O PAPEL DA PROXIMIDADE COMO FATOR DE
COMPETITIVIDADE NOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS –
UMA ANÁLISE DA COORDENAÇÃO E
CONCENTRAÇÃO GEOGRÁFICA DE EMPRESAS EM AGLOMERADOS
Juliana Emy Carvalho Tanaka
Resumo: A proximidade tem sido cada vez mais
discutida nas análises geográficas, especialmente como fator gerador de
dinâmicas ligadas á concentração geográfica de empresas que utilizam mecanismos
de coordenação voltados ao desenvolvimento local e inserção global. A atual
visão sobre a proximidade difere das abordagens tradicionais de medição de
distâncias e cálculos de transportes, pois a concentração geográfica leva em
consideração além das relações econômicas, as redes sociais e institucionais
territorializadas.
Palavras-Chaves: Proximidade, Concentração
Geográfica, Arranjos Produtivos Locais, Vantagens
Competitivas
Abstract:
The proximity has been more and more discussed in the geographical analyses,
specially like factor creator of dynamic rings á geographical concentration of
enterprises that use mechanisms of co-ordination turned to the local development
and global insertion. The current vision on the proximity differs from the
traditional approaches of measurement of distances and transport calculations,
so the geographical concentration takes into account besides the economical
relations, the social nets and institutional
territorializadas.
Keywords: Proximity, Geographical Concentration,
Productive Local Arrangements, Competitive Advantages.
Introdução
As pesquisas atuais em Geografia Econômica, bem como em Economia Regional
e Industrial, têm voltado suas capacidades nas questões referentes á proximidade
e no seu papel de coordenação da dinâmica espacial. A noção de proximidade na
atualidade extrapola a visão tradicionalista na qual reduz as preocupações
apenas nos custos de transportes, se ocupando neste momento em superar esta
visão através da coordenação, organização e regulação do território.
De acordo com PECQUEUR e
ZIMMERMAN (1998, p.77), ao passar de uma concepção do espaço, apenas reduzida a
noção de distância, aquela de um espaço com base na concepção de proximidade,
impõem-se sobre a supressão de algumas restrições, tais como a hipótese de um
espaço homogêneo e a análise anterior da formação de heterogeneidades, a
supressão de uma teoria estática de dotações de fatores para examinar os
processos de criação de recursos e o alargamento dos fluxos de informação, para
além dos mercados e dos preços, considerados como instituição, permite assegurar
a informação e os custos de distância. Através da evolução em relação á estas
restrições, os autores persistem:
A superação desses limites
constitui em si mesma, um programa de pesquisa focado na singularidade e na
complexidade. Se o espaço está no centro da preocupação, temos que reconhecer
que o fato de dois agentes serem vizinhos não implica, necessariamente, em
melhor coordenação. Requerem-se outras condições que demandam expandir a análise
da proximidade para além de um entendimento espacial único e a mudança do nível
único de análise da relação interindividual para entrar na análise da construção
de um nível coletivo (PECQUEUR; ZIMMERMAN, 2005, p.78).
Através da ótica de
articulação entre determinadas condições específicas para a organização de
empresas e do território no contexto da proximidade emergem os estudos acerca
dos Arranjos Produtivos Locais, que tem na proximidade entre os agentes, suas
imersões em redes sociais, institucionais de forma territorializadas através das
relações econômicas fomentadas pela concentração geográfica. Deste modo, o
território assume fundamental importância, pois define o ambiente no qual se
localizam as empresas, além de poder influenciar no desenvolvimento econômico,
articular espacialmente e institucionalmente os atores sociais, que por sua vez
tem como finalidade a mobilização de recursos e ativos genéricos e específicos,
incrementando o processo produtivo (BENKO e PECQUER,
2001).
