A história econômica da
cafeicultura no Vale do Paraíba paulista:
Ferramenta epistemológica para
uma análise espacial
Prof. Dr. Fabio
Ricci
Universidade de São Paulo – Doutor
em História
Econômica
Universidade de Taubaté – Prof. do Mestrado em
Gestão e Desenvolvimento Regional
Prof. Dr. Pedro de Alcântara
Bittencourt César
Universidade de São Paulo – Doutor em
Geografia
Universidade de Taubaté – Prof. do Mestrado em
Gestão e Desenvolvimento Regional
Profa. Dra. Monica Franchi
Carniello
Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo –
Dra. em Comunicação e Semiótica
Universidade de Taubaté – Profa. do Mestrado em
Gestão e Desenvolvimento Regional
Prof. Dr.
Moacir José dos Santos
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho” – Doutor em História
Universidade de Taubaté – Prof. do Mestrado em
Gestão e Desenvolvimento Regional
Resumo: Apresentam-se a importância da formação de uma
espacialização do Vale do Paraíba paulista. Busca-se, por intermédio da história
econômica fundamentar valores para a compreensão das relações espaciais na
construção sócio-econômica desta região. Adota-se pesquisa hermenêutica de
textos históricos. Observa-se que a abordagem crítica
tem como referência, a análise da produção do espaço. Incorporam-se
conceitos marxistas de produção para a compreensão do espaço. Levanta-se a
importância desses na construção da informação geográfica. A partir dela espera-se que muitas outras pesquisas se realizem,
formulando, os processos do espaço social.
Palavras-chave: Formação Econômica e
Espacial. Epistemologia. História econômica. Produção de café. Vale
do Paraiba paulista.
Abstract: This research presents the values of the Spatial formation
of the of the Paraiba Valley. Throw the economic history, it
aims at based values to understanding the spatial relations in the
socio-economic construction of this region. The hermeneutics research of
historical texts is adopted. The analysis of the production of space is a
reference of the critical approach. Marxist concepts of production are
incorporated for the understanding of space. The importance of these concepts in
the construction of geographic information is
studied.
Keywords: Formation of economic space.
Geographical methodology. Economic history. Production of coffee.
Vale do Paraíba Paulista.
Introdução – Bases
metodológicas
Este estudo busca apresentar perspectivas para a
formulação do espaço socioeconômico do Vale do Paraíba paulista, tendo como
referência a História Econômica. A economia é um dos objetos de análise para a
compreensão da sociedade. Sua pesquisa possibilita a inclusão da formação dessa
área como região socialmente definida.
Quando os geógrafos, historiadores, economistas,
arquitetos e outros estudiosos de áreas diversas, como engenharia, ouvem sobre o
pólo tecnológico do Vale do Paraíba associa-se a questão industrial. Dessa
forma, o setor aeronáutico, automobilístico, eletro-eletrônico e de base dos
municípios de São José dos Campos, Taubaté, Pindamonhangaba, etc. são
referências. Todos situados no Vale do Paraíba paulista. Desta forma, vêm à
memória o processo de transbordamento da indústria da metrópole paulista e o
processo de interiorização da indústria, ocorrido no Estado de São Paulo a
partir da década de 1970. Sabe-se, também, do período de prosperidade econômica
que viveu a região do Vale do Paraíba no século XIX.
A cafeicultura
foi, sem dúvida, fator de progresso da região, que cresceu e diversificou as
funções dos centros urbanos (MÜLLER, 1969,
p.55-67). Os barões do
café e sua ascensão política sobre a sociedade brasileira do período foram uma
das conseqüências dessa prosperidade.
Esta sobreviveu ao tempo, conseguindo manter-se
no plano político. Assim, estende-se até o século XX, com a primeira eleição de
Rodrigues Alves para a presidência da República, em 1902. Mandato este que
terminaria em 1906, ano do Convênio de Taubaté, que iria estabelecer a
valorização do produto no mercado internacional por meio da retenção de estoques
dos excedentes produzidos. Ambos os fatos deram-se na região em decadência da
produção cafeeira do Vale do Paraíba, cuja cultura avançara para o Oeste
paulista (MILLIET, 1946, p.17-27).
Busca-se, pela histórica econômica do período
cafeeiro, justificar as bases da industrialização da região do Vale do Paraíba
paulista. Utiliza-se como método o levantamento de história econômica,
formulando base para sua compreensão como espaço representado e
produzido.
