O TRÂNSITO EM VIÇOSA-MG: UMA ANÁLISE SÓCIO-ESPACIAL
Alberto Henrique Lisboa da Silva
UNESP – Rio Claro
RESUMO
O
trânsito é uma questão presente hoje na maioria das cidades mundiais. Viçosa
também está inserida nesse contexto, mesmo sendo uma cidade pequena. Isso
reflete, um dos grandes problemas da sociedade moderna, já que em muitos lugares
a circulação motorizada não é mais sustentável, tanto no ponto de vista
ambiental, quanto no ponto de vista da qualidade de vida. Assim, essa qualidade
de vida é cada vez mais é comprometida, pelos longos congestionamentos, pela
insegurança crescente no trânsito, revelada pelo aumento no número de
acidentes.
Viçosa, nesse contexto, não se encontra em situação diferente, uma vez
que é cada vez mais comum a presença de congestionamentos, além do constante
risco de acidentes, dada a enorme desorganização de seu trânsito. Isso se deve a
política urbana adotada na cidade ao longo de anos, que não se preocupou em
dotar a cidade de infra-estrutura, beneficiando alguns grupos. Assim, boa parte
do espaço construído de Viçosa, surgiu à margem de qualquer lei, fato que
refletido hoje pela sua sofrível estrutura viária. Somado a isso, é nítido na
cidade o uso cada vez maior do transporte individual e uma grande negligência
com o transporte coletivo, o que piora a situação da circulação na
cidade.
PALAVRAS-CHAVES:
trânsito, acessibilidade, estrutura viária.
ABSTRACT
Traffic is an issue today in most cities worldwide. Viçosa is
also inserted in this context, even been a small town. This reflects one
of the greatest problems of modern society, as in many places the motor
movement is not sustainable, in both in the environmental point of view,
and in terms of quality of life. Thus, this quality of life is
increasingly prejudiced by long traffic jams, the growing insecurity in
transit, revealed by the increase in the number of accidents.
Viçosa, in this context,
is not in different situation, since it is increasingly common the
presence of congestion, in addition to the constant risk of accidents,
given the huge clutter from your traffic. This facts happens by the urban
policy adopted in the city for years, not bothered to provide the city
infrastructure, benefiting some groups. Thus, much of the space
constructed in Viçosa, came without any law, which is reflected today by
its poor road structure. Added to this, it is clear in the city the
increased use of individual transport and greater neglect of the public
transport, which worsens the situation of traffic in the
city.
KEY WORDS:
transit, accessibility, road structure.
|
|
A cidade tem uma estrutura de identidade, sendo fundamental
entendê-la, em especial por meio de sua história e da imagem coletiva dos
cidadãos (LYNCH, 1990). Partindo dessa imagem coletiva, esse trabalho visa discutir acerca das condições de acessibilidade e mobilidade
na cidade de Viçosa a partir do histórico da ocupação da cidade, analisando a
política urbana local.
Os problemas das ruas e calçadas de Viçosa são visíveis, saltando aos
olhos do leigo, já que a acessibilidade e mobilidade da população são seriamente
comprometidas, não só os portadores de necessidades especiais, mas também os
motoristas e pedestres que não encontram segurança ao circular nas ruas da
cidade.
Tendo em vista estas considerações, este
trabalho
partiu dessa sensação de insegurança que os moradores de Viçosa têm ao circular
pela cidade, dado o reconhecimento da má qualidade das vias de circulação, que
como um espaço funcional e como forma física, tem contribuído para a degradação
da qualidade físico-ambiental da forma urbana e seu mau desempenho no espaço
urbano em relação à expectativa daqueles que o utilizam.
Nesse sentido, a história da formação desse espaço e a política urbana
até hoje aplicada surgem como um dos elementos primordiais, uma vez que em todo
planejamento se é necessário compreender as estruturas que geram esses
problemas. Nesse projeto, portanto, procuramos propor um estudo da
acessibilidade e mobilidade urbana em Viçosa-MG, perpassando as ações do Estado
e da iniciativa privada nesse processo, bem como propor medidas para um possível
planejamento.
Contudo, uma política de planejamento urbano eficaz é de suma importância
para minimização dos problemas, sendo, portanto, o diagnóstico, um importante
ponto de partida para esse planejamento, que pressupõe o conhecimento dos
problemas.
Esse trabalho, assim, procurou levantar algumas questões acerca do
trânsito em Viçosa, perpassando pelo seu histórico de ocupação, a
infra-estrutura de circulação e política urbana. Esse material pode aprofundar a
discussão sobre o trânsito nas cidades, sobretudo as de menor porte, como
Viçosa, que apresentam problemas estruturais graves, apesar do tamanho,
auxiliando no possível do processo de planejamento do
setor.
ACESSIBILIDADE, TRANSPORTE E
CIDADE
A circulação é uma questão presente na atualidade, uma vez que
muitas cidades no mundo enfrentam em verdadeiro caos no seu trânsito, marcados
por congestionamentos, acidentes, luta por espaço, provocando a queda da
acessibilidade e mobilidade da população, piorando a qualidade de vida. Muito se
fala dessa questão em grandes metrópoles, porém esse problema já se coloca
presente nas cidades do interior, sobretudo com a expansão pela quais muitas têm
passado no Brasil. No entanto, a maioria delas cresce sem um planejamento
adequado, nem políticas públicas para a organização do espaço, o que agrava os
problemas estruturais e sociais piorando a qualidade de
vida.
