UNIVERSIDADE FEDERAL
DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E
CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE
CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
Curso de Graduação de
Bacharelado em Geografia

A Influência da Ação
Antrópica na Biodiversidade
Amazônica
Igor Fernando Marques
de Almeida
Recife
2009
Resumo
O homem
tem agido de maneira irracional e despreocupada, movido apenas por seus
interesses econômicos, não considerando o alcance de seus atos. O meio ambiente
é a maior vítima da ação antrópica e tem sofrido várias mudanças com o passar do
tempo. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, equivalendo a 35% das
áreas florestais do planeta (LOPES, 2003) e a região de maior biodiversidade
também. Ao longo desse trabalho, as principais características da Floresta
Equatorial Amazônica e as práticas humanas que impendem a proliferação da sua
biodiversidade, como a Biopirataria, o Desmatamento e as Queimadas serão
analisadas. Para tanto, pesquisou-se em livros, revistas e sites, dos quais
foram coletados dados da EMBRAPA, do INPE e do IBGE de grande importância para
esse trabalho, além de uma pesquisa de campo próxima ao Rio Guamá na
Universidade Federal do Pará. Dessas pesquisas, foi possível notar, por exemplo,
que o Brasil é o quarto maior poluidor do clima do mundo (emissão de gás
carbônico); cerca de 75% dessas emissões vêm das queimadas amazônicas
(GREENPEACE, In: 23/03/09). Portanto, se o homem não parar de ser movido pela
ambição que o domina, a biodiversidade da Amazônia e de outros lugares estará em
risco, o que afetaria a Terra como um todo.
Palavras-chaves:
Meio
ambiente; Amazônia; biodiversidade; ação antrópica
Abstract
The
man has acted in an irrational and unworried way, moved just by his economical
interests, not considering the reach of his acts. The environment is the biggest
victim of the man action and it has suffered several changes as the time goes
by. The Amazon is the biggest tropical rain forest in the world, being
equivalent to 35% of the forest areas of the world and also the one with the
biggest biodiversity. Along this work, Amazon’s main characteristics and the
human practices that block the proliferation of Amazon’s biodiversity, as the
biopiracy, the deforestation and the forest fires will be analyzed. For this,
there was a research in books, magazines and websites that resulted on data from
EMBRAPA, INPE e IBGE very important for this work, besides a field research next
to Guamá River in the Federal University of Pará.
From these researches, it was possible to note that Brazil is the fourth biggest
climate polluter in the world (carbon dioxide emission); about 75% of these
emissions come from Amazon forest fires (GREENPIECE, In: 23/03/09). Therefore,
if the man doesn’t stop being moved by the ambition that dominates him, the
biodiversity of Amazon and other places will be in risk, what would affect the
Earth as one.
Key
Words: Environment;
Amazon; biodiversity; man action
Introdução
"A
Amazônia é a região de maior biodiversidade do planeta. Cobrindo mais de 6
milhões de km² em nove países do norte da América do Sul, abriga pelo menos 40
mil espécies de plantas, 427 de mamíferos, 1.294 de aves, 378 de répteis, 427 de
anfíbios e mais de 3 mil espécies de peixes" (SILVA, 2006). A biodiversidade ou
diversidade biológica é a variedade de genes, espécies e ecossistemas que fazem
parte da biosfera, reunindo todas as espécies vivas, desde os microorganismos
simples até as plantas e animais superiores. Acontece que o homem vem agindo de
acordo com as suas necessidades sócio-econômicas sem pensar que seus atos seriam
desfavoráveis à manutenção da biodiversidade e conseqüentemente ao seu
bem-estar, visto que ele depende direta ou indiretamente dos outros seres vivos.
Através do desmatamento, das queimadas e da biopirataria, a ação antrópica vai,
aos poucos, destruindo o que a natureza levou muito tempo para construir. A
partir desse enfoque, é analisada a intrínseca relação do homem com o
meio-ambiente, levando em conta os prós e os contras desse envolvimento e,
principalmente, os impactos da ação antrópica na biodiversidade
amazônica.