A formação dos arranjos
produtivos locais está associada á processos endógenos e historicamente
constituídos, portanto de difícil reprodução em outros locais, possuindo assim,
identidade e vínculos territoriais á partir da interação social e o envolvimento
dos atores sociais e econômicos que promovam a tal interação, cooperação e
confiança entre si. Tal sentimento de pertencimento á determinado grupo depende
da realidade e da intensidade das coordenações existentes nos
territórios.
Nos arranjos produtivos
locais, as empresas encontram vantagens ao se estabelecerem próximas umas das
outras, pois desta forma compartilham dos mesmos recursos em potencial que a
localidade oferece, obtendo benefícios através de uma melhor coordenação do tipo
horizontal (MATTEACCIOLI, 2004). Em um aglomerado deste tipo, pressupõe-se, uma
inter-relação entre empresas especializadas, normalmente em setores correlatos
que além de competirem entre si ainda possuem laços de cooperação. Os laços de
cooperação e a intersecção entre os agentes envolvidos definem as vantagens
competitivas locais, pois, os aglomerados podem de maneira ampla manifestar
aumento de produtividade, maior capacidade de inovação e maior estímulo á
formação de novas empresas que reforçam a inovação e ampliam o aglomerado
(PORTER, 1999).
O enfoque da proximidade
nos arranjos produtivos locais estimula a geração de dinâmicas locais e a
construção de formas espaciais de ação coletiva, segundo GILLY e TORRE (2000,
p.278), se dá por três caminhos principais. O primeiro através da noção de redes
localizadas entre agentes, o segundo através de modalidades de desenvolvimento
das relações de confiança e ou de cooperação, bem como a definição de regras
comuns e a consideração do espaço e a integração das noções de proximidade nas
análises sobre coordenação que se referem ao grau de desenvolvimento das
instituições e governança dos territórios.
Assim, a partir da ação
coletiva localizada territorialmente, criam-se recursos específicos que estão
arraigados no território, no contexto organizacional e institucional e que se
constrói principalmente á partir da coordenação local entre os agentes e entre
as atividades. Portanto, desta forma, estes recursos não são reproduzíveis em
outros lugares. Dentre esses recursos tem-se a formação de conhecimentos tácitos
que estão altamente vinculados á concentração geográfica, bem como uma atmosfera
industrial favorável á inovação (GILLY e TORRE, 2000).
Portanto, a proximidade
geográfica por si só não garante o uma posição privilegiada para esta ou aquela
região, mas se estiver aliada á certo grau de coordenação seus agentes e
empresas podem usufruir da proximidade espacial para se desenvolverem e
desenvolverem seu território através de ações coletivas, criando desta forma
certa dinâmica local de inter-relações, tanto na esfera global como local devido
à articulação realizada entre proximidade geográfica e organizacional (GILLY e
TORRE, 2000).
Objetivos
O objetivo central deste artigo é discutir o papel da proximidade, nos
Arranjos Produtivos Locais, especialmente sobre a análise dos mecanismos de
coordenação entre agentes, da formação de recursos específicos e institucionais
territorializadas e suas imersões nas relações
mercadológicas.
Para tanto, faz-se necessário a distinção entre a visão mais
tradicionalista que reduzia á análise espacial ás distâncias de custos de
transportes e mera medições de distâncias para uma análise mais ampla da
dimensão espacial apoiada em uma complexa relação de coordenação dos agentes no
espaço.
Ainda pode-se ter ainda como objetivo nesta discussão, a identificação da
proximidade como um fator de vantagem competitiva destes territórios, fazendo-se
necessário a compreensão, através da Geografia Econômica, dos tipos
comportamentos de localização, o gerenciamento e geração de recursos, bem como
de externalidades intrínsecas ao local.
Portanto cabe á este artigo uma breve discussão sobre temas atuais na
Geografia e Economia, em relação á analise espacial em especial aos Arranjos
Produtivos Locais enquanto aglomerações territoriais de agentes não apenas
econômicos, mas, sobretudo sociais e político, possuindo certo grau de
enraizamento, governança, conhecimento tácito, alta capacidade inovativa, dentre
outros fatores essenciais para a promoção destes territórios, competência para
competitividade e inserção global para além da local.