No Brasil, tem-se iniciado discussões acerca do assunto, sendo que
algumas medidas já foram tomadas pelo legislativo federal e alguns municípios,
além de programas já existentes no Ministério das Cidades, sendo um dos grandes
desafios das prefeituras atualmente.
Nesse contexto, é de suma relevância também a discussão do modo
vida moderno que cada vez impõe a necessidade do transporte motorizado, sendo as
cidades cada vez moldadas nesse sentido. No entanto, já é notável a
impossibilidade desse modelo, uma vez que a infra-estrutura urbana não consegue
acompanhar o crescente número de veículos, além dos danos ao meio ambiente,
sendo necessário uma reavaliação da circulação na cidade, devendo esta ser menos
motorizada e mais coletiva possível
Harvey
(1980) coloca que o espaço é um atributo de todos os valores de uso. Nesse
sentido, compreendendo-se que existe no espaço urbano uma grande variabilidade
de atributos dispersos de forma desigual no território, mas de certa forma
interligados pela própria funcionalidade urbana, pode-se, por dedução, aceitar
que a infra-estrutura urbana torna-se bastante requisitada de forma assimétrica
criando-se, assim, verdadeiros “nódulos” ocupacionais. Tal característica
refletirá na organização, no tipo de ocupação espacial e na formação das várias
zonas da cidade. Estas zonas urbanas se diferenciam de acordo com seus usos,
valores, simbologias, etc. Entretanto, esses diferentes usos e valores formam um
todo articulado entre si, na qual todos os processos se encontram
interligados.
No que se refere à dinâmica social, o estudo da acessibilidade tem uma
grande relevância como coloca Villaça (2001), que diz que as inter-relações se
dão por meio do transporte e da comunicação, dependentes, portanto de
infra-estrutura. O autor coloca ainda que as condições de transporte são de
fundamental importância para se entender a configuração de uma cidade, sua
estrutura urbana.
Assim, de acordo com o Villaça (2001), a cidade cresce de acordo com as
condições de acessibilidade. Por exemplo, uma ferrovia provoca um crescimento
descontínuo, nucleado ao redor das estações, ao passo que uma rodovia provoca um
crescimento mais rarefeito e menos nucleado. Nesse sentido, a intensidade e a
forma de acessibilidade ao território urbano agregam um valor distinto às várias
zonas urbanas. Aliado a isso, a disparidade de renda existente dentro da
sociedade urbana e a dificuldade do poder público em dotar a cidade como um todo
de uma boa infra-estrutura, pode ser um fator de exclusão social, refletida na
acessibilidade a bens e serviços. Portanto, “a acessibilidade é o valor de uso
mais importante para a terra urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em
maior ou menor grau. Os diferentes pontos do espaço urbano têm diferentes
acessibilidades a todo conjunto da cidade” (VILLAÇA, 2001, P.74). Desse modo,
devido à disparidade de renda, os mais pobres apresentam uma dificuldade maior
em atingir os pontos de emprego, educação, lazer e equipamentos públicos, tanto
em função do uso do solo, como em razão das características de transporte.
Segundo Maricato, citada por Cardoso e Matos
(2008) a segregação espacial não é somente uma das faces da
exclusão social, mas parte importante e ativa dela. Segundo a autora, há uma
lista interminável de conseqüências, como a dificuldade de acesso aos serviços
urbanos (transporte precário, saneamento deficiente, educação, saúde, etc),
somado a menores oportunidades de emprego, especialmente o formal, menores
oportunidades de profissionalização, maior exposição à violência, além das
várias formas de discriminação em geral.
Para Harvey (1980), “assim como mudamos a forma espacial da cidade (por
relocação de residência, vias de transporte, oportunidades de emprego, fontes de
poluição, etc) também mudamos o preço de acessibilidade e custo da proximidade
de qualquer moradia” (HARVEY, 1980, p.45), evidenciando, assim, a influência da
questão da acessibilidade com a segregação sócio-espacial.
Harvey (1980), coloca, portanto, a necessidade de ações planejadas do
poder público a fim de garantir essa acessibilidade a todos, da melhor maneira
possível, pesando os pontos positivos e negativos de qualquer mudança a ser
implementada, pois “a consideração dessas mudanças tem claramente o potencial de
produzir substanciais redistribuições de renda” (HARVEY, 1980, p. 45).
Porém, esse planejamento deverá estar ancorado numa maior
participação popular possível, uma vez que muitos investimentos acabam
privilegiando áreas já bem estruturadas, alimentando a especulação imobiliária e
a não democratização do acesso a terra. (MARICATO, 2000).
Nesse sentido, o que é o desenvolvimento eqüitativo das cidades,
onde “os diferenciais de renda não representem necessariamente a padronização
hierarquizada e desigual em termos de consumo do espaço” (CARDOSO & MATOS, 2008). Assim, procura-se
relativizar a máxima de que os “ricos podem comandar o espaço, enquanto os
pobres são prisioneiros dele” (HARVEY, 1980, p.
171).
Choay (2005), descreve as idéias do urbanismo progressista que
nortearam as políticas de planejamento urbano no século XX. Segundo a autora,
para essa corrente, a grande cidade do século XX era anacrônica, pois não era
contemporânea do automóvel, por exemplo.
