A
RELEVÂNCIA DOS RELATOS DE ENGELS PARA
UMA GEOGRAFIA CRÍTICA MODERNA
MAZETTO, Francisco de
Assis Penteado
Professor Associado
do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora
MG.
Resumo
Este trabalho procura resgatar a importância de uma obra de Engels: “A
situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, e sua grande contribuição para
as ciências humanas. Na Geografia em particular, esta obra se apresenta como um
grande tratado geográfico crítico em uma época onde conservadorismo liberal
imperava. Enquanto o método descritivo e neutro dominava os estudos geográficos,
sob os preceitos do positivismo, Engels inovou com uma abordagem dialética sobre
os problemas sociais, com uma tenacidade raramente igualada. No atual momento
histórico marcado pelo domínio do neoliberalismo, é de suma importância uma
revisão de trabalhos visionários clássicos elaborados por autores como Engels,
Marx, Kropotkin e Reclus. O capitalismo tardio (MANDEL, 2001) mostra sinais e
exaustão no momento de crise, mas ainda pode ser reproduzido em um segundo
momento à custa dos recursos públicos do Estado. A obra de Engels mostra que os
princípios fundamentais do funcionamento do capitalismo pouco mudaram nos
últimos 150 anos, gerando os mesmos efeitos de sempre: concentração de renda,
segregação sócio-espacial, expropriação da força de trabalho e miserabilidade
generalizada.
Resumen
Este
trabajo busca rescatar la importancia de un texto de Engels: “La situación de la
clase obrera en Inglaterra”, y su gran contribución para las ciencias humanas.
En la geografía particularmente, este texto presenta como un grande tratado
geográfico crítico en momento actual con el reinó conservador liberal. Mientras
que el método descriptivo y neutral dominó los estudios geográficos, bajo reglas
del positivismo, Engels innovaron con una dialéctica del embarque en los
problemas sociales, con una tenacidad raramente igualada. En el
momento histórico actual marcado por el dominio del neoliberalismo, está de
importancia grande que una revisión de trabajos visionarios clásicos elaboró por
los autores como Engels, de Marx, de Kropotkin y de Reclus. El capitalismo
tardío (MANDEL, 2001) demuestra las señales del agotamiento en el momento de la
crisis, pero todavía él se puede reproducir con la apropiación de los recursos
públicos del estado. Lo texto de Engels evidencia que los principios de base del
funcionamiento del capitalismo se habían movido poco en último los 150 años,
generando el mismo efecto de siempre: concentración de renta, segregación del
socio-espacio, expropiación de la fuerza de trabajo y pobreza generalizada.
Summary
This
work looked for to rescue the importance of a workmanship of Engels: “The
situation of the working class in England”, and
its great contribution for sciences human beings. In Geography in particular,
this workmanship presents as a great treat geographic critic at a time where
liberal conservative reigned. While the descriptive and neutral method dominated
the studies geographic, under the rules of the positivism, Engels innovated with
a boarding dialectic on the social problems, with a tenacity rare equaled. At
the current historical moment marked by the domain of the neo-liberalism, it is
of large importance a revision of classic visionary works elaborated by authors
as Engels, Marx, Kropotkin and Reclus. The late capitalism (MANDEL, 2001) shows
to signals of exhaustion at the crisis moment, but still it can be reproduced
with the appropriation of the public resources of the State. The workmanship of
Engels sample that the basic principles of the functioning of the capitalism had
little moved in last the 150 years, generating the same effect of always:
concentration of income, partner-space segregation, expropriation of the work
force and generalized poverty.
Introdução
No
atual período histórico de domínio do capitalismo neoliberal, é bastante
oportuno revisitar a magnífica obra de Engels, quando descreve o capitalismo
liberal inglês em seu apogeu, nos meados do século XIX: “A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra”. O então jovem Engels desvenda um sistema despótico
e hipócrita em uma época no qual o progresso material da sociedade foi o mais
concentrado e injusto de toda a história. Antes de Engels, poucos foram os cientistas sociais que
teceram críticas pertinazes sobre o capitalismo liberal, sendo mais comum o
pensamento conservador alienado que procurava, antes de tudo, justificar a
ascensão da burguesia no topo da estrutura social. A propriedade privada nos meios de
produção permanece, desde o século XVIII, como uma instituição sacro-santa do
liberalismo econômico tornando-se um instrumento de expropriação e exploração da
mão-de-obra, nunca antes alcançado.
