A ocupação territorial e a formação da gastronomia na
província de Minas Gerais (1690-1750)
João Batista Villas Boas Simoncini
Lincoln Gonçalves Rodrigues
Resumo
O trabalho resgata a origem econômica e cultural da gastronomia
mineira através da ocupação do território entre o final do séc. XVII e meados do
XVIII. Da descoberta do ouro em 1690 à intervenção da Coroa Portuguesa em 1703,
o que se viu foi uma crescente migração, a abundância de ouro, a escassez de
alimentos e um vertiginoso crescimento populacional na região. Diante dessa
realidade, observa-se a mercantilização intensificada da região e suas
interlândias, e, uma tentativa de controle dessa região pela Coroa com a
construção da Estrada Real e a criação da Intendência das Minas. Dessa forma, o
comércio se transformou no elo entre a região mineradora e os centros dinâmicos,
produtores de gêneros alimentícios, fornecedores de animais de tiro e corte, de
manufaturas e artigos de luxo advindos das regiões portuárias. A gastronomia mineira se constituiu nesse
universo de riqueza e escassez, onde cada migrante adaptou-se às condições
existentes e contribuiu para o seu processo de formação. Todavia, a base da
culinária mineira se estabeleceu a partir dos gêneros cultivados pelos
indígenas, que há muito habitavam a região, a qual somou-se aos hábitos
alimentares dos estrangeiros, principalmente portugueses, e por último aos dos
negros, mão-de-obra escrava utilizada nas minas.
Palavras-chave: Mercantilização; Hibridismo; Gastronomia;
Cultura.
ABSTRACT
This article
seeks to analyze the economical and cultural origin of gastronomy in Minas
Gerais (that literally means general mines) during the occupation of its
territory between the end of XVII and mid of the XVIII centuries. From the
discovery of gold in 1690 to
the intervention of
Portuguese Crown in 1703, the abundancy of gold and other valuable gem stones,
contributed to a large flux of migrants and settlers that brought a vertiginous
population growth in the province,
provoking scarcity of food and higher the prices of all commodities.The people
working in these mines needed a substantial diet in order to work long hours.
According
to this new reality, an intensified mercantilization (commodification) took
place and rapidly spread to its “hinterlands”. So, the Portuguese Crown reinforce its control in the region to
cope with the growing demand. For this, they constructed the “Royal Highway” and
also created the “Intendancy of
Mines”. In this way, commerce
became the most important
conecction between mining zones and some urban markets, the main suppliers
of: food, cattle, manufactures and
even luxury goods. The difficulties
of provisioning mining
districts was tremendous. The adaptation of each migrant to this hard condition was very
important for them to survive and was very helpful in a way to find new alternatives, then, the gastronomy
of Minas Gerais was constituted in a universe of wealth and scarcity.
The essence of
“mineira cuisine” is a convergence of a great number of historical facts and a
variety of culinary cultures must be considered. The portugueses, some amerind
groups, and at last, enslaved black africans put their influence on it.
They
played an important role in the social, economical and cultural formation of the
region, and local gastronomy
turned, in the sense of word a “melting pot” of culinary
traditions.
Key words: Mercantilization,
Hibridism, Gastronomy
and Culture.
1 Ocupação das Minas Gerais: fartura de Ouro e Penúria de
Alimentos
“Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da
Judéia [...] o mesmo João tinha uma veste de peles de camelos e uma cinta de
couro em torno dos seus rins: e eram o seu alimento gafanhotos e mel
silvestres.” (MATEUS, 3, 1- 4).
“Passaram os aventureiros paulistas ao sertão. [...] nas suas
incursões de preadores e escravizadores de índios, como se alimentavam? [...]
cobras, lagartos, formigas e até ‘uns bichos mui alvos que se criaram em
taquaras e paus podres’. [...] serviam se de mel de abelhas.” (FRIEIRO,
1982:540).
A história da gastronomia mineira formou-se a partir de uma
dualidade: o desenvolvimento econômico da capitania e a escassez alimentar. A
Capitania das Minas Gerais surgiu no início do séc. XVIII, tendo na sua formação
uma ocupação vertiginosa de seu interior já no final dos seiscentos. O anúncio
da descoberta de ouro na Capitania de S. Vicente levou para a região uma
ocupação populacional desordenada. A intervenção da Coroa portuguesa na
capitania pôs fim à Guerra dos Emboabas e
dividiu a mesma em outras três: Minas Gerais, Mato Grosso e
Goiás.
A Guerra entre paulistas, os súditos das demais capitanias da
colônia portuguesa na América e os aventureiros de todo o mundo, que vieram para
a região das minas, foi marcada por uma disputa de terras: tanto para a lavra do
ouro, quanto para a cultura de gêneros alimentícios. Esse conflito configurou-se
como conseqüência de uma das maiores crises de abastecimento jamais vista na
América.
