Propostas e ações de Educação Ambiental no município de Dourados
(Mato Grosso do Sul, Brasil): uma análise preliminar
Flaviana Gasparotti Nunes
Resumo: Tendo
em vista
problemática atual que envolve o meio ambiente e seu processo
de degradação, a Educação Ambiental adquiriu grande destaque como possibilidade
de diminuir ou amenizar tal processo por meio de pressupostos e ações
educativas. Sintonizado com esta questão, esta
pesquisa tem como objetivo central levantar e analisar as propostas de Educação
Ambiental existentes e desenvolvidas nas escolas da rede estadual e municipal de
ensino no município de Dourados (MS). A partir deste levantamento, pretende-se
identificar e caracterizar as principais concepções e práticas de Educação
Ambiental existentes, bem como as formas em que são desenvolvidas no município.
Abstract: Environmental Education has been greatly highlighted lately due to the problems surrounding our environment and its process of degeneration. EE is regarded
as feasible possibility which would diminish or at least slow this process down by means of educational assumptions and actions. Hence, this research aims at raising and analyzing the existing Environmental Education proposals which have been developed in state and municipal schools in the city of Dourados (MS). Based on this data, we intend to identify and characterize the main existing Environmental Education conceptions and practices as well as ways which this city has been using them.
Introdução
Cada vez mais, verifica-se uma mobilização de diferentes áreas do
conhecimento humano para entender e reverter o processo de crise ambiental no
qual nos encontramos. Os registros históricos mostram que as causas desta crise
não são recentes, como são as tentativas e a iniciativas de se entender as
razões que levaram o homem a degradar o ambiente em que vive (SILVA e INFORSATO,
2000). Como afirma Cardoso (1995, p.11):
(...) se crise é perigo, também é momento de liberação de forças
criativas em busca de soluções, em busca de uma nova sociedade, em cujas bases
está a solidariedade planetária: entre homens e destes com outros seres vivos e
não vivos. Pois todos fazem parte do mesmo
universo.
A partir da década de setenta, cientes de que a degradação
ambiental ultrapassava os limites das ações isoladas, diversas nações resolveram
unir forças na busca de soluções. Em 1972, a Conferência de Estocolmo (como
ficou conhecida), organizada pela ONU (Organização das Nações Unidas), mostrou
que a degradação ambiental estava relacionada com problemas políticos,
econômicos e sociais, resultantes da cultura humana e que, para se resolver os
problemas ambientais, era preciso mudar valores e unir ações.
Paralelamente a isso, foi publicado, no mesmo ano, um documento
reflexivo resultante das análises do chamado “Clube de Roma”. Este fora composto
por um conjunto de cientistas de países desenvolvidos que em 1968 havia se
reunido para discutir o consumo e as reservas naturais não-renováveis e o
crescimento da população mundial até meados do século XXI.
Reigota (1996,) afirma que o principal mérito dos debates e
conclusões do Clube de Roma foi colocar o problema ambiental em nível planetário
e como conseqüência disso, realizou-se a Primeira Conferência Mundial de Meio
Ambiente Humano. Dessa conferência foram elaborados dois documentos: A
Declaração sobre o Meio Ambiente Humano e seu Plano de Ação Mundial.
Tal Plano de Ação apontava para a educação. Não uma educação
restrita às escolas (formal), multidisciplinar que transmite conhecimentos, a
fim de que os alunos os reproduzam. Mas uma educação interdisciplinar e até
transdisciplinar, formadora de pessoas críticas sensibilizadas com questões
ambientais e sociais.
Reigota (1996, p. 15) afirma que: “Uma resolução importante da
Conferência de Estocolmo foi a de que se deve educar o cidadão para a solução
dos problemas ambientais. Podemos, então, considerar que aí surge o que se
convencionou chamar de educação ambiental.”
A conferência de Estocolmo (1972), recomendou que a EA deveria ter
um enfoque interdisciplinar e ser desenvolvida em todos os níveis de ensino e
gradativamente passou a reforçar a necessidade de sua inclusão no ensino
informal, não como uma disciplina a mais nos currículos, mas estando presente em
todas as disciplinas.
