, integrando com os países andinos e funcionando como passagem para
os produtos das áreas mais industrializadas do País.
Tais proposições de integração da infra-estrutura regional
sul-americano vem ao encontro do Plano Estratégico de Desenvolvimento do
Centro-Oeste (BRASIL, s.d., p.131) no interior do qual se aponta que um dos
problemas centrais da região é a desarticulação do sistema logístico e gargalos
na infra-estrutura econômica. O documento aponta que o Centro-Oeste apresenta
“elevada produtividade agrícola e com condições favoráveis de solo e água, (...)
é altamente competitivo “dentro da porteira”, mas padece de grandes restrições
logísticas para alcançar os mercados consumidores. O documento aponta rodovias
deterioradas (além da carência), e a ausência de rede estruturada e eficiente de
transporte hidroviário de carga; as hidrovias são ainda incipientes e os
terminais portuários de baixa expressão, operando abaixo da capacidade e com
custos operacionais elevados. Da mesma forma, as ferrovias – que poderiam ter um
papel fundamental no movimento da carga regional – ainda é deficiente e
incompleta.”
As estratégias de desenvolvimento são articuladas em vetores
estratégicos de desenvolvimento que explicitam as grandes escolhas e pilares
básicos ao estruturar as iniciativas e ações que promovem as mudanças
necessárias ao Centro-Oeste. (BRASIL, s.d.,
p.150)
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, os vetores de
desenvolvimento regional do Centro-Oeste são: ampliação da infra-estrutura
social e urbana; ampliação da infra-estrutura econômica e da logística;
democratização e melhoria da gestão pública; gestão ambiental e recuperação do
meio ambiente; melhoria da educação e fortalecimento do sistema de pesquisa e
desenvolvimento e diversificação e adensamento das cadeias produtivas. BRASIL.
Ministério da Integração Nacional (s.d.,
p.157).
Neste contexto se insere como um dos
macro-objetivos
“o aumento da competitividade econômica
regional, de modo a consolidar sua posição como grande centro exportador do
Brasil, com diversificação da pauta de produtos voltados para o mercado nacional
e internacional. Consta também a integração físico-territorial com o resto do
Brasil e com a América do Sul contribuindo para a intensificação do comércio
regional.” (BRASIL, s.d, p.151)
Nesse sentido, que se contempla o vetor estratégico de “ampliação
da intra-estrutura econômica e logística” o qual conta com três grandes
programas que se desagregam em dez projetos. (BRASIL, s.d. p.170):
Programa 1 – Ampliação e recuperação do sistema de transporte, no
interior do qual a integração multimodal de transportes deve abrir duas
alternativas de escoamento da produção do Centro-oeste: saída pelo Porto de
Santarém, no Pará (BR 163), ou a saída pelo Porto de Itaqui (MA) – combinando
hidrovia até Couto Magalhães as
margens do Rio Araguaia, com a ferrovia Norte-Sul e
Carajás.
Ampliação da rede de ferrovias e operacionalização do sistema
(Ferronorte até Porto Velho, no Estado de Rondonia) e Trem do Pantanal, no Mato
Grosso do Sul.
Complementação e organização das hidrovias, incluindo eclusas;
Ampliação e melhorias do sistema aeroportuário
regional;
Implantação de plataformas logísticas
multimodais;
Programa 2 - Distribuição e diversificação da energia, no qual se
inclui ampliação do gasoduto para norte de Mato Grosso de Sul, sul de Mato
Grosso, Goiás e Distrito Federal
com implantação de ramais. Também diversificação da matriz
energética.
Programa 3 – Ampliação da telecomunicação - celular e difusão da
internet.