Adota-se, assim, a história econômica como
recorte para definir a formação das características sociais e urbanas desta
região. Observa-se, nos valores essencialmente históricos, elemento para a
definição de construção territorial, definição de estruturas, que engendra
funções espacialmente definidas. Entretanto, não se quer esgotar as
possibilidades para compreender o espaço. Observa-se que outros valores
sócio-culturais podem colaborar para o mesmo. Apresenta-se uma, entre muitas
possibilidades para compreender as relações sociais e
regionais.
O Café e as Raízes da urbanização do Vale do
Paraíba paulista
A evolução do processo de decadência na região
não foi homogênea. Sua produção cafeeira na região e no Estado de São Paulo
correspondia praticamente à produção do Brasil. No século XIX, o Vale do Paraíba
Paulista, denominado "Região Norte", por Milliet, já apresentava situação de
declínio na participação da produção estadual. Essa produção regional
proporciona queda na proporção da produção total, de 86,50% em 1836 para 77,46%
em 1854. Entretanto, cai vertiginosamente para 19,99% em 1886, chegando a 3,47%
em 1920, e ínfimos 1,71% em 1935, embora mantivesse uma produção física regional
cuja queda foi menos significativa. Tomando-se por base 1854, o ano do auge da
produção regional, temos que em 1886 a produção regional correspondeu a
75,7% da daquele ano, e a de 1920 a 28%, elevando-se para 32,8% em
1935.
Além disso, a produção regional apresentava
desequilíbrios na sua evolução (Fig.1), que fez com que alguns dos municípios
sofressem uma decadência nas suas produções a valores insignificantes, enquanto
outros mantiveram uma produção física capaz de manter a atividade cafeeira com
importância econômica.
Bananal e Areias tiveram sua produção
acentuadamente reduzida, chegando ao ano de 1935 com uma redução de 97,5% e
86,4%, respectivamente, comparado ao ano de 1854. No entanto, alguns municípios
mantiveram sua produção elevada, destacando-se Taubaté. Este município produzia
em 1935 praticamente o mesmo que em 1854. Sendo que, a partir de 1900, passou a
ser, com produção de 600.000 arrobas, o maior produtor regional (ABREU, 1985,
p.38). A sua participação na produção regional, que era de 12,8% em 1854, passou
para 36,8% ao final do período. Outros municípios que não sofreram queda tão
acentuada em sua produção foram Guaratinguetá, Lorena e São José dos Campos.
Neste último, houve crescimento.

Ao levar em conta a cotação do preço do café no
mercado internacional, que foi para os anos mencionados acima: 1854 – U$
2,875/arroba; 1886 – U$ 3,537/arroba; 1900 – U$ 2,446/ arroba; 1920 – U$ 6,446/ arroba; 1935 – U$ 2,512/ arroba (DELFIN NETTO,
1961, pp.346-7), vemos que, até 1920, alguns municípios, principalmente Taubaté,
puderam manter a captação de recursos com a produção da
rubiácea.
Observa-se que a região experimentou grande queda
no faturamento com o café, chegando a 1935 com 27,72% do faturamento observado
em 1854. No entanto, alguns municípios não sofreram queda tão acentuada,
mantendo um fluxo de renda para a região capaz de manter as atividades e
viabilizando recursos para o fomento de outras atividades, entre as quais a
indústria têxtil. Particular atenção merece o faturamento relativo a 1920, que,
com o preço artificialmente elevado por força da retenção de estoques de café em
função do cumprimento do acordo de valorização do café de 1906, manteve a renda
elevada em um patamar cujo impacto não foi significativo em vários municípios da
região.
Wilson Cano, em
seu estudo sobre a dinâmica da cultura cafeeira no oeste paulista e sua relação
com a industrialização paulista, aponta escassez de capital no Vale do Paraíba
como justificativa para a sua estagnação econômica (CANO, 1990, p.23-30). No
entanto, Müller (1969, p.2) já apontava ser
esse um fato discutível, que dependia de comprovação. Pois bem, foi demonstrado
pelos dados acima que essa escassez de capital, considerando-se as condições
regionais, não se aplica aos municípios pioneiros da industrialização regional,
com exceção de Jacareí, e que desenvolveram um forte processo de
industrialização posterior. Esses municípios pioneiros foram Taubaté, Jacareí,
Guaratinguetá e, posteriormente, São José dos Campos.