A Educação Ambiental emerge, então, como a solução para os
problemas ambientais ou na sensiblização da população a estes problemas. Reigota
(1996, p. 53) chega a afirmar que “(...) nos últimos anos ocorreu o boom da
educação ambiental, tornando-a um modismo, que confunde os seus praticantes e
usuários e muitas atividades exóticas têm sido chamadas de educação
ambiental.”
A UNESCO foi responsável pela divulgação e realização dessa nova
perspectiva educativa e promoveu três conferências internacionais
em Educação
Ambiental ao longo de três décadas: a Conferência de Belgrado
em 1975,
a Conferência da Tbilisi em 1977 e Conferência de Moscou
em 1987.
Já em 1992 foi realizada a Conferência do Rio de Janeiro (Rio-92)
também denominada “Conferência de Cúpula da Terra” que aprovou uma série de
acordos internacionais oficiais. No que diz respeito à Educação Ambiental, no
entendimento de Reigota (1996, p. 17):
Nos vinte anos que separam as conferências mundiais de Estocolmo e
Rio de Janeiro houve uma considerável mudança na concepção de meio ambiente. Na
primeira se pensava basicamente na relação homem e natureza; na segunda o
enfoque é pautado pela idéia de desenvolvimento econômico.
Essa mudança se fará sentir nos discursos, projetos e práticas
diversas de educação ambiental que surgiram desde então.
Conforme definição da UNESCO (1987), a Educação Ambiental é um
processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do
seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e
a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na
busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e
futuros.
A respeito dos conteúdos das declarações resultantes destas
conferências, Pedrini (1996, p. 33) identifica uma série de inconsistências e
contradições, no entanto, observa que “(...) são importante fonte de consulta
para a prática da EA, não tanto pelas suas contradições e pressupostos
políticos, alguns claramente neoliberais, mas pelos avanços técnicos
apresentados nos pressupostos pedagógicos arrolados. (...)”
Neste contexto, no caso brasileiro, a Educação Ambiental foi
formalmente instituída pela lei federal no 6.938 de 31 de agosto de
1981 que criou a Política Nacional do Meio Ambiente. A partir de então, foram
desenvolvidas algumas ações por parte de vários órgãos como o IBAMA e Ministério
do Meio Ambiente no sentido de desenvolver a Educação Ambiental no Brasil.
Na área educacional, destaca-se na década de 1990, a realização dos
primeiros Fóruns Nacionais de Educação Ambiental, a instituição do PRONEA
(Programa Nacional de Educação Ambiental) pelo Ministério do Meio Ambiente e dos
PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) pelo MEC, no qual a temática ambiental
foi inserida como conteúdo transversal em todas as disciplinas do currículo
escolar. Já no final dessa década, o Senado aprovou a lei federal 9795/99 que
tem como objetivo oficializar a presença da educação ambiental em todas as
modalidades de ensino.
Verifica-se, portanto, a existência de instrumentos legais e meios
financeiros para realização da Educação Ambiental no Brasil. Existem, tanto na
instância ambiental como educacional, órgãos públicos responsáveis pela
realização da Educação Ambiental no país.
Nunes (1995) concorda que a educação é o único processo capaz de
modificar atitudes, reformulando conceitos e formando sensibilidade ambiental,
mas discorda que esse papel caiba, só à escola. Para que um programa de EA tenha
êxito, é necessário que faça parte de um processo mais amplo, que inicie na
escola, estenda à comunidade e alerta para os riscos de que a educação ambiental
na escola se torne apenas mais um curso ou disciplina a ser adicionada a um
currículo já sobrecarregado.
Desde seu surgimento até então, várias foram as dificuldades
enfrentadas e superadas por educadores ambientais, entre elas, a formação destes
profissionais. Quando formados em áreas técnicas (engenheiros agrônomos,
florestais e civis; biólogos, químicos, geógrafos, entre outros), dominavam o
conhecimento técnico e científico que são muito importantes, porém, ignoravam
conhecimentos na área educacional como psicopedagogia, imprescindíveis para
compreender o processo ensino-aprendizagem. Quando formados nas áreas
educacionais apresentavam falhas no conhecimento científico e técnico (MEDINA, 1996).