Quadro 03
INVESTIMENTO NO PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO
CENTRO-OESTE POR VETORES ESTRATÉGICOS
(2007-2020)
Vetores |
Investimentos R$ em bilhões
|
Percentual |
Média anual R$ em
milhões |
Democratização e melhoria da gestão
pública |
780 |
1,5 |
195 |
Gestão ambiental e recuperação do
ambiente |
1.200 |
2,3 |
300 |
Melhoria da educação e fortalecimento de
P&D |
10.880 |
20,9 |
2.720 |
Ampliação da infra-estrutura social e
urbana |
2.653 |
5,1 |
663,25 |
Ampliação da infra-estrutura econômica e
logística |
7.955 |
15,3 |
1.988,75 |
Diversificação e adensamento das cadeias
produtivas |
28.630 |
54,9 |
7.157,50 |
TOTAL |
52.118 |
100 |
13.029,50 |
Fonte: BRASIL. Ministério da Integração Nacional (s.d.,
p.190)
Evidentemente que esta estratégia de desenvolvimento não se faz
sem o instrumento financeiro (MIN, p.194).
O principal instrumento de
financiamento é o Fundo Constitucional de Financiamento para o Centro-Oeste
(FCO) que conta com recursos assegurados
constitucionalmente.
O orçamento do Fundo em 2009 foi de R$ 2,9 bilhões e foi
considerado insuficiente para atender a demanda por contratações em toda a
região, conforme os governadores do Centro-Oeste mostraram – em 05 de agosto de
2009 - ao Ministro da Integração Nacional por meio de relatórios gerenciais do
FCO.
Os governadores querem a ampliação do FCO, no presente exercício,
na ordem de R$ 2 bilhões e poderia ser obtido em recursos do Tesouro Nacional ou
por repasse de instituições como BNDES, mediante a possibilidade de equalização
de juros com os praticados no FCO, entre 5% e 10% ao
ano.
Ademais, uma das novidades da nova SUDECO, cuja criação foi
sancionada pelo Presidente Lula, em janeiro de 2009, é o Fundo de
Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO) – nos moldes existentes da Amazônia e do
Nordeste - criado com a finalidade de assegurar recursos para os projetos de
desenvolvimento e para investimentos em infra-estrutura, ações e serviços
públicos. O Fundo tem como principal fonte de recursos as dotações consignadas
nas leis orçamentárias e seus créditos adicionais.
PAC NO
MATO GROSSO DO SUL
Segundo dados oficiais, o Estado de Mato Grosso do Sul, receberá
investimentos que totalizam R$ 9,6 bilhões, entre 2007 e 2010, para serem
distribuídos em três setores, conforme demonstrado no Quadro 04.
Quadro
04 - PAC INVESTIMENTOS EM MATO GROSSO DO SUL - R$
bilhões
Setores |
Empreendimentos
exclusivos |
Empreendimentos de caráter
regional |
Subtotal
(bi R$) |
2007 – 2010 |
Pós 2010 |
2007 – 2010 |
Pós 2010 |
|
LOGÍSTICA |
779,6 |
- |
5.280,0 |
- |
6.059,6 |
ENERGÉTICA |
2.131,8 |
374,3 |
- |
- |
2.506,1 |
SOCIAL E
URBANA |
981,6 |
- |
- |
- |
981,6 |
TOTAL |
3.893,0 |
374,3 |
5.280,0 |
- |
9.600,0 |
Fonte: “4º Balanço
do PAC” In: www.planejamento.gov.br 01.08.08. Org.: Souza
(2009)
a
Particularmente, em Mato Grosso do Sul a estratégia do PAC é
ampliar a infra-estrutura logística
existente para: “ampliar a integração com o Mercosul, aumentando a
competitividade no escoamento da produção agrícola e industrial das regiões
Centro-Oeste, Sudeste e Sul: Ferrovia Norte-Sul e Hidrovia
Paraguai-Paraná.”
O projeto de integração ferroviária do Estado do Mato Grosso do
Sul e Paraná, proporcionando acesso ao Porto de Paranaguá, engloba a construção
de trecho ferroviário da FERROESTE, no segmento compreendido entre Maracaju (MS)
e Cascavel (PR) - (ponto de interligação com o trecho construído da FERROESTE),
com cerca de 650 km, permitindo a conexão ferroviária dos municípios produtores
do Mato Grosso do Sul com a Hidrovia Paraná/Tietê (em Guaíra) e, a partir de
Cascavel, propiciando o acesso ferroviário ao Porto de
Paranaguá.