Características
da Floresta Equatorial Amazônica
A
Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, equivalendo a 35% das áreas
florestais do planeta (LOPES, 2003) e avançando sobre nove países da América do
Sul: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname
e Venezuela. Sua maior parte localiza-se no território brasileiro, do qual cobre
cerca de 40% (3.500.000 km²), distribuindo-se por nove estados: Acre, Amazonas,
Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins.
A
floresta é formada por uma vegetação densa, distribuída por diversos andares ou
estratos. O estrato herbáceo é constituído por plantas de pequeno porte que
vivem em condições de baixa luminosidade. No segundo estrato, encontram-se
arbustos e pequenas palmeiras. A seguir, dois estratos arbóreos intercalados. O
último estrato é o das lianas, constituído por epífitas (bromélias,
orquídeas, musgos e samambaias) e trepadeiras
(filodendros).
A maior
parte da Amazônia é composta de formação vegetal latifoliada (de folhas largas),
perene (nunca perde as folhas e permanece verde), heterogênea (constituída de
várias espécies) e, em grande parte, higrófila (que vive em ambientes muito
úmidos).
Pode-se
classificar a floresta de acordo com o contato dos vegetais e das águas em três
modalidades: mata de terra firme, mata de várzea e mata de igapó. A mata de
terra firme corresponde a aproximadamente 75% da vida vegetal amazônica e é
aquela que não está sujeita a alagamentos. A mata de várzea é aquela que está
sujeita a alagamentos repentinos, os quais, normalmente, ocorrem nas épocas de
chuva. Já a mata de igapó é aquela que está constantemente
alagada.
Os
solos desse ecossistema geralmente são profundos, bem drenados, intensamente
lixiviados (lavados pela água da chuva) e ácidos, pobres em nutrientes e
areno-argilosos. Há também algumas manchas de solo com terra preta (conhecida
como terra de índio), fortemente humosa e rica em nutrientes. Devendo-se
ressaltar também a elevada intensidade de decomposição de matéria orgânica no
solo, o que gera nutrientes que são rapidamente absorvidos pela vegetação,
constituindo um ciclo de decomposição/absorção extremamente dinâmico. Por isso,
a remoção da floresta para fins agrícolas é prejudicial e conduz o solo ao
empobrecimento.
Por
estar sobre domínio do clima equatorial úmido, é um dos locais mais chuvosos do
planeta, de intensa pluviosidade, com uma temperatura regularmente elevada e
está localizado em um relevo de baixas altitudes.
É
marcante a presença de rios, a grande quantidade de nichos ecológicos e a grande
biodiversidade. Dentre as plantas podemos citar o cupuaçu, o guaraná, a
seringueira (de onde se extrai o látex para a fabricação de borracha), palmeiras
como o açaí, o tucumã e o inajá, espécies de grande porte como a castanheira, a
sumaúma (conhecida como "o gigante da Amazônia") e o angelim. Esse bioma abriga
também inúmeras espécies de plantas medicinais, graças às quais já foram feitas
descobertas importantes para a medicina, como é o caso do curare (um potente
anestésico) e do quinino (bom remédio contra a malária).
Vale à
pena destacar que como os estoques de madeira do sul do país estão se esgotando,
nos últimos anos a extração de mogno e cerejeira na floresta amazônica aumentou
muito, fator importante na drástica redução da população dessas
plantas.
Além
desse grande número de espécies de plantas, na Amazônia está também a maior
diversidade de espécies animais: preguiça-real, macaco-aranha (ou quatá),
macaco-prego, guariba (ou bugio), araçari (tucano), arara-vermelha,
arara-canindé, jacaretinga, jacaré-coroa, jacaré-açu, muitas espécies de peixes
como o pirarucu, o aruanã, o surubim e o poraquê (peixe-elétrico), muitas
espécies de insetos e de outros animais.
Transformismo
ou Fixismo
Na
antiguidade, imaginava-se que as espécies seriam fixas e imutáveis. Essa idéia
teve como defensores os filósofos gregos, a exemplo de Aristóteles. Os chamados
fixistas propunham que as espécies encontradas na atualidade já existiam
desde a origem do planeta e a extinção delas seria devida a eventos
catastróficos que teriam exterminado grupos inteiros de seres vivos, a exemplo
da extinção dos dinossauros pela colisão de um meteorito com a
Terra.