Apesar das dificuldades que se impõem à prática da Educação
Ambiental (EA) no contexto escolar, a educação brasileira tem destaque em
relação a projetos que envolvem a temática ambiental no ensino formal, pela
pertinência do conteúdo, inovação metodológica e respaldo social (REIGOTA,
1999).
Para Pedrini (1998, p. 56) “(...) faltam apenas estímulo à
capacitação dos educadores ambientais com base teórico-metodológica e
reivindicação e fiscalização da população para que nossos governantes sejam
eficazes.”
No entanto, mesmo que a questão ambiental tenha alcançado avanços
importantes nos documentos oficiais de ensino e na escola de forma geral, as
práticas pedagógicas continuaram restringindo-se a ações isoladas de alguns
professores, através de datas comemorativas, como por exemplo, o dia da árvore e
a semana do meio ambiente. Algumas vezes até se traduzem em forma de projetos
pedagógicos, que dificilmente saem do papel, ou são aplicados apenas pelos
professores de Ciências e Biologia, sem um enfoque interdisciplinar (PEGORARO,
1998). Essas ações, ainda que importantes, não são suficientes para atingir os
objetivos educacionais.
Neste sentido, Reigota (1996, p. 17-18) adverte
que:
Se por um lado temos uma grande variedade de práticas que se
autodefinem como sendo “educação ambiental”, mostrando a sua criatividade e
importância, por outro lado, temos práticas muito simplistas que refletem
ingenuidade, oportunismo e confusão teórica, conceitual e política.
Carvalho (1989), em sua tese de doutorado, investigou “A temática
ambiental na escola de 1º grau (professores de 1ª a 4ª séries)”. Objetivando
compreender como os professores colocavam-se perante a possibilidade de um
trabalho educativo que incorporasse questões ambientais, enfatiza que o
envolvimento da temática ambiental no ensino é desafio para os professores, e,
para enfrentá-lo, devem estar muito bem instrumentados, apesar de reconhecer a
falta de material didático.
Com objetivos muito próximos aos de Carvalho, Benetti (1998)
também levanta dados sobre as perspectivas dos professores de Ciências em
relação à temática ambiental e aponta para a necessidade de se abordar com mais
ênfase e clareza a temática ambiental nos programas de formação inicial e
continuada de professores. Esta é, também, a visão de Penteado
(2000).
Tamaio (2002) cita uma pesquisa realizada pela Secretaria de
Estado do Meio Ambiente de São Paulo (1994) sobre 496 experiências de educação
ambiental na rede oficial de ensino do estado de São Paulo no período de
1988 a
1991 a
qual identificou algumas concepções subjacentes quanto ao entendimento de
educação ambiental e as metodologias utilizadas distinguindo quatro grupos: um
grupo que considera como educação ambiental as atividades vinculadas a uma
data/evento relativo ao meio ambiente, ao calendário de festas nacionais ou
programações diversas como festas para pais, feira de ciências, entre outras;
outro grupo vincula educação ambiental a atividades práticas, voltadas para
problemas concretos (coleta seletiva, plantio de árvores, horticultura,
jardinagem, campanhas de higiene e conservação do patrimônio); um grupo enfatiza
o contato com a natureza definida como áreas naturais a partir de observação e
estudo; outro grupo destaca os problemas ambientais próximos e a busca de
soluções (aspectos econômicos e sociais, resgate histórico, qualidade de vida,
relação homem-meio).
A partir desta distinção, o autor realiza uma série de reflexões
mostrando os problemas, incoerências e ingenuidade de algumas dessas concepções
de educação ambiental. Para ele:
A Educação Ambiental não pode se resumir às críticas sobre o
processo de ocupação “degradante” que o homem promove na natureza, mas deve
analisá-lo dentro de uma teia de relações sociais em que a prática pedagógica
desenvolvida na escola é parte integrante de uma sociedade multifacetada por
interesses ideológicos e culturais. (Tamaio, 2002, p. 37)
No mesmo sentido, Reigota (1994, p. 28) afirma que “o desafio da
educação ambiental é sair da ingenuidade e conservadorismo (biológico e
político) a que se viu confinada e propor alternativas sociais, considerando a
complexidade das relações humanas e ambientais.”
