EXCLUSÃO SOCIAL –
UM ESTUDO DE CASO: ALTO DOM BOSCO – JUIZ DE FORA –
MG

Telma Souza Chaves
UFJF/CeHu
Resumo:
Com a globalização vivemos hoje num mundo o qual
as desigualdades sociais estão cada vez mais acirradas. Isto se dá através dos
atuais processos de reestruturação capitalista que estamos vivendo. É necessário
conhecer e compreender a complexa articulação entre a globalização e a exclusão
social. A desigualdade de renda está aumentando, conseqüentemente grande parte
da população está à margem, ou excluída, chamamos atenção para os países da
América Latina, destacando o Brasil, onde a exclusão social está tomando
proporções preocupantes.
O capital global, por sua vez, interessa por
aqueles espaços e pela parte da sociedade que lhe melhor renderá a mais-valia.
Por isso os investimentos seguiram a lógica da reprodução deste capital.
Desenrola-se, então, o desmonte de quase todo aparato produtivo estatal dos
países latino-americanos com privatizações em áreas de vital interesse
estratégico para o capital estrangeiro.
Este trabalho teve como finalidade analisar a
urbanização, fragmentação e a
segregação sócio-espacial do bairro Dom Bosco. Selecionamos para realizar
esta análise o Alto Dom Bosco, como reflexo da fragmentação e da segregação
sócio-espacial e seus aspectos sócio-ambientais na cidade de Juiz de Fora,
localizada no Estado de Minas Gerais.
Palavras-chave: Desigualdade,
Urbanização, Fragmentação, Segregação
sócio-espacial.
SOCIAL EXCLUSION - A CASE STUDY: HIGH DOM BOSCO - COURTS IN OUT -
MG
Abstract
With
globalization we now live in a world in which social inequalities are
increasingly majoe. This occurs through the current processes of capitalist
restructuring we are living. It is necessary to know and understand the complex
relationship between globalization and social exclusion. The inequality of
income is increasing, therefore much of the population is on the margin, or
deleted, call attention to Latin American countries, highlighting the
Brazil, where social exclusion is
taking alarming proportions.
The global capital, in turn, interested in
those spaces and the part of society that it renderá better the added value. So
the investments followed the logic of reproduction of this capital. Desenrola,
then, the removal of almost all productive apparatus state of Latin American
countries with privatisation in areas of vital strategic interest to foreign
capital.
This work was intended to examine the urbanization, fragmentation
and socio-spatial segregation of the neighborhood Don Bosco. Selected to conduct
this analysis the Don Bosco High, reflecting the fragmentation and socio-spatial
segregation and its socio-environmental in the city of Juiz
de Fora, located in the State of Minas Gerais.
Key-words:
Inequality, Urbanization, Fragmentation, Segregation
socio-space.
Introdução:
Na luta
por um local para morar, não são poucos aqueles que erguem suas casas em
encostas muito íngremes e na beira de rios e
estradas.
A pobreza é resultado de um padrão de organização
social da produção e de acumulação de capital de caráter estruturalmente
dependente e excludente, cuja dinâmica conduziu historicamente à conformação de
uma estrutura social polarizada, marcada pela concentração da riqueza, da renda,
do poder político e dos direitos cidadãos em mãos de uma elite carente de um
projeto consistente de Nação e auto-centrada na defesa e ampliação de seus
privilégios.
Dentro desta perspectiva, a pobreza é a expressão
da desigualdade na distribuição riqueza e, em grande medida como subproduto
desta, da concentração da renda.
Juiz de Fora, cidade “porte médio”, vive nas
últimas décadas um processo intenso de reorganização espacial, provocado pela
mudança nos modelos de uso e ocupação do solo urbano em algumas de suas regiões.
Nesse processo, surgem locais que se destacam pelo crescimento demográfico,
alguns deles pelas aglomerações de população de baixa renda e outro pela
valorização de determinados espaços.
A Evolução da Rede
Urbana Brasileira
As
mudanças recentes que passamos na reestruturação da rede urbana brasileira têm
se dado num processo acelerado. Podemos dizer que até os anos 50 do século
passado era incipiente em termos de número e tamanho de cidades. Lembramos aqui
que era no eixo Rio de Janeiro - São Paulo que uma grande parte da população
residia.