Porém,
alguns pensadores passaram a admitir a idéia da substituição gradual de espécies
por outras, por meio de adaptações a ambientes em contínuo processo de mudança.
Essa corrente de pensamento explicava a adaptação como um processo dinâmico e
era chamada de transformista.
Para o
transformismo, alcança-se a adaptação por meio de mudanças: à medida que se
mudaria o meio, mudar-se-ia a espécie. Os adaptados ao novo ambiente
sobreviveriam. Essa idéia deu origem ao evolucionismo, o qual se convencionou
definir assim: evolução biológica é a adaptação das espécies a meios
continuamente em
mudança. Contudo, precisa-se entender que essa mudança das
espécies nem sempre implica aperfeiçoamento ou melhora. Muitas vezes, leva a uma
simplificação.
Darwin,
Wallace e a Seleção Natural
Viajando
ao redor do mundo a bordo do navio H. M. S. Beagle, o naturalista inglês Charles
Darwin, com base em muitas observações da natureza e em especial do arquipélago
de Galápagos, começou a contestar a imutabilidade das espécies. Foi então que
suas idéias sobre evolução começaram a ser elaboradas.
Em
1838, Darwin leu o ensaio de Thomas Malthus (1766-1834) sobre os princípios que
regem as populações humanas, escrito em 1798. Malthus defendia que o crescimento
da população ocorria em progressão geométrica e o crescimento dos meios de
subsistência ocorria em progressão aritmética, desse modo, muito provavelmente,
resultando em fome.
Darwin
imaginou que esses argumentos poderiam ser aplicados para as populações dos
demais seres vivos, em que o crescimento populacional seria controlado por
limites impostos pelo meio. A falta de recursos disponíveis para todos levaria a
disputas entre os organismos e apenas aqueles com características mais
vantajosas teriam condições de sobreviver e se reproduzir. Assim, os organismos
mais adaptados ao meio seriam selecionados naturalmente.
Darwin
seguiu trabalhando e amadurecendo suas idéias sobre evolução, quando em 1859
publicou o livro mais importante da sua vida e um dos mais importantes da
história da biologia que começou a escrever em 1856: "The origin of species by
means of natural selection" (A origem das espécies por meio da seleção
natural).
Em
1858, o naturalista inglês Alfred Wallace, com base nos estudos realizados na
América do Sul e no Arquipélago Malaio, chegou de forma independente às mesmas
conclusões de Darwin sobre evolução por seleção natural.
Wallace
enviou uma carta a Darwin falando a respeito das suas idéias sobre seleção
natural, o que os fez escrever juntos um documento para uma importante reunião
científica que ocorreu em Londres em 1858.
Wallace
elaborou suas idéias tão bem quanto Darwin, mas em função, principalmente, da
publicação do livro A origem das espécies, a teoria da evolução por
seleção natural ficou conhecida como sendo apenas de Darwin. Contudo, embora
Wallace não tenha apresentado um trabalho tão impactante, ele também merece os
créditos da elaboração da teoria.
Biodiversidade
A
biodiversidade ou diversidade biológica é a variedade de genes, espécies e
ecossistemas que fazem parte da biosfera, reunindo todas as espécies vivas,
desde os microorganismos simples até as plantas e animais superiores. Há uma
inter-relação inexorável entre os elementos vivos da natureza que garantem a
riqueza, a proliferação e a continuidade da vida em nosso
planeta.
A
engenharia genética vem alterando e revolucionando as formas convencionais de
reprodução dos seres vivos. Na agricultura e na pecuária seus efeitos têm sido
assombrosos, desafiando nossa capacidade de imaginar o futuro. Assim, cada
espécie silvestre adquiriu uma importância incalculável para as poderosas
corporações multinacionais que buscam nas florestas tropicais as matrizes para
muitos de seus produtos, as quais, depois de alteradas geneticamente, são
comercializadas por preços elevadíssimos.
Ações
que desrespeitam as normas internacionais estabelecidas desenvolvem-se
rapidamente; é a biopirataria violando a soberania nacional de muitos países.
Estamos testemunhando a extinção dos habitats de incontáveis seres vivos.