Nesse sentido, a cidade do século XX, precisaria realizar a Revolução
Industrial em sua forma, sendo que o plano da cidade não estava ligado às
limitações culturais, só querendo ser colocado a serviço da eficácia e estética.
Assim, a cidade deveria ser funcional, racional, como uma indústria (CHOAY,
2005).
Desse modo, de acordo a autora, o urbanismo progressista defendia a
desdensificação das cidades, abolindo as ruas, símbolos da cidade
pré-industrial. Os edifícios então seriam unidades autônomas, separados por
amplos jardins. Choay (2005) coloca
as idéias de Le Corbusier que defendia essa fragmentação governada por uma ordem
rigorosa que responda a um novo nível de eficácia, o da atividade
produtora.
Assim, Le Corbusier, de acordo com Choay (2005), pensava uma
cidade de baixa densidade, que lembrasse um parque, na qual existiam categorias
muito bem divididas e classificadas, sendo assim, uma cidade dividida em setores
funcionais, como uma indústria.
No que tange a circulação, Le Corbusier, segundo Choay (2005),
propunha uma independência recíproca entre os
volumes edificados e as vias de circulação colocando
que:
“As auto-estradas recortarão o espaço de acordo com a rede mais
direta, mais simplificada, inteiramente ligada ao solo (....) mas perfeitamente
independente os edifícios ou imóveis que podem estar a maior ou menor
proximidade” (LE CORBUSIER apud CHOAY, 2005, p. 22)
Contudo, a ordem circulatória se faz, portanto, sob o imperativo
do poder do automóvel, grande símbolo da indústria no século
XX.
Esse urbanismo progressista influenciou – e ainda influencia – a
política urbana mundial. Um exemplo marcante que temos da influência dessas idéias no
Brasil é a cidade de Brasília
com as suas
ruas largas, retas e de fácil fluxo (pelo menos, até o final do século
XX). No entanto, essa linha de pensamento tem sido
altamente questionada, principalmente no que diz respeito à manutenção da cidade
em questões ligadas, sobretudo, a densidade e a
acessibilidade.
Segundo Acioly & Davidson (1998), a densidade é um dos
indicadores mais importantes de desenho urbano a ser utilizado no processo de
planejamento e gestão dos assentamentos humanos. Os autores acima mencionados
apresentam uma opinião divergente dos urbanistas progressistas, colocando que a
alta densidade garante a maximização dos investimentos públicos, incluindo
infra-estrutura, serviços e transporte, além de facilitar o convívio entre os
cidadãos. Nesse sentido, eles afirmam que baixas densidades oneram os gastos
públicos com infra-estrutura, que deverá abranger áreas mais extensas, podendo
até ser subutilizada; além gastos maiores com manutenção de jardins, vias
expressas extensas, como acontece em Brasília, por
exemplo.
No entanto, Acioly & Davidson (1998) ponderam que pode ocorrer
uma sobrecarga dessa infra-estrutura se caso a densidade ultrapassar os limites
da mesma, produzindo um ambiente inadequado para uma qualidade de vida
desejável. Assim eles enumeram as vantagens e desvantagens da alta e da baixa
densidade, conforme a Tabela 01 a
seguir:
Tabela
01 -
Vantagens e desvantagens da alta e baixa densidade.
Alta
densidade |
Vantagens |
·
Eficiência
na oferta de infra-estrutura
·
Uso
eficiente da terra
·
Geração
de receitas
·
Maior
controle social
·
Vitalidade
humana
·
Economias
de escala
·
Facilidade
de acesso aos consumidores
·
Maior
acessibilidade a emprego |
Desvantagens |
·
Criminalidade
·
Sobrecarga
nas infra-estruturas
·
Poluição
·
Maiores
riscos ambientais
·
Congestionamento
e saturação do espaço |
Baixa
densidade |
Vantagens |
·
Possibilidades
de saneamento a baixo custo
·
Menos
poluição
·
Mais
silêncio e tranqüilidade |
Desvantagens |
·
Precária
acessibilidade aos serviços
·
Altos
custos para a oferta e manutenção dos serviços
·
Altos
custos e precariedade do transporte público
·
Pouca
interação e controle social
·
Excesso
de consumo de terra urbana &
infra-urbana |
Fonte:
Acioly & Davidson (1998)
Elaboração: SILVA, A.H.L,
2008.
No
que diz respeito à circulação, Acioly e Davidson (1998) colocam que, muitas
vezes, há uma preocupação na diminuição da densidade, através de alargamentos de
ruas, por exemplo, para sanar problemas de trânsito. É claro, segundo os
autores, que essas medidas são necessárias em alguns casos, mas eles ressaltam
que altas e médias densidades favorecem um sistema de transporte público mais
eficiente, podendo oferecer um serviço freqüente e barato.
Assim, as altas e médias densidades, nesse sentido, podem
influenciar na diminuição do número de viagens por pessoa por automóvel. Em uma
região que apresenta uma alta densidade e onde os fixos estão posicionados
geograficamente mais próximos um dos outros, aumenta-se a possibilidade de
circular a pé, ou em outros meios de transportes, como a bicicleta, além da
possibilidade de um atendimento maior promovido pelo transporte coletivo, e,
tudo isso, com um menor investimento governamental em infra-estrutura
viária.