O crescimento populacional na Capitania de S. Vicente, a partir de
1695, e seu desmembramento em Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em 1709, e
conseqüente separação da capitania de São Paulo da de Minas Gerais, em 1720,
tiveram como elementos motivadores o sonho do eldorado. Todavia, a exploração
aurífera e o crescimento demográfico da região foram duramente controlados pelos
portugueses; a necessidade da Coroa em controlar fluxo de pessoas e mercadorias
na região está diretamente relacionada à forma de administração colonial, tendo
esta na exploração dos tributos uma forma de enriquecimento do
Estado.
O descobrimento de ouro povoava o imaginário e incentivava a
incursão de aventureiros e oportunistas, que contribuíram com o processo de
interiorização e mercantilização do território, demandando, assim, uma
infra-estrutura mínima e suprimentos que visassem a atender a pressão desse novo
e inesperado deslocamento populacional.
Segundo Frieiro (1982:54), pouco depois de 1690 descobrem-se no
Riacho Tripuí os primeiros granitos de aço, logo reconhecido como finíssimo
ouro. Outros placers auríferos surgem em diferentes partes do território
denominado das Minas Gerais. O ouro borbota à flor dos ribeiros. Propaga-se
rapidamente a notícia por todos os recantos do Brasil e de Portugal. Começa o
grande rush. Acorrem aventureiros de toda condição, homens e mulheres, moços e
velhos, brancos, pardos, pretos, nobres e plebeus, seculares, clérigos e
religiosos de diferentes institutos, espicaçados todos pelo afã de enriquecer
depressa, sem cuidar das asperezas do caminho e da dureza dos trabalhos e
perigos que tinham de enfrentar. Largam tudo, vendem seus bens (se os possuem),
abandonam mulher e filhos, interrompem seus noivados. Se a partida é um drama, o
transcurso da viagem será outro, penosíssimo, talvez mortal. Em pouco, mais de
trinta mil almas se afadigam, umas em catar nos córregos e outras em negociar,
vendendo ou comprando o que era necessário para o mantimento da afluente
população.
Como enfatiza Fausto (2006:98), a exploração de metais preciosos
teve importantes efeitos na Metrópole e na Colônia. Na Metrópole, a corrida do
ouro provocou a primeira grande corrente imigratória para o Brasil. Durante os
primeiros sessenta anos do século XVIII, chegaram de Portugal e das ilhas do
Atlântico cerca de 600 mil pessoas, em média anual de 8 a 10 mil, gente da mais
variada condição, desde pequenos proprietários, padres, comerciantes, até
prostitutas e aventureiros.
Em decorrência da extração de ouro, a Coroa teve de intervir, fez
um grande esforço para arrecadar os tributos. Realizou várias medidas para
organizar a vida social nas minas e em outras partes da Colônia, seja em
proveito próprio, seja no sentido de evitar que a corrida do ouro resultasse
em caos. Na
tentativa de reduzir o contrabando e aumentar suas receitas, a Coroa estabeleceu
formas de arrecadação dos tributos que variaram no decorrer dos anos. Houve dois
sistemas básicos: o do quinto e o
da capitação.
A economia mineradora serviu como ponto de articulação entre as
diversas áreas da Colônia, possibilitando, assim, a dinamização de um comércio
até então estagnado e incipiente. No entanto, mais difícil do que descobrir ouro
era o problema de alimentar os mineiros. Pouco se plantava. O produto das roças
era escasso e caro.
A escassez de alimentos era tanta, que o Padre Anchieta (apud
FRIEIRO, 1982:55), cita que o “bicho da taquara” era um hábito alimentar do
gentio, que muito apreciava esse gusano. Em suas Cartas, publicadas pela
Academia Brasileira de Letras, o padre destaca que nascem entre as taquaras
certos bichos roliços e compridos, todos brancos, da grossura de um dedo, aos
quais os índios chamam raú, e costumam comer assados e torrados. Há-os em tão
grande porção, indistintamente amontoados, que fazem com eles um guisado que em
nada difere da carne de porco estufada.
Os que mais sofriam com a escassez de alimentos eram os escravos.
Esses, vivendo em condições desumanas, andavam seminus, eram os que mais sofriam
com a pobreza da alimentação. Na pinga e
no tabaco buscavam compensar de algum modo as insatisfações do estômago e
mitigar as agruras do rude trabalho das lavras, onde permaneciam de sol a sol,
com o corpo metido até a cintura nos ribeiros, manejando a bateia.