Referencial Teórico e
Conceitual
A proximidade tem sido utilizada na literatura geográfica e econômica nas
mais variadas abordagens teóricas. Neste momento procura-se romper com a visão
tradicionalista da idéia de proximidade que consistia em estudos relativos a
distâncias e custos de transporte. Nas pesquisas contemporâneas a proximidade é
utilizada como uma categoria de análise das dinâmicas espaciais, especialmente
aos mecanismos de coordenação (RALLET, 2002).
En el
marco de este enfoque se ha desarrollado en Francia a partir de principios de la
década de los `90, un grupo informal definido “dinámica de la proximidad”,
integrado por economistas industriales que se dedican al estudio de los aspectos
espaciales y por economistas espaciales que se interesan por las problemáticas
concernientes a la empresa y a la organización, ha desempeñado un rol precursor
muy especial […], ha desarrollado una reflexión colectiva con el fin de poner en
evidencia las convergencias y las coherencias en un ámbito que actualmente
presenta una gran cantidad de nuevos enfoques teóricos sobre el espacio
económico. Se basa en la idea común de que el espacio no es neutral y no tiene
que representar un aspecto marginal en el análisis industrial (GILLY e TORRE,
2000, p.259-260) [1].
As
investigações acerca das dinâmicas da proximidade utilizam comumente os
conceitos de território, espaço e organização vinculados á uma tradição, sob a
qual a proximidade geográfica é grande facilitadora do desenvolvimento de
interdependências mesmo que de caráter informal entre os diversos atores locais
e que podem gerar uma dinâmica industrial específica. Portanto são utilizadas as
noções de economias externas, relações informais, redes de interação, dentre
outros para explicar a construção de um território á partir de ações e práticas
sociais dos agentes econômicos e institucionais (GILLY e TORRE,
2000).
Tal dinâmica industrial específica faz com que o território ganhe uma
postura mais ativa e geradora de recursos específicos que não podem ser
replicados em outros locais e estão ligados á acumulação de conhecimentos a
aprendizagem coletiva cognitiva.
Quanto aos recursos
específicos, esses só existem no estado virtual e não podem em nenhum caso ser
transferidos. Esses recursos nascem de processos interativos e constituem a
expressão do processo cognitivo, que é engajado quando atores tendo competências
diferentes produzem novos conhecimentos pela disponibilidade desses últimos. No
momento em que conhecimentos e saberes heterogêneos são combinados, novos
conhecimentos emergem abrindo novas combinatórias e possibilidades (BENKO E
PECQUEUR, 2001, p.42).
A criação de um recurso
específico arraigado no território é considerá-lo indivisível no contexto
organizacional e institucional gerado á partir de ações coletivas localizadas,
ou seja, de coordenação. Tal recurso não se reproduz em outro local, pois é
resultado de mecanismos específicos de coordenação local entre os agentes e as
atividades.
A questão da aprendizagem
coletiva e a geração de recursos específicos estão altamente ligadas ao processo
de inovação dentro de um aglomerado industrial, possibilitado principalmente
pela especialização setorial, interação entre atores e o grau de confiança entre
os agentes envolvidos.
[...] las
relaciones que implican la
activación de los conocimientos tácitos refieren a la proximidad geográfica,
mientras que las que se basan en los conocimientos codificados se fundamentan en
la distancia. En este sentido, este enfoque, además de basarse en un concepto
limitado de la relación proximidad/distancia, desconoce que los
conocimientos tácitos y los codificados coexisten en el ámbito de las empresas o
de las redes, y no considera la importancia que tiene el tiempo en la evaluación
de los efectos de la proximidad (es decir la existencia de etapas de
apropiación y de aprendizaje, de
etapas de decodificación y recodificación de la información), ni el éxito de las
etapas de procesos de capacitación y transferencia de las competencias que
privilegian la movilización de los conocimientos tácitos y de los conocimientos
codificados (GILLY e TORRE, 2000, p.275)[2].
