Florianópolis e as imagens da cidade:
a expansão dos equipamentos turísticos.
Maria Helena Lenzi
Tiago Cargnin Gonçalves
Abstract
This article aims to show how the tourism in Florianópolis,
capital of Santa Catarina/Brasil, has fomented an intense growth and how it
is characterized for being one of the main constituent elements of the city
images. We will introduce the population growth's recent situation, a brief
discussion around the image concept and an analysis data referring to the tourism and
its equipments as parts of the current city. Florianopolis is known as
a place which has a tourism vocation, being it seasonal, business or
events. It is based in several elements, such as the touristic equipments
amplification and its internationalization, and the city growth. In the
initiative of promotion of Florianópolis, we recognized a different
territory usage, mainly in its central area, which gains value in business
and events; and
its north area, specialized in season tourism. Both the growth and the way how
the touristic activities have been developed, confirms the idea that its
territory rationalization is a process that is being enhanced, becoming evident in
the city's landscape itself.
Resumo
Este artigo objetiva mostrar como o turismo em Florianópolis,
capital do estado de Santa Catarina/Brasil, tem fomentado intenso crescimento e
como ele se caracteriza por ser um dos principais elementos constitutivos das
imagens da cidade. Apresentaremos a recente situação de crescimento populacional,
uma breve discussão em torno do conceito de imagem e uma análise de dados
referentes ao turismo e seus equipamentos, enquanto elementos da atual imagem da
cidade. Florianópolis é divulgada como um lugar que possui vocação para o
turismo, seja ele de temporada, negócios ou eventos. Isso se fundamenta em
vários elementos, como a ampliação dos equipamentos turísticos e sua
internacionalização, e o crescimento da cidade. Na iniciativa de promoção de
Florianópolis, reconhecemos um uso diferenciado de seu território, sobretudo sua
área central, que se revaloriza no turismo de negócios e eventos; e sua parte
norte, especializada em turismo de
temporada. Tanto
o crescimento quanto a forma como a atividade turística vem se desenvolvendo
confirmam a idéia de que a racionalizaçao do território é um processo que vem se
acentuando, tornando-se evidente na própria paisagem da
cidade.
Introdução
Florianópolis não é mais a mesma! – exclamam os que aqui vivem ou
os que à cidade retornam passado algum tempo. Nos últimos anos, a cidade tem
sofrido um acelerado crescimento populacional, contando em 2007 com 396.723
habitantes e apresentando a maior taxa de crescimento populacional dentre as
maiores cidades catarinenses – 46,20% entre 1996 e
2007.
Este artigo objetiva mostrar como o turismo em
Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, tem fomentado esse intenso
crescimento concentrado em algumas partes da ilha de Santa Catarina e como ele caracteriza-se por ser um dos principais
elementos constitutivos das imagens da cidade (figura 1).
Inicialmente apresentamos a recente situação de
crescimento populacional em Florianópolis e uma breve discussão em torno do
conceito de imagem, seguida da análise de dados referentes ao turismo e seus
equipamentos enquanto elementos da atual imagem da cidade.
Entendemos por equipamentos turísticos as atividades
relacionadas a lazer, hospedagem, eventos e comércio, além dos órgãos
responsáveis por sua difusão e divulgação.

FIGURA 1: Florianópolis: localização.
Florianópolis publicizada
Entre 1996 e 2007, o maior crescimento populacional
observado ocorreu no litoral do estado (quadro 1), principalmente nas cidades de
Balneário Camboriú, Palhoça e Florianópolis. A uni-las, os investimentos em
turismo, principalmente no turismo de verão. Balneário Camboriú já é um pólo
turístico consolidado e bem estruturado para receber seus visitantes, enquanto
Palhoça tem se direcionado cada vez mais para o turismo, tanto de verão quanto
de aventura, devido à diversidade de terrenos encontrados no seu território que
abriga serras e cachoeiras, adotando o slogan “Palhoça, Bela por
Natureza”. Além de ser a capital do estado, Florianópolis é uma
ilha e agrega altos índices de qualidade de vida, atraindo cada vez mais
turistas e também moradores.