O
Pensamento Crítico do Jovem Engels se dá numa época onde o estudo da Geografia
voltava-se para o interesse do capitalismo industrial já em franco
desenvolvimento. O expansionismo colonial impulsionou estudos de geógrafos,
sendo que os trabalhos de Humboldt, Petermam, Ratzel e outros preconizavam
melhor avaliar as potencialidades das regiões tropicais e suas características
que serviram para melhor conhecer e controlar os territórios conquistados. No
auge do imperialismo europeu e norte-americano do século XIX, surge o que
chamamos de “Geografia do Poder”,
ainda sobre a égide do pensamento positivista-determinista e atrelada aos
interesses geopolíticos estratégicos de seus Estados, agentes internacionais dos
interesses das burguesias nacionais.
Embora
Engels não fosse geógrafo, seu relato sobre a situação da classe trabalhadora na
Inglaterra constitui um verdadeiro tratado de Geografia Crítica, ímpar em sua
época e que foi muito além do mapeamento e descrições neutras e superficiais de
seus contemporâneos. Sua abordagem ampliada da concepção de capital e trabalho
nos remete ao conhecimento histórico, político, social e ambiental no processo
de Revolução Industrial no país, especialmente na primeira metade do século
XIX.
As
relações antagônicas entre Capital e Trabalho produzidas pela transformação da
manufatura em maquinofatura levou, segundo Engels (1842), às mais variadas
situações de degradação humana. A
jornada de trabalho semi-escrava imposta aos homens, mulheres e crianças nos
distritos industriais, a degradação ambiental e a segregação sócio-espacial
gerada pelo inchaço das cidades deram forma e cor às mazelas sociais provocadas
pelo desenvolvimento do capitalismo liberal provocando um nível de
miserabilidade urbana nunca antes registrado.
Os
relatos sobre as condições sociais de trabalho, moradia, alimentação, educação e
saúde da classe trabalhadora na Inglaterra foram negligenciados por muito tempo
dentro do próprio mundo acadêmico. Esta questão central motivou investigar a
contribuição do pensamento de Engels para uma Geografia Crítica e Libertária,
desvinculada da descrição neutra dos fenômenos sociais. A Geografia Crítica deve
seguir o rigor científico próprio a este paradigma (QUAINI, 1979) com a
contribuição das ciências humanas afins. No decorrer do texto serão destacados
alguns trechos de sua obra, estabelecendo relações com obras de outros
pensadores críticos e radicais, no intuito de demonstrar a atualidade de sua
abordagem.
A
Geografia Crítica dos Libertários
Enquanto
os estudos da Geografia no século XIX estavam voltados para decifrar e codificar
os elementos da paisagem natural, com especial interesse para a flora e fauna,
alguns geógrafos libertários trabalharam no sentido de criticar o processo
colonial, considerando-o como processo de dominação imperialista sobre os povos
nativos dos trópicos.
Kropotkin,
geógrafo anarquista anti-colonialista acreditava na sociedade como uma
comunidade universal e que a geografia dever-se-ia contribuir para o
desenvolvimento geral da humanidade, identificando a importância da geografia
crítica para a promoção da saúde. Em seu artigo “O que a Geografia deve ser”, traduzido
pelo professor José Willian Vicentini da USP retrata as condições insalubres
causada pelo vício e os maus hábitos dos colonizadores:
“Quando
um político francês1 proclamava recentemente que a missão dos
europeus é civilizar essas raças – ou seja, com baionetas e matanças
(genocídios) – não fazia mais do que elevar à categoria de teoria esses mesmos
fatos que os europeus estão praticando diariamente (notadamente na África e na
Ásia, no final do século XIX). E não poderia ser de outra maneira, pois desde a
tenra infância inculca-se o desprezo pelos “selvagens”, ensina-se a considerar
como se fosses verdadeiros crimes determinados hábitos e costumes dos “pagãos”,
ao tratar as “raças inferiores” como são chamadas, como se fossem um verdadeiro
câncer que só deve se tolerado enquanto o dinheiro ainda não penetrou. Até agora
os europeus têm “civilizado os selvagens” com Whisky, tabaco e seqüestros; os
têm inoculado com seus vícios; os têm escravizado. Porém, é chegado o momento em
que nós devemos considerar obrigados a oferecer-lhes algo melhor – isto é, o
conhecimento das forças da natureza, a ciência moderna, a forma de utilizar o
conhecimento científico para construir um mundo melhor.” (KROPOTKIN, 1986,
p.4).