Outro aspecto que merece atenção, por
constituir-se em fator vital para as atividades produtivas, diz respeito à
oferta da força de trabalho. Nesse ponto, a economia cafeeira foi fundamental
para o povoamento intensivo da região. Esse povoamento se faz mais intensamente,
de meados do século XIX até 1886, nos municípios que são os maiores produtores
de café, como Areias, que experimenta crescimento de 120% na sua população; no
mesmo ano, era o maior produtor de café da região. No período seguinte, em que a
produção cai significativamente, tanto em valores absolutos quanto em comparação
com a produção do Estado de São Paulo, alguns municípios experimentam elevação
de sua população, como Lorena, Taubaté e São José dos Campos. No período final,
1920/1935, a população da região decresceu no geral, o que pode de genericamente
ser atribuída a decadência definitiva da produção cafeeira. Porém, mesmo nesse contexto, alguns
municípios experimentam evolução populacional, como Jacareí, com incremento de
23,4%. Examinando-se mais detidamente o perfil populacional, observamos um
processo de urbanização crescente. Taubaté apresentava um índice de população
urbana de 59,7% em 1934.
Como bem
observou Müller (1969, p.2), essa
população, particularmente a parcela urbana, gerou necessidades de consumo, tais
como roupas, calçados, chapéus, gravatas, cobertores, etc., que só seriam
atendidas com a produção industrial. Sem dúvida, essa população auxiliava a
formação de um mercado de consumo interno, embora diminuto. No entanto, o fato
mais importante é que, com a decadência da cafeicultura, a mão-de-obra utilizada
na lavoura migrou para as cidades. O elemento negro foi, pelo menos
parcialmente, transferido para as atividades geradoras do complexo cafeeiro do
oeste paulista.
Esse complexo constituía-se da montagem das
fazendas, instalação de meios de transporte e operação da unidade propriamente
dita, entre outras atividades (CANO, 1990). Nesse processo, o trabalhador
nacional foi amplamente utilizado nos dois primeiros casos, enquanto o
trabalhador imigrante, no terceiro (KOWARI, 1994). Outra parcela acumulou-se nas
cidades, oferecendo disponibilidade de força de trabalho. Essa disponibilidade
constitui-se num dos principais fatores de atração de investimentos. A oferta de
mão-de-obra em níveis elevados acarreta a possibilidade de redução de salários,
permitindo a fabricação de produtos com preços competitivos e a ampliação da
obtenção de excedentes em forma de lucros.
Durante o período estudado, há, especificamente
para o setor têxtil, uma grande concentração de empresas na capital paulista,
assim como a consolidação do setor. Essas condições oferecem a possibilidade de
expansão, com a instalação de unidades produtivas em outras regiões,
principalmente aquelas que dispunham de boas condições de transporte, ou seja,
as ferrovias.
A instalação de ferrovias no Brasil inicia-se na
década de 1860, sendo que, no Estado de São Paulo, a mais importante ferrovia
foi a São Paulo Railway, que, a partir de 1867, ligava Santos a Jundiaí. A
partir da construção dessa estrada, outras ferrovias foram construídas, como a
Mogiana, a Paulista, a Sorocabana. À implantação das ferrovias, seguia-se a
instalação de fazendas e a mobilização do trabalhador imigrante para essas
regiões. A combinação desses fatores (custo de transporte reduzido, cafeeiros
novos e com maior produtividade e mão-de-obra barata) possibilitou ao oeste
paulista condições de produção contínua e consistente. Aliás, o transporte
ferroviário foi o principal fator que viabilizou a interiorização da produção
cafeeira, pois os custos de transporte por tropas de muares eram de tal ordem
(chegavam a 50% do valor da saca de café) que impossibilitavam a expansão para o
interior. Com a ferrovia, esses custos orçavam em 20% em média (CANO, 1990,
17-23). Nesse contexto, forma-se a ferrovia no Vale do Paraíba, que, como aponta
Cano (1990, 17-23), não serviu para a dinamização da produção cafeeira, já que a
dinâmica do oeste paulista não se apresentava para a região, que possuía
cafeeiros velhos, produção em queda e ausência de terras para a expansão da
cultura.
Fig.2 – Produção de Café no Estado de São Paulo –
Século XX

No caso da região do Vale do Paraíba no Estado de
São Paulo, a introdução do sistema ferroviário, que concluiu a ligação São Paulo
- Rio de Janeiro em julho de 1877, atingiu uma região em que já havia uma
estrutura de armazenamento e transporte instalada. Houve o caso de Lorena, em
que, em princípio, a ferrovia não instalou estação no município (EVANGELISTA,
1987, pp. 144-147). A ferrovia implantou as estações ferroviárias em Cruzeiro e
Cachoeira Paulista, deixando a sede do município de Lorena e a infra-estrutura
anterior sem nenhum benefício quanto à redução dos custos de transporte, por
algum tempo, pois a locomoção até o município vizinho implicava operações
adicionais de armazenamento e transporte. Soma-se a isso o fato de que os
cafeeiros já estavam maturados em sua maior parte, restando áreas de expansão de
plantação nas cidades mais próximas da capital; como mostramos no perfil da
evolução da produção regional (Fig. 2), serão aqueles municípios que continuarão
com uma produção de café significativa até a década de
1930.
No entanto, a chegada da ferrovia, em 1875-1876,
facilitou o contato com as duas grandes capitais, Rio de Janeiro e São Paulo,
incentivando novas atividades econômicas e expandindo o comércio da
região.
A dinâmica da evolução urbana altera-se, passando
a estação ferroviária a ser o ponto de referência para o posterior
desenvolvimento da cidade. Dessa maneira, as atividades econômicas dos
municípios irão ser instaladas próximas às estações, pois, tanto para o
transporte de passageiros quanto para o recebimento e envio de mercadorias será
a ferrovia o grande meio de transporte utilizado. Portanto, se a ferrovia não
dinamizou a atividade cafeeira, como no oeste paulista, ela contribuiu para a
intensificação da urbanização e a consolidação da nova vocação regional, a
atividade manufatureira, voltada para atender às demandas dos grandes centros
urbanos.
As Primeiras Indústrias e as
Condições do Desenvolvimento
Industrial
Houve a instalação de atividades industriais, ou
urbanas, desde o final do século XIX, que ajuda a perceber a trajetória dessa
atividade e as relações entre a atividade industrial e o poder público, ainda
antes da decadência definitiva do café na região. Desta forma, a cidade, que era
utilizada para suas reproduções sociais, basicamente, nos períodos festivos,
principalmente religiosos, torna-se protagonista das novas relações sociais e
espaciais.
A Comissão Central de Estatística (PACHECO e CHAVES,
1888, p.262) da Província de São Paulo registra, na região do Vale do Paraíba,
em 1886, significativa quantidade de estabelecimentos “industriais”. Selarias,
ferrarias, olarias, beneficiamento de arroz, indústria têxtil, fábrica de meias,
louças de barro, engenho central, destilaria de álcool, cervejarias, refinações
de açúcar, fábricas de aguardente, marmorarias, etc. Obviamente, temos de
relativizar a definição de indústria para a época. Para isso, consideramos como
parâmetro as categorias apontadas por Oliveira (1992, pp.14-15) em seu estudo sobre a pré-indústria fluminense.
Müller
(1969, pp.2-3) considera que
esses primeiros estabelecimentos ou eram de beneficiamento ou aproveitamento de
produtos agrícolas (arroz e cana) ou de aproveitamento de matérias - primas
locais (gás a partir do xisto, louças de barro), enquanto as demais, com
certeza, só deveriam atender ao mercado interno das cidades ou, no máximo, da
região. A exceção ficava por conta da indústria têxtil.
Essa fase de
pré-industrialização regional coincide com o primeiro momento característico da
evolução da política industrial do Brasil no período de 1880-1930 “quando se
esboçou uma política de amparo à produção nacional, visando, em particular, o
aproveitamento dos recursos naturais do país.” (LUZ,
1978, p.165).
É preciso esclarecer que os amparos concedidos foram
balizados pelas necessidades do fisco e, conseqüentemente, da política
alfandegária. Essa política é clara quando, tendo em vista "nacionalizar" a
indústria de tecidos de algodão, diminuem-se os direitos sobre corantes
importados, elevando-se as tarifas sobre os fios tintos (LUZ, 1978,
p.167). A política de proteção é feita pontualmente,
preservando as necessidades do fisco. Parte da fiação continuaria a ser
importada e garantiria as necessidades do fisco e o acréscimo de custo seria
arcado pelas fábricas de tecelagem, em favor das fábricas de
fiação.
Do exposto, consideramos que as atividades
manufatureiras desenvolviam-se na região de acordo com as orientações da
política industrial do governo, como podemos perceber com algumas informações
obtidas da Cia. Gás e Óleos Minerais, do Engenho Central e da Fábrica de
Troles.
O relatório de 1888 da Comissão de Estatística
destaca a exploração e lavras de xisto betuminoso de Taubaté como sendo a
atividade de maior importância do setor na província (PACHECO CHAVES, 1888,
p.260). Concessão de 1881,
a Companhia de Gás e Óleos Vegetais de Taubaté foi
constituída em 1883, com capital de 225:000$000, iniciando a produção em
setembro de 1884, abastecendo a cidade de iluminação
pública.
Em 1887, a companhia extraiu 2.089
toneladas do produto, produzindo 27.379 galões de óleo e
2.664.880 pés
cúbicos de gás. A Província contava à época com quatro
cidades iluminadas a gás: A Capital, Campinas, Santos e Taubaté, sendo que
apenas Taubaté produzia gás a partir do xisto existente no local. O relatório
atesta ainda que:
Na
exposição provincial de 1885, levada a efeito pela Associação Comercial e
Agrícola de São Paulo, fizeram-se representar (a Companhia de Gás e Óleos
Vegetais de Taubaté) e foram premiados alguns produtos desta fábrica. (PACHECO E CHAVES, 1888, p.260).
Entre unidades
de maior porte, o relatório indica a existência de quatro engenhos centrais na
Província (Lorena, Piracicaba, Capivari e Porto Feliz) (PACHECO E CHAVES, 1888, p.262). O engenho
de Lorena começou a operar em 1884, com capacidade de moagem de 240
toneladas/dia. No entanto, a capacidade de produção teve taxa de utilização de
6,82% na safra 1886/1887, moendo 7.130 toneladas (EVANGELISTA, 1997, p.262). Em
que pese a baixa rentabilidade dos engenhos, o índice de ocupação mostra que a
atividade não se expandiu como previsto e, poucos anos depois, o engenho foi
desativado.
A utilização do Engenho era viabilizada por uma área de plantio
ocupada pela colônia de Canas (1885). Eram 82 lotes para produção de
cana-de-açúcar, ocupados por italianos, belgas, portugueses, etc. É interessante
observar pelos documentos da Câmara que, de início, as preocupações voltam-se
para a solução dos problemas locais de forma ampla, incluindo a necessidade de
trabalho para os pobres nacionais. Porém, ao pleitear os incentivos do Estado, era
imprescindível adequar-se às políticas gerais da atividade econômica por ele
implementadas. Com isso, percebe-se a mudança do conteúdo dos argumentos dos
documentos da Câmara que se referem inicialmente à necessidade de diversificação
de culturas e técnicas de plantio, em substituição da cultura do café, que
poderia ser melhor viabilizada com a imigração (EVANGELISTA, 1997, p.204). A
documentação da Câmara passa a fazer referência à imigração. De fato a ocupação
do Núcleo Colonial de Lorena foi efetivada com trabalhadores imigrantes,
principalmente belgas e italianos (ATA DA CÂMARA MUNICIPAL DE LORENA de 3 de
jun. 1889 Apud EVANGELISTA, 1987,
p.204)
Dos relatos acima, pode-se concluir que os
recursos do Estado só viriam se fossem para um núcleo colonial de imigrantes, de
acordo com a política de imigração (LANA, 1989). Outra conclusão é a de que
havia disponibilidade de mão-de-obra na região, característica estrutural do
país amplamente defendida na literatura de História Econômica
Brasileira.
Lorena prefere resgatar a cultura da cana no
município como dinamizador da sua economia num momento em que não havia
condições para isso. Os preços externos caíam vertiginosamente, ao mesmo tempo
em que áreas produtoras com técnicas mais modernas, particularmente nas
Antilhas, deslocavam o produto brasileiro do mercado mundial. No mercado
interno, os engenhos do interior paulista atingem um índice de ocupação elevado
e cumprem seu papel de incentivador da economia, contando com os fatores
favoráveis da atividade canavieira no setor agrícola nas suas regiões, o que não
havia em Lorena.
Com relação ao beneficiamento de arroz, pode-se
também vinculá-lo à busca de diversificação da produção, em alternativa ao café.
A imigração viabilizou esse processo, que se inicia com a introdução da cultura
pelo núcleo colonial do Quiririm, em
Taubaté.
Composto por
cerca de cem famílias italianas, o núcleo dedicou-se à rizicultura irrigada nas
várzeas do Paraíba. A cultura era nova no município e ficou à margem dos
tradicionais agricultores da cidade. A chegada dos imigrantes italianos e a
formação da Colônia Agrícola de Quiririm abriu uma nova era para a lavoura de
Taubaté e região, chegando a liderar a produção de arroz do Estado e assim
ganhar destacada posição no conceito social taubateano. Esse reconhecimento
devia-se à importância que a atividade obteve na economia local e regional, em
função do grande esforço de trabalho e à obtenção de elevada produtividade da
cultura nas várzeas da região. O arroz, depois de beneficiado nos engenhos da
colônia, era enviado para outras regiões do Estado de São Paulo, para o Rio de
Janeiro e para o sul de Minas Gerais (SOCIETÁ, 1997,
pp.32-33). As elites
regionais estavam obtendo os resultados da exploração de um produto que era
adequado às novas demandas dos centros urbanos. O abastecimento era vital para o
crescimento paulistano e o arroz um importante
componente.
Desde o princípio, a documentação da Câmara de Taubaté fala em
imigrantes, não fazendo referência aos pobres nacionais, como acontecera
em Lorena. O
assentamento dos imigrantes deu-se em terrenos desapropriados com verbas de
empréstimos da Assembléia Provincial. A 5 de janeiro de 1889, Francisco de Paula
Toledo assinou um contrato com o Ministro da Agricultura para a fundação de um
núcleo colonial na fazenda Quiririm, de sua propriedade. Pelo contrato, Toledo
cedia metade de suas terras, sem remuneração alguma, para o loteamento a ser
feito pelo governo imperial. A outra metade ficaria para si, em lotes
intercalados com os do governo, que deveriam ser vendidos a imigrantes (SOCIETÁ,
1997, pp.31). Toledo, importante político local e grande fazendeiro, consegue
assim valorizar suas terras, vendendo posteriormente os lotes
intercalados.
Outra atividade
na colônia do Quiririm foi a olaria. O desenvolvimento da atividade inseriu a
produção de artigos cerâmicos com a utilização de mão-de-obra de ex-escravos.
Construções de alvenaria foram sendo edificadas no município e na região,
substituindo as casas de taipa de pilão (SOCIETÁ, 1997,
pp.34). Além das
indústrias e atividades citadas, encontramos referências a outras unidades
industriais. Uma delas foi a fábrica de troles de João Lindquer. Observamos
dificuldades dos pioneiros das atividades manufatureiras com o problema de
bitributação sobre suas atividades, como podemos observar no seu requerimento
feito à Câmara Municipal:
Reclamando
contra o lançamento feito em sua fábrica de troles e veículos desse gênero, para
pagar imposto da fábrica e da oficina de ferreiro; e, fazendo ver que a oficina
de ferreiro é um complemento da fábrica de troles por fazer uso dela só para
esse fim, requer que esta câmara ordene o que for de justiça. (GUISARD FILHO,
vol .VI, p.207).
O requerimento foi deferido. No entanto, novo
requerimento é apreciado na sessão de 31/1/1887, tendo a comissão permanente
apresentado o seu parecer nos seguintes termos: Quanto à petição de João
Lindquer a comissão permanente diz que - Em vista das razões expendidas pelo
peticionário, é de parecer que pague somente o imposto de fábrica de trólis etc.
por depender esta das de ferreiro e carpinteiro e ter sido esta a resolução da
câmara transata.
No entanto, a
composição da Câmara era majoritariamente de fazendeiros, como podemos observar
na mesma ata, “a Câmara é composta de lavradores, quatro dos quais residem em
suas fazendas, de um médico e dois advogados.” (GUISARD
FILHO, vol. VII, p.36). A conseqüência
disso é o fato de a municipalidade extrair das atividades urbanas o máximo de
recursos para uso público, não recaindo sobre os fazendeiros os pagamentos de
impostos. Sendo assim, Paula Toledo manifesta sua não concordância quanto ao
parecer da comissão permanente de isentar de impostos de fábricas e profissões
as oficinas de ferreiro e carpinteiro, argumentando que, “se somente com a
simples alegação do suplicante sem prova e sem a informação do procurador da
Câmara definir-se a petição supra e retro, seria afirmar-se pela câmara, um
precedente abusivo.” (GUISARD FILHO, vol. VII, p.37-38).
Dessa forma, por
solicitação, a sessão foi interrompida, ouvindo o procurador da Câmara e em
seguida declarada indeferida a petição do Sr. João Lindquer (GUISARD FILHO, vol VII, p.38).
O conflito de
interesses é local, pois quando o governo imperial estabelece novo regulamento
para a arrecadação do imposto de indústrias e profissões, a Câmara Municipal
aprova imediatamente o encaminhamento ao ministro da Fazenda, por intermédio do
presidente da Província, um abaixo-assinado da classe comercial e industrial de
Taubaté, reclamando da inconveniente classificação de Taubaté como cidade de
primeira classe (GUISARD FILHO, vol .VI, p.197-198). A posição é de
defesa da manutenção da renda no município, contanto que no município os ônus
recaiam sobre os setores urbanos. Afinal, as atividades urbanas eram as maiores
beneficiárias dos gastos públicos em serviços prestados visando suprir as
necessidades da população, tais como limpeza, saneamento básico, iluminação
pública, etc.
Na época, havia
a política de concessões do saneamento básico que muitas vezes eram cedidas a
empresas de engenharia estrangeiras, como a City, que atuou na cidade de São
Paulo e construiu o bairro de Higienópolis. No entanto, os municípios do
interior careciam de viabilidade econômica para ser de interesse de empresas
habilitadas a oferecerem seus serviços.
Isso abria espaço para duas situações: ou se contratavam empresas que não
cumpriam os contratos, ou as pessoas ligadas à elite local assumiam a sua
concessão. No primeiro caso, temos o exemplo de Lorena (EVANGELISTA, 1987,
pp.191-193). No outro, temos o exemplo do engenheiro civil Fernando de Mattos,
graduado em Paris, que encontramos como concessionário do serviço de
abastecimento de água em Taubaté, em 1886 (GUISARD
FILHO, vol .VI, p.223).
Encontram-se grandes embaraços e imprevistos na
execução dos serviços, porém, observamos boas relações entre o poder municipal e
o concessionário, incluindo-se aí tolerância nos prazos e defesa da concessão
perante outros. É o que ocorre com a Companhia Progresso, responsável pelo
abastecimento de água em
Taubaté. O engenheiro Fernando de Mattos, filho de tradicional
família cafeicultora da cidade obtém prorrogação de prazos para finalizar obras
da adução e complementação orçamentária para os serviços contratados. Há ainda a
defesa do concessionário, proibindo-se a instalação de tubulação de adução de
outras companhias para uso próprio, mesmo sendo a captação e obras às suas
expensas e em suas propriedades. Para isso contribuía muito o código de
posturas, que oferecia legislação para garantir os interesses da elite
local.
Nesse ambiente, as atividades urbanas foram
conquistando importância maior na geração e distribuição da renda gerada.
Abrem-se oportunidades para atividades industriais, dentro das limitações
impostas pelo comando político ligado às atividades
tradicionais.
Considerações para uma formulação
espacial
Uma das formas para compreender o espaço
refere-se ao entendimento dos seus componentes. Forma, função, estrutura e
processo são fatores nesta formação espacial (SANTOS, 2004). Define-se,
dialeticamente, por resultantes de ações
engendradas.
Assim, nota-se, nesta pesquisa, realizada com
valores e perspectivas da História Econômica, a relação entre estrutura e
processo. Entretanto, para o entendimento de todas as possibilidades de
compreender um espaço definido, tem-se a necessidade de outras abordagens
sócio-espaciais. Mesmo assim é marcante a definição da configuração regional
oriunda do processo econômico. Desde então, a dita região norte do Estado de São
Paulo é redefinida na construção simbólica como região Vale do Paraíba paulista.
Área que se define por relações homogenias, historicamente, e construções de
desigualdades espaciais.
Nesta pesquisa, adota-se como ponto de partida o estudo da
história econômica. Estabelece-se assim uma base teórico-metodológica,
incorporando e apropriando-se destes valores. Sempre com o intuito de formular
valores para um estatuto do espaço, território e região. O econômico justifica o
urbano. O processo de urbanização, formação citadina, industrial, tem sua
contribuição justificada pela abordagem histórico-econômica.
Apresentam-se valores para a formulação de conceitos para o
espaço. Abordado, inicialmente, como receptáculo, referencial, ou objeto sem
sociedade, por um longo tempo. O seu valor de produção sócio-econômica o
identifica como valor central (SOJA, 1993, p.48; SPOSITO, 2004, p.89 e CORRÊA,
1983). Espera-se sua definição atual de espaço social.
Tais relações recebem a contribuição por uma apropriação de lógica
materialista histórica. Abordagem esta que tem como referência as definições de
Marx (1962 e 1980). Nelas, são estabelecidas as categorias de Modo de Produção,
da Formação Econômica e Social, entre outras (MORAES e COSTA, 1999).
Posteriormente, adita, sob bases materialistas, elementos de outras bases
teóricas, de cunho cultural-humanista. Dessa forma, define-se uma província própria do saber, ligada a uma epistemologia geral, com
visão totalizante do mundo (SANTOS, 2004,
p.114).
Na abordagem marxista tem-se como referência a análise da produção do espaço (LEFÈBVRE, 1974).
Desde então são incorporados conceitos marxistas de produção para a compreensão
do espaço. Propõem uma teoria social do espaço, com seus elementos: espaço
social, espaço percebido e espaço vivido. A prática no espaço relaciona produção e
reprodução, sendo que as localizações particulares e grupos de características
no espaço de cada formação social asseguram a sua continuidade (LEFÈBVRE, 1974,
p.33). A partir dela muitas outras pesquisas são realizadas. Formula-se assim,
uma história do espaço social.
Atualmente, na geografia formulam-se teorias econômicas. Dessas,
sobressaem as escolas: de análise marxista, histórica, geográfica e radical.
Destaca-se Harvey (1992) sobre o
‘processo urbano capitalista’ e Castells (1983), apoiada em Althusser,
Lefèbvre e Touraine. Justificam-se as relações de produção social estruturada e
estruturante. O espaço define uma estrutura indissolúvel das leis de sua
construção e transformação, não sendo, “simplesmente uma expressão da estrutura
de classes que emerge das relações sociais [...] de produção” (SOJA, 1993,
p.99).
Tem-se como pressuposto que o espaço
se formula a partir de uma realidade que se observa. Fica evidenciada a relação
entre História econômica e Geografia. Quando estudada a Formação Econômica e sua
espacialidade, pesquisa-se sua Formação Social e Espacial. Tais valores
contribuem para a análise do espaço e seus valores como forma, função,
estrutura, processo, como elemento de uma totalidade. Outros recortes se fazem,
ao estabelecer o fenômeno social em sua totalidade, e como elaborador de
práticas específicas, que, moldam suas territorialidades, normalmente, em redes
estruturais.
Referências
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filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo:
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1ª categoria - dispostas em
“nebulosas, as minúsculas oficinas familiares, compostas quer por um mestre,
dois ou três companheiros, um ou dois aprendizes, quer por uma única
família”.
Nesta horda de pequenos
estabelecimentos, às vezes, depois de ceifas, toda gente se põe a trabalhar...
As tarefas são indiferenciadas, a tal ponto que muitas vezes inexiste a divisão
do trabalho.
2ª categoria- oficinas dispersas mas
ligadas entre si. São as “manufaturas disseminadas”. Ela se constituiu desde a
Idade Média, não apenas nos têxteis, mas também muito cedo na cutelaria, no
fabrico de pregos e ferragens. Trata-se sempre de uma sucessão de trabalhos que
dependem um dos outros, até ao acabamento do produto fabricado e à operação
mercantil. O coordenador, o intermediário, o mestre da obra, é o mercador
empresário que adianta a matéria prima, a leva da fiação à tecelagem, ao
pisoamento, à tinturaria e se ocupa também do acabamento dos produtos. Regula os
salários e reserva para si, ao final, os lucros do comércio próximo ou
distante.
3ª categoria- a “manufatura
aglomerada”, constituída em épocas diferentes, segundo ramos e países. As forjas
movidas a água do século XIV são já aglomeradas: encontram-se aí reunidas
diversas operações num único local. Nesta categoria entram também, com maior
razão, as manufaturas, quer sejam do Estado ou privadas, na maioria têxtil, que
se multiplicam através da Europa, sobretudo durante a segunda metade do século
XVIII. A característica é a concentração de mão de obra, em edifícios mais ou
menos vastos, o que permite uma vigilância do trabalho, uma divisão avançada das
tarefas, em suma, produtividade
maior.
4ª categoria- as fábricas equipadas
com máquinas, dispondo de força adicionada da água corrente e do vapor. No
vocabulário de Marx, só estas são unicamente
fábricas.
Essa caracterização genérica dos estabelecimentos
industriais permite o entendimento do desenvolvimento das atividades
manufatureiras limitada ao progresso técnico e do acesso a esse progresso pelos
industriais, fazendo com que convivam ao mesmo tempo várias
categorias.