O homem vai ao espaço, mas não consegue refazer um habitat destruído. A
situação é muito grave e merece uma reflexão, não só dos governantes, mas de
todos os cidadãos, que embora vivam em áreas urbanas, devem lembrar-se o quanto
a sua sobrevivência e qualidade de vida estão ligadas à preservação dos
ambientes, mesmo os mais distantes.
Mais de
50% das espécies de animais e plantas existentes no planeta (identificadas ou
não) ocorrem nos trópicos. Mais da metade das plantas tropicais vive na
Amazônia; ¼ delas na África e em Madagascar e o outro quarto na
Ásia.
Acontece
que as florestas tropicais úmidas estão sendo devastadas à velocidade de 180.000
km² por ano, extensão que vem a ser maior do que a de vários Estados brasileiros
(MORAES, 2003). Nos próximos 25 anos estima-se que entre duas a sete espécies em
cada 100 terão desaparecido para sempre (UZUNIAN, 2004). Imagine que a perda de
cada planta represente a perda de outras 30 espécies de animais e insetos que
dela dependem.
O Rio
Amazonas e a Biodiversidade da Região Amazônica
Os
organismos que compõem uma comunidade sofrem influência de seu ambiente, mas
também atuam sobre ele, provocando pequenas alterações locais. Essas alterações
podem estabelecer novas condições eventualmente favoráveis à instalação de
outras espécies e desfavoráveis às espécies já existentes na comunidade. Assim,
podem ocorrer mudanças nas comunidades ao longo do tempo que acabam por levar ao
estabelecimento de uma comunidade estável auto-regulada, que não sofre
alterações significativas em sua estrutura. Essa comunidade estável é denominada
comunidade clímax e a seqüência de estágios de seu desenvolvimento é
chamada sucessão ecológica.
Uma
sucessão ecológica pode ser definida em função de três características básicas:
é um processo ordenado e dirigido, ocorre como resposta às modificações nas
condições ambientais locais provocadas pelos próprios organismos e termina com o
estabelecimento de uma comunidade clímax, que não sofre mais alterações em sua
estrutura, desde que as condições macroclimáticas não se
alterem.
A
Amazônia é a região de maior biodiversidade do planeta. Cobrindo mais de 6
milhões de km² em nove países do norte da América do Sul, abriga pelo menos 40
mil espécies de plantas, 427 de mamíferos, 1.294 de aves, 378 de répteis, 427 de
anfíbios e mais de 3 mil espécies de peixes (SILVA, 2006). A porcentagem de
espécies endêmicas – restritas à região – varia de 5,7% nos répteis a 87,7% nos
anfíbios. Estima-se que a Amazônia abrigue pelo menos 10% das espécies do
planeta.
A
diversidade de espécies de uma região é um produto de três processos
biogeográficos básicos: produção de espécies, intercâmbio biótico e
extinção.
Produção
de Espécies – As espécies são produzidas quando um ancestral dá origem a duas ou
mais espécies descentes por meio de um processo denominado de especiação. O
modelo mais aceito de especiação é o da vicarecência, mecanismo evolutivo
por meio do qual uma espécie ancestral tem sua distribuição fragmentada por
barreiras geológicas ou ecológicas. Como conseqüência, as populações passam por
um processo de diferenciação, dando origem a duas ou mais espécies descendentes.
A especiação geralmente leva ao aumento tanto da diversidade quanto da
porcentagem de espécies endêmicas na região.
Intercâmbio
Biótico – É o fluxo natural de espécies entre regiões adjacentes, com algumas
populações expandindo suas distribuições para áreas que originalmente elas não
habitam. Esse processo geralmente adiciona espécies a uma região, aumentando,
portanto, a sua diversidade. Em contraposição, a porcentagem de espécies
endêmicas nessa determinada área cai, pois ela será povoada por um número maior
de espécies que ocorrem em duas ou mais regiões.
Extinção
– Os eventos de extinções atuam diminuindo a diversidade regional e podem ser
causados tanto por fatores bióticos com abióticos. Geralmente são associados a
mudanças ambientais drásticas. Os efeitos da extinção sobre a diversidade
regional de espécies não podem ainda ser estimados, pois isso requer fósseis
abundantes e bem preservados.