QUADRO 1 – Cidades catarinenses: crescimento populacional,
1996-2007.
Municípios |
População Urbana |
Crescimento (%) |
1996 |
2007 |
1996-2007 |
1º |
Joinville |
397 951 |
487 003 |
22,38 |
2º |
Florianópolis |
271 281 |
396 723 |
46,20 |
3º |
Blumenau |
231 401 |
292 972 |
26,60 |
4º |
São José |
151 024 |
196 887 |
30,40 |
5º |
Criciúma |
159 101 |
185 506 |
16,60 |
6º |
Chapecó |
131 014 |
164 803 |
25,80 |
7º |
Itajaí |
134 942 |
163 218 |
20,96 |
8º |
Lages |
148 860 |
161 583 |
8,55 |
9º |
Jaraguá do Sul |
93 076 |
129 973 |
39,64 |
10º |
Palhoça |
81 176 |
122 471 |
50,87 |
11º |
Brusque |
66 558 |
94 962 |
42,68 |
12º |
Balneário Camboriú |
58 188 |
94 344 |
62,14 |
Santa Catarina |
4 875 244 |
5 866 252 |
20,33 |
Essa constatação, que pode ser interpretada de diversas
formas, também é nossa, tanto no papel de geógrafos como no de habitantes da
cidade. De acordo com a perspectiva dialética, expressada por Bakhtin (2003),
entendemo-nos em diálogo com o mundo, pois o pensamento sobre o mundo – aquele
que procura abarcá-lo – é também pensamento no mundo – aquele que se sente parte
dele. Partimos de observações nossas e de dados referentes à distribuição de
equipamentos voltados ao turismo na Ilha de Santa Catarina.
Entre fontes publicitárias consultadas encontramo-nos em e com diversas representações da
cidade (diversas ilhas mais propriamente, pois a parte continental muitas vezes
não é citada): Ilha da Magia, Ilha de Sonhos, Ilha da Beleza, Ilha Prometida,
Ilha da Natureza, Ilha do Turismo, Ilha de Investimentos. A seguinte citação é
parte de uma publicação oficial do Governo do Estado especial para cidades com
vocação turística (Almanaque Roteiros Turísticos Regionais - Grande Florianópolis) e descreve Florianópolis
da seguinte maneira:
A maior parte da capital catarinense está situada na Ilha de Santa
Catarina, conhecida por suas belezas naturais protegidas por extensas áreas de
preservação permanente. [...] A arquitetura açoriana completa harmoniosamente a
paisagem e ainda sobrevive no centro da cidade e em muitas freguesias, num
resgate permanente da história romântica da Ilha [...]. Atualmente,
Florianópolis detém o quarto mais alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
entre todas as cidades brasileiras. É a capital com melhor qualidade de vida do
país, pelos seus atributos naturais complementados pelas elevadas taxas de
escolaridade e renda da população – cerca de 370 mil habitantes – boa
infra-estrutura urbana e de serviços. Há ótimos hotéis, pousadas, restaurantes,
shoppings, centro de evento, aeroporto internacional e vida noturna agitada.
Atrativos que dão suporte ao turismo, principal atividade econômica do
município, que é também um dos mais destacados pólos de tecnologia e informática
do país e o maior produtor de ostras em cativeiro do Brasil (GOVERNO DO ESTADO
DE SANTA CATARIANA, s/ data, p.6,7).
A publicização da cidade, porém, não é um fenômeno recente. Algo
que vimos observando é que artigos de periódicos da década de 1950 já
expressavam isso. É também esta a época em que o contexto urbano de modernização
passa a se manifestar na cidade de Florianópolis, alterando mais rapidamente seu
ritmo e paisagem, e nos parece que é neste momento que as imagens atuais começam
a ser geradas.