A degradação humana era intensa, indivíduos tão alucinados pelo
ouro percorriam a distância de 30 e 40 dias de jornada, partiam sem nenhum
provimento. Pelo caminho, muitos acabaram morrendo de irremediável inanição. E
houve quem matasse ao companheiro por lhe tomar uma pipoca de milho que do seu
borralho saltara para o do outro, dos poucos grãos que cada qual tinha para
alimentar a vida naquele dia. Em
vasta escala naquelas terras comprovava-se o provérbio de que fome não tem lei.
Os primeiros a chegar à região não perdiam tempo com a agricultura
de subsistência. Como agravante, a falta de caminho prejudicava o abastecimento.
A Coroa não permitia a abertura de outros e os existentes não passavam de
trilhas marcadas pelo pisoteio dos pedestres. Passado algum tempo, o dorso do
escravo foi substituído pelo lombo do burro. Além da precariedade das trilhas,
criminosos e negros fugidos assaltavam tropas com carregamentos de gêneros e
outras mercadorias, prejudicando a atividade de negociantes e tropeiros. Em
decorrência deste cenário, chegou-se a tal escassez de mantimentos, que houve
uma grande fome em 1698, outra em 1700 e ainda uma terceira 1713, a da colônia de
Pitangui. Muita gente se retirou a caçar nos matos ou voltou aos seus povoados
de origem. Nos anos seguintes, já com as roças produzindo, voltaram os mineiros
a lavrar.
Quanto ao abastecimento da região, Frieiro (1982:56) explica que o
Conde de Assumar, governador da Capitania das Minas de 1717 a 1721, havia
incrementado a importação de gado, procedente de São Paulo, Curitiba e
notadamente dos sertões da Bahia e Pernambuco. O Conde calculava em
18 a 20
mil cabeças de bovinos o consumo anual dos moradores, que seriam então uns
30.000. Para regularizar a importação, estabeleceu o Governador contratos de
fornecimento de carne e aconteceu que o estanco oriundo dessa medida provocou
sérios descontentamentos que teriam concorrido para o desfecho da luta entre
paulistas e emboabas. Por outro lado, o estanco da aguardente, produto
considerado então quase tão necessário quanto os gêneros alimentícios, chegou a
provocar um começo de revolta na Vila de Pitangui, em
1720.
O faisqueiro na sua lavra comia do pouco que se plantava nas
roças. Milho, feijão, farinha de pau e alguma fruta da terra eram o de que
dispunham para seu sustento os paulistas. O escravo negro, o mais prejudicado,
armava o tripé de varas, fincando no chão, e pendurava nele o caldeirão de ferro
em que se cozinhava o feijão com toucinho, servido em pratos de estanho.
Estendia-se a farinha ao sol numa toalha e ao lado não faltava o ancorote de
água ou aguardente.
Vale lembrar que a escassez de alimentos perdurou todo o período
colonial, não só no território mineiro como também na região dos engenhos. Ainda
em fins de setecentos, a situação da crise de artigos de subsistência
revelava-se em documentos oficiais. Os governadores empenhavam-se em que os
lavradores plantassem não só a mandioca, mas o feijão e milho, para abastecer os
povos. É neste cenário de intenso deslocamento populacional que ocorre o
processo de hibridização,
processo que,
[...] refere-se ao modo pelo qual modos culturais ou partes desses
modos se separam de seus contextos de origem e se recombinam com outros modos ou
partes de modos de outra origem, configurando, no processo, novas práticas. Uma
conseqüência da hibridização é a desterritorialização, fenômeno pelo qual modos
culturais desvinculam-se de seus espaços e tempos originais e são transplantados
para outros espaços e tempos nos quais mantêm aproximadamente os mesmos traços
iniciais. O fenômeno da hibridização é por vezes designado como de sincretismo
ou mestiçagem. (COELHO, 2004:125).
2 o processo de
hibridização da cultura alimentar
“O primeiro depoimento sobre alimentação indígena é a carta de
Pero Vaz de Caminha: ‘Deram-lhes ali de comer; pão e peixe cozido, confeito,
farteis, mel e figos passados.’ Não quiseram comer quase nada daquilo.”
(CASCUDO, 2004:73).
Entende-se a recusa relatada por Caminha devido ao fato de a base
alimentar dos nativos ser, indiscutivelmente, a raiz da mandioca. A
mandioca era o principal alimento das populações indígenas. Em segundo o milho,
a grande dádiva alimentar; observa-se que o milho é o único cereal existente no
continente, base alimentar das culturas indígenas nas três Américas. Muitas das
comidas indígenas tinham o milho como ingrediente básico: pipocas, curais,
pamonhas, farinhas, fubás, cuscuz, biscoitos, bolos, cerveja de milho verde,
aguardente, canjica. Segundo Frieiro (1982:57-58) os ricos comem canjica por
prazer e os pobres por carência econômica e privações de gêneros. O fubá servia
principalmente para fazer o angu dos negros, cozido em grandes quantidades em
tachos de água quente.
Após a Guerra dos Emboabas e a divisão da Capitania de São
Vicente, os aventureiros que se deslocaram da Capitania das Minas Gerais para
outras regiões acabaram por encontrar ouro em Goiás e Mato Grosso. As novas
lavras renovaram o desejo de enriquecimento, que por sua vez provocou um novo
deslocamento populacional para essas regiões. O crescimento do número de lavras
nas três capitanias demandou a criação de uma rede mais complexa de
abastecimento. As dificuldades de sua instalação e a constante escassez levaram
os mineradores a substituírem os produtos importados por alimentos existentes
nas localidades, gerando, assim, o início do processo de hibridização. A
diferença de preço de um produto comercializado no litoral para o mesmo produto
vendido no interior fora outro fator motivador da hibridização. Dessa forma, a
escassez e a alta dos preços contribuíram para a constituição de uma cultura
alimentar em Minas
Gerais e demais regiões
mineradoras.
O abastecimento em Minas se tornara sistemático com o passar do
tempo, todavia, pequenas crises continuaram existindo. Com o passar do tempo, o
cultivo de gêneros próximos aos centros mineradores e o comércio tropeiro
afastavam o perigo da fome, porém, tudo se vendia por preços altíssimos. Num
estudo comparativo entre as capitanias de São Paulo e Minas Gerais no inicio do
séc. XVIII, Frieiro (1982:58) aponta que um alqueire de farinha custava
em São Paulo
640 réis, em Minas 43.000; uma libra de açúcar, 120 réis, diferente dos 1.200
cobrados nas Minas; uma galinha, 160 réis, em Minas 4.000; um boi de corte,
2.000 réis, frente aos 120.000 cobrado em Minas; um escravo negro, que variava
entre 85.000 e 100.000 réis, nas Minas era negociado de três a seis vezes mais
que nas praças de escravos.
A expressiva demanda por alimentos tão necessários nas Minas fez
dessa região um mercado consumidor atípico, ocasionando uma alta nos preços das
mercadorias (gêneros, tecidos, ferragens, ferramentas...), conseqüentemente, um
mercado tão vantajoso para os comerciantes deixou desfornecidas outras regiões,
como o Nordeste. Dessa forma, os mineiros se tornaram reféns dos mercadores e
comerciantes locais que revendiam esses produtos. Apesar de não estarem
diretamente envolvidos com a lavra, mercadores e comerciantes tiveram
rendimentos maiores que os mineiros devido ao lucro exorbitante que impunham a
esses. Assim, em Minas, as cidades auríferas conviveram com o luxo e a
ostentação, mas de forma efêmera a cidade viu a riqueza se esvair. O lucro dos
mercadores, oriundo da elevação desproporcional dos preços nas Minas, era
depositado nas casas comissárias no Rio de Janeiro e outras cidades como São
Paulo, Sorocaba e daí para a Europa.
A carência alimentar dos envolvidos na fase inicial da mineração
foi um dos fatores que contribuíram para vinda de gêneros alimentícios de outras
regiões do Brasil e do mundo. No cenário de opulência de ouro em Minas,
verifica-se uma demanda por alimentos. Todavia, os preços altos somados à
escassez levaram os mineiros a terem uma alimentação pautada em gêneros locais
advindos da cultura indígena e produtos importados da Europa, África e
Ásia.
Há de se destacar que a formação da gastronomia mineira nos séc.
XVII e XVIII advém do encontro das várias culturas dos diversos estrangeiros que
migraram para a região, sendo somadas à cultura dos nativos. Percebe-se essa
constituição nos relatos de viagens de Auguste de Saint-Hilaire, nobre francês
que visita o Brasil em 1816 em nome do Duque de
Luxemburgo.
Próximo a Vila Rica, na vila de Itajuru, Saint-Hilaire
(1975:95-96), ao hospedar-se na propriedade do Sr. Capitão Antonio Gomes de
Abreu, relata o costume e o hábito alimentar dos brasileiros: fazer três
refeições ao dia. O autor descreve os vários alimentos encontrados à mesa de
ricos e pobres: os legumes e as carnes eram sempre somados à presença de pão,
farinha e hortaliças. Como prática diária, a refeição do meio dia era a mais
importante. Saint-Hilaire (1975:96) afirma que o
feijão era produto indispensável nas mesas de pobres e ricos, sendo que para os
primeiros essa leguminosa era a base e, na maioria das vezes, o único alimento
existente.
Na mesa das famílias mais abastadas, ao feijão se adicionava
arroz, couve e várias ervas picadas, podendo ainda esse prato ser composto de
carne de porco ou galinha. Segundo o autor, um prato muito apreciado pelos ricos
era comer-se galinha cozida com o fruto do quiabo e angu, uma espécie de polenta
sem sabor. Outro prato era a carne assada, comida juntamente com um punhado de
farinha. Nas casas dos pobres, como os vaqueiros e muladeiros, o feijão e a
farinha de milho, salpicados por um pouco de salsa eram misturados formando
assim uma pasta homogênea, geralmente comida com as
mãos.
Os relatos de viagem feitos por Auguste de Saint-Hilaire permitem
encontrar nas sociedades Mineira e Fluminense no séc. XIX os traços culturais
dos nativos, anteriores ao processo de assimilação cultural em Minas Gerais,
acontecido na descoberta do ouro em final dos seiscentos. Os estudos de
Saint-Hilaire (1975:96-97) apontam uma variedade de alimentos existentes na
região: feijão, arroz, milho, mandioca, couve, serralha, salsa, quiabo, criação
de porcos e galinhas, e uma infinidade de doces em caldas e cristalizados,
feitos a partir das frutas existentes na região.
Alguns dos alimentos mencionados por Saint-Hilaire formam a base
da alimentação indígena e outros a base da alimentação portuguesa e dos escravos
negros.
Cascudo (2004:155) destaca que herdamos do indígena a base da
nutrição popular, os complexos alimentares da mandioca, do milho, da batata e do
feijão, decisivos na predileção cotidiana brasileira. Acompanhantes
indispensáveis ou constituindo, sozinhos, a refeição humilde.
Castro (2004:113) também elucida a influência alimentar indígena
na constituição da dieta e da cozinha do
brasileiro.
Aos indígenas devemos as caças de pena e de patas, pacas, cotias,
veados, tatus, porcos-do-mato, capivaras, o lombo da anta e aves aquáticas de
carne macia. Peixes, crustáceos e moluscos que o português aprendeu a saborear.
Deixou-nos ainda a mandioca, aipim, batata, abóbora, palmito, milho, feijão,
fava, amendoim, cará, pimenta, óleos vegetais, e frutas como: caju, abacaxi,
goiaba, cajá, maracujá, imbu, mamão e um quase alimento, o fumo. As laranjas,
limas e limões só foram conhecidos mais tarde, quando trazidos pelos
portugueses.
As favas e os feijões, apesar de cultivados, não eram empregados
com freqüência na alimentação indígena. Eles gostavam muito de amendoim, que
comiam cru, assado ou cozido. Não tinham o hábito de plantar frutas, apenas
colhiam o que o meio lhes oferecia fartamente.
Os peixes eram um dos alimentos preferidos dos indígenas, sendo
assados ou tostados, muito mais do que cozidos. A pescaria era uma prática
cotidiana entre os indígenas, como verificado e registrado pelo conquistador
espanhol Álvar Núñes Cabeza de Vaca na primeira metade do século XVI na planície
inundável conhecida atualmente como pantanal.
“Quando as águas estão baixas, os nativos daquelas terras vêm
viver junto à ribeira, trazendo suas mulheres e filhos para gozar os prazeres da
pescaria. Durante esse período levam uma vida muito alegre, cantando e dançando,
porque a comida é abundante e o lugar muito agradável.” (CABEZA DE VACA,
1999:238).
Para assar, secar ou mesmo conservar as carnes e os peixes, os
indígenas utilizavam o moquém.
Estes alimentos eram quase sempre assados, tostados, e em menor escala cozidos
ou passados pela fervura.
A contribuição do trabalho culinário indígena descrito por
Catharino (1995:353) é a técnica de moquear, operação compreendendo assar, ou
fumegar, fumaçar ou defumar, para prolongar a comestibilidade, dependendo do
estado do fogo e da distância em que ficava o
alimento.
O ato da caça não era uma atividade especificamente indígena, os
negros escravos utilizados no plantio da cana-de-açúcar no Nordeste e na
mineração em Minas também dominavam tal arte. Utilizavam estas caças para
compensar a precária base alimentar de que dispunham. Cascudo (2004:200) destaca
que, na primeira fase do ajustamento, o escravo no Brasil não consumia os carás,
as pacovas e mesmo o milho. Preferia naturalmente inhames a carás, e bananas a
pacovas, alimentos que deixara de provar desde a sujeição. Essas bananas e
inhames iam aparecendo nos plantios baianos e certamente onde o africano
chegava, não especificamente trazidos por ele, mas semeados pelos senhores e
mercadores que dominavam o tráfico de escravos. Cabe destacar que a base
alimentar do escravo negro utilizado nos engenhos de cana-de-açúcar, nas
fazendas de gado, na mineração e nos cafezais era idêntica, e apenas a
incidência de alguma carne ou pescado para dar gosto distinguia os
regimes.
Outra influência muito favorável de acordo com Castro (2004:114),
sendo a mais expressiva e valorizadora dos hábitos alimentares da “região
nordeste”, foi sem dúvida, a do negro. A do escravo negro importado da África,
em cuja área natural tinha obtido, pelo cultivo de variadas plantas, um regime
alimentar dos mais saudáveis.
Alguns dos alimentos utilizados pelos escravos no Brasil tinham
sido trazidos da África, principalmente durante o tráfico negreiro. Dentre as
diversas plantas alimentares que nesse período vieram do Congo Africano, as mais
comuns foram o quiabo, inhame, erva-doce, gengibre, açafrão, gergelim, amendoim
africano, melancia, banana e coco (este último de origem asiática, estivera
presente nas várias colônias portuguesas). A banana teve rápida expansão e
popularidade, foi uma das maiores contribuições dos africanos à alimentação
brasileira. Não havia povoado ou oca indígena que não tivesse uma bananeira na
sua proximidade. Seu fruto era o mais apreciado pelos negros, sendo indicado
para qualquer faixa etária, inclusive para os enfermos.
Segundo Cascudo (2004:201) na África o hábito da Manihot
utilissima
não resultaria de
imposição, mas da verificação de sua utilidade: menos trabalho que o sorgo e
mais produção que o inhame.
A alimentação do negro no Brasil-Colônia, e posteriormente no
Império, resumia-se, de uma forma geral, em angu de milho, feijão preto,
toucinho, carne-seca, pimenta, laranjas, bananas, farinha de mandioca e
diariamente dois tragos de aguardente de cana-de-açúcar. Quando enfermos iam
recuperar as forças e recobrar a saúde nas sombras e nos frutos do cajueiro,
ricos em ácido ascórbico, suprindo, assim, sua deficiência alimentar. A comida
do escravo negro era a mesma das classes mais humildes e pobres. Comia-se mais
carne seca que carne fresca, alimentos mais cozidos que assados, ao inverso dos
indígenas.
Não havia variedade de temperos ou mesmo condimentos na comida
africana. A pimenta era a mais significativa para os negros, também a favorita
dos indígenas, e extremamente apreciada pelos portugueses. Tais preferências
acabaram influenciando o gosto dos brasileiros que, depois dos mexicanos, são o
povo da América com maior predileção por esse condimento.
A palmeira do dendê veio da África para o Brasil, trazida pelos
portugueses e foi introduzida na região norte (atualmente nordeste brasileiro).
O dendê passou desde então a compor a alimentação de negros e senhores. Seu uso
e consumo está no preparo dos alimentos. Dessa forma, não havia comida de
escravo que não tivesse o azeite-de-dendê dando cor, gosto e aroma especial. O
seu uso também acabou chegando à cozinha dos brancos, levado pelas mãos das
escravas negras que trabalhavam em suas cozinhas. O azeite-de-dendê difundiu-se
pelo país; onde quer que o negro fosse, havia este produto. Todavia no Sudeste,
principalmente em Minas
Gerais e no Rio de Janeiro, o azeite-de-dendê não fora
difundido, pois, devido ao processo de colonização acelerada da região com a
mineração, os mineiros utilizavam a banha de porco.
Em contrapartida, a mulher portuguesa ia familiarizando os
escravos com o azeite doce trazido de Portugal, que aos poucos foi se tornando
um produto popular e impondo-se na culinária
brasileira.
Instalando-se para ficar definitivamente no Brasil, o português
recriou o ambiente familiar, cercando-se dos recursos de curral, quintal e
horta. Segundo Cascudo (2004:237-238) os portugueses trouxeram vacas, bois,
touros, ovelhas, cabras, carneiros, porcos, galinhas, galos, pombos, patos,
gansos e, ainda, as festas tradicionais, com seus cantos, danças, acepipes,
intransferíveis. Entrudo (carnaval). Quaresma. São João. Natal. As quatro festas
do ano. Deve-se lembrar que para cada um desses eventos há uma alimentação
específica, degustável nas festas.
Quanto aos alimentos trazidos pelos portugueses para o Brasil vale
mencionar os principais: cana-de-açúcar, trigo, figo, romã, laranja, lima,
limão, cidra, azamboa, tâmaras, arroz, melão, melancia, gengibre, pepino,
mostarda, nabos, rábano, couve, alface, coentro, endros, funcho, salsa, cominho,
hortelã, cebolinha, alho, berinjela, tanchagem, poejo, agrião, manjericão,
alfavaca, beldros, bredos, chicória, mastruço, cenoura, acelga,
espinafre.
A mulher portuguesa começou utilizando um elemento que sempre o
negro ignorou e o indígena desatendeu: o ovo da galinha. Tirou proveito do
milho, fazendo deste maravilhas como bolos, canjicas e pudins. A valorização do
milho foi tanta que, um século depois de iniciada a colonização do Brasil, o
milho já ocupava lugar de destaque dentre os mantimentos da cozinha
brasileira.
Os variados tipos de doces feitos pela mulher portuguesa no Brasil
incluíam sobremesas preparadas a partir de antigas receitas e ingredientes
trazidos da terra natal. Eram bolos, pães-de-ló, folheados, sonhos,
baba-de-moça, doce d’ovos, fios de ovos, gemadas, mães-bentas, cremes e
manjares, enfeitados e perfumados com cravo-da-índia, hortelã, erva-doce,
alecrim e canela.
A disponibilidade e a utilização dos alimentos mencionados na
tríade: índios, portugueses e negros, perfazem a base da gastronomia e
configuram os hábitos alimentares brasileiros, tendo os portugueses maior
destaque, pois foram os agentes distribuidores de espécies alimentares. De suas
mais distantes possessões orientais e africanas traziam sementes, raízes, mudas,
bolbos, difundindo-os na terra brasileira.
Considerações finais
O presente artigo corresponde a um ensaio sobre a formação da
gastronomia na província de Minas Gerais no final do século XVII e meados do
século XVIII, através da ocupação e do processo de mercantilização do
território.
A descoberta do ouro em 1695 por Domingos Arzão atraiu os
paulistas e um grande número de forasteiros. Esse montante populacional entrou
em guerra pela posse das terras e pelos escassos alimentos existentes na região.
A Coroa portuguesa interveio no conflito: apaziguou os ânimos desmembrando a
capitania de S. Vicente em outras três – Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
Mesmo com o desmembramento do território, a composição populacional de Minas
tinha sido alterada para sempre. A província se transformou no lar de inúmeros
forasteiros. Assim, tem-se uma região polarizada não só por uma infinidade de
pessoas, mas de culturas.
Os habitantes de várias regiões da Colônia portuguesa na América e
também da Europa marcaram o território com seus traços culturais. Os hábitos
alimentares desses imigrantes logo foram suprimidos. Num momento inicial, seus
hábitos alimentares foram mantidos devido às provisões trazidas de sua terra
natal. Todavia, a distância, juntamente com os preços altos, impediu a
manutenção desses hábitos. A solução encontrada para suprir a ausência de
alimentos à mesa foi abastecer sua ‘cozinha’ das ofertas existentes na
região. Neste contexto, os europeus
e colonos de outras províncias brasileiras buscaram na alimentação dos nativos
produtos que evitassem a fome. Essa necessidade repetida várias vezes criou um
novo hábito alimentar, uma hibridização promovida pela necessidade de
sobrevivência.
Os circuitos mercantis que integraram a região das Minas serviram
para escoar o ouro, transitar pessoas e animais de tropa, mas principalmente
para abastecer de gêneros a nova capitania. O crescimento das vilas em
decorrência da riqueza retirada das lavras permitiu a formação de várias cidades
e de um comércio onde se encontrava de um tudo, diferenciando-se em quase nada
das ofertas existentes na Europa; todavia, o elemento inibidor do consumo dos
artigos de luxo era o custo exorbitante. Muitos dos alimentos existentes no
Velho Mundo não podiam ser degustados devido ao preço. Os moradores mais
afortunados das vilas e das casas-grandes tinham no uso desses produtos uma
forma de diferenciação social. Assim, a culinária mineira nasce das adversidades
existentes na ocupação e abastecimento do território, e da capacidade dos
residentes em se adaptarem à cultura alimentar existente. Em muitos casos, o que
diferencia o consumo de um mesmo gênero por nativos e colonos é a forma de
preparo, de servir os alimentos e os condimentos
usados.
Um estudo de caso permite entender melhor a mudança nos hábitos
alimentares de nativos e europeus. A cozinha portuguesa tinha como uma de suas
características no séc. XV o cozimento dos alimentos, e com o processo de
hibridização vivido por portugueses e indígenas americanos no início do séc.
XVI, esses últimos passaram a cozinhar os alimentos em panelas de barro, pedra
ou ferro. A introdução do cozido na vida do indígena deve ser entendida como um
dos fatores que contribuíram para o processo de sedentarização. O sal foi outro
produto incorporado na alimentação indígena. Os portugueses, por sua vez,
passaram a ter no feijão e na mandioca produto indispensável em sua mesa, o
assado foi incorporado enquanto técnica de preparo das carnes. Assim, os hábitos
alimentares foram mudando, transformando-se, mas diante da escassez os colonos
pobres aprenderam que a cultura do milho era tão vantajosa quanto a da mandioca;
os derivados do milho permitiam uma variedade de produtos à mesa, mas nada mais
prático que o fubá que, cozido em água, transformava- se em uma pasta nutritiva,
saborosa e fácil de ser consumida. Chamado de angu, o fubá preparado em água é
um ótimo exemplo de hibridização diante da falta de gêneros, pois, sendo o único
cereal das Américas, herdou o cozimento dos europeus, mas, devido à pobreza de
recursos da maioria da população mineradora que o consumia, este era preparado
sem sal ou qualquer outro condimento.
Alguns hábitos e costumes alimentares persistiram, determinando a
formação da gastronomia mineira. A dificuldade de mercantilização do território
foi marcada por questões topográficas, pela interferência mercantilista do
Estado na vida econômica da colônia, e por uma deficiência alimentar, essa
última marcada por uma transformação socioeconômica da região, a qual não
dispunha de gêneros suficientes para receber durante meses seguidos um grande
número de pessoas. Uma ocupação territorial desordenada motivada pelo sonho do
Eldorado transformou a região das Minas Gerais num verdadeiro caldeirão
multicultural, onde nativos, europeus e negros formaram uma nova sociedade: a
sociedade mineradora.
Essa cultura
permanece viva principalmente na culinária, através de suas receitas típicas, as
quais podem ser encontradas nos mais recentes livros de gastronomia tais como:
Fogão de lenha: quitandas e quitutes de Minas Gerais; Multissabores: a formação
da gastronomia brasileira, e Sabores e Cores das Minas Gerais, trabalhos que
trazem não só a história de cada receita e seus ingredientes, mas parte dessa
cultura.
A alimentação dos mineiros teve como base inicial a alimentação
dos indígenas, os portugueses e demais estrangeiros, incluindo-se aqui os
escravos, os quais vieram para as Gerais e passaram a comer raízes, frutos e
folhas verdes existentes na região, além de animais de pequeno porte, aves e
peixes.
Mesmo sendo um estudo preliminar pode-se concluir que a
gastronomia mineira se tornou atípica em relação às demais ‘cozinhas’ se
comparada a outras regiões do Brasil. Uma cozinha que tem na sua composição
pratos simples e complexos, sendo os primeiros resultado das várias adversidades
econômicas e sociais de uma classe que correspondia à base da pirâmide social
brasileira na colônia, os índios e negros. Num outro extremo, tem-se os
estrangeiros, os europeus, e seus pratos bem elaborados, feitos sob a influência
direta dos hábitos alimentares do velho mundo, os quais enquanto classe mais
abastada na colônia procuravam reproduzir seus costumes nos trópicos, buscando,
assim, um mínimo de conforto vivenciado na Europa. Diante dessa diversidade
gastronômica, os mineiros constroem a sua cordialidade e hospitalidade
historicamente: a precariedade vivida pelos primeiros forasteiros na ocupação do
território e formação das vilas levou-os a, ao se estabelecerem, receber bem
aqueles que vinham para a região. Dessa forma o ato de bem servir a mesa, de ser
cordial e hospitaleiro fazem parte de sua cultura.
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Licenciado, Bacharel em Geografia e Pós-Graduado em
Geografia e Gestão do Território pela Universidade Federal de Juiz de Fora,
Minas Gerais, Brasil. Professor do Curso Técnico em Química – Centro de Educação
e Tecnológica e Profissional de Juiz de Fora – CETEPRO Ltda., e Professor
Efetivo do Estado de Minas Gerais, Brasil.
E-mail: vbsbrasil@hotmail.com
Segundo Catharino
(1995:330-336) a nomenclatura científica da Mandioca
é Jatropha manihot (TS – mandioca e mandyba), - Manihot utilissima Pohl (AIM,
RG). – Manihot esculenta (BGR). – Manihot aipi, Linn. (RG). Na nomenclatura tupi
e vulgar: a mandioca brava, amarga, venenosa, peçonhenta, e a doce, suave, mansa
– o aipim. O autor destaca que não há exagero em afirmar-se que a mandioca – o
principal mantimento dos índios – resultava de agricultura itinerante, mas
continuada, formando uma corrente contínua, com elos sucessivos, em nexo
recíproco de causalidade: plantação – colheita – plantação –
colheita.