Em seu entendimento, a educação ambiental não é necessariamente
uma prática pedagógica voltada para a transmissão de conhecimentos sobre
ecologia. “(...)Trata-se de uma educação que visa não só a utilização racional
dos recursos naturais (...), mas basicamente a participação dos cidadãos nas
discussões e decisões sobre a questão ambiental.” (Reigota, 1994, p. 10)
Para Reigota (1995), a prática de educação ambiental depende da
concepção de meio ambiente que se tenha e essas concepções, por sua vez,
relacionam-se com os interesses científicos, artísticos, políticos, religiosos,
profissionais, etc de cada sujeito.
No entendimento do autor, o meio ambiente não é apenas sinônimo de
meio natural, mas sim “(...) um lugar determinado e/ou percebido onde estão em
relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais.
Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos
históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade.” (Reigota,
1996, p. 21)
Da mesma forma, é importante considerar o próprio conceito de
natureza, que no contexto da Educação Ambiental é sempre relacionado à
compreensão de ambiente, como sinônimo de mundo natural. Tamaio (2002, p. 37)
chama atenção para o fato de que natureza é um conceito categorizado por seres
humanos, sendo fundamentalmente político e essas concepções são variadas e estão
intimamente ligadas ao período histórico e à correlação de forças políticas das
classes sociais determinadas historicamente.
Outra grande dificuldade enfrentada no campo da educação ambiental
relaciona-se à avaliação de suas atividades tendo em vista que um dos princípios
da EA é sensibilizar indivíduos e a sociedade em geral, em relação ao meio
ambiente, para que, sensibilizados, possam mudar valores e, conseqüentemente,
comportamentos (Dias, 1992).
Cabe ressaltar que, embora seja possível verificar e avaliar a
mudança de comportamentos, tais mudanças não são imediatas, pois necessitam
antes de mudanças de valores e estas são mais difíceis de ser observadas. Isso
implica em dificuldades para avaliar projetos de EA. Como saber se um indivíduo
adquiriu valores?
Neste sentido, Zaballa (1998) apresenta uma escala gradativa para
a aquisição de valores e atitudes de uma pessoa considerando: em um primeiro
grau, quando aceita mas, não sente necessidade de cumprir normas; em segundo
grau, quando existe uma conformidade que implica em reflexão sobre o que
significa a norma; e em último grau, quando se interioriza (normas) e aceita-se
como regra básica de funcionamento da coletividade. Para o autor: “Considera-se
que um aluno adquiriu valor quando: este interiorizou e elaborou critério para
tomar posição frente aquilo que se está analisando; uma atitude quando pensa,
sente e atua de forma mais ou menos constante frente ao objetivo
concreto”.
Já Tomazzelo (2001), ao abordar a problemática da avaliação de
projetos de EA, considera relevante a proposta de Sanmartini (apud TOMAZZELO,
2001), de se propor para fazer a análise das seguintes
questões:
-
O
tema selecionado é relevante em relação ao meio ambiente do
aluno?
-
O
projeto prevê a promoção de ações dos indivíduos em favor do
meio?
-
Permite estabelecer relações entre os problemas locais e os
problemas globais do planeta?
-
Supera os limites da sala de aula?
-
Observam-se mudanças de atitudes dos alunos em relação ao meio
ambiente?
-
Observam-se mudanças de hábitos ou
comportamentos?
-
Observam-se mudanças dos modelos explicativos sobre os problemas
ambientais aumentando o seu grau de complexidade?
-
Melhorou a capacidade de análise e de tomada de decisões por parte
dos alunos?
Ainda em relação à avaliação de projetos ou programas de Educação
Ambiental Nunes (1986), concorda que a educação é o único processo capaz de
modificar atitudes, e formação de valores, mas discorda que esse processo deva
restringir-se à escola.
Segundo ela, para que um programa de Educação Ambiental tenha
êxito, é necessário que ele faça parte de um processo mais amplo, que se inicie
na escola e se estenda à comunidade e, acima de tudo, que seja permanente e
abarque todos os aspectos que envolvam o ser humano, ou seja, biológico,
psicológico, sociológico, econômico, político e
cultural.