Elisée
Reclus, geógrafo também anarquista e percussor da geografia crítica, questionou
impiedosamente a conduta dos países imperialistas, defendendo que a divisão do
Mundo em colônias de exploração e povoamento levaria a humanidade a mais
degradante condição social. Para ele, o contato das ditas “civilizações de poder
forte” com “o resto do mundo” produzia situações insalubres e
complexas:
“(...)
Vive a sociedade em tal desordem que, apesar da boa vontade de muitos homens
generosos, o pobre que sofre de fome corre risco de morrer na rua, e o
estrangeiro pode se encontrar só, sem um único amigo numa cidade onde os
pretensos irmãos vivem aos milhares? Não é sobre o vulcão e no vulcão que
estamos vivendo (...)”. (RECLUS, 2002, p.54)
Vale
ressaltar também sua descrição contundente ao falar do massacre social causado
pelo governo Britânico na Índia, que ao condenar alguns rituais como o Sutti2, no intuito de acabar
com práticas ditas como selvagens e insalubres, promovia tantas outras misérias
e períodos de fome, através de impostos opressivos e das guerras, enchendo as estradas com seus cadáveres
como salienta Reclus (2002).
Embora
o pensamento de Engels enveredado pelo marxismo veio a se opor vigorosamente ao
pensamento anarquista, através das disputas ideológicas no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores
em 18643, a preocupação com as relações sociais antagônicas que
produziam condições também antagônicas de saúde e qualidade de vida, era uma
preocupação evidente nas diferentes influências ideológicas, trazendo-nos já na
época um olhar sobre o sentido ampliado da condição social da humanidade, ou
seja, o da organização social.
Engels
e as Condições Degradantes de Vida do Proletariado
A
situação caótica de saúde da classe trabalhadora causada pela condição precária
de vida nos dava uma taxa de mortalidade que excedia os limites humanos da
aceitação. O relatório oficial “Parlamentary Papers”, 1831 – 32 vol.
15, nº. 706, extraído da obra de Engels (1842) mostra um quadro com o número de
pessoas mortas numa amostra de 10.000, nos principais distritos industriais do
país. Um exemplo clássico é a cidade de Leeds, com o percentual de 52,8% de
mortes de crianças com até 5 anos e 12,2% de pessoas com idade entre 20 e 39
anos. A grande vilã deste período foi a epidemia de Cólera, seguida da
Tuberculose e da Febre Tifo.
Mortalidade
em Algumas Cidades Inglesas em 1844
(adaptado
de Engels, p. 146)
Mortalidade
(por 10.000 habitantes) |
Menos
de 5 anos |
5
a
19 anos |
20
a
39 anos |
Condado
de Rutland, distrito rural salubre |
2.865 |
891 |
1.275 |
Cidade
de Carlysle, antes do surgimento de fábricas
(779-1787) |
4.408 |
911 |
1.006 |
Cidade
de Carlysle, depois da instalação de fábricas |
4.738 |
930 |
1.261 |
Preston,
cidade industrial |
4.947 |
1.136 |
1.379 |
Leeds,
cidade industrial |
5.286 |
927 |
1.228 |
Como demonstra a tabela acima, o impacto
do capitalismo industrial sobre a mortalidade foi muito forte. As cidades de
economia rural como Rutland apresentavam praticamente a metade do índice de
mortalidade infantil das cidades capitalistas industriais como Carlysle e Leeds.
Isso desconstrói do mito de que a industrialização por si só, trouxe progresso
no quadro social na I Revolução Industrial. Muito pelo contrário, o nível de
exploração da mão-de-obra foi grandemente aumentado no modo de produção
capitalista industrial, resultando de imediato em súbita elevação das taxas que
já eram muito altas se comparadas ao padrão atual. As cidades industriais eram
desprovidas de saneamento básico, as famílias operárias moravam e se alimentavam
mal, recebendo um salário miserável, quando não inexistente depois dos descontos
do aluguel e provisões.
Outro indicador salientado por Engels é a duração média de vida em 1840
que, em Liverpool era de 35 anos para as classes altas, 22 anos para os homens
de negócio e artesãos abastados e apenas 15 anos para os operários, jornaleiros
e servidores domésticos. Os números refletem também e logicamente os recursos
científicos da época para se prolongar a vida, mas as diferenças entre as
classes sociais eram gritantes.
Engels
e a segregação espacial e a degradação ambiental.