Neste contexto, se inserem outras obras como a ponte rodoviária (BR-158); a
dragagem e derrocagem na Hidrovia Paraná–Paraguai; Ferrovia Norte-Sul, no trecho
Anápolis (GO)/Santa Fé do Sul (SP); e Ferrovia Norte-Sul, no trecho Porto
Murtinho(MS)/Panorama (SP). No tocante a ferrovia Norte-Sul, originalmente, o
seu trecho sul, envolve a ligação Palmas a Santa Fé do
Sul.
Em termos de infra-estrutura energética, o
principal empreendimento regional
relaciona-se ao setor de combustíveis renováveis. Referimo-nos ao
Poliduto Cuiabá (MT)/Paranaguá (PR).
O projeto do Poliduto Mato Grosso do Sul (MS)-Paraná (PR), que
ligará Campo Grande (MS) ao Porto de Paranaguá (PR), terá capacidade para
transportar 18 milhões de litros por ano de etanol, gasolina ou diesel. O
projeto integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo
Federal. A obra, cujo início estava inicialmente previsto para 2008, terá custo
de R$ 2 bilhões. O álcool, atualmente, é transportado por caminhões. A
construção dos dutos possibilitaria reduzir o custo de US$ 4 para até US$ 0,80
por metro cúbico.
O setor de biocombustíveis apresenta um crescimento acentuado no
Mato Grosso do Sul com a instalação de novas plantas industriais para destilaria
de cana-de-açúcar voltada principalmente à produção do etanol. O segmento vem
mudando o perfil econômico de algumas regiões, avançando nas áreas de
pastagem.
Segundo relatório da Secretaria de Produção e Turismo está em
negociação com o governo sul-mato-grossense a instalação de outras quarenta e
duas plantas de usinas que se localizadas na bacia do Rio Paraná. (MATO GROSSO
DO SUL. PPA 2008-2011, p.9)
Essa atividade industrial – que cresceu 105,76% nos últimos seis
anos – impactará diretamente a produção canavieira do Estado, gerando um avanço
em área ocupada com aquela cultura. Dados de 2006 indicam 152.747 hectares
cultivados com cana-de-açúcar, com previsão de chegar a aproximadamente
1.200.000 hectares em 2012. A produção atual de 12 milhões de toneladas/ano
alcançará algo em torno de 90 milhões de toneladas no mesmo período. A produção
de etanol passará dos atuais 640 milhões de litros/ano para uma produção
superior a 2,5 bilhões de litros/ano, e a produção de açúcar poderá duplicar ou
triplicar em relação à produção atual de 575 mil toneladas/ano. (MATO GROSSO DO
SUL. PPA 2008-2011, p.9)
Tabela
1 - Produção de cana-de-açúcar e
área ocupada em Mato Grosso do Sul –
2000-2006
ANO |
Produção
(toneladas) |
Área
(hectares) |
2000 |
5.837.456 |
98.938 |
2001 |
7.556.956 |
99.673 |
2002 |
8.575.190 |
112.100 |
2003 |
9.030.833 |
120.534 |
2004 |
9.572.305 |
130.970 |
2005 |
9.513.818 |
136.803 |
2006 |
12.011.538 |
152.747. |
Fonte: Pesquisa de Agricultura Municipal (PAM - IBGE, BDE) apud
PPA 2008-2011.
A expansão da indústria do etanol provocará impactos em outros
segmentos da economia estadual resultante da atração de mão-de-obra de outras
Unidades da Federação, interferindo no crescimento da demanda por habitação,
educação, saúde, etc. e com a elevação da produção de álcool e açúcar demandando
investimento em mais infra-estrutura de transportes: rodovias, poliduto e
portos. (MATO GROSSO DO SUL. PPA 2008-2011,
p.9)
Assim, é possível afirmar que é objetivo do governo que os biocombustíveis, em particular o
etanol, marquem profundamente a
economia do Estado no período de vigência do PPA 2008/2011. O atual governador
André Pucinelli, disse que “o segredo” é a infra-estrutura, de forma a dar
condições para garantir escoamento e chegada aos portos, a preços competitivos.