Do outro
lado tínhamos um conjunto de cidades menores dispersas, com até 5.000
habitantes, que reuniam grande parte da população. Como abordado acima, a rede
urbana mais densa e dinâmica concentrava-se nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro, nos quais as principais cidades com mais de 5.000 habitantes estavam
interligadas por estradas.
Nossa
rede urbana era fragmentada, esparsa, desarticulada, próxima do litoral,
associada às heranças da economia dos séculos anteriores. Foi a partir da
expansão da malha viária e da instalação do setor automotivo no país,
incentivado pelo governo do presidente Juscelino Kubisteck, que iniciamos uma
grande evolução da nossa rede urbana.
A
expansão rodoviária, a construção de Brasília e o início da modernização
agrícola junto à ocupação de novas fronteiras acompanharam essa evolução. Foi a
partir dos anos 60 e da década de 70 do século passado que o surgimento de
várias aglomerações urbanas fez expandir a rede urbana, delineando um processo
de interiorização de nosso país.
De
acordo com MOTTA, MUELLER &
TORRES:
Como se sabe, na década de 70 houve forte
concentração no espaço territorial da atividade econômica e, particularmente, da
indústria. A distribuição da expansão da população acompanhou essa concentração,
pois o crescimento demográfico foi bem mais acentuado nos centros urbanos em que
a expansão econômica foi maior. Essa foi a razão da vertiginosa expansão da
população, primeiro nas regiões metropolitanas de 1a ordem, depois nas de 2a
ordem e nos centros urbanos maiores.
A década de 70 presenciou um início de
desconcentração da atividade econômica restrita à proximidade dos grandes
núcleos urbano-industriais. Esse processo explica o rápido crescimento de
cidades nas classes menores de tamanho. A dinâmica e a distribuição espacial da
atividade econômica constituíram elementos de atração migratória.
Conforme MOTTA, MUELLER &
TORRES:
Há que se
considerar, também, os fatores de expulsão, cujo papel na década de 70 foi
fundamental. Nesse período, em adição às secas, à dinâmica demográfica e à
miséria no Nordeste, tivemos os impactos do processo de modernização
conservadora na agricultura — modernização sem reforma agrária prévia —,
responsável pela liberação de enorme contingente de trabalhadores rurais nas
principais zonas agrícolas do Centro—Sul.
Outro fator que podemos considerar como
contributivo foi o espraiamento da rede urbana pelo território brasileiro, em conseqüência da
expansão da fronteira agrícola e de outras frentes de atividade.
A ocupação de novos espaços não só atraiu
migrantes para áreas rurais, mas também propiciou a criação e o crescimento de
núcleos urbanos que surgiram de apoio a essas fronteiras
agrícolas.
Já nos
anos 1970 e 1980, após o fim do milagre econômico pelo o qual o país passou e
com inúmeros planos econômicos, dentre eles o Plano Cruzado, Plano Bresser,
Plano Verão etc., a classe média sem condições de adquirir imóveis ou pagar
aluguéis em seus bairros de origem começou a emigrar para os bairros mais
afastados, o que se deu com a queda do poder de compra da
população.
Já a
parcela da população que era mais pobre, com seu poder de compra bem menor que o
da classe média, se viu numa situação mais crítica; muitos tiveram que mudar
buscando outras áreas, algumas foram invadidas e as construções ilegais
aumentaram em determinadas áreas dentro das
cidades.
De
acordo com CORREA (1999:30)
“É na produção da
favela em terrenos públicos ou privados invadidos, que os grupos sociais
excluídos tornam-se, efetivamente, agentes modeladores produzindo seu próprio
espaço, na maioria dos casos independentemente e a despeito dos outros
agentes..”