Para Tomazello (2001), o processo mais adequado para a Educação
Ambiental é aquele capaz de combinar os componentes: sobre, no e para o
ambiente, pois a educação sobre o ambiente, compreende ações que têm por
objetivo propiciar informações sobre o ambiente. Estas informações são de
natureza cognitiva, fundamentas em conhecimentos biológicos, físicos e químicos
do ambiente. A premissa desse processo, é que os problemas ambientais são
causados por falta de conhecimento, portanto, a solução reside na informação,
(LUCAS apud TOMAZELLO, 2001).
Diante da problemática exposta em torno da Educação Ambiental,
sobretudo quanto às concepções e práticas existentes, estamos desenvolvendo uma
pesquisa que objetiva avaliar os programas e propostas vigentes em Dourados (MS)
tendo em vista a importância do município no contexto regional e
estadual.
Projetos e ações de Educação Ambiental desenvolvidas poder público
municipal de Dourados
Até o momento foram levantados os projetos de Educação Ambiental
desenvolvidos pelo Instituto do Meio Ambiente de Dourados, órgão vinculado às
Secretarias de Planejamento e Educação do
município.
Conhecendo a realidade de que os recursos naturais são limitados e
estão sendo fortemente afetados pelo processo de utilização, exaustão e
degradação decorrentes de atividades humanas, o IMAM (Instituto do Meio Ambiente
de Dourados) criou um programa denominado Programa Municipal de Educação
Ambiental que realiza um trabalho de educação ambiental junto a algumas escolas
da rede municipal de ensino, tendo como parceiros a Secretaria Municipal de
Planejamento e a Secretaria Municipal de Educação.
O programa teve início em 2004 e oferece suporte técnico e
financeiro para as escolas trabalharem com temas direcionados à questão
ambiental, ou seja, aplicarem a educação ambiental nas escolas, abrangendo
várias atividades para que ocorra sensibilização, percepção ambiental e
embasamento teórico sobre a temática conduzindo-os a mudanças de
atitudes.
De acordo com o programa, a Educação Ambiental deve ser realizada
em toda a comunidade, tendo início em pontos estratégicos para que os objetivos
possam ser amplamente alcançados. O programa realiza um trabalho com alunos e
professores, abrindo espaço para a reflexão e argumentação em torno das questões
ambientais, fugindo da “conscientização” apenas, por imposição de idéias
prontas, mas favorecendo a incorporação de mudanças de comportamento no
cotidiano podemos obter resultados práticos, formando jovens educadores
ambientais para serem disseminadores dos princípios da conservação ambiental e
cuidados com a saúde básica.
O principal objetivo do programa é sensibilizar a comunidade
escolar (professores, estudantes, direção, pais etc.) para a preservação da
região onde vivem. Entende-se que a Comunidade Escolar seja responsável por uma
grande parcela dos moradores de um bairro. Sendo assim, encontram-se motivos
para que a Educação Ambiental seja incorporada no cotidiano da escola. Sob os
diversos recursos didáticos (vídeos, palestras, aulas de campo, mutirões, coleta
seletiva) espera-se mostrar a importância da preservação do ambiente em que
vivem. Modificar atitudes e práticas pessoais é o primeiro passo para que a
comunidade local adote a preservação do ambiente fundamental para o
desenvolvimento humano.
Para obter maiores informações sobre esse programa realizamos uma
entrevista com o representante do Programa Municipal de Educação Ambiental/PREA
no IMAM (Instituto do Meio Ambiente). Esta entrevista teve como base um roteiro
elaborado previamente contendo dez perguntas (estas retiradas de uma leitura
feita sobre o projeto do PREA) relacionadas ao início do mesmo, seu
desenvolvimento, os resultados alcançados, possíveis modificações, objetivos e
até mesmo as dificuldades encontradas pelo Programa.
A partir da entrevista, pudemos verificar que, são seis as
unidades escolares que participam do PREA, sendo elas: Neil Fioravanti, Profª
Elza Farias Kintschev Kuhn, Profª Efantina de Quadros, Aurora Pedroso de
Camargo, Lóide Bonfim de Andrade e Weimar Gonçalves
Torres.
O principal projeto desenvolvido pelo IMAM, é esse referente às
escolas municipais. Este projeto consiste em trabalhar com os alunos das escolas
participantes, temas direcionados à questão ambiental, através de 10 monitores
escolhidos pela própria sala de aula, juntamente com 1 ou 2 professores (atuando
como coordenadores). Cada escola possui um projeto próprio. Este recebe suporte
técnico e financeiro para ser desenvolvido. Não só os monitores, mas todos os
alunos e professores participam no desenvolvimento do projeto. E por fim, tanto
o andamento quanto a conclusão do projeto devem ser apresentados ao
IMAM.