O adensamento populacional das cidades provocado pelo êxodo rural advindo
principalmente da Irlanda e fruto da denudação do trabalhador-artíficie em
relação à produção maquinofatureira, causou o que se usa em termos geográficos,
de macrocefalia urbana4,
uma condição em que as necessidades básicas, como saneamento básico, habitação,
educação e o acesso à saúde ficavam praticamente impossíveis, a não ser que o
trabalhador pagasse um altíssimo valor para isso. A descrição da região de
Manchester feita por Engels ilustra essa menção:
“(...)
Manchester como Ardwick, Choriton ou Hulme. O sítio mais horrendo (se eu falasse
em pormenor de todos os blocos de imóveis, separadamente, nunca mais acabava)
fica do lado de Manchester, a sudoeste de Oxford Road e chama-se Pequena Irlanda
(Little Ireland). Numa depressão de terreno bastante funda, numa curva do
Medlock, e cercada pelos quatro lados por grandes fábricas e margens altas
cobertas de casas ou aterros, estão cerca de 200 casas repartidas em dois
grupos, sendo cerca de 4000 pessoas, quase todas irlandesas. As casas são
velhas, sujas e do tipo mais pequeno: as ruas são desiguais e cheias de
saliências, em parte sem pavimento nem canais de escoamento; por todo lado há
uma quantidade considerável de imundícies, detritos e lama nauseabunda entre os
charcos estagnados; atmosfera esta empestada com suas emanações, enegrecida e
pesada pelos fumos de chaminés das fábricas. Uma multidão de mulheres e crianças
esfarrapadas vagueiam por estes sítios, tão sujas como os porcos que se espojam
nos montes de resíduos e nos charcos. Em resumo, todo este local oferece um
espetáculo tão repugnante como os piores bairros das margens do Irk. A população
que vive nestas casas arruinadas, por detrás destas janelas quebradas nas quais
foi colocado papel oleoso, e destas portas fendidas com os caixilhos podres, e
até nas caves úmidas e sombrias, no meio desta sujidade e deste cheiro
inqualificáveis, nesta atmosfera que parece intencionalmente fechada, na verdade
deve situar-se no escalão mais baixo da sociedade”. (ENGELS, 1842,
p.99)
Sobre a segregação espacial, Engels salienta um quadro não muito
diferente daquele encontrado atualmente nas grandes metrópoles brasileiras. A
poucas quadras dos palácios e bairros elegantes de Londres, os bairros operários
como St. Giles eram constituídos por um labirinto de ruas e milhares de becos e
vielas, habitados por milhares de pessoas que viviam sem água encanada (bombas
públicas) e coleta de lixo e esgoto. Calcula-se que por volta de 1844, cerca de
50 mil pessoas não tinham sequer um teto para se abrigar a noite em Londres, e
muitas dessas não possuiam 1 ou 2 pence para pagar um abrigo noturno.
As
cidades industriais do norte não fogem a regra, a grande cidade portuária de
Liverpool tinha cerca de 1/5 de sua população (45 mil habitantes) vivendo em
porões escuros e mal arejados. A também portuária Bristol, de uma amostra de
2.800 famílias operárias, 46% delas viviam em habitações de um só cômodo. A
célula matter da industrialização
inglesa, Manchester, é cercada por suas cidades satélites compostas
principalmente por bairros operários, como é o caso de Bolton, Preston, Wigan e
Bury. Essas cidades eram irregulares e mal construídas, com seus pátios sujos,
ruelas cheias de fuligem da queima do carvão, com grande parte da cidade vivendo
nos porões insalubres ou nos pátios (courts) que eram espaços cobertos entre
duas ou mais edificações sem ventilação.
A
segregação em Manchester foi verificada de modo bastante efetivo por Engels, “Manchester é construída de um modo tão
peculiar que podemos residir nela durante anos, ou entrar e sair diariamente
dela, sem jamais ver um bairro operário ou até mesmo encontrar um operário –
isso se nos limitarmos a cuidar de nossos negócios ou a passear” (Engels, p.
88). Isso acontecia porque a cidade enclausurou seus bairros operários para
evitar contato direto com os bairros de classe média. No centro da Manchester
pré-industrial, os antigos moradores se transferiram para bairros novos e as
antigas construções foram ocupadas pelos operários, majoritariamente irlandeses,
que viviam em condições miseráveis, os espaços das antigas habitações foram
todos ocupados até o último centímetro, empilhando as construções onde as
passagens eram tão estreitas que não permitiam duas pessoas se cruzarem.