Na
Amazônia, o naturalista britânico Alfred Russel Wallace (1823-1913),
co-proponente da teoria da evolução por seleção natural, foi o primeiro a
demonstrar que as espécies não são amplamente distribuídas na região. As
espécies na Amazônia possuem distribuições relativamente pequenas e
concentram-se em determinados setores da região, que são denominados áreas de
endemismo. Wallace também observou que as espécies restritas a uma dessas áreas
são substituídas por outras aparentadas nas regiões de endemismo adjacentes. Em
muitos casos, essas substituições estão associadas à presença de barreiras
físicas bem definidas, tais como rios, planaltos ou manchas de vegetação aberta,
mas, em outros casos, elas ocorrem em lugares sem nenhuma barreira atual visível
conhecida. Essas duas observações apóiam a idéia de que a extraordinária
diversidade de espécies na Amazônia é mais uma conseqüência da intensa produção
de espécies dentro da própria região do que uma conseqüência do intercâmbio
biótico com as regiões adjacentes.
Por
décadas, a principal hipótese prevalecente sobre a Amazônia indicava que um mar
raso teria inundado a região por bastante tempo, dando origem inclusive ao rio
Amazonas. Essa conexão prolongada com o mar aberto poderia explicar como botos,
peixes-boi, raias e outras criaturas marinhas entraram no coração do
continente.
Novas
pesquisas, porém, indicam que essa prolongada inundação não chegou a ocorrer
devido à identificação de características típicas de ambientes de água doce.
Contudo, deve-se levar em conta que ocorreram sim aumentos de salinidade, mas
não em tão longo período de tempo como se costumava supor. O mar chegou a
transgredir e regredir algumas vezes, mas não chegou a inundar permanentemente a
área amazônica como se imaginava.
Algumas
evidências apontam que apenas poucas espécies de moluscos de água doce,
Pachydon e Sioliella são exemplos, moluscos descobertos em
dezenas de sítios pela Amazônia, poderiam ter sobrevivido em água salgada.
Outras evidências dizem respeito aos grãos de pólen abundantes em rochas que vêm
de plantas como Bombacaceae e Caesalpinoideae, conhecidas por
crescerem quase exclusivamente ao longo das margens de rios tropicais.
Ocorrências raras do pólen de mangues e de microorganismos marinhos nos mesmos
sedimentos confirmam que a água salgada invadiu a região apenas por pouco
tempo.
O vasto
interior no norte da América do Sul, hoje conhecido como Amazônia, passou por
pelo menos três grandes modificações de paisagem nos últimos 25 milhões de anos.
A Amazônia foi coberta por água do mar apenas ocasionalmente naquele tempo. A
nascente Cordilheira dos Andes enviou um fluxo de água na direção leste mais
cedo do que se imaginava, e o incipiente rio Amazonas nutriu um dos maiores
sistemas de lagos interconectados do mundo por milhões de anos antes de
finalmente desaguar no oceano Atlântico quase 6.500 km
depois.
Há 25
milhões de anos, o rio Amazonas e o nordeste dos Andes não existiam. Os
primeiros canais de água da Amazônia vinham do noroeste, de colinas baixas no
coração do continente, com algum fluxo ocasional para o mar do
Caribe.
Já 15
milhões de anos atrás, à medida que o nordeste dos Andes subiu, a formação
tectônica interrompeu o fluxo de água do nordeste e começou a jogar água a
partir de suas inclinações orientais. Um desses fluxos se tornou o novo rio
Amazonas, que alimentou uma vasta área alagada, expandindo-se para o leste aos
poucos.
O rio
alcançou seu comprimento atual há cerca de 10 milhões de anos quando forjou uma
conexão direta com o Atlântico, provavelmente por causa de uma sublevação
tectônica adicional nos Andes. À medida que o rio seguia em direção ao oceano,
ele drenava muitos dos lagos que por tempos dominaram a paisagem amazônica e
começava a lançar sedimentos na costa do Brasil. Esses sedimentos formam hoje um
dos maiores deltas do mundo.
Pelos
22 milhões de anos que a floresta úmida existe, ela se manteve forte – e mesmo
cresceu – preservando em grande parte a sua biodiversidade apesar das mudanças
tremendas na paisagem: o florescimento da cordilheira dos Andes, o nascimento do
rio Amazonas e a inundação pela água do mar. Será que essa persistência ajudará
a Amazônia a sobreviver às mudanças provocadas pelo homem?