O Século XX representou uma mudança significativa no padrão de consumo da
sociedade, mudanças essas percebidas com muita clareza nas cidades. Como uma das
maiores mudanças ocorridas pode-se incluir o setor de transporte, em que há uma
valorização do transporte privativo em detrimento do transporte público. Essas
mudanças, no entanto, têm trazido impactos ambientais preocupantes, sobretudo
nas cidades, onde a expansão urbana apresenta-se
acelerada.
Macedo (2006) coloca que a decadência do uso do transporte público têm
sido responsável por um grande incremento de problemas ambientais do espaço
urbano. Nesse contexto, há um agravamento, segundo o autor, dos
congestionamentos, poluição do ar, poluição sonora, etc. O autor também ressalta
as conseqüências do modelo de desenvolvimento adotado no Brasil após a II Guerra
Mundial, baseado no rodoviarismo, que favorecia a indústria automobilística.
Assim, até o sistema de transporte coletivo, que antes era, em sua maioria,
realizado sobre trilhos, com os bondes, passou paulatinamente a ser substituído
por ônibus, que levou ao sucateamento do setor ferroviário no
país.
Para Macedo (2006), portanto, a política de transporte realizada no país
seria ortodoxa, já que os investimentos sempre foram privilegiados para
infra-estrutura viária, que confere maior visibilidade a seus idealizadores,
privilegiando o transporte individual e, de certa forma, acentuando ainda mais
as desigualdades sociais. Isto pode ser constatado pelo fato de que nem todos
têm disponibilidade em adquirir um carro, ou seja, nem todos serão contemplados
pela política estatal que privilegia tal forma de transporte. Ressalta-se que,
“na competição pelo espaço viário e orçamentário, o transporte coletivo sempre
acabou perdendo para o automóvel, prejudicando assim os atores menos
favorecidos” (MACEDO, 2006, p.317), já que para esta população só resta um
transporte coletivo precário, uma vez que estes não dispõem de automóvel
particular.
No que tange aos problemas ambientais urbanos, gerados pelo sistema de
transporte, Macedo (2006) destaca a questão da poluição do ar e também a
poluição sonora. Segundo o autor, as principais fontes poluidoras do ar nas
regiões urbanas são os veículos automotores, sendo responsáveis por 47% das
emissões por queima de combustível fóssil. Os veículos automotores produzem mais
poluição atmosférica do que qualquer outra atividade isolada, variando de acordo
com as características da cidade e o combustível usado.
Outra
questão relevante, levantada por Macedo (2006) é no que diz respeito à poluição
sonora, que nas grandes cidades têm atingido índices alarmantes. A sensibilidade
ao ruído, segundo o autor, é relativa já que varia de um indivíduo para o outro.
Os níveis definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é 55 decibéis (dB)
durante o dia e 35dB durante a noite, determinando o seu impacto sobre a saúde
humana. O excesso de ruído causa e agrava problemas de saúde como o estresse; a
hipertensão; os distúrbios psicológicos e do sono, dentre outros. No entanto,
acredita-se que mais de 100 milhões de pessoas no mundo são expostas a níveis
mais elevados de ruídos, sendo o trânsito um dos principais fatores, uma vez que
não há uma preocupação efetiva na minimização do barulho.
CONSIDERAÇÕES
SOBRE VIÇOSA-MG
O
município de Viçosa se localiza na Zona da Mata mineira, conforme mostra a
Figura 06, sob as coordenadas geográficas o paralelo 20° 45’ 14’’ latitude sul e
o meridiano de 42° 52’ 5 4’’ longitude W Gr e dista, aproximadamente, 220 Km de
Belo Horizonte e 350 km do Rio de Janeiro, possuindo uma área de 279 Km². A
cidade é conhecida pela presença da Universidade Federal de Viçosa, na qual seu
desenvolvimento está diretamente ligado.
A partir dos anos 60 do século XX, com o crescimento da Universidade (até
então Universidade Rural do Estado de Minas Gerais – UREMG) e sua consequente
federalização no fim da década, a cidade de Viçosa experimenta um crescimento
intenso de sua população, sobretudo a urbana, que até então era menor que a
rural, levando a expansão horizontal e vertical de seu tecido urbano (vide tabela 2). No
entanto, esse crescimento não se deu de maneira planejada, deixando para a
cidade inúmeros problemas de infra-estrutura.
Tabela
2 - Dados Populacionais De Viçosa (1950-2000)[1]
DÉCADA |
POP.
TOTAL |
POP.
URBANA |
POP.
RURAL |
1950 |
18.325 |
6.424 |
11.901 |
1960 |
21.120 |
9.342 |
11.778 |
1970 |
25.784 |
17.000 |
8.784 |
1980 |
38.655 |
31.143 |
7.512 |
1991 |
51.658 |
46.456 |
5.202 |
2000 |
64.854 |
59.792 |
5.062 |
Fontes: IBGE e FJP
Elaboração:
SILVA, A.H.L (2009)
A presença da Universidade não gerou uma “evolução política” na cidade,
de forma que, por muito tempo, ela reflete as características da região – a
presença de uma aristocracia dominante, o coronelismo, o paternalismo, o
clientelismo e as trocas de favores eleitorais permeiam todo o desenvolvimento
do município.
Segundo
LELIS (2008), alguns fatores tiveram uma influência fundamental na configuração
da malha urbana Viçosa e conseqüências sócias. Segundo a autora, durante um período
considerável, o poder político esteve nas mãos de um pequeno grupo que reunia
basicamente uma família, ligada à construção civil.