Flores (1997), Pereira (1984) e Castro (2006) mostram, através de
relatos e documentos das décadas passadas, uma preocupação em atrair o
“moderno”, que estava sendo difundido e implantado em outras áreas do país, para
a cidade; em promovê-la e transformá-la em um tipo de paraíso, sobretudo para o turismo
internacional. Porém, isso não se desenvolve na cidade inteira, mas em algumas
partes. O processo de difusão e implantação das técnicas sobre o espaço é
seletivo (SANTOS, 2002), e na Ilha, isso se nota na orientação, desde a década
de 1970, dos investimentos públicos (infra-estrutura em geral) e privados
(hotéis, restaurantes, clínicas, postos de combustível, empreendimentos
imobiliários de alto padrão etc.) voltados principalmente para desenvolver e
equipar a parte norte. Portanto, a publicização da cidade – que vem ocorrendo há
alguns anos – implica a escolha de algumas de suas partes para tal, o que
associa a construção de imagens da cidade aos interesses de certos
atores.
Atualmente difunde-se a idéia de que a Ilha possui algumas
vocações, de que é um paraíso não só para turismo, mas também para investimentos
e para viver, devido, entre outras características, à qualidade de vida, segurança e proximidade à natureza, elementos
citados em boa parte das fontes consultadas.
Mas o que significa possuir uma vocação? Etimologicamente, vocação, do Latim vocatìo, ónis
'ação de chamar; intimação, convite', significa ter aptidão, disposição,
pendor.
Porém, notamos que não é toda a cidade que possui essa aptidão, mas pontos
escolhidos para serem difundidos em seu nome, para que a representem
bem.
Segundo Machado,
A partir dos anos oitenta, o turismo em Florianópolis assume
decisivas orientações por parte da iniciativa privada que, pelo dinamismo
vislumbrado em décadas anteriores e pelas perspectivas de crescimento deste
setor, passaram a exercer papel considerável de influências sobre políticas para
o desenvolvimento urbano e regional. Nesse particular, as atividades ligadas às
indústrias de construção civil e empreendimentos hoteleiros despontam entre
aquelas que buscam, dentro de seus estilos, abocanhar o máximo da fatia desse
novo tipo de geração de rendas. Começa também a existir uma diversificação de
atividades por parte dos grupos econômicos interessados pelo setor, em geral
voltados para os meios de hospedagem (casas para aluguel, pousadas, etc.),
particularmente nos locais de balneário (2000,
p.176).
É o espaço instrumentalizado, tomado em suas partes funcionais,
que facilita a ação de determinados atores, pois “a ação é tanto mais eficaz
quanto os objetos são mais adequados. Então, à intencionalidade da ação se
conjuga a intencionalidade dos objetos e ambas são, hoje, dependentes da
respectiva carga de ciência e de técnica presente no território” (SANTOS, 2002,
p.94). A adequação (eficácia) desses objetos está diretamente relacionada ao
“quociente” de racionalidade do território, à forma de implantação dos sistemas
técnicos e também a sua densidade (presença de redes técnicas que
operacionalizam o território, que o tornam mais funcional, ordenado e
disponível). Essa racionalidade não se apresenta somente nas formas, mas
sobretudo nas ações, o que inclui a concepção de cidade que se
tem.
O turismo é uma atividade econômica que se apropria dos espaços da
cidade como espaços de consumo, ou melhor, de consumismo. E certamente a
atividade turística é grande responsável pelas imagens atuais de
Florianópolis.
Para Augé (1998), a
diversidade do mundo pouco tem a ver com o caleidoscópio ilusório do turismo, e
segue dizendo que
esas agencias que cuadriculan la tierra, que la dividem en
recorridos, estadías, em clubes cuidadosamente preservados de toda proximidad
social abusiva, que han hecho de la naturaleza un “producto”, así como otros
quisieran hacer un producto de la literatura y del arte, son las primeras
responsables de la ficcionalización aparente; en realidad, son las responsables
de convertir a unos en espectadores y a otros en espectáculo (AUGÉ, 1998, p.16).
As imagens
(produzidas pela indústria do turismo, mas também pelos órgãos públicos e pelos
agentes do mercado imobiliário) não são entendidas aqui como meras reprodutoras
de paisagens, mas criadoras de cidade, pois instauram um
sentido.
Isso não significa, no entanto, que descartemos a
paisagem enquanto notável recurso turístico, mas que as entendemos como
construções sociais. Em nosso caso é evidente o que fala Rodrigues: “as tomadas
de praias paradisíacas atraem os turistas, ávidos de exotismo, de aventura, de
mistério. Por isso, o marketing
turístico explora tanto as fotos nos folders promocionais” (1997,
p.74).
Entendemos que as imagens que visam representar esses
espaços não falam por si, mas são historicamente construídas e, assim como as
palavras, são signos ideológicos remetendo-nos às relações políticas
constituintes da cidade. Essas imagens têm a capacidade de intervir na cidade,
pois a re-significam, realizam uma concepção de cidade espacializando-se.
Entendemos as transformações recentes da cidade como acontecimentos próprios do
mundo técnico-científico-informacional, ou seja, só possibilitados com a
modernidade, que, racionalizando o espaço, fragmenta-o e torna possível não só
sua transformação em produto (sua alienação herdada da dissociação entre o homem
e a terra), mas também em imagem.
Equipamentos turísticos como
elementos constituintes da imagem
Alguns equipamentos implantados recentemente em
Florianópolis como dois shopping centers, hotéis de cadeia nacional e internacional, grande número de
agências de viagens, projeto de ampliação do Aeroporto Internacional
Hercílio Luz, construção do Sapiens Park, centro de convenções, entre outros, que visam acolher
e proporcionar infra-estrutura aos turistas que visitam a cidade, passam a
compor algumas de suas imagens, sobretudo as voltadas para a promoção do mercado
turístico.
Abordamos aqui alguns destes equipamentos a fim de
entendermos a maneira como se distribuem e se articulam em busca de um
desenvolvimento da cidade calcado nas atividades turísticas.
No setor hoteleiro, Florianópolis conta hoje com 464
estabelecimentos de hospedagem, sendo 174 hotéis, 6 motéis, 225 pousadas, 13
campings e 46
albergues/dormitórios. Juntos totalizam 28.500 leitos, representando 73% do
total encontrado nos nove municípios que compõem a Grande Florianópolis: Águas
Mornas, Biguaçu, Garopaba, Governador Celso Ramos, Palhoça, Paulo Lopes, Santo
Amaro da Imperatriz, São José e a capital.
Nessa contagem, consideramos de suma importância o
papel dos hotéis ligados às redes nacionais e internacionais situados em
Florianópolis, que representam 8,14 % dos leitos identificados pelo censo
realizado. De fato, Florianópolis tem se tornado um ponto de instalação de
alguns empreendimentos que se organizam em rede. A cidade vem se configurando
com um dos “nós” dessas redes, ampliando suas conexões com lugares próximos e
distantes. O quadro 2 mostra como a maioria dessas redes hoteleiras tiveram suas
atividades iniciadas há poucos anos. Praticamente 80% dos hotéis se instalaram
em Florianópolis depois do ano 2000.
QUADRO 2 – Florianópolis: hotéis de cadeias nacionais e
internacionais, 2008.
Hotel |
Início
das Atividades |
Localização |
Número
de Leitos |
Rede Hoteleira |
País de Origem |
Número de Hotéis no Mundo |
Mercure Apartments Lindacap |
1996 |
Centro |
132 |
Accor Hotels |
França |
688 |
Bristol Multy Castelmar Hotel & Convention
Center |
1999 |
Centro |
280 |
Bristol
Hotéis & Resorts |
Brasil |
20 |
Blue
Tree Towers |
2000 |
Centro |
180 |
Blue Tree Hotels |
Brasil |
24 |
InterCity Premium
Florianópolis |
2002 |
Centro |
246 |
InterCity Hotéis |
Brasil |
15 |
Ibis Florianópolis |
2003 |
Centro |
396 |
Accor Hotels |
França |
803 |
Mercure Apartments Itacorubi |
2005 |
Itacorubi |
338 |
Accor Hotels |
França |
688 |
Baía Norte Othon Classic |
2006 |
Centro |
223 |
Othon Hotéis |
Brasil |
35 |
Deville Express
Florianópolis |
2006 |
Centro |
190 |
Hotéis Deville |
Brasil |
10 |
Sofitel Florianópolis |
2006 |
Centro |
170 |
Accor Hotels |
França |
185 |
Bristol Dobly Oceania Park
Hotel |
2007 |
Ingleses |
164 |
Bristol
Hotéis & Resorts |
Brasil |
20 |
Fonte: Organizado por Tiago Cargnin Gonçalves com base nos sítios
dos hotéis e entrevistas – 2008.
A partir desse quadro, podemos ainda inferir outras
características e conclusões sobre a dinâmica de implantação de hotéis de redes
nacionais e internacionais em Florianópolis. Dentre
as redes que se instalaram em Florianópolis, somente a Accor Hotels é de origem estrangeira. Mesmo sendo a única,
detém 40% dos hotéis apontados, fato que acontece também no restante do país,
visto que a rede é a de maior atuação no território brasileiro. Os demais hotéis
pertencem às redes nacionais e se dividem entre os que são encontrados somente
no Brasil (40%) e os que atuam em outros países (20%). Dentre as redes
hoteleiras nacionais presentes em Florianópolis que se internacionalizaram estão
a Blue Tree Hotels que atua na Argentina e a Othon Hotéis, presente nos Estados
Unidos, França, Portugal e Peru.
A atual configuração da rede hoteleira em Florianópolis
resulta de dois processos concomitantes: o primeiro consiste na transformação de
alguns hotéis tradicionais da região central de Florianópolis em unidades de
redes hoteleiras nacionais e internacionais – 40% dos estabelecimentos assumiram
bandeiras já vistas em outras cidades dentro e fora do país e que favorecem a
comercialização de um serviço já conhecido (figura 1). O segundo processo
implica no aparecimento de novos objetos no espaço urbano, ou seja, as próprias
redes constroem os edifícios nos quais irão se instalar. No caso dos hotéis
Mercure, ainda ocorreu uma reorganização no interior da própria rede. Entre o
final do ano de 2006 e o início de 2007, todos os hotéis Parthenon assumiram a
bandeira Mercure, aumentando significativamente a atuação da mesma em todo o
mundo.
FIGURA 1 – Florianópolis: cronologia
da instalação das redes hoteleiras.

Fonte: Organizado por Tiago Cargnin Gonçalves com base nos sítios
dos hotéis e entrevistas – 2008.
Em relação à
localização desses hotéis na cidade, vemos uma massiva concentração dos empreendimentos na área central de Florianópolis, principalmente
em ruas que apresentam atividades econômicas ligadas ao setor terciário, como
comércio de varejo e prestação de serviços; e a Avenida Beira Mar Norte, que
contorna uma das áreas mais caras e valorizadas da cidade, reunindo importante
parcela da população de alta renda de Florianópolis, e conectando o centro à
região norte da ilha, situada a apenas 30 minutos de distância, e que apresenta
águas quentes e cristalinas, favorecendo o turismo de temporada e a especulação
imobiliária crescente.
Acreditamos
que essa concentração se justifique em função do alto crescimento do turismo de
negócios em Florianópolis. A proximidade com o continente, com as sedes
dos governos municipal e estadual e com as principais empresas e instituições
florianopolitanas ou sediadas na região, são fatores que explicam a localização
desses hotéis, que atendem, especialmente fora da alta temporada, o turismo
direcionado aos empresários e executivos. Vale ressaltar que esse fato não
ocorre somente com os hotéis ligados às grandes redes, como podemos notar na
atuação do hotel de luxo Mejestic Palace. Fundado em 2004 na Avenida Beira Mar
Norte, o hotel oferece auditórios, salas de apoio e estrutura completa para a
realização de reuniões, eventos e congressos.
É possível reconhecer também em Florianópolis um
outro padrão locacional, como o dos resorts, principalmente os
de praia, que seguem uma tendência presente em todo o litoral brasileiro, desde
a costa nordestina até a recente entrada nas praias da capital catarinense.
Apresentamos o caso do Costão do Santinho Resort & Spa, que se localiza na
praia de mesmo nome e assume uma postura ecológica, afirmando ter sido o
“primeiro Resort no Sul do país criado para harmonizar o turismo
auto-sustentável com a integração à natureza e com a população local”. O contraponto dessa imagem divulgada pelo resort é o
envolvimento de seus empreendedores nos escândalos relacionados à venda de
licenças ambientais, juntamente com funcionários dos poderes legislativo e
executivo da capital, deflagrando na tão noticiada “Operação Moeda Verde”,
empreendida pela polícia federal no dia três de maio de 2007. Mais recentemente, observa-se a intensa divulgação do Costão
Golf, condomínio residencial de alto padrão, gerido pelo mesmo grupo e que se
instalou no bairro Ingleses, norte da Ilha de Santa Catarina. Trata-se de uma
área não tão valorizada como a praia do Santinho, mas que acreditamos esteja
entrando em forte processo de segregação espacial e
residencial.
Outro
critério relevante para compreender a inserção de Florianópolis no importante
mercado turístico é sua abertura para o turismo de eventos. Em
2006, a
cidade apareceu pela primeira vez no ranking das cidades brasileiras que mais
sediaram encontros internacionais, ocupando a sexta posição com a realização de
oito eventos. À frente, portanto, de cidades como Curitiba e
Campinas, tradicionais destinos para esse tipo de evento. Isso pode ter ajudado
na boa colocação do Brasil como o sétimo maior destino de encontros
internacionais.
Como a
cidade atingiu essa posição no ranking? Sabemos que dois importantes
equipamentos urbanos foram instalados nos últimos dez anos m Florianópolis. Em
primeiro lugar, tivemos a inauguração do Centro Sul, um amplo e relevante centro
de convenções situado no centro da cidade, e considerado o maior centro de
convenções da região sul do Brasil. Desde sua construção em 1998, tem sediado
congressos, feiras, shows e outros tipos de eventos nacionais e internacionais.
Foi condecorado quatro vezes como o melhor centro de convenções do Brasil, pela
Confederação Brasileira de Convention & Visitors Bureaux, e recebeu três
vezes o segundo lugar.
Um dos mais
tradicionais eventos realizados no Centro Sul é a Fenaostra – Festa Nacional da
Ostra e da Cultura Açoriana. A primeira edição aconteceu em 1999 e desde então
costuma ocorrer sempre no mês de outubro, ampliando o calendário de festas que
acontecem nesta época do ano no estado de Santa Catarina. Propõe-se a valorizar
a cultura “identitária” e açoriana do habitante da ilha através da apresentação
de “artistas mostrando o melhor da música, teatro, dança e folclore
regionais”. No trecho abaixo podemos perceber a ênfase dada
ao pioneirismo de Florianópolis no cultivo e na utilização da ostra, e a
diversidade de atividades agregadas a este produto para promovê-lo, e também
para a promoção da cidade.
A
Fenaostra mistura ingredientes
irresistíveis para quem aprecia os deliciosos pratos à base de frutos do mar e
quer iniciar-se nos prazeres da degustação dos mais variados pratos, tendo a
ostra como ingrediente principal. A Fenaostra é a única promoção do gênero no
país a reunir num mesmo espaço atividades nas áreas gastronômica,
técnico-científica, econômica, artística e cultural, tendo como mote a
maricultura.
Outro
importante empreendimento apto para abrigar grandes eventos e encontros é o
Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina.
Situado
no centro do campus, o prédio possui restaurantes,
livraria, salas para reuniões e um auditório para 1371 pessoas.
Sua
construção terminou em 2003 e foi realizada em parceria pelo governo federal e o
Banco Santander, que investiu capital de 1,5 milhões de reais em troca da
utilização por quinze anos de uma área de 150m² onde instalou uma de suas agências bancárias.
No que
concerne ao papel das universidades para a promoção da imagem de uma cidade
turística, apontamos a iniciativa tomada pela UNISUL – Universidade do Sul de
Santa Catarina – juntamente com o governo do estado, que pretendia trazer para
Florianópolis um festival nos moldes do que acontece em Ravello, na Itália. A
versão italiana é uma feira que reúne cultura, inovação e gestão empresarial e
que dura oitenta dias, sendo um dos maiores festivais do país. Inicialmente
planejada para maio de 2007,
a idéia de promover um evento deste porte visava
“direcionar o desenvolvimento da economia com características pós-industriais e,
com isto, agregar mais valor ao turismo, assegurando a qualidade necessária para
atrair visitantes com níveis de exigência maior e, portanto, com maior poder
aquisitivo”.
Considerações finais
É possível
reconhecer em Florianópolis o que poderíamos denominar de a rede das redes,
atuando no processo de publicização e implantação dos equipamentos turísticos na
cidade. Falamos da Florianópolis Convention & Visitors Bureau, entidade que
assumiu o comando da PROTUR – Fundação Pró-Turismo em 1999. Trata-se de um organismo “facilitador de
informações, procedimentos e encaminhamentos de dados, que propicie fatores
vantajosos nas exigentes negociações para sediar eventos”. Essa organização é reconhecida
internacionalmente e fomenta o desenvolvimento do turismo de lazer e de eventos
nas cidades onde atua, mantendo-se através da contribuição dos seus associados.
Em Florianópolis, muitos empreendimentos ligados ao turismo são membros desta
entidade. Dentre eles estão todos os hotéis de rede nacional e internacional
listados anteriormente, assim como outros empreendimentos já apresentados: Hotel
Majestic, Costão do Santinho, Centro Sul, entre tantos
outros.
A
valorização da imagem da cidade de Florianópolis como um lugar com vocação para
o turismo, seja ele de temporada ou de negócios e eventos, fundamenta-se nos
vários elementos citados ao longo do texto, como a ampliação dos equipamentos
turísticos e sua internacionalização, e o crescimento da cidade. Tanto a
propaganda, quanto o aumento da infra-estrutura direcionada ao turismo partem de
iniciativas públicas e privadas, muitas vezes
associadas.
Percebemos uma dinâmica acentuada de organização dos atores atuantes
na cidade. Eles não se destinam somente a se firmarem e venderem seus serviços,
mas articulam-se com diferentes setores do mercado turístico em função do
crescimento da cidade e, conseqüentemente, do seu próprio
crescimento.
Neste
projeto de promoção de Florianópolis, reconhecemos um uso diferenciado do
território da cidade, sobretudo sua área central, que se revaloriza no turismo
de negócios e eventos; e sua parte norte, especializada em turismo de temporada.
O crescimento e o tipo de atividade turística confirmam a idéia de que a
racionalização do território é um processo que vem se acentuando na cidade,
tornando-se evidente na própria paisagem de
Florianópolis.
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planejamento e desenvolvimento do empreendimento até sua comercialização e
administração”. (Disponível em: <www.floripashopping.com.br>. Acesso em:
13 ago. 2007).
Fundada na França, a rede iniciou suas funções no Brasil em 1976, estando
presente em mais de 131 países. Em 2000 foi apontada como a principal cadeia
hoteleira internacional atuante no Brasil e o maior grupo do setor hoteleiro no
mundo (BNDES, 2000).