Estudos
divulgados pelo IPEA (1999) “constatam que o extremo grau de desigualdade
distributiva é o principal determinante da pobreza brasileira. O fenômeno da
concentração de renda no Brasil mostra uma incrível e perversa estabilidade”. Ao
longo do tempo, mesmo quando nossa economia cresce, a distribuição de renda se
vê num abismo cada vez maior,
De acordo com os dados divulgados pelo IPEA
(1999):
Há pelo menos duas décadas a distribuição de
renda permanece inalterada no país, ou seja, os 10% mais ricos da população
concentram em suas mãos 50% da riqueza do país. Enquanto os 50% mais pobres
ficam com apenas 14%, aproximadamente o que ganha, sozinho, 1% dos mais ricos do
país.
Uma das
características mais marcantes do recente processo de urbanização brasileiro é a
mudança das tradicionais tendências de concentração - tanto da população quanto
dos agentes econômicos - nas, igualmente tradicionais, metrópoles do país.
E “o
espaço urbano é um reflexo tanto de ações que se realizam no presente como
também daquelas que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas
impressas nas formas espaciais do presente.” (CORREA,
1999:08).
O que se
tem observado e que foi mais uma vez ratificado pelos dados do Censo
Populacional do IBGE/1996, é que as grandes capitais do país crescem hoje num
ritmo muito mais lento, em todos os casos apresentando taxas anuais de
crescimento demográfico muito abaixo do que historicamente vinha sendo
observado. De outro lado, principalmente, mas não unicamente, no Sul e Sudeste
do Brasil, são as cidades “médias”, pólos regionais, quem vêm apresentando os
maiores índices de crescimento e conseqüentemente, maior concentração econômica
e demográfica. No suprimento dessa situação de crescimento das “cidades-pólo”
regionais, encontram-se, invariavelmente, as pequenas cidades de sua própria
microrregião, área de influência mais direta e imediata. (MACHADO,
1997).
Dessa
forma, crescem menos as metrópoles, crescem muito mais rápido as cidades de
“porte médio” e definham as pequenas cidades. Esse conjunto de situações mostra,
dentre várias características, que o processo de urbanização brasileiro, a
concentração dos processos econômicos produtivos e o movimento migratório
interno, ganharam novos contornos e nova expressão territorial, e que vão
demandar soluções igualmente novas e
diferenciadas.
Nesse
aspecto, um estudo de caso, específico em análise e em dados quantitativos, mas
ilustrativo para o processo de urbanização do país como um todo, parece ser
bastante oportuno. O exemplo de Juiz de Fora e sua microrregião é um retrato
bastante fiel da nova realidade do processo de urbanização por que passa o país,
da nova realidade que envolve a concentração econômica e demográfica, de uma
nova modalidade urbano-industrial e de uma nova expressão do processo migratório
(MACHADO, 1997).
Hoje a distribuição espacial das cidades
configura uma rede heterogênea que apresenta grandes desafios à gestão urbana.
Considerando-se que a maioria da população brasileira reside em zonas urbanas.
De
acordo com MOTTA, MUELLER &
TORRES:
No contexto intra-urbano, embora existam
problemas de extrema relevância relacionados ao financiamento do desenvolvimento
urbano, há uma outra ordem de problemas, geralmente associados à falta ou à
inadequação de políticas e instrumentos, que permitam melhor orientação do
desenvolvimento urbano.
Uma das principais características da dinâmica do
crescimento intra-urbano no Brasil foi a distribuição espacial da população
pobre. Houve uma significativa periferização dessa população em cidades de
grande e de médio porte, devido, entre outros fatores, às dificuldades das
famílias de baixa renda em ter acesso à terra
urbana.
Resultou em acentuada proliferação de
assentamentos humanos informais (favelas, mocambos, alagados e loteamentos
clandestinos). Nas áreas periféricas das regiões metropolitanas, os problemas
estão freqüentemente associados ao uso do solo e à pobreza, e geralmente são
agravados pelo aumento da favelização e pelo ímpeto da incorporação de novas
áreas parceladas clandestinamente. Em sua maioria, situados em zonas restritivas
à ocupação e construção, esses loteamentos tornaram-se uma alternativa de
habitação para a população mais pobre.