Aqui,
enquanto o prefeito da cidade era adorado pelas camadas populares e chamado de
“padrinho”, através de doações individuais de remédios, materiais de construção,
cestas básicas, terrenos, casas, etc, a cidade sofreu uma expansão desordenada.
Tal realidade foi incentivada pela especulação imobiliária e a revelia da
legislação federal para uso e ocupação do solo urbano.
Assim,
a área central sofreu “super-adensamento” e verticalização, foram ocupadas
margens (e até o leito) do ribeirão que corta a cidade (e que se transformou num
ribeirão poluído), construiu-se até ruas inteiras em terrenos de alta
declividade, áreas de risco e houve a expulsão da população pobre para áreas
periféricas, inclusive com a formação de “semifavelas rurais”, e a formação de
favelas urbanas.
Quanto à legislação
urbanística, segundo Ribeiro Filho (1997), o caráter elitista das primeiras
legislações urbanas onerava o custeio das habitações populares. Com isso, as
leis eram amplamente desrespeitadas com a conivência da prefeitura.
No
início da década de 1980, já com o novo código de obras em vigor (LEI N°
312/79), houve uma tentativa do poder público de aplicar as normas, não só na
apreciação dos projetos, como na fiscalização das obras, tendo como resultado,
uma série de projetos recusados e obras embargadas, notificadas e multadas. Isso
gerou um movimento imediato dos empresários da construção civil e dos
proprietários imobiliários contra a política que estava sendo adotada. Desse
modo, foram implantadas várias mudanças nesse código de obras visando atender as
exigências dos empresários da construção civil, representados por Elias Chequer,
vereador da época, e também o maior empresário da cidade no setor
mencionado.
Para agravar a situação, já caótica do crescimento urbano de Viçosa, é
elevado o número de construções clandestinas na cidade. Acredita-se que na
década de 90, que aproximadamente 80% das obras em Viçosa não têm licença da
prefeitura como mostra a Tabela 03 de ligações de água feita pelo SAAE, em
relação aos registros de expedição de licença para construção da prefeitura
(RIBEIRO FILHO, 1997).
Tabela
3
– Comparativo entre as habitações licenciadas e as construções
clandestinas. |
ANO |
LICENÇAS DE
CONSTRUÇÃO |
LIGAÇÕES DE
ÁGUA |
CONSTRUÇÕES
CLANDESTINAS |
CONSTRUÇÕES CLANDESTINAS EM
% |
1983 |
102 |
250 |
148 |
59,20 |
1984 |
47 |
516 |
469 |
90,89 |
1985 |
53 |
491 |
438 |
89,21 |
1986 |
86 |
499 |
413 |
82,76 |
1987 |
72 |
394 |
322 |
81,73 |
1988 |
78 |
409 |
331 |
80,92 |
1989 |
120 |
456 |
336 |
73,68 |
1990 |
87 |
394 |
307 |
77,92 |
1991 |
72 |
586 |
514 |
87,71 |
1992 |
21 |
580 |
559 |
96,38 |
1993 |
28 |
752 |
724 |
96,28 |
1994 |
51 |
636 |
585 |
91,98 |
1995 |
40 |
747 |
707 |
94,65 |
1996 |
48 |
757 |
709 |
93,66 |
Fonte:
FILHO,
Geraldo B.R. A Formação do Espaço Construído: Cidade e Legislação Urbanística em
Viçosa, MG. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997, p.160
Portanto, o quadro urbano da cidade demonstra as conseqüências
extremamente negativas para a qualidade de vida da população. Destaca-se que o
crescimento significativo da população, e conseqüentemente o aumento no número
de veículos, os problemas de tráfego se agravaram. Isso aliado à falta de
infra-estrutura, como ruas estreitas, sinuosas e mal pavimentadas, predominantes
na cidade, além das calçadas também sem estrutura, leva a um silencioso embate
por território urbano representado pela disputa dos espaços públicos entre
pedestres e veículos, agravando ainda mais os problemas de circulação em Viçosa.
TRÂNSITO
E ACESSIBILIDADE EM VIÇOSA- MG
Conforme
foi colocado, a infra-estrutura urbana de Viçosa-MG é bastante comprometida,
dado a falta de invetimento na mesma no período de maior crescimento da cidade.
Esses problemas estruturais tem grande influência no trânsito da cidade,
sobretudo no Centro que a expansão horizontal da cidade se tornou passagem
obrigatória para o deslocamento entre o bairro e outro; e também para a UFV,
principal empregador da cidade. Para piora a situação, o Centro concentra
praticamente todo comércio e serviços da cidade e ainda conserva praticamente o
mesmo traçado de sua origem no século XIX, ou seja, um local que servia de
caminho para cavalos e veículos de tração animal, hoje tem que servir de caminho
para os automóveis, em número cada vez maior.
Em um levantamento foram constatados alguns problemas decorrentes da
falta de zelo com a infra-estrutura urbana comuns em
Viçosa:
·
Problemas
de alinhamento:
Acontece quando as edificações não respeitam o alinhamento dos lotes, invadindo
a largura da calçada e até mesmo da rua, fazendo com que a largura das calçadas
e ruas varie de trechos em trechos.
·
Problemas
de dimensionamento: Em
Viçosa é fácil observar calçadas e ruas demasiadamente estreitas, variando,
muitas vezes, a largura na mesma via. Em calçadas, podemos observar alturas
inadequadas para o meio-fio, além do buraco de algumas bocas de
lobo.
·
Problemas
de Pavimentação:
É, talvez, um dos problemas mais comuns nas ruas e calçadas de Viçosa, sendo os
principais: ausência de pavimentação, ou quando esta existe, apresenta-se
irregular ou descontínua, ausência de meio-fio ou mesmo pisos escorregadios. A
maioria das ruas em Viçosa não é asfaltada, sendo calçadas, principalmente, com
blocos de concreto, ou “pedras fincadas”. Dentre as que são asfaltadas, a
maioria está cheia de irregularidades, como buracos, desníveis, pois na maioria
o asfaltamento é muito antigo e não recebeu a manutenção adequada. Alia-se a
este fato a situação da rede pluvial da cidade não ser eficiente (quando ela
existe), favorecendo um desgaste mais rápido.
·
Apropriação
do espaço público: A
apropriação do espaço público pode ocorrer de várias maneiras, em vários
trechos, como rampas de garagem invadindo a rua; comerciante usando o espaço da
calçada para depósito de equipamentos, como carrinho de compras, placas,
anúncios, carros e caminhões para carga e descarga; ou construtores que usam a
calçada como depósito de material de construção, edificações que avançam na
largura da calçada, ou toda sua extensão, e, também, há a ocupação parcial ou
total da calçada como jardim.
·
Mobiliário
urbano e arborização:
Muitos problemas de circulação acontecem devido à má localização do mobiliário
urbano (postes, placas) e da arborização, sendo que a presença desses elementos
em calçadas estreitas impede acesso seguro às calçadas, que no caso de Viçosa,
costumam ser estreitas. Quanto à arborização, é necessário que estas sejam aptas
à largura da calçada e tenham um espaço livre de 2 metros, como já foi
mencionado, valendo a mesma recomendação para as placas. Vale ressaltar que em
Viçosa alguns postes apresentam diâmetros muito largo (alguns chegam a 50 cm de
diâmetro), reduzindo o espaço útil para os transeuntes em algumas calçadas
(TEIXEIRA & CARVALHO, 2003).
·
Sinalização
inexistente ou confusa:
Os cruzamentos de Viçosa, muitas vezes, não apresentam uma sinalização, ou esta
não é adequada, provocando confusões ou ambigüidades para motoristas e
pedestres.
Contudo, essas evidências confirmam a falta de um controle urbano
eficiente, demonstrando a irregularidade de muitos obras e conivência do poder
público local que permitiu certos exageros que hoje geram uma queda na qualidade
de vida da população com consequências diretas na circulação na
cidade.
Além da precária infra-estrutura urbana, outros fatores contribuem
para o mau desempenho do trânsito de Viçosa. Segundo os técnicos da SETRA
(Secretaria Municipal de Trânsito), um fator relevante que é o fato de Viçosa
contar com um número considerável de veículos, em proporção com a população, se
comparada a outras cidades do mesmo porte (vide Tabela 4). Soma-se a isso, uma
quantidade relevante de veículos registrados em outras localidades que circulam
na cidade, dado o seu caráter de cidade universitária, na qual muitos moradores
são temporários.
Tabela
4
– Relação entre o número de veículos e a população
CIDADE |
POPULAÇÃO
|
Nº
DE VEÍCULOS |
RELAÇÃO VEÍCULOS /
POPULAÇÃO |
VIÇOSA |
70.404 |
22.636 |
0,32 |
PONTE
NOVA |
55.687 |
15.805 |
0,28 |
UBÁ |
94.228 |
30.688 |
0,33 |
MURIAÉ |
95.548 |
26.977 |
0,28 |
MANHUAÇU |
74.297 |
18.109 |
0,24 |
Fonte: IBGE, DENATRAN apud MAPA VIVO, 2008 Elaboração: SILVA, A.H.L, 2008.
É interessante observar pelos dados acima, que algumas cidades apresentam
uma proporção menor de veículos em relação ao número de habitantes, não contando
também com veículos de outras localidades circulando em seu tecido urbano, que é
um número relevante, dada a grande população flutuante de Viçosa. Vide o exemplo
de Manhuaçu, que apresenta uma relação de 0,24. Esta cidade tem uma população
maior do que Viçosa, porém com número de veículos menor. Outro exemplo relevante
é Muriaé, com uma relação de 0,28, conta com uma população superior a de Viçosa, mas com um número
de veículos ligeiramente superior à Viçosa.
A cidade de Ubá
apresenta um índice de 0,33, ligeiramente maior ao de Viçosa. Entretanto, há
nessa cidade uma melhor distribuição dos locais de emprego, já que as fábricas
de móveis (principal atividade empregadora da cidade), se encontram espalhadas,
e a cidade conta com vias de circulação com melhor
estrutura.
Um
fator relevante, também destacado pelos técnicos da Secretaria de Trânsito de
Viçosa (SETRA) refere-se ao pouco uso do transporte coletivo e ao individualismo
dos motoristas. Isso pode ser evidenciado por dados levantados pela SETRA
recentemente, na qual se ve a quantidade de pessoas por veículo nos horários de
entrada e saída do expediente na UFV, medidos do dia 10/09/2008 a 11/09/2008,
conforme demonstram os Gráficos 1 ao 3.