Biopirataria
A maior
diversidade encontra-se nas áreas tropicais do planeta, onde predominam os
países pobres. E cresce, ano a ano, a biopirataria praticada principalmente por
grandes conglomerados transnacionais das nações ricas. Entende-se por
biopirataria o envio ilegal de elementos da fauna e da flora de um
determinado país para o estrangeiro com fins industriais ou medicinais
(cosméticos e remédios), sem qualquer pagamento ao país produtor ou à população
local que, muitas vezes, já conhece as propriedades curativas da espécie
subtraída sem autorização.
Calcula-se
que esse comércio ilegal movimente cerca de 10 bilhões de dólares por ano
(MORAES, 2003). O Brasil, pela grande biodiversidade que apresenta, responde por
10% desse tráfico, principalmente de animais silvestres. Grande parte do
princípio ativo dos hipertensivos, medicamentos prescritos contra pressão alta,
é retirada do veneno de serpentes brasileiras como, por exemplo, a jararaca. Há
alguns anos atrás, um grande laboratório norte-americano extraiu de um sapo
equatoriano uma substância que se tornou o princípio ativo de um poderoso
anestésico mais potente que a morfina. Em pouco tempo, o lucro do laboratório
atingiu a casa dos milhões de dólares, enquanto o Equador nada recebeu pela
matéria-prima fornecida.
Na
Eco-92, a
Convenção da Biodiversidade deu origem ao documento Estratégia Global
para a Biodiversidade, onde estão estabelecidas mais de 80 ações para a
preservação da diversidade biológica no planeta. Entre elas estão ações de
combate à biopirataria, prevendo o pagamento de royalties pelas empresas
que fizerem pesquisa ou explorarem a fauna e a flora num país estrangeiro e a
transferência de tecnologia e informações para o país detentor da
“matéria-prima” biológica. Esses dois pontos vão contra os interesses dos
grandes conglomerados das poderosas indústrias de medicamentos e de cosméticos,
que se opõem à assinatura de qualquer acordo ou tratado nesses termos. Os países
ricos, liderados pelos EUA, alegam que os seus gastos com pesquisas nem sempre
se transformam em produtos rentáveis. Em outras palavras, afirmam que investem
muito na procura de novas substâncias e que apenas uma ou outra se transforma em
produto rentável.
Essa é
a versão deles. Enquanto isso, continuam retirando de graça e lesando os países
detentores de grande biodiversidade, como Brasil, Indonésia, China e
Índia.
Desmatamento
O
desmatamento no planeta, fruto da expansão das atividades econômicas e do
crescimento populacional mundial, vem afetando, principalmente, as áreas de
florestas. Nos últimos 300 anos já destruímos mais da metade da cobertura
vegetal natural do planeta.
A
extração de madeira das florestas equatoriais, tropicais e temperadas é uma
atividade econômica importante em diversos países, como o Brasil, a Indonésia e
o Canadá.
As
áreas devastadas crescem à incrível proporção de 170.000 km² por ano. Entre os
principais fatores desse ritmo acelerado estão a derrubada das matas para abrir
campos agrícolas ou novas áreas de pastagens, o crescimento urbano, a
implementação de grandes projetos de mineração e a ação das madeireiras e das
empresas que extraem outras espécies vegetais. Para se ter idéia, as grandes
madeireiras asiáticas já puseram abaixo cerca de 60% das florestas
nativas.
No
Brasil, a devastação atinge aproximadamente 40% da cobertura original. A
expansão da agropecuária, a exploração da madeira e o processo de urbanização
destacam-se como as principais causas da destruição das áreas com cobertura
vegetal nativa.
As
perdas ambientais trazidas pelo desmatamento são de grandes proporções,
ameaçando e trazendo prejuízos para a biodiversidade, aceleração da degradação
dos solos, aumento da erosão, alterações climáticas – em alguns locais do
planeta as densas coberturas vegetais regulam a temperatura e influenciam o
regime de ventos e de chuvas –, comprometimento das áreas de mananciais e das
bacias hidrográficas, pelo assoreamento delas.