Segundo ele, o projeto é que até 2015, Mato Grosso do Sul assuma a condição de
segundo maior produtor de álcool.
Mato Grosso do Sul é tido como “a nova fronteira do álcool”,
juntamente com Oeste paulista e Goiás.
Na avaliação do
governo, as exportações brasileiras de etanol cresceram 60% nos últimos seis
anos, em um mercado ainda em formação. (MATO GROSSO DO SUL. PPA,
p.12)
No bojo desse processo em Mato Grosso do Sul há um Programa de
Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro, no interior do qual, consta o objetivo de
”aumentar a produção dos derivados da
cana-de-açúcar através do aumento da área plantada, buscando propiciar condições
de competitividade para a produção e geração emprego e renda: (...) Construindo e equipando terminais
portuários, para escoarem os volumes previstos de açúcar e álcool na
forma de graneleiros; Maior aproveitamento do excedente de energia elétrica
gerado pelas usinas; Melhorando as condições das rodovias, ferrovias e a
infra-estrutura portuária possibilitando que esta atividade produtiva alicerçada
em um eficiente esquema de escoamento da produção tenha competitividade de
mercado.”
Enfim, o objetivo tanto do governo estadual, como da própria
Petrobras é “acelerar a logística para preparar o aumento das exportações de
etanol, principalmente para a Ásia, segundo o diretor de Abastecimento da
Petrobrás, Paulo Roberto Costa.
Considerações finais
O debate teórico-político instalado a
partir dos anos de 1990 implicou em redefinição de caminhos a serem traçados
para os investimentos governamentais, mas que contraditoriamente, no
Centro-Oeste (e no Brasil de maneira geral) vai conviver com a política regional
de fortalecimento de velhos conceitos, agora travestidos de novos: dos pólos de
desenvolvimento e dos corredores de exportação do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND, 1975-79), mudamos pelo menos na forma, para os Eixos de
Integração e Desenvolvimento, a logística e a integração física como instrumento
de desenvolvimento regional, a busca da competitividade, a inserção global e a
redução de custos.
Sobre o discurso da competitividade, Benjamin et al. (1998, p.61)
argumentam:
Hoje, estamos esmagados pelo discurso da "competitividade.”(...).
Com um agravante: a competitividade segue a mesma lógica da guerra - conquistar
supremacia sobre o outro - e exige apenas um tipo de progresso, de natureza
tecnológica. Um progresso dos meios, que nada diz sobre os
fins.
A logística também teve sua origem na guerra, como
vimos.
Neste contexto de choque de competitividade aplicado ao parque
produtivo nacional observa-se uma crescente desnacionalização, conforme apontado
por Gonçalves (1999). Do ponto de vista regional, esta opção estratégica,
segundo Araújo (2000, p.15),
tende a valorizar os espaços econômicos portadores de empresas e
segmentos mais competitivos, com condições, portanto, de ampliar com mais
rapidez sua internacionalização ou de resistir com mais força ao “choque de
competição” praticado nos anos 90, no Brasil. E esse processo secundariza as
regiões menos competitivas, as mais
negativamente impactadas pela competição exacerbada ou as que se encontram em
reestruturação.
Ao refletirem sobre a questão da "inserção global", Santos & Silveira (2001, p.255/6)
argumentam:
confunde-se a lógica
do chamado mercado global com a lógica individual das empresas candidatas a
permanecer ou a se instalar num dado país, o que exige a adoção de um conjunto
de medidas que acabam assumindo um papel de condução geral da política econômica
e social. (...) Em nome da inserção desse país na nova modernidade e no mercado global são
estabelecidas regras que acabam por constituir um conjunto irrecusável de
prescrições.