O objetivo do IMAM (juntamente com seus parceiros) com a criação
desse Programa Municipal de Educação Ambiental em Dourados é, basicamente, o de
trabalhar a Educação Ambiental, rever os conceitos de Meio Ambiente, melhoria de
vida, e a questão da sustentabilidade.
Para o representante do IMAM, o PREA é um projeto bem sucedido,
apesar de enfrentar algumas dificuldades, tais como: (no projeto dos monitores)
tratar a questão ambiental, pois se trata também de uma contradição, uma vez
que, a realidade da grande maioria é bem diferente do que é ensinado tanto pelas
escolas como pelo projeto. Entretanto, mesmo em se tratando de algo um tanto
quanto diferente da sua realidade, os alunos procuram através das lições
aprendidas, levar tal conhecimento para casa, passando até mesmo para os seus
pais, os “reeducandos ambientalmente”. Outra dificuldade enfrentada pelo
programa é que, embora todos os alunos possam e devam participar dos projetos do
PREA, nem todos o fazem.
O problema consiste então, neste fato: tanto o conhecimento e a
prática, bem como os investimentos (bonés, camisetas etc.) concentram-se mais
entre os próprios monitores. As escolas não conseguem reverter essa situação. E,
não menos importante, a falta de mais financiamentos seja por parte de órgãos
públicos, seja pelas empresas particulares, ou até mesmo pela própria
comunidade, é um outro problema que afeta bastante o desenvolvimento do
programa.
Enfim, o PREA procura reverter todas essas dificuldades, bem como
a visão simplista com que tem sido concebida e aplicada a Educação Ambiental,
reduzindo-a a processos de sensibilização ou percepção ambiental, geralmente
inseridos em conteúdos da área biológica, ou a atividades pontuais no Dia do
Meio Ambiente, do Índio, da Árvore, ou visitas a parques ou reservas.
No momento, estamos realizando visitas às escolas envolvidas no
projeto do IMAM para verificar o desenvolvimento destas atividades, bem como os
principais problemas e questões apontadas pelas mesmas quanto ao projeto.
Nessas
visitas, estamos realizando entrevistas com os responsáveis pelos projetos de
Educação Ambiental ligados ao Programa Municipal de Educação
Ambiental. Tais
entrevistas
(com coordenadores, monitores e alunos) contribuirão no sentido de reunir
elementos para uma avaliação mais fundamentada sobre o alcance das ações
desenvolvidas em relação aos objetivos propostos no mesmo.
Entendemos que para uma melhor compreensão e análise desta ação do
poder público municipal de Dourados em relação à Educação Ambiental, também será
necessário acompanhar o desenvolvimento das atividades do PREA nas escolas
envolvidas.
Acredita-se
que os elementos obtidos nas entrevistas serão fundamentais para uma reflexão
sobre as concepções e práticas de Educação Ambiental desenvolvidas pelo poder
público municipal, tomando como referência sua ação mais
significativa.
A Educação Ambiental nas escolas da rede estadual de
Dourados
No âmbito das escolas da rede estadual de ensino, foram visitadas
aquelas localizadas na zona urbana de Dourados sendo elas: Escola Estadual
Floriano Viegas Machado; Escola Estadual Alício de Araújo; Escola Estadual
Presidente Tancredo Neves; Escola Estadual Menodora Fialho de Figueiredo; Escola
Estadual Presidente Vargas; Escola Estadual Maria da Glória; Escola Estadual
Daniel Berg; Escola Estadual Ramona Pedroso; Escola Estadual Castro Alves;
Escola Estadual Celso Muller.
Além destas, também visitamos as escolas estaduais Vilmar Vieira
Matos e Alicio de Araújo, no entanto, no período em que realizamos as visitas
não foi possível obter informações, devido aos responsáveis não se encontrarem
na escola. As escolas estaduais Reis Veloso, Floriana Lopes, Abigail Borralho e
Dr. Nelson de Araújo foram visitadas e os coordenadores pedagógicos responsáveis
afirmaram que as mesmas não possuíam projeto de Educação Ambiental.