Neste
processo de produção, trocas e coordenação têm surgido com freqüência no debate
geográfico e econômico, ênfase das relações entre o local e o global,
especialmente de aglomerados industriais como campos territoriais regulatórios,
meios dotados de certo dinamismo endógeno sob o qual características físicas,
geográficas, humanas, institucionais e uma determinada atmosfera industrial
(BENKO, 2002) culminarão no processo de revalorização da região. Para ALBAGLI, (1998), o local
configura-se como um subespaço ou um subconjunto espacial que envolve de certa
maneira a delimitação ou o recorte territorial em termos econômicos, políticos e
culturais. Sendo assim, o local é meio tanto para o movimento do capital como
das mercadorias e do trabalho e da ação social.
Neste sentido têm chamado á atenção no âmbito dessas aglomerações os
Arranjos Produtivos Locais, Distritos Industriais, Clusters, Sistemas Produtivos
de Inovação, dentre outros tipos de designações para aglomerados de
competitividade e solidariedade de economias locais e regionais. No Brasil
existem diversos estudos empíricos, somados á uma ampla discussão
teórico-conceitual, permitindo-se avançar-se para uma definição mais rigorosa do
conceito de Arranjos Produtivos Locais. O serviço Brasileiro de Apoio a Média e
Pequena Empresa – SEBRAE conceitua
Arranjos Produtivos Locais como:
Aglomerações espaciais de
agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas e que apresenta vínculos e interdependência. Por meio
desses vínculos, origina-se um processo de aprendizagem que possibilita a
introdução de inovações de produtos, processos e formatos organizacionais,
gerando maior competitividade para as empresas integradas ao arranjo. A formação
de APL encontra-se associada a trajetórias históricas de formação de vínculos
territoriais (regionais e locais), a partir de uma base social, cultural,
política e econômica comum.
Outros autores, como PORTER
(1999) utiliza o termo Aglomerações para definir concentrações geográficas de
empresas inter-relacionadas, fortemente especializadas, prestadores de serviços,
empresas de setores correlatos e outras instituições específicas (universidades,
órgãos de normatização e associações comerciais) que competem, mas também
cooperam entre si. Para este autor, um aglomerado para obter sucesso, deve
superar ás restrições á produtividade e ao aprimoramento, como por exemplo, o
foco na mão-de-obra mal qualificada e barata como forma de atração para empresas
no conglomerado, especialmente nos países em desenvolvimento no qual falta
acesso ao capital e há um subdesenvolvimento das instituições. O aglomerado
deverá, portanto, superar também alguns efeitos não eficientes advindos da
proximidade, como por exemplo, a imitação e investir em inovação como forma de
competitividade e desenvolvimento econômico.
Portanto, de acordo com COURLET apud MATTEACCIOLI (2004), através da
operação e do modo de coordenação um sistema produtivo localizado é capaz não
somente de gerar uma dinâmica industrial, mas se auto- reproduzir ao mesmo tempo
por meio desses processos.
L’analyse des
territoires montre que le développement se déploie á partir d’un système
d’interrelations, de circulaction d’informacions, de proction et de reproduction
des valeurs qui caractérisent un mode de proction. Cela signifie que les
facteurs critiques du développement sont historiquement enracinés dans la
réalité sociale et ne sont done pas facilement définitive, comme un processus
social et non comme un processus uniquement thecnique (MATTEACCIOLI, 2004) [3].
Principais
Questões
A análise dos Arranjos produtivos Locais colocam em evidência o papel da
proximidade geográfica dentro da análise territorial. Entretanto para uma maior
eficiência da proximidade repousam determinadas condições específicas de
coordenação e articulação desta proximidade que gere recursos específicos e
vantagens competitivas (MATTEACIOLLI, 2004; PORTER, 1999).