A promoção do desenvolvimento, via
planejamento regional, implica na crescente intervenção governamental na
atividade econômica. O Estado é programaticamente compelido a investir em
atividades que exigem altos investimentos e lento retorno do capital investido.
Por outro lado, as atividades mais
rentáveis ficam como prerrogativas do grande
capital.
Se os Estados socorrem o capital com vultosos recursos públicos é de se
supor que outros setores - gastos sociais públicos - sejam sacrificados. Como
nos lembra Oliveira, F. (1998, p.44), o fundo público aprofunda seu lugar como
pressuposto do capital.
Castells (1975,
p.153/4), nos diz que a produção espacial, em nível geral, é dirigida pela
organização do processo produtivo tomado no conjunto de suas operações, mais
propriamente a divisão do trabalho. Neste contexto, o referido autor assinala
que, com a normalização correspondente à fase do capital monopolista, assistimos
a uma racionalização máxima da utilização do espaço pelo capital: é o que se
chama ordenación del territorio.
As políticas regionais, políticas governamentais de logística e de
transportes – ao delimitar as regiões de planejamento, definir as prioridades
setoriais e espaciais a serem contempladas com a aplicação de recursos,
representam um caso exemplar de ordenación del territorio em nossa sociedade:
pôr em uníssono os projetos de empresários, dos trabalhadores e os do Estado, em
função dos interesses dos primeiros. Porém, tendo em conta o conjunto das
contradições que resultam do desenvolvimento desigual.
Nesse contexto, aprofundamento dos
processos de concentração e centralização do capital intensifica o uso
corporativo do território, com desdobramentos nos espaços regionais, face a
economia mundial, mais aberta e independente e com uma crescente força/pressão
política dos grandes grupos transnacionais para determinar o uso do território.
Como afirma Santos (1994, p.146): “fortes de sua influência junto ao Estado, as
firmas hegemônicas terminam por mudar as regras do jogo da economia e da
sociedade à sua imagem. Dotadas de uma capacidade de inovação que outras não
têm, fazem com o território passe a ser submetido a tensões muito mais numerosas
e profundas, pulsações que, vindas de grandes firmas, se impõem sobre o
território, levando a mudanças rápidas e brutais dos sistemas territoriais em
que se inserem.”
A divisão do trabalho entre os
territórios nacionais confunde-se com uma divisão do trabalho criada pelas
empresas transnacionais, que contam também com a participação de empresas de
consultoria, de gestão e de planejamento territorial. Foi este o caso do
Consórcio Brasiliana que fez o estudo que deu origem ao “Avança Brasil.” Também
foi o caso da IIRSA que delimitou geograficamente a América do Sul, em dez
Eixos.
Tais empresas participam do atual processo de reorganização da
economia e do território brasileiro (e sul-americano), assumindo e difundindo a
racionalidade da globalização ao assessorar governos e gigantes corporações.
Trata-se de novas concepções e novos agentes que controlam a
instrumentalização do processo de regionalização, vindo desestabilizar a
estrutura espacial existente.
A política dos Eixos de Integração
substitui a política dos pólos de desenvolvimento implementada no Brasil desde
início dos anos de 1950, e que deu sustentação a todas as ações de planejamento
regional no Brasil, em diversos outros países da América
Latina.
Nesse sentido, poderíamos dizer que houve uma readaptação de
porções do espaço à economia globalizada e aos mercados
internacionais.
A financeirização, a concentração e a centralização do capital
facilitam o uso corporativo do território. No presente, a exacerbação da especialização
regional produtiva – regiões sucro-alcooleiras, por exemplo - caracteriza um
tipo de região produtiva adaptada aos mercados internacionais, isto é, funcional
à globalização.
Trata-se de um compartimento
produtivo do espaço geográfico, cujas forças de coesão se estabelecem, via de
regra e teoricamente, a partir de uma combinação de competências técnicas locais
com interesses políticos e econômicos distantes. Neste contexto, a logística expressa a circulação
corporativa. A implantação das rotas bioceânicas, o poliduto são expressões geográficas dessa produção
atual..
Referências
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setiembre de 2010.