Gráfico
1
– Comparação do número de pessoas por veículo na entrada e na saída da
UFV
Dia 10/09/2008

Fonte: SETRA, 2008
Elaboração:
SILVA, A.H.L, 2008
Gráfico
2
– Comparação do número de pessoas por veículo na entrada e na saída da UFV – Dia
11/09/2008

Fonte: SETRA, 2008
Elaboração: SILVA,
A.H.L
Gráfico
3
– Comparação do número de pessoas por veículo na entrada e na saída da UFV – Dia
12/09/2008

Fonte: SETRA, 2008
Elaboração: SILVA,
A.H.L
Os
dados mostrados nos gráficos refletem uma cultura de não-uso do transporte
coletivo, relacionado ao status que o carro proporciona. Nesse sentido, Macedo
(2006) coloca que “em relação ao uso de transporte individual, a questão é mais
complicada, na medida em que o carro é um poderoso símbolo de status,
seguramente o mais importante ícone da civilização contemporânea”
(p.339).
De acordo com os técnicos da SETRA, a falta de uso do transporte
coletivo, se deve à má qualidade do serviço que tem sido prestado. Há uma idéia
enraizada de que o transporte público deve se direcionar somente as classes
populares. Segundo os técnicos, isso é muito evidente em Viçosa, uma vez que
bairros de classe média mais alta, não são bem servidos pelo transporte
coletivo. Um exemplo citado pelos técnicos da Prefeitura é o Bairro Clélia
Bernardes, passagem de uma única linha de ônibus, sendo que esta não se
direciona a UFV, principal ponto de trabalho de boa parte dos moradores do
bairro. Isso respalda a afirmação de que a classe média não tem sido público
alvo do transporte coletivo. Todavia, para se atrair essa camada da população, é
imprescindível um serviço de boa qualidade, com conforto, a um custo baixo.Outra
reclamação constante, de acordo com a SETRA, é o intervalo muito longo entre um
ônibus e outro, que na melhor das hipóteses, é de 30 minutos. Somam-se a isso os
constantes atrasos ou até mesmo adiantamentos. Segundo a SETRA, os itinerários
das inhas são muito longos, dando várias voltas, tornando, assim, as viagens
demoradas, o que também afasta o usuário.
Em Viçosa, existe o
monopólio do transporte coletivo, o que reflete diretamente na qualidade do
serviço. Em algumas cidades, as linhas são definidas pelo poder público que dá
concessões dessas linhas a alguma empresa, fazendo com que várias empresas atuem
na cidade. Já em Viçosa, por sua vez, as linhas são definidas pela empresa, que
define sua forma de atuação.Segundo os técnicos da SETRA, a empresa alega falta
de demanda, no que diz respeito aos horários espaçados e também a alguns bairros
não atendidos. No entanto, deve-se programar uma política de incentivo ao uso do
transporte coletivo; e para que isso ocorra com êxito, é necessária uma melhoria
no serviço prestado.
Viçosa, nesse sentido, apresenta um perfil favorável, se considerar a
visão de Acioly & Davidson (1998), já citada, na qual densidades médias e
altas favorecem a implantação de transporte público mais abrangente e barato.
Como Viçosa apresenta uma densidade considerável e seu sistema de circulação é
radial, em torno do centro, a implantação de um transporte de maior atendimento
a população é perfeitamente possível, podendo tirar alguns veículos das
ruas.
Outro aspecto levantado pelos técnicos da SETRA é a questão dos
pedestres, que não encontram um espaço apropriado para sua circulação, conforme
já mostramos anteriormente. Eles colocaram a dificuldade que terão para se
adequar as exigências no Ministério das Cidades, acerca da acessibilidade para
deficientes. Isso se deve, segundo eles, pelo acúmulo de irregularidades
cometidas em obras realizadas na cidade, edificações, etc; ao longo de anos, na
qual não se fiscalizava essas construções, que muitas vezes não cumpriram a
legislação vigente acerca das calçadas, que sempre existiram no município.
Quanto à
realização de intervenções no setor, a SETRA colocou a dificuldade que a
prefeitura encontra, por não contar com um corpo técnico em número suficiente
para trabalhar nos projetos, já que os dados da prefeitura acerca do assunto são
mínimos e não há pessoas suficientes para levantá-los. Outro aspecto levantado é
a falta de recursos financeiros da prefeitura, que inviabiliza algumas idéias.
A dificuldade de fiscalização também foi citada pelos técnicos, colocando
que também não há pessoal suficiente, criando uma cultura do desrespeito. Também
colocaram que muitas vezes existem leis, mas não existem condições na cidade
para sua plena efetivação. Citaram, nesse caso, a situação da proibição do
trânsito de caminhões na área central, que não tem como ser cumprida, uma vez
que não existe um local na cidade para que se realize a carga e descarga de
produtos, como um porto seco, por exemplo, inviabilizando o cumprimento da
lei.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O problema do trânsito nas cidades tem sido
amplamente debatido. E em Viçosa, essa questão vem à tona dada a grande insegurança
vivida pelos pedestres e motoristas na cidade.
A cidade de Viçosa vem refletindo questões, como o próprio modelo de
transporte que o Brasil adotou, a partir de sua industrialização. Milton Santos
(2005) coloca que o modelo rodoviarista de transporte veio contribuir para
ineficácia da circulação e do transporte coletivo nas cidades
brasileiras.