Isso nos revela que abordagens de planejamento
urbano, desvinculadas de marco socioeconômico e demasiadamente estáticas e
restritivas para acompanhar a dinâmica urbana, são inadequadas para atender às
necessidades urbanas essenciais; e que a maior parte do crescimento das grandes
aglomerações urbanas está fora das estruturas
urbanas.
O fenômeno da favelização é um processo
nitidamente urbano e que se faz sentir de forma mais expressiva nas regiões
metropolitanas, e mais recentemente nas cidades
médias.
O que tem permitido uma parte da população pobre
o acesso à habitação é o auto-empreendimento da moradia popular. Grande parte
das habitações para esse segmento da população, caracterizado por baixo padrão
de qualidade e de custo, tem sido produzida por um setor não-estruturado,
geralmente sem assistência direta dos governos, cujas ações têm deixado de lado
parte da população necessitada.
A gestão urbana pode ser aprimorada mediante
atuação e aplicação de instrumentos adequados do setor público, bem como pelo
envolvimento de diferentes atores — tanto formais quanto informais — no processo
do desenvolvimento urbano.
A falta de métodos de análise apropriados para o
conhecimento da cidade, da prática do planejamento urbano e da formulação, de
dimensionamento e aplicação dos seus principais instrumentos, é apontada também
como impedimento a uma gestão urbana
satisfatória.
Faz-se necessário a modificação do papel do poder
público, de provedor direto de serviços e infra-estrutura urbana, para
regulador, facilitador e orientador do processo de desenvolvimento urbano, com
vistas ao estabelecimento de um ambiente financeiro e normativo propício, para
que o setor privado e a comunidade cumpram um papel cada vez mais importante no
atendimento de suas próprias necessidades.
Consideramos como principais desafios a serem
enfrentados na formulação das políticas urbanas a ampliação da oferta de
habitação, a melhoria e provisão da infra-estrutura, bem como o aumento do nível
de investimentos mediante o aumento da capacidade institucional de prestação e
manutenção dos serviços urbanos.
Outro importante desafio é o aperfeiçoamento do
ambiente regulador, institucional e normativo, com vistas à maior eficiência dos
mercados, eliminando-se os obstáculos e ampliando-se o acesso a terra, a
habitação e a infraestrutura urbana.
É de fundamental importância encontrar novas
formas e fontes de financiamento dos investimentos, baseadas na ampliação da
cooperação entre o setor público e o privado. As áreas informais são um
elemento-chave no desenvolvimento econômico e social da cidade.
Para minimizar o agravamento dos problemas do
crescimento e da expansão urbana de acordo com MOTTA, MUELLER &
TORRES:
São necessárias,
portanto, ações orientadas para regimes institucionais e normativos mais
flexíveis. A consideração desse objetivo exigirá também maiores esforços no
sentido do fortalecimento das instituições de planejamento, voltados ao
desenvolvimento urbano.
Quanto ao combate à pobreza urbana, estratégias
puramente assistencialistas devem ser evitadas, ou seja, medidas mitigadoras só
adiam os problemas.
Os componentes e a gestão do planejamento urbano
devem ser reformulados para se tornarem mais dinâmicos, abrangentes, realistas e
participativos.
Um Estudo de Caso: Alto Dom
Bosco
Juiz de Fora é uma cidade que se destaca na Zona
da Mata Mineira devido às suas características econômicas, sociais, políticas e
culturais, o que tem provocado a intensa migração de pessoas das cidades da sua
microrregião.
A migração, a ocupação desordenada, a falta de
planejamento urbano aliada a uma política que visa somente o crescimento, têm
contribuído para que Juiz de Fora vivencie o crescente aumento de assentamentos
subnormais, que de acordo com Plano Diretor (2004), são caracterizados como:
Casas precárias, muitas vezes construídas com materiais aproveitados ou
alvenaria; Locais de moradias dos segmentos populacionais mais carentes, onde os
domicílios só têm padrão autoconstrutivo e sem atendimento de serviços
essenciais de infra-estrutura urbana; Localizam-se em sua maioria, nas
periferias das cidades médias em geral.
Em sua maior parte as “submoradias” (casas
precárias) se localizam em assentamentos irregulares (invasões) que se
caracterizam pela ocupação espontânea em terrenos de propriedade alheia (áreas
públicas ou privadas) dispostos, em geral, de forma desordenada e densa, e
conseqüentemente podendo encontrar-se em áreas de risco (ocupação de encostas
íngremes, beira de córregos etc).
Por serem assentamentos subnormais, também são
áreas carentes de infra-estrutura urbana e serviços públicos essenciais (rede de
esgoto, iluminação pública, calçamento, coleta de lixo, transporte, segurança,
entre outros). Isso reflete o crescimento urbano sem o necessário planejamento.
O homem necessita, no mínimo, de uma moradia decente para que se sinta um
cidadão.
Na sociedade de classe verificam-se diferenças sociais que se refere
ao acesso aos bens e serviços produzidos socialmente. No capitalismo as
diferenças são muito grandes, e maiores ainda em países como, entre outros, os
da América Latina. A habitação é um desses bens cujo acesso é seletivo: parcela
enorme da população não tem acesso, quer dizer, não possui renda para pagar o
aluguel de uma habitação decente e, muito menos, comprar um imóvel. (CORRÊA,
1999:29)
Devido ao processo de fragmentação e do processo
acelerado da exclusão e da segregação sócio-espacial, escolhemos o bairro Dom
Bosco para nosso estudo, mas precisamente uma área do bairro conhecida como
“Alto Dom Bosco”, com um total de 170 famílias e uma população aproximadamente
de 4477 habitantes.
O “Alto Dom Bosco” uma área do bairro, que ocupa um espaço doado
por vários moradores mais antigos; não possui escritura e as residências estão
dispostas de maneira irregular; a ocupação foi espontânea; não está
regularizado; as casas próximas às encostas estão em áreas de risco, devido aos
desabamentos que ocorrem neste local no período de chuvas; de acordo com o Plano
Diretor (2004) não possuiu estruturação urbanística. De relevo bastante
acidentado, grande parte das residências estão fixadas nas encostas muito
íngremes, como abordado constituem em áreas de risco para a população, o sistema
viário é insuficiente, com vias estreitas de declividades
acentuadas.
Hoje esta região está recebendo um grande
investimento de equipamentos urbanos, devido a valorização da área em função do
comércio local e transferência da classe media alta e alta nas áreas
residenciais, como construções de grandes “loteamentos fechados”, construção de
um Shopping Centers, além de um grande hospital, Monte Sinai, um hospital
privado, que está duplicando suas instalações, com o tamanho da obra o hospital
se transformará num complexo hospitalar, hoje ele tem 16 mil m2 de
área construída, quando o projeto terminar terá uma área de 71 mil m2,
praticamente será quadruplicado. Seu estacionamento abrigará 850 carros, estes
dados são oficiais o hospital será de referência mundial, hoje ele já possui a
Faculdade Suprema, que é especializada em medicina.
Na região também se instalou o Campus avançado do Centro
de Ensino Superior que é mais uma das faculdades privada existentes em Juiz de
Fora.
Em relação ao onde morar é preciso lembrar que existe um diferencial
espacial na localização de residências vistas em termos de conforto e qualidade.
Esta diferença reflete em primeiro lugar um diferencial no preço da terra – que
é função da renda esperada – que varia em função da acessibilidade e das
amenidades. (CORRÊA, 1999:63)
Desta
forma, entendemos que nas cidades o processo de segregação e exclusão se
intensifica cada vez mais, fruto de um processo de urbanização espoliativo, onde
grande parte da população (que se encontra desempregada ou possui baixos
salários) fica destituída dos benefícios urbanos, tendo que se dirigir à lugares
com pouca ou nenhuma infra-estrutura para garantirem sua moradia.
Porém
verifica-se que neste bairro o processo está sendo contrário, pois a partir do
momento que esta região recebeu uma grande valorização em função dos grandes
investimentos urbanísticos recebidos, deixou de ser um local sem nenhuma
infra-estrutura urbana e num período bem pequeno passou de ser uma área que
recebia a população de baixa renda, hoje recebe um grande contingente de classe
média alta e alta.
Os moradores já estão sofrendo a expulsão através do crescimento da
região, pois as áreas estão valorizando e suas construções estão fora do padrão
construtivo dos grandes empreendimentos.
O mais interessante é a visão existente que parte da população tem do
bairro Dom Bosco hoje; um bairro pobre onde a população não tem acesso a maioria
destes empreendimentos, é como se o bairro polui-se a paisagem
local.
No local podemos verificar que alguns outdoors já foram instalados de
modo a esconder a visão dos carros que trafegam na Avenida Independência, que é
o acesso principal aos novos empreendimentos imobiliários instalados na região.
Outro fator interessante foi que alguns terrenos próximos à mesma avenida que
antes tinham casas do padrão auto-construtivo foram vendido e pequenos prédios
foram construídos de modo a ocultar a verdadeira paisagem do local, nesses
prédios foram instaladas empresas que abastecem de produtos a classe mais
abastada da região. Também verificamos que algumas casas fizeram reformas como:
pinturas, reboques, entre outros, tentando mudar a fachada para se enquadra
dentro do padrão que está inserindo no local e outras casas estão também com outdoor na sua
fachada.
“O espaço da cidade capitalista é
fortemente dividido em áreas residenciais segregadas, refletindo a complexa
estrutura social em classes” (CORREA, 1989:08). Além das divisões em áreas
pelo espaço, não podemos nos esquecer das fragmentações que existem, sendo que
consideramos fragmentação como espaço constituído por diferentes usos da terra.
De acordo com CORREA (1989:11)
“O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo,
condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas – é um produto social,
resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que
produzem e consomem espaço”.
O alto
Dom Bosco está sendo marcado pelas intensas diferenças sociais. Ao lado dos
loteamentos fechados de alto padrão, destinados à população de classe média alta
e alta, está convivendo populações de menor poder aquisitivo, inclusive as
chamadas pelos órgãos públicos de “famílias de baixa renda” que, às vezes, vivem
em condições de extrema pobreza, até mesmo sem infra-estrutura básica de água,
esgoto, luz ou asfalto.
Diante dessas desigualdades
temos como resultado um cenário de segregação social, e a população de baixa renda desta região está sendo
obrigada a se deslocar para outras áreas, com isso perdendo sua identidade local
e cultural.
Considerações Finais
A maioria das
cidades brasileiras continua a crescer sem nenhuma preocupação quanto ao
planejamento urbano e social. Consideramos que a problemática urbana brasileira
aponta para um futuro formado pelo conjunto de possibilidades e vontades do
capital. No plano social depende de nós
mesmos.
A cidade em si,
como relação social e como materialidade, torna-se criadora de pobreza, tanto
pelo modelo socioeconômico, de que é o suporte, como por sua estrutura física,
que faz dos habitantes das periferias (e dos cortiços) pessoas ainda mais
pobres. A pobreza não é apenas o fato do modelo socioeconômico vigente, mas,
também do modelo espacial. (Santos, 2005,
p.10).
O estudo
sobre o bairro Dom Bosco em Juiz de Fora, só vem confirmar o processo de
fragmentação e as desigualdades sociais existentes, pela qual a cidade perpassa,
assim como os demais problemas da cidade, nos permitindo apontar algumas
deficiências encontradas nas políticas públicas e urbanas existentes.
No caso
da política urbana, isso implica avaliar a gestão e o planejamento urbano nos
seus aspectos institucionais, financeiros, legais e político-administrativos,
especialmente quanto ao uso do solo, à habitação, à infra-estrutura e aos
serviços públicos, com vistas à contenção da deterioração social e física do
meio urbano.
Do ponto
de vista social consideramos que Juiz de Fora é mais uma cidade inserida no
processo do sistema capitalista mundial, e que suas problemáticas sociais estão
cada vez maiores, como verificamos no bairro Dom Bosco, pois dentro de um
pequeno espaço de tempo, uma região da cidade recebeu grandes investimentos, os
quais está obrigando uma parcela da
população residente dessa região a deslocar para outra região da
cidade.
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