Pudemos constatar as seguintes ações/atividades sendo
desenvolvidas nas escolas visitadas: pinturas em muros, orientações em sala de
aula a fim de mostrar para a comunidade que o meio ambiente necessita de ajuda,
que cada vez mais os impactos ambientais crescem; plantio de árvores; trabalhos
interdisciplinares envolvendo as disciplinas de Geografia (aquecimento global, a
importância do aterro sanitário), Biologia (tratamento de água), Química
(dióxido de carbono – CO2, efeito estufa) e Artes (trabalhos com reciclagem);
organização de Feira de Ciências; coleta de materiais recicláveis e exposição de
trabalhos resultantes da transformação destes; conscientização quanto ao cuidado
com o meio ambiente em que vive no horário de aula; coleta e venda de materiais
recicláveis com os recursos investidos na escola, pintando paredes, comprando
lixeiros adequados para cada tipo de material reciclável específico; visitas a
aterro sanitário; palestras e trabalhos sobre animais e plantas em extinção. Apenas
quatro escolas visitadas não possuem projetos de educação ambiental.
Com base neste levantamento inicial, pretendemos acompanhar mais
detidamente algumas escolas, nas quais entendemos existirem propostas de
Educação Ambiental mais abrangentes e embasadas, que não se restringem a ações
pontuais. Esperamos que o acompanhamento in loco das atividades realizadas nas
escolas possa trazer mais elementos para ampliarmos este entendimento, inclusive
no sentido de identificarmos possíveis práticas que avancem em relação aos
problemas identificados na maioria das ações desenvolvidas pelas
escolas.
Considerações Preliminares
A partir dos dados e informações obtidas, pudemos constatar que a
Educação Ambiental está presente na maioria das escolas estaduais de Dourados.
Em algumas é apenas pontual, com atividades de plantio de árvores no dia da
árvore, já em outras escolas há projetos de Educação Ambiental que abrangem a
questão ambiental de forma mais ampla.
A Escola Estadual Presidente Vargas, por exemplo, desenvolve um
projeto em que o objetivo central é a revitalização da instituição educacional e
a atividade busca conscientizar os alunos em cuidar do meio ambiente em que
vivem no horário de aula, ou seja, a escola. Os alunos juntam materiais
recicláveis, vendem e com o dinheiro adquirido investem na escola, pintando
paredes, comprando lixeiros adequados para cada tipo de material reciclável
específico melhorando o ambienta escolar.
De uma forma geral, pudemos constatar que as escolas procuram
trabalhar a Educação Ambiental numa perspectiva interdisciplinar, no entanto, em
alguns casos, as atividades realizadas ainda são pontuais, envolvendo poucas
disciplinas. Além disso, possuem
finalidade conteudística e informativa
restringindo-se à transmissão do conhecimento. Essas atividades são, na maioria
das vezes, descontextualizadas em relação à realidade socioambiental
existente.
As constatações feitas a partir da identificação das atividades
realizadas nas escolas da rede estadual de Dourados (MS) nos conduzem a refletir
a partir dos pressupostos teóricos e discussões de alguns autores.
Guimarães (2006, p. 25) entende que a Educação Ambiental para ser
crítica precisa desvelar as causas dos problemas ambientais, questionando a
visão de mundo historicamente construída e seus paradigmas que entendem a
natureza como recurso. Para o autor, a crise ambiental é a crise de um modelo de
sociedade e atualmente desenvolve-se uma educação ambiental que não contesta o
paradigma da sociedade moderna e isso, em sua opinião, é uma armadilha:
A visão ingênua, presa à armadilha paradigmática, tende à
reprodução das práticas educativas consolidadas; como por exemplo, a da educação
comportamentalista que acredita que dando (transmitindo) ao indivíduo (educando)
os conhecimentos (aspecto cognitivo) necessários e ainda provocando nele uma
sensibilização (aspecto afetivo) pela questão ambiental, o indivíduo pode
transformar seu comportamento incorreto e que, se assim for, ao final teremos
como resultado da soma destes indivíduos transformados uma sociedade
transformada. (...)