Diante disso, a má qualidade das vias de circulação em Viçosa, que não
exercem suas funções, e não oferece segurança a seus usuários, agravam o
problema. Nota-se na cidade uma constante disputa pelo espaço ou para
circulação, ou mesmo para ocupação, uma vez que muitas construções se apropriam
do espaço urbano, tomando o lugar, geralmente, das vias de circulação,
principalmente as calçadas, que são de responsabilidade dos donos dos
imóveis.
Isso se dá devido à falta de zelo do poder público, no que diz respeito à
gestão do espaço urbano. Atualmente até existe uma boa legislação, porém a
fiscalização deixa muito a desejar, tornado a transgressão da lei algo comum no
município.
Vale ressaltar o poder que a construção civil
exerce sobre a cidade, chegando até a impor seus interesses ao poder público,
como aconteceu várias vezes no passado. Veremos agora se o mesmo irá acontecer
com esta nova legislação, ou se a Prefeitura e Câmara de Vereadores farão com
que a lei se imponha, proporcionando, conseqüente, um crescimento mais racional
de Viçosa. Entretanto, até o momento, pelas ações verificadas no espaço urbano,
nota-se na cidade uma falta de vontade política da parte dos governantes.
A cultura do transporte individual em detrimento do coletivo, também pode
ser observada em Viçosa. Visto que a cidade não apresenta condições físicas, nem
financeira para grandes intervenções na malha viária, o transporte coletivo deve
ser priorizado, devendo haver uma busca, para que se atinja as camadas mais
abastadas da população. Há de se repensar a política de transporte valorizada nas cidades que cada vez mais prejudica
a qualidade de vida dos cidadãos. Talvez, uma alternativa seria
o uso de outros meios de transporte não motorizados para se percorrer
curtas distâncias, bem como um sistema de transporte coletivo mais qualificado
que atinja todas as camadas da sociedade, não só as de menor renda. Nesse
sentido, medidas restritivas ao transporte motorizado individual são bem vindas,
desde que o transporte público seja eficiente. Em resumo, “a liberdade do
indivíduo não pode se sobrepor aos interesses da comunidade” (MACEDO, 2006, p.
339).
Portanto,
sabe-se que a solução para Viçosa é buscar um planejamento e pricipalmente um
controle urbano mais eficiente, que coloque em prática a legislação urbanística,
fortalecendo a preseça do poder público. Assim, se faz urgente uma revitalização
da infra-estrutura de circulação, oferecendo mais segurança e acessibilidade ao
usuário, melhoria e incentivo ao transporte coletivo e também uma reformulação
na política urbana, passando a investir de fato no setor, que não tem sido
prioritário pelo poder público.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ACIOLY, C. & DAVIDSON, F. Densidade Urbana – Um
Instrumento de planejamento e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad,
1998.
CARDOSO. L. & MATOS, R.E.S. Acessibilidade Urbana e Exclusão
Social: novas relações, velhos desafios. Disponível em: <http://redpgv.coppe.ufrj.br/arquivos/Acessibilidade_e_Exclusao_SIMPURB2007.pdf>
Acesso em
12/09/2008.
CHOAY, Françoise. O Urbanismo. Trad. Dafne Nascimento Rodrigues. 6ª ed. São
Paulo: Perspectiva, 2005.
HARVEY, David. A Justiça Social e a Cidade. Trad.
Armando Corrêa da Silva. São Paulo: Hucitec,
1980.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de
2000.
Documentação
do arquivo Rio de Janeiro: 2003. Disponível
em <www.ibge.gov.br> Acesso em 06/10/2008.
LELIS, Natália. Participação social: O autoritarismo mascarado nas
intervenções urbanas. Disponível na WEB: <http://www.ub.es/geocrit/7-collelis.htm> Acesso em 09/09/2008.
LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. Rio de Janeiro:
Edições 70, 1990.
MACEDO, L.V. Problemas ambientais urbanos causados
pelo trânsito na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). In: GUERRA. J.T.
& CUNHA. S. B. Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2006.
MAPA VIVO. Frota de Veículos dos Municípios Brasileiros.
Disponível na WEB: <www.mapavivo.com.br
> Acesso em 03/11/2008.
MARICATO, Ermínia. As idéias fora do lugar e o lugar
fora das idéias: Planejamento Urbano no Brasil. IN: ARANTES, Otília (et all). A
cidade do pensamento único: Desmanchando consensos. 2ª ed. São Paulo: Ed. Vozes,
2000.
RIBEIRO FILHO, G.B. A Formação do espaço construído:
cidade e legislação
urbanística em Viçosa, MG. 1997. 244p. Dissertação
(Mestrado em Urbanismo),
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento
de Arquitetura e Urbanismo, Rio
de Janeiro, 1997.
SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. 5ª ed. São
Paulo: Edusp, 2005.
TEIXEIRA, Ricardo dos Santos & CARVALHO, Aline
W.B. As condições de acessibilidade
das calçadas em Viçosa-MG: Problemas
e Soluções. Viçosa: UFV,
2003.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São
Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute,
2001.
Ponencia
presentada en el XI Encuentro Internacional Humboldt – 26 al 30 de octubre de
2009. Ubatuba, SP, Brasil