Queimadas
As
queimadas têm um papel significativo nas áreas rurais dos países pobres, sendo a
técnica mais barata para se limpar e preparar o solo agrícola. Porém, esta
técnica arcaica e perversa é extremamente nociva ao ambiente, pois empobrece o
solo, destruindo parte dos nutrientes das camadas superficiais, além de liberar
dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo, assim, para o efeito
estufa.
No
Brasil, as queimadas têm colaborado no processo de devastação da Amazônia. Mesmo
o governo anunciando que nos últimos anos houve uma redução do uso dessa
técnica, dados do INPE demonstram que o número de focos ainda é
elevado.
A
Amazônia armazena grandes quantidades de carbono existentes na vegetação, que
são liberados na atmosfera com a queima da cobertura vegetal. O Brasil é o
quarto maior poluidor do clima do mundo (emissão de gás carbônico); cerca de 75%
dessas emissões vêm das queimadas amazônicas (GREENPEACE, In:
23/03/09).
Conclusão
A
humanidade deu um grande salto nas áreas da tecnologia e da ciência, porém
agrediu o meio ambiente de forma cruel. O território brasileiro abriga de 10% a
20% do número total de espécies conhecidas no mundo pela ciência. Acontece que
as florestas tropicais úmidas estão sendo devastadas à velocidade de 180.000 km²
por ano (MORAES, 2003). A Amazônia já perdeu 532 mil km² de área – o tamanho do
território da França (RIGOLIN, 2005). O Brasil é o quarto maior poluidor do
clima do mundo (emissão de gás carbônico); cerca de 75% dessas emissões vêm das
queimadas amazônicas (GREENPEACE, In: 23/03/09). Calcula-se que a biopirataria
movimente um bilhão de dólares somente na Amazônia, sem nenhuma preocupação
ambiental por parte dos traficantes (MORAES, 2003). Nos próximos 25 anos
estima-se que entre duas a sete espécies em cada 100 terão desaparecido para
sempre (UZUNIAN, 2004). Acredita-se que, hoje, em média, uma espécie animal ou
vegetal torna-se extinta a cada vinte minutos, transformando a nossa era em um
dos seis grandes períodos de extinção em massa que a Terra já presenciou
(UZUNIAN, 2004). A taxa de extinção, hoje, é cerca de centenas ou milhares de
vezes maior que a taxa natural observada em tempos
passados.
A ação
antrópica tem grande peso na conservação ou não das características da maior
formação florestal do Brasil e do mundo. O ser humano influencia, na maioria das
vezes, negativamente no bem-estar da Floresta Equatorial Amazônica por
intermédio do desmatamento, das queimadas e da biopirataria. Impulsionado pelas
necessidades sócio-econômicas, o homem tem interferido de forma desequilibrada e
estarrecedora na dinâmica desse ecossistema, levando pouco tempo para destruir
aquilo que a natureza levou muitos anos para construir. A evolução tem tomado
partido pela natureza e auxiliado na proliferação da biodiversidade, mas o homem
contrapõe-se a essa proliferação de maneira "inconsciente" visando à
auto-satisfação imediata, sem ao menos pensar em desenvolver-se
sustentavelmente. A situação é muito grave e merece uma séria reflexão, não só
dos governantes brasileiros, mas de todos os cidadãos que habitam a Amazônia e
dela dependem; assim como da grande maioria dos brasileiros, que embora viva em
áreas urbanas deve lembrar-se o quanto a sua sobrevivência e qualidade de vida
estão ligadas à preservação dessa floresta.
Bibliografia
LOPES, Sônia. Biologia
Essencial. São Paulo: Saraiva, 2003.
UZUNIAN, Armênio & BIRNER, Ernesto. Biologia. 2. ed. São Paulo: Harbra,
2004.
RIGOLIN, Tércio & ALMEIDA, Lúcia. Geografia. 2. ed. São Paulo: Ática,
2005.
MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do
Brasil. 2. ed. Sao Paulo: Harbra,
2003.
SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL. Amazônia: formação geológica do maior
rio do mundo explica a rica biodiversidade da floresta. São Paulo: Duetto, n°
50, 2006.
Queimadas. In:
http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/florestas-em-fogo Acesso em: 23/03/09
Horário: 10h45. 0