Engels
e segurança alimentar
A
questão alimentar nas metrópoles que regozijavam um falso prestígio pelo
desenvolvimento industrial era responsável, segundo Engels, pelo maior índice
mortuário do país. Durante sua estadia na Inglaterra, ele investigou alguns
inquéritos que davam como causa-morte direta de 20 a 30 pessoas, a fome. Os alimentos
indigestos ingeridos nos ínfimos intervalos da jornada de trabalho que variavam
entre 12 e 18 horas produzia indivíduos famélicos desgastados física e
moralmente: “Estes espectros,
compridos e magros, de peito estreito e olhos escavados, estes rostos flácidos,
incapazes da menor energia (...)”. (ENGELS, 1842,
p. 139)
A
falta de alimentos em quantidade e qualidade suficiente serviu como porta de
entrada de várias mazelas como a inanição, o raquitismo, a tuberculose e a
escarlatina, estas últimas atingindo especialmente crianças. Era evidente também
segundo Engels (1842), o consumo de aguardente entre as pessoas de todas as
idades. A fome era um flagelo universal que matava a população dos alojamentos
silenciosamente, transformando as mais vivas esperanças em medo e
violência.
Engels
e a Educação Inglesa
Em 1843 o governo britânico quis colocar
a aparente idéia de escolaridade obrigatória, o que fez a burguesia industrial e
algumas seitas religiosas se oporem impiedosamente; elas temiam a formação
intelectual do operário. As escolas noturnas permaneçam evasivas; “seria pedir demasiado aos jovens operários
que se estafaram durante doze horas, que ainda fossem nas escolas das 8 às 10 da
noite”. (ENGELS, 1843, p.153).
Houve
a tentativa de se organizar cursos aos domingos, algo que fracassou; relatos de
algumas comissões de trabalho mostravam a ineficácia deste projeto, no qual o
aluno não conseguia de forma alguma associar ou lembrar-se das lições de 8 em 8
dias. Enfim, apesar de esforços do governo, a ignorância reinava no seio do
proletariado, o que dificultava sua libertação e conseqüentemente sua luta pela
melhoria das condições de vida.
Para
Engels, a burguesia concedia apenas o mínimo vital e indispensável em termos de
cultura e educação, apenas aquilo que atenda a seus interesses burgueses. As
poucas escolas que existiam eram pouco freqüentadas pelos trabalhadores e eram
muito ruins, com professores (operários inválidos e idosos) mal preparados sem
formação moral necessária a um educador e sem mais elementares
conhecimentos.
Conclusões
O trabalho de Engels demonstra, de modo inequívoco, que somente uma
abordagem crítica dos fenômenos geográficos pode desvendar as raízes causais
desse processo. Trabalhos descritivos e neutros pouco ou nada podem contribuir
no pleno entendimento das causas fundamentais da produção do espaço geográfico.
Trata-se de um trabalho visionário e idealista, a frente de seu tempo, impetuoso
e fiel aos seus preceitos ideológicos. A análise dialética se mostra um método
imprescindível na análise dos fenômenos sociais, em um mundo ora dominado pelo
pensamento conservador e reacionário.
REFERENCIAS
BIBLIOGRAFIAS
BOYLE, David. O Manifesto
Comunista de Marx e Engels (trad.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2006.
ENGELS, Friedrich. A Situação da
Classe Trabalhadora na Inglaterra (trad.) São Paulo: Boitempo Editorial,
2007.
KROPOTKIN, Piotr. “O que a Geografia pode ser” (trad.) apud VICENTINI,
José W. GEOCRÍTICA. Disponível:
WWW.geocritica.com.br/ensinohtm Acesso: 22 maio
2009.
MANDEL, Ernest O Lugar do
Marxismo na História. São Paulo: Editora Xama,
2001.
QUAINI, Massimo Marxismo e
Geografia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1979.
RECLUS, Elisée. A Evolução, a
Revolução e o Ideal Anarquista. São Paulo: Imaginário, 2002.
1 Político francês é
referência a Paul Vidal de La
Blache um geógrafo a serviço dos domínios coloniais do Estado
Francês nos séculos XIX e XX.
2 Sutti: Sacrifícios de viúvas
nas fogueiras de incineração de cadáveres de seus
maridos.
3 Associação Internacional dos
Trabalhadores, também conhecida como I internacional foi um espaço que
reuniu proletários, artífices intelectuais para discutir a situação da classe
trabalhadora especialmente na europa.
4 Macrocefalia Urbana: inchaço
das cidades, o que gera déficit de serviços básicos, como saneamento, habitação
e etc.
Ponencia presentada en el XI Encuentro Internacional Humboldt
– 26 al 30 de octubre de 2009. Ubatuba, SP, Brasil.