Em outra obra (Guimarães, 2004) afirma que a Educação Ambiental
não pode continuar sendo considerada como algo à parte da dinâmica social, com
ações educativas pouco críticas à realidade, pois isso resulta em posturas
políticas conservadoras, mesmo que bem intencionadas. Mais uma vez, ele
relaciona isso com a questão paradigmática:
Essa visão fragmentária potencializa uma forte tendência ao
desenvolvimento, nas escolas, de ações isoladas, voltadas para o comportamento
de cada indivíduo (aluno), descontextualizadas da realidade socioambiental em
que a escola está inserida e do seu próprio projeto político-pedagagógico,
quando há de fato algum que não seja um documento formalmente escrito.
(Guimarães, 2004, p. 37)
Sendo assim, o autor chama a atenção para o fato de que muitas
ações de Educação Ambiental, embora impulsionadas por boas intenções, acabam
desenvolvendo uma perspectiva comportamentalista focada no indivíduo, com
finalidade conteudística e informativa caracterizadas por mera transmissão do
conhecimento. Para ele, é necessária a construção de outra noção de
sustentabilidade e o problema está na atual modelo de sociedade vigente que se
apóia em valores fragmentários, individualistas
etc.
Loureiro (2004), por sua vez, afirma que a Educação Ambiental tem
mostrado um caráter moralista com ênfase na dimensão ecológica em detrimento das
demais contextualizações do problema ambiental, ignorando a dinâmica
social. O autor defende que a
reflexão sobre a problemática ambiental deve estar articulada com a
contextualização social, cultural, histórica, política, ideológica e econômica
para não cair numa visão de mundo dualista. Em sua visão é impossível a Educação
Ambiental ser praticada de modo
descontextualizado das práticas sociais, na medida em que não é possível
reverter o quadro apenas com mudanças éticas ou comportamentais, depositando a
responsabilidade no indivíduo e eximindo a responsabilidade da estrutura social
e o modo de produção.
Diante do exposto e tendo em vista as atividades de Educação
Ambiental desenvolvidas nas escolas da rede estadual de Dourados (MS)
verifica-se que as questões e problemas levantados pelos autores estão presentes
na realidade estudada. Observa-se que na maioria das escolas, as atividades
apresentam finalidade conteudística e informativa restringindo-se à transmissão
do conhecimento sendo descontextualizadas em relação à realidade socioambiental
existente.
No caso das ações realizadas pelo poder público municipal,
percebe-se que embora o Programa Municipal de Educação Ambiental (PREA) de
Dourados - com base no entendimento do biólogo responsável por seu
desenvolvimento - procure “reverter a visão simplista com que tem sido concebida
e aplicada a Educação Ambiental, reduzindo-a a processos de sensibilização ou
percepção ambiental (...)” na maioria dos projetos e ações desenvolvidas nas
escolas ainda predomina um entendimento essencialmente técnico e
comportamentalista da questão.
O conteúdo presente no texto do PREA não expressa a relação e
importância da Educação Ambiental ser praticada de modo contextualizado com as
práticas sociais, percebe-se um direcionamento para as mudanças éticas ou
comportamentais.
Os próprios projetos desenvolvidos pelas escolas no ano de 2006
mostram esse caráter: a Escola Aurora Pedroso desenvolveu o projeto “Jardinagem
na escola” e “Aprendendo reciclar brincando”; a escola Weimar Gonçalves Torres
desenvolveu os projetos “Lixo Reciclável” e “Plantio de árvores no pátio da
escola”; a escola Lóide Bonfim desenvolveu o projeto “Reciclar também é
cidadania”; a escola Januário Pereira de Araújo desenvolveu o projeto de
reciclagem do lixo e a escola Neil Fioravante o projeto “Garça Branca” no qual
várias atividades foram desenvolvidas (coleta seletiva, reciclagem de materiais,
horta medicinal e orgânica, um plantio de árvores nativas no Parque Arnulfo
Fioravante, trilhas ecológicas, oficinas, visitas técnicas, eventos culturais,
palestras variadas e outras).
Esperamos que a realização das entrevistas e acompanhamento in
loco das atividades de Educação Ambiental tanto em âmbito municipal como nas
escolas da rede estadual contribua para uma verticalização das análises aqui
iniciadas.
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