Les
entreprises tirent avantage de leur implatation á proximité les unes des autres
parce qu’elles partagent un même potentiel de ressources (non seulement en
infrastructures collectives, mais aussi en savoir-faire, en compétences
scientifiques et techniques, en recherche-développement, etc.). Cette proximité
permet d’obtenir un bénéfice économique supérieur á celui résulterait de la
simple addition des perfomances des firmes concernées (MATTEACIOLLI, 2004) [4]
.
A eficácia dos arranjos
produtivos locais advindos de atividades produtivas geograficamente concentradas
se concentra na articulação de uma dinâmica econômico-industrial, ou seja, a
proximidade organizacional e de uma dinâmica territorial, a proximidade
geográfica, uma vez que não se trata mais de recursos genéricos e sim na geração
de recursos específicos, criados á partir da relação e interação no interior do
território. Daí também a importância das relações informais neste processo de
criação de recursos e ativos específicos, bem como no processo de inovação e
criatividade (GILLY e TORRE, 2000; MATTEACCIOLI, 2004, RALLET, 2002).
As condições da demanda,
interna e externa também irão influenciar na evolução das empresas, a
diferenciação de produtos e na inovação. Cada vez mais o mercado se torna
exigente e os clientes mais sofisticados em busca de diferenciação de segmentos
de mercados. Portanto, a qualidade da própria demanda irá influenciar fortemente
o aglomerado na economia global (PORTER, 1999).
A evolução para uma
economia avançada exige o desenvolvimento de acirrada rivalidade local. Esta
deve se deslocar-se dos salários baixos para os custos totais baixos, o que
exige o aprimoramento da eficiência na fabricação e na prestação de serviços. Em
última instância, ela também deve ir além dos aspectos de custos, para incluir a
diferenciação. Também é preciso que a competição evolua da imitação para a
inovação e de baixos investimentos para altos investimentos, não apenas em
ativos físicos, mas também em intangíveis, como habilidades e tecnologia
(PORTER, 1999, p.224).
De acordo com PORTER (1999), os aglomerados influenciam fortemente a
competição, embora também cooperem entre si. Tal competição se dá através de
três maneiras. Primeiramente pelo aumento em produtividade que se dá através do
acesso á insumos e a pessoal especializado, ao acesso á informações (técnicas,
de mercado e outras áreas especializadas que se acumulam dentro do aglomerado,
nas empresas e outras instituições). Também a produtividade aumenta pela
facilitação de complementaridades entre as atividades dos diferentes
participantes, ao acesso á instituições e a bens públicos além de incentivos e
mensuração de desempenho.
Segundo, pelo fortalecimento da capacidade de inovação, pois de acordo
com PORTER (1999), freqüentemente se torna mais fácil as empresas dentro de um
aglomerado perceber com mais rapidez e clareza as necessidades de seus
compradores, especialmente pela relação entre empresas e setores correlatos e um
denso conjunto de entidades geradoras de informação especializada, discernindo
assim tendências da demanda. Outro elemento a ser levado em conta em relação á
inovação é a pressão competitiva dentro dos aglomerados típico da forte
concentração geográfica.
Como terceiro elemento, faz referencia ao estímulo á formação de novas
empresas, pois os aglomerados possibilitam maiores incentivos, informações e
oportunidades existentes. De acordo com estas três influencias, PORTER (1999)
argumenta:
Cada uma de suas três
grandes influências na competição depende, até certo ponto, dos relacionamentos
pessoais, da comunicação face a face e da interação entre as redes de indivíduos
e instituições. Embora sua existência torne mais provável o desenvolvimento
desses relacionamentos, além de aumentar a eficácia da sua atuação, o processo
não é de modo algum automático. Mecanismos organizacionais e aspectos formais e
informais geralmente desempenham papel importante no desenvolvimento e
funcionamento dos aglomerados [...] (PORTER, 1999, p.226).
As redes sociais estão ligadas aos vínculos entre os atores que mantêm a
coesão dos Arranjos Produtivos Locais. As redes de relacionamento extrapolam o
âmbito da empresa para a formação de comunidades, o chamado capital social.
Ainda de acordo com PORTER (1999), a noção de capital social se amplia ainda
mais nos aglomerados ao tentar explorar como tais estruturas sociais – que se
agrupam em uma localidade – produz benefícios para as empresas. Tais benefícios
podem ser adquiridos principalmente pelo sentimento de pertencimento á
determinada localidade, seus vínculos afetivos, sentimento de confiança e
permeabilidade organizacional, dentre outros.
L’originalité
de cette analyse est de mettre l’accent sur le rôle des individus dans les
relations entre les organisations au sein de ce système local d’innovation. Les
liens particuliers qui se nouent á travers les interactions et les
interdépendances concernent principalement des relations informelles. Elles
contribuent grandement à faire émerger des ressources spécifiques á travers des
liens individuels et sociaux qui s’inscrivent à la fois dans la durée et dans le
territoire. Elles constituent alors un ensemble de ressources partagées dont les
dimensions sociales et symboliques sont determinantes (MATTEACCIOLI, 2004) [5].
A
compreensão das redes locais implica muitas vezes na imersão das relações
econômicas nas relações sociais, como exposto acima e também nas redes
institucionais. Na perspectiva regulacionista da economia, as instituições
desempenham papel essencial no espaço e na abordagem geográfica, organizando
normas impostas pela lógica da produção (GILLY e PECQUEUR, 1995).
[...] Em relação ao território, as instituições desempenham também
importantes funções na organização da política local. Para Clingermayer e
Feiock, estas funções derivam de três circunstâncias: na primeira, os arranjos
institucionais moldam as ações individuais; na segunda, reduzindo as incertezas,
as instituições estabelecem premissas para a decisão; na terceira, as
instituições propiciam estabilidade nas escolhas coletivas. Em resumo, por serem
territorializadas elas definem padrões significativos dos fenômenos sociais no
espaço (CLINGERMAYER e FEIOCK, 2001, p. 3 apud CASTRO, 2003 p.14).
Portanto, de acordo com PORTER (1999), as associações ou órgãos coletivos
institucionalizam os elos do aglomerado, podendo proporcionar um foro neutro
para a identificação de necessidades, limitações e oportunidades. Para o autor,
os ,próprios aglomerados devem mobilizar iniciativas para o seu desenvolvimento.
Com base em diversos casos de sucesso, ele apresenta algumas características em
comum de diversos aglomerados bem sucedidos no mundo. Tais características
envolvem uma visão compartilhada da competitividade e do papel dos aglomerados
na vantagem competitiva, ligados á produtividade e á inovação. Maior foco na
remoção de obstáculos e atenuação das restrições ao aprimoramento dos
aglomerados. Uma estrutura que abarque todos os aglomerados do país em
detrimento do privilégio á este ou aquele conglomerado. Fronteiras apropriadas,
pois muitas vezes extrapolam as divisões geográficas políticas. Amplo
envolvimento dos participantes e instituições associadas, liderança do setor
privado, atenção aos relacionamentos pessoais, viés para a ação e
institucionalização, como estratégia para sobrevivência em longo prazo.
Conclusões
A noção de proximidade na Geografia Econômica contemporânea, alcança
novos significados além das tradicionais análises de custos de transportes,
passando á
maior análise da dinâmica espacial. Seu foco atual vai além da
proximidade geográfica, para necessidades de coordenação.
A visão geográfica atua na perspectiva de analisar de forma holística as
várias formas de de organização dos sistemas territoriais de produção atuais,
baseando-se não apenas em uma lógica técnica e funcional, mais também espacial e
territorial.
Através das breves considerações deste artigo, pode-se compreender que
existe uma determinada lógica na territorialização de determinadas empresas,
especialmente aquelas que se encontram nos chamados Arranjos Produtivos Locais,
sob o qual o território que desempenha papel ativo. Tais empresas historicamente
e horizontalmente organizadas mantêm relações de cooperação e competição, no
qual a própria territorialidade representa uma fator
competitivo.
Os Arranjos Produtivos Locais, embora diferentes entre si, representam
uma nova e complementar forma de promover o desenvolvimento, pois não constituem
uma forma aplicável á qualquer realidade, pois necessitam de certa
especificidades para a sua
constituição.
Portanto, emerge a importância do local, como nova forma de
competitividade no contexto da globalização, pois a especialização local
constrói certas vantagens competitivas, relacionadas á promoção e inovação
local.
O território desta forma
assume fundamental relevância, pois define o ambiente no qual se localizam as
empresas, proporcionando a articulação espacial e institucional de atores,
mobilizando recursos genéricos e específicos, incrementando o processo
produtivo.
Referências
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RALLET, A. Economia da Proximidade: em direção a um balanço. Cadernos IPPUR, ano XVI, n2, 2002
(p59-80).
Notas
[1]
Dentro desta abordagem tem sido desenvolvido na França no início da década de
90, um grupo informal definido "dinâmica proximidade", composto por economistas
industriais empenhados em estudar os aspectos geográficos e economistas
espaciais estão interessados em questões relativas à organização da empresa e
tem desempenhado um papel pioneiro muito especial [...] tem desenvolvido uma
reflexão coletiva, a fim de evidenciar as semelhanças e consistências em uma
área atualmente apresenta uma grande número de novas abordagens teóricas sobre a
economia. É baseada na idéia comum que o espaço não é neutro e não tem de
representar um marginal industriais análise (GILLY e TORRE, 2000, p.259-260,
tradução nossa).
[2]
[...] As relações que envolvem a ativação do conhecimento tácito relacionados à
proximidade geográfica, enquanto que aquelas que são baseadas em conhecimento
codificado são baseadas em distância. Assim, esta abordagem baseada em apenas
uma parte limitada do conceito de proximidade / distância, que ignora o tácito e
o conhecimento codificado existem nas empresas ou a redes, e não considerar a
importância do tempo na avaliação dos efeitos de proximidade (ou seja, a
existência de fases de apropriação e aprendizagem fases da descodificação e
recodificação de informação), ou o sucesso das fases dos processos de formação e
de competências transferir esse privilégio mobilização do conhecimento tácito eo
conhecimento codificado (GILLY e Torre, 2000, p.275, tradução
nossa).
[3] A
análise mostra que o desenvolvimento territorial se desenvolve a partir de um
sistema de relações de circulação de informações de produção e reprodução de
valores que caracterizam um modo de produção. Isto significa que os fatores
críticos de desenvolvimento são historicamente enraizados na realidade social e
não são facilmente feito, em última instância, um processo social e não como um
processo apenas técnico (MATTEACCIOLI, 2004, tradução
nossa).
[4] As
empresas beneficiam da sua implantação perto uns dos outros porque compartilham
um recurso comum potencial (não só em infra-estrutura, mas também know-how,
investigação científica e técnica e de desenvolvimento). Esta proximidade
permite uma maior vantagem econômica como resultante da soma dos desempenhos das
empresas em determinada causa (MATTEACIOLLI, 2004, tradução
nossa)
[5] A
originalidade desta análise é de destacar o papel dos indivíduos nas relações
entre as organizações locais no âmbito do sistema de inovação. A relação que é
forjada através das interações e interdependências são principalmente as
relações informais. Eles contribuem grandemente para o surgimento de recursos
específicos através de relações sociais e individuais que são tanto na duração e
no território. Constituem um conjunto de recursos compartilhados com os
determinantes sociais e simbólicos (MATTEACCIOLI, 2004, tradução
nossa).
Ponencia presentada en el XI Encuentro Internacional Humboldt
– 26 al 30 de octubre de 2009. Ubatuba, SP, Brasil.