A GEOGRAFIA FÍSICA E TURISMO NA CHAPADA DIAMANTINA
Dante Severo Giudice¹
Prof. Assistente
IFCH/UCSAL
INTRODUÇÃO
A Chapada Diamantina localiza-se na parte central do estado da
Bahia, abrange 33 municípios. Apresenta características singulares no que se
refere a aspectos naturais. Trata-se, sem exagero, de um santuário ecológico dos
mais surpreendentes, de beleza selvagem dificilmente encontrável em qualquer
outra região brasileira. As maiores elevações da Bahia aí se encontram, e do
alto da Serra do Sincorá, a paisagem é deslumbrante, e guarda surpresas que
levará o visitante a descobrir rios de pedras coloridas, cascatas, cachoeiras e
escorregadeiras naturais, que a ação do tempo produziu, e se transformaram nos
grandes atrativos turísticos da região.
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE TURISMO
O turismo é uma das vertentes mais expressivas das sociedades
ditas pós-industriais. O desenvolvimento do turismo está ligado as políticas
públicas, seja de forma espontânea ou através de planejamento, o setor privado,
ou a uma ação conjunta sos dois. É considerado hoje uma indústria não poluidora
(será mesmo?), mas na verdade representa na atualidade uma das mais
significativas formas de reprodução de capital e de captação de recursos no
comércio internacional, muito embora carregue o estigma de que se presta muito a
lavagem de dinheiro ilícito. Apesar disso o turismo vem crescendo e se tornando
um fenômeno internacional, onde se procura aventura, o autêntico e o inusitado
de cada lugar, mas paradoxalmente se quer o conforto e a segurança de casa, bem
como o ‘status’ que a viagem oferece ao indivíduo. Na procura de sua de sua
própria epistemologia, o turismo é, segundo Rodrigues
(1996):
“um fenômeno que por sua natureza complexa, reconhecida por todos
os seus estudiosos, é um importante tema que deve ser tratado no âmbito de um
quadro interativo de disciplinas de domínio conexo, em que o enfoque geográfico
é de fundamental importância, uma vez que, por tradição, lida com a dualidade
sociedade x natureza. Se esta característica basilar da Geografia foi sempre
tida como um elemento complicador, visto como responsável pela sua dificuldade
de firmar-se como ciência no período moderno, cremos que no momento atual, à luz
de novos paradigmas e com a emergência da questão ambiental, a situação está
revertendo-se. Nunca o discurso geográfico foi tão valorizado, a ponto de ser
apropriado por outras disciplinas. Este discurso tem sido, entretanto,
superficial, permeado pela retórica, necessitando de aprofundamento para assumir
a qualidade de texto”.
Na geografia do turismo atualmente vem se desenvolvendo o aspecto
ambiental, plenamente incluído na Geografia Física, denominado turismo
ecológico. Conforme Rodrigues (op. cit.):
“Estes referenciais teóricos da contemporaneidade correspondem ao
paradigma emergente das ciências sociais, procurando-se romper com a dicotomia
sujeito-objeto na pesquisa científica. Este enfoque é fundamental nos estudos do
chamado turismo ecológico, em particular levando-se em consideração os
paradigmas de ecologia profunda, que exigem o abandono da perspectiva
antropocêntrica para um enfoque biocêntrico, em que o homem é considerado uma
das espécies da natureza. Preservar a natureza, então, significa preservar o
próprio homem”.
Entretanto esta modalidade de turismo, tida como ‘alternativa’ e
que teoricamente é capaz de conciliar a conservação do patrimônio natural e
cultural com o uso, dito, racional, pode sob este rótulo de turismo ecológico,
legitimar velhas práticas do turismo tradicional predatório, já que muitas vezes
o turismo não está educado para tal, e as limitações existentes, não lhes são
impostas, para não afugentá-las.
Segundo Becker (1994), a política nacional de turismo no Brasil é
inconsistente, desarticulada e ambígua quanto aos seus propósitos, contempla
hoje no país o ecoturismo como um dos principais programas de
turismo.
Por seu lado – As Diretrizes para uma Política Nacional de Turismo
da Embratur (1994), diz que:
“A indústria do turismo e viagens, líder mundial em movimentação
de recursos e geração de empregos, que depende umbilicalmente de uma gestão
sustentada dos patrimônios natural e cultural, cruza seu caminho com o Brasil, o
maior país tropical do mundo, proprietário e gestor do maior banco de
biodiversidade do planeta. Desta relação surge o ecoturismo como um dos mais
inteligentes instrumentos de viabilização econômica para o gerenciamento correto
dos recursos naturais, oferecendo aos brasileiros uma alternativa digna de
conquistar seu sustento e uma vida melhor, ao mesmo tempo que assegura às
gerações futuras, o acesso aos legados da
natureza”.
Atualmente, após a exploração do mundo como um todo, são os
grandes geossistemas com a sua geodiversidade, e até então preservados, do mundo
tropical, em particular dos continentes africano e latino-americano, os
denominados espaços de reserva de valor, que são agora chamados a entrar em
cena.
Para Rodrigues (op. cit.), o turismo,
“nessas regiões expressa-se como verdadeiro processo
civilizatório, podendo ser comparado às conquistas expansionistas das metrópoles
nos territórios coloniais, na fase do capitalismo concorrencial, seja na
exploração dos minérios, seja na
monocultura de produtos tropicais de exportação”.
Desta forma, os países de economia periférica, em particular do
mundo tropical, com grandes e diversificados recursos turísticos naturais e
culturais, têm sido objeto da intervenção por meio de megaprojetos de empresas
de capitais transnacionais que dominam hegemonicamente o mercado mundial. Estes
projetos têm efetivamente captado divisas, porém a um alto custo para as
populações locais e para o meio natural.
Assim sendo, mesmo nos locais mais inacessíveis, o turismo se
instala com voracidade e alta tecnologia, causando total revolução no lugar, que
passa a assumir nexos sofisticadamente urbanos, como na Chapada Diamantina, a
450 km
de Salvador.
OS ATRATIVOS TURISTICOS E A GEOGRAFIA
FÍSICA
A região da Chapada Diamantina há muito tempo vem despertando
atenção pelos seus atrativos
naturais, decorrentes das ações físicas,
através da ação dos rios, dos ventos, num trabalhamento que produziu
paisagens de rara beleza cênica, onde se destacam córregