A
EXPANSÃO AGRÁRIA E SUAS REPERCUSSÕES AMBIENTAIS

Jussara
Mantelli
RESUMO
É fundamental combinar o espaço e a sociedade, compreendendo a sua
importância e a impossibilidade de isolar um aspecto do outro. O processo de
ocupação pode ser considerado como elemento definidor da organização do espaço
agrário e a sua evolução ao longo do tempo depende da forma como os agricultores
se inserem no mercado e como se comportam frente às mudanças inerentes ao
desenvolvimento.
Palavras-chaves: evolução agrária,
organização do espaço.
ABSTRACT
It is the purpose of this study
to combine the environment and the society, pointing out not only the importance
of joining them but also the impossibility of keeping them both apart. The
occupational process can be considered as a defining element of the agricultural
space organization and its evolution through the time, depends on the way the
farmers are participating in the market and the way they behave themselves
facing the inherent changes of the development.
Key-word: agrarian evolution,
space organization.
INTRODUÇÃO
A paisagem rural está
em contínua evolução, conduzida pelo homem. O desenvolvimento das atividades
agrárias e o ambiente natural trazem uma forte relação que se perpetua ao longo
do tempo, sob diferentes formas. Certamente, na maioria das situações, a
implantação das atividades agrárias é acompanhada de uma degradação ambiental,
mas nem por isso pode-se afirmar que a agricultura necessita ser uma atividade
incompatível com a preservação dos recursos
naturais.
A influência da
natureza deve ser considerada não como fator determinante no processo de
ocupação dos espaços, mas como um dos elementos que participam
significativamente no próprio desenvolvimento da agricultura ao longo do tempo,
considerando os recursos e as restrições oferecidas pelo meio físicas. A
abordagem histórica estabelece o entendimento da organização atual do espaço
agrário brasileiro e mundial.
A
EXPANSÃO AGRÁRIA E SUAS REPERCUSSÕES
A partir da década de sessenta e, com maior intensidade, na década
de setenta, começam a ocorrer mudanças nas tendências do desenvolvimento
agrícola, resultantes de vários fatores, como condições favoráveis no mercado
internacional e aumento na demanda interna, forçando, de certa forma, um
incremento na produção agrícola, superior às possibilidades de crescimento,
através da simples expansão da área cultivada. Os agricultores ocuparam as
fronteiras agrícolas do Brasil, transformando, em pouco tempo, as florestas, em
lavouras ou pastagens para criação da pecuária. Esta ocupação se deu à custa de
derrubada de mata e subseqüente queimada.
O modo de produção
agrícola das últimas décadas, baseado na monocultura e no emprego de métodos de
produção originados de tecnologias avançadas, vem alcançando o sucesso econômico
aliado à depredação ambiental e exclusão social dos pequenos trabalhadores
rurais. As atividades agrárias, de modo geral, mas principalmente as chamadas
modernas, ou seja, avançadas tecnologicamente, empregadoras de baixa quantidade
de mão-de-obra e usuárias de maquinarias, adubos químicos, inseticidas,
herbicidas e outros, têm se mostrado como fortes depredadoras dos recursos
naturais. Mas deve-se considerar que a questão ambiental relaciona-se ao setor
agrário, independente da atividade desempenhada, das técnicas de produção
utilizadas e do tamanho da propriedade onde se desenvolve a
produção.
No Brasil, e no mundo como um todo, o desenvolvimento da produção conta
nos últimos anos com o auxílio da biotecnologia como fator de aumento da
produtividade agrícola nos diferentes espaços. Os adeptos da indústria ligada à
biotecnologia defendem que a área ocupada com monocultura (destaca-se a produção
de soja, que é a lavoura de maior expressão tanto em área, quanto em quantidade
produzida) é uma forma de medir o sucesso da produção por parte dos
agricultores. Mas este fato esconde que a expansão dessas lavouras demanda cada
vez mais terras, ocasionando uma concentração nas mãos de poucos e uma
reestruturação no espaço agrário, aliado principalmente a ocupação de áreas de
florestas, de terras indígenas e outras que comprometem a idéia de
sustentabilidade no meio rural.
Deve-se considerar que no início do período da colonização do Brasil até
há pouco tempo, pouca ou nenhuma legislação e fiscalização visavam proteger o
meio ambiente. Praticamente não existia consciência de preservação dos recursos
naturais, o que levou à derrubada desordenada de matas, ocupação de áreas
impróprias para a produção agrícola. Pode-se dizer que esta foi a primeira
manifestação de enfrentamento da agricultura com a paisagem natural, ocasionando
sucessivas mudanças na paisagem por conta da atividade de exploração dos
recursos florestais, minerais, implantação da agropecuária, que começou com a
colonização e se estende até os dias de hoje, porém de forma mais intensiva,
devido ao uso de uma tecnologia voltada ao aumento da produtividade
agrícola.
O interesse pelo meio ambiente não é recente, mas, na história,
nunca houve uma preocupação notória com a proteção ambiental como a partir da
década de noventa. A tentativa de melhorar a qualidade de vida da população tem
passado por todas as entidades educacionais, em praticamente todos os níveis e
áreas do conhecimento, com a promoção da educação ambiental e por organismos
nacionais e internacionais que levam em conta o futuro do planeta e a segurança
alimentar.
Entretanto, o próprio espírito capitalista seja ela expressado de
forma individual ou mesmo em termos de países, não permite uma evolução muito
significativa neste sistema de conservação dos recursos naturais e garantia de
recursos para todas as camadas sociais. A expansão da cultura da soja no Brasil
é um exemplo expressivo para esta questão. A sua expansão, dado o seu caráter de
exportação tem aumentado a área para sua implantação, inclusive áreas
originalmente produtora de alimentos, pomares e outra lavouras permanentes.
Em termos de expressão espacial brasileira, de acordo com o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as principais participações
em termos de ocupação da lavoura de soja, são dos estados do Mato Grosso
(29,8%), do Paraná (19,9%), do Rio Grande do Sul (13,1%), de Goiás (11,1%), do
Mato Grosso do Sul (7,8%), de Minas Gerais (4,2%) e da Bahia (4,1%) que juntas
representam 90% da produção nacional desta oleaginosa. Na série histórica da
cultura da soja, representada na figura que segue, indica para 2008 um novo
recorde de produção.

Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria
Mesmo demonstrando um incremento na área cultivada com soja e um aumento
significativo na produtividade, consideradas como um êxito econômico, no Brasil
isto implica em um comprometimento na produção de alimentos básicos (de caráter
alimentar), e a perda da soberania alimentar sendo necessário promover a
importação de produtos que poderiam ser cultivados no Brasil, dada a sua
importância em termos de tamanho de área potencialmente agricultável, e para os
pequenos agricultores familiares e para os consumidores, o incremento da soja
implica um aumento nos preços dos alimentos e, em conseqüência, uma diminuição
na qualidade de vida da população.
Muitos trabalhadores rurais, em especial os detentores de propriedades
com menores dimensões acabam não se inserindo no modelo agro exportador e passam
para a categoria de “sem terra”, ingressando no Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), alocando-se nas periferias das grandes cidades ou
direcionando-se para as terras da Amazônia, do Cerrado e outras áreas de
fronteira agrícola, contribuindo progressivamente para o processo de
desmatamento ao se instalarem como posseiros. Temos que salientar que este
grupo não é o principal responsável pelo processo de desmatamento, pois é a
expansão do agronegócio que coloca esta triste realidade como alternativa, o que
é uma incoerência
num país que tem 120 milhões de hectares de terras comprovadamente improdutivas,
em termos de utilização, registradas no cadastro do INCRA (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária), no ano de 2007.
Nos padrões atuais, o acesso à terra não é o bastante. De acordo com BRUM
(2004) é necessário qualificar técnica e culturalmente os trabalhadores e suas
famílias e motivá-los continuamente a obter informações confiáveis que lhes
permitam orientar com mais segurança sua atividade profissional. É preciso também garantir assistência
técnica, acesso ao crédito e infra-estrutura, alem de implementar a
agroindústria, para agregar valor à produção agropecuária, sem deixar de lado a
preservação ambiental.
É neste contexto que
a reforma agrária é a
alternativa para o pequeno agricultor que produz primeiramente o alimento que
precisa para consumo próprio gerando excedentes. Se o Brasil tivesse assentado
sua política de produção de alimentos na reforma agrária, com uma organização
produtiva de comercialização, hoje o país não estaria passando a situação de
importar alimentos de outros países, como é o caso do trigo e deixando de
contribuir com uma parcela da produção alimentar com possibilidade de fornecer
alimentos aos classificados como países pobres.
No caso do Cerrado e da Amazônia, onde a soja está em plena fase de
expansão, o índice de desemprego e exclusão de trabalhadores rurais é mais baixo
do que em outras regiões (Sul e Sudeste), por ser historicamente uma área de
baixa densidade demográfica rural. O cerrado quase sempre foi olhado com indiferença. A razão
provavelmente na presença de estações secas enfrentadas pelo Brasil Central,
quase que anualmente. O solo,
considerado pobre e pouco apropriado para a agricultura durante a maior parte da
história agrária brasileira, passa por uma estruturação graças à carga de
insumos químicos que são sistematicamente inseridos nesta área. A atividade
predominante era a pecuária extensiva de gado. Esta, da forma como era
praticada, preservava, em certa medida, parte da biodiversidade local, apesar de
gerar uma das áreas de maior concentração de terras no Brasil, conforme atesta o
Índice de GINI para esta região (de forte a muito forte, como atesta a aplicação
da metodologia usada para medir o grau de concentração da terra, levando em
conta o número de estabelecimentos agrícolas e a área que os mesmos ocupam
dentro do contexto regional.
Entretanto, com o desenvolvimento tecnológico, as pesquisas
voltadas para o setor, desenvolveram-se variedades de soja adaptadas ao solo e
ao clima do cerrado. Com o Brasil se inserindo gradativamente na era do agro
negócio, este bioma sofreu e continua sofrendo grandes transformações. O
desmatamento praticado de forma destrutiva foi intenso e, em pouco tempo, a sua
paisagem original cedeu lugar a enormes e monótonas monoculturas de soja,
gerando uma baixa densidade demográfica e a tendência de formação de núcleos
urbanos de maior porte e distantes uns dos outros, processo típico de áreas de
domínio do latifúndio. E, a soja
provoca a expulsão de pequenos agricultores e a perda da segurança alimentar,
pois a tendência é a expansão sobre áreas originalmente produtoras de alimento
baseada na agricultura familiar.
Em diversos locais, a pecuária praticada no cerrado passou por um
processo de modernização, e foram introduzidas variedades de plantações de
gramíneas exóticas, que favoreceu o aumento da produtividade da pecuária, mas
passou a reproduzir-se e a competir com espécies nativas, até mesmo dentro de
parques e áreas protegidas. As espécies não nativas do Brasil, além de sufocar a
vegetação original, obstruem o deslocamento da fauna nativa e facilita a
propagação de incêndios, situação comum em períodos de estiagem, tanto
espontaneamente quanto provocada pelos produtores para aumentar a área de
produção das culturas comerciais.
Além da problemática
social, ocasionada pela expansão das monoculturas ocorre uma alteração na
biodiversidade, com o surgimento de insetos, invasoras de modo geral e
comprometimento da qualidade de vida da população traduzido pelo ambiente cada
vez mais poluído. O resultado do desequilíbrio ecológico e um aumento no uso de
agro químicos conduzem a problemas de contaminação de solos, poluição das águas,
eliminação da biodiversidade, entre outros problemas que chamam a atenção
inclusive de organismos internacionais. Portanto, a produção de soja em grande
escala é inevitavelmente insustentável, em termos sociais, ambientais e
inclusive econômicos, uma vez que a sua generalização inibe o desenvolvimento de
uma agricultura mais diversificada e com maiores possibilidades de agregação de
renda e emprego no setor agrário.
Existe uma relação entre o combate à fome e a necessidade de aumentar a
produção de alimentos. O crescimento da população mundial e o número de pessoas
que se ressentem da falta de alimentos são usados de forma contundente para
justificar a introdução do “progresso técnico” na agricultura. De acordo com
essa visão, a agricultura convencional por si só, não seria capaz de produzir
alimentos suficientes para a população mundial. As tecnologias como os
transgênicos são apresentados, especialmente aos países pobres, como alternativa
de aumento tanto da produção como do valor nutritivo dos alimentos, o que é
discutível, especialmente quando as próprias pesquisas são encomendadas por
entidades que possuem interesse na sua expansão.
Devemos considerar que a problemática alimentar não está na quantidade de
alimentos produzida, pois esta é significativamente grande, porque os alimentos
são desperdiçados durante o transporte e estragam nos armazéns e isso contribui
para que cerca de 800 milhões de pessoas passe fome no mundo. Segundo dados
oficiais da ONU estariam disponíveis 2.800 calorias por pessoa ao dia, se
houvesse uma correta distribuição dos alimentos (conforme a FAO, são necessárias
1.900 calorias diárias por pessoa). Existem alimentos suficientes para prover em
torno de 2 kg de comida diária por pessoa, dos
quais 1,1
Kg de cereais, 450 g de carne, leite e ovos e mais
450 g de
frutas e verduras. Uma insuficiente produção de alimentos, portanto, não pode
mais ser usada como argumento para explicar a fome, o que, por sua vez,
contradiz as projeções de Thomas Malthus de um crescente aumento da população
mundial incompatível com uma insuficiente disponibilidade de alimentos, pois no
mínimo desde 1961,
a quantidade per capita de alimentos disponível superou a
correspondente necessidade humana, o que significa que se as quantidades
produzidas fossem distribuídas de acordo com o consumo de calorias, já desde
1961 não deveria mais haver ninguém que sofresse por fome ou desnutrição no
mundo.
A fome, portanto, não é um problema técnico e não depende mais de volumes
insuficientes de alimentos. Ela também não é um problema ocasionado por
superpopulação, pois não há uma relação direta entre população e fome: a fome
atinge tanto países de alta concentração demográfica como o Haiti, como países
de baixa concentração demográfica como Brasil. A disponibilidade de recursos ou
catástrofes naturais também não podem mais ser apresentados como causa da fome;
se trata de um problema de distribuição dos alimentos disponíveis que só pode
ser resolvido politicamente. No que se refere a catástrofes naturais, várias
delas já são previsíveis, de forma que é possível desenvolver meios de redução
de seus efeitos.
Muitas catástrofes naturais também são ocasionadas e/ou aprofundadas pela
interferência humana no ecossistema, como a agricultura intensiva voltada a
altas taxas de produtividade (desmatamento, longos períodos de cultivo de
monoculturas, erosão e lixiviação do solo, uso de agrotóxicos, etc). Quanto aos
recursos disponíveis, a sua concentração representa um grande problema em muitos
países como, por exemplo, o Brasil, onde apenas 10% da área agricultável é
cultivada e 80 milhões de hectares de terra produtiva estão ociosos. Se estes
recursos fossem utilizados de maneira sustentável, a população poderia dobrar
sem que houvesse problemas em volumes de alimentos disponíveis. Mas, ao invés
disso, uma parcela significativa da população brasileira passa fome.
Em função da concentração da terra e da agricultura baseada na
exportação, ainda existe o paradoxo, de que 15 milhões de pessoas (36,8% das
famílias rurais brasileiras) são atingidas pela fome na área rural. Isso é
novamente um problema de ordem política que não será resolvido através de um
simples apoio ou fortalecimento da agricultura. Pelo contrário, o incentivo à
agricultura de exportação tem contribuído para a redução da produção de
alimentos básicos (como feijão, arroz e mandioca) e a expansão das monoculturas
(como soja, algodão e outros que aumentam o valor das
exportações).
Se o problema da fome não pode ser resolvido com avanços tecnológicos, os
transgênicos também não representam uma alternativa para sua solução. Assim como
já ocorreu com a “modernização” da agricultura a partir dos anos 1950, que
também veio com a promessa de combate à fome, a população mais pobre não será
beneficiada com a transgenia na agricultura, mas grandes multinacionais, como a
Monsanto, que lucrarão com o controle e a venda de sementes e agrotóxicos.
Através do controle das sementes as grandes corporações também podem controlar a
produção de alimentos: o que será produzido, os insumos que serão utilizados e
onde os alimentos serão comercializados.
Por isso é previsível que, com o monopólio das sementes e a necessidade
do pagamento de royalties, a produção agrícola fique mais cara e o acesso dos
pobres aos alimentos seja ainda mais difícil. Além do mais, os cultivos de
transgênicos disponíveis atualmente (soja, milho, canola e algodão) são
destinados à exportação para os países industrializados, o que não vem a
beneficiar os pobres dos países do sul. As causas da fome como a pobreza, a
desigualdade e a falta de acesso aos meios de produção não serão modificadas
através da introdução dos transgênicos, mas possivelmente ainda serão
aprofundadas, pois poderá ocasionar maior concentração de terras, maior êxodo
rural e maior exclusão social dos pequenos agricultores. E, por último, precisa
ser reforçado um argumento técnico: os cultivos transgênicos disponíveis até o
momento não são mais produtivos que os convencionais, pois eles foram
desenvolvidos para apresentar tolerância a herbicidas e insetos, de forma que
eles não estarão contribuindo com o suposto e anunciado aumento da
produtividade.
Levando em consideração que a fome apenas pode ser solucionada através de
ações políticas, o fortalecimento da agricultura familiar (pequenas
propriedades, onde a própria família dos agricultores representa a força de
trabalho empregada na produção agrícola) pode contribuir com o combate à fome.
Em países como o Brasil, onde a agricultura familiar é responsável pela maior
parte da produção de alimentos, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, (70% do feijão, 84% da mandioca, 49% do milho, 54% do
leite, 58% da carne de porco, 40% da produção de aves e ovos) e representam 84%
das propriedades agrícolas (4,1 milhões de estabelecimentos rurais), a
manutenção dos pequenos agricultores na atividade agrícola adquire uma grande
importância para a redução da pobreza, já que a maioria destes é responsável
pelo abastecimento alimentar da própria família.
Um conjunto de experiências com agricultura no Brasil demonstra que o
modelo da agricultura familiar, baseado na produção diversificada e no reduzido
uso de insumos externos, é o mais eficiente e o mais apropriado para a garantia
da soberania alimentar e pode ser combinado com programas de combate à fome. Por
isso é importante levar em conta o tipo de agricultura a ser apoiado. O modelo
denominado pelos grandes proprietários rurais de agricultura “forte”, baseado na
monocultura para exportação, com certeza, como podemos verificar na história,
poderá conduzir a mais concentração, mais pobreza e mais
fome.
De
acordo com ANDRIOLI (2008), a introdução da biotecnologia em especial a disseminação
dos transgênicos, que intensifica o êxito da produção apenas para uma parcela
minoritária da população, aqueles que a cultivam com tecnologias avançadas tendo
como resultado uma alta produtividade, se ampliou na América Latina. Este fato
deve ser compreendido no contexto da modernização capitalista da agricultura a
qual se iniciou, particularmente a partir da década de cinqüenta e criou a base
para a crescente dependência dos agricultores através de insumos das
multinacionais da indústria química.

Como pode ser observados na figura, países da América do Sul, como
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, figuram entre os de maior produção em
área plantada com produtos desta categoria. E no gráfico referente à evolução
dos organismos geneticamente modificados (em especial a soja), pode ser
verificado o crescimento desta produção a partir da segunda metade da década de
noventa. Salienta-se o caso do Brasil que em apenas dois anos introduz a
atividade e ultrapassa a produção realizada pela China, país de tradição nesta
atividade.
Um dos elementos que deve ser considerado é que a tecnologia em si é
apenas um instrumento e não deve ser encarada com a solução dos problemas
apresentados em termos globais.
EVOLUÇÃO DOS OGM – PRODUTOS
AGRÍCOLAS

Fonte:
www.biotechbrasil.bio.br/
Esse modo de
produção agrícola das ultimas décadas, baseado na monocultura e no emprego de
métodos de produção originados de tecnologias avançadas, vem alcançando o
sucesso econômico aliado à depredação ambiental e exclusão social dos pequenos
trabalhadores rurais. O tipo de agricultura praticada não favorece ao pequeno
agricultor, mas sim ao grande proprietário, que transformou sua propriedade numa
empresa rural, se aliando com as multinacionais.
Se o modo de
produção atual não mudar e não se preocupar com o meio ambiente, o êxodo rural
vai ser ainda maior e os danos com o meio ambiente se tornarão
irreversíveis.
O problema dos insumos químicos é que são
empregados de forma muitas vezes criminosa e sem orientação, sempre com vista a
obter uma alta produção e lucro para os grandes produtores, que são a minoria, e
das grandes multinacionais do ramo agrícola. Para reverter esse quadro, é
necessário buscar alternativas mais justas, sem agredir o meio ambiente. O que
pode ser percebido é que esta atividade está sendo relativamente mais crescente
nos países em desenvolvimento, com o intuito de aumentar cada vez mais a
produção para exportação.
Nas discussões em
níveis globais, há uma corrente de pensamento, bem significativa, formada por
intelectuais e defensores de soluções para a sustentabilidade do planeta, que
levam em conta, não o aumento da produção inclusive alimentar, mas os níveis de
consumo das pessoas e o grau de concentração dos recursos. O aumento da produção
agrícola se dá através da incorporação de novas áreas ou ao aumento da
produtividade. Deve-se levar em conta que os recursos naturais são finitos e que
se não diminuir o ritmo de utilização destes por parte da sociedade, em curto
espaço de tempo terão que ser criadas novas formas de manter o planeta em níveis
de qualidade comprometedor para a saúde da população e para o ambiente.
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Ponencia presentada en el Décimo Encuentro
Internacional Humboldt. Rosario, provincia de Santa Fe, Argentina. 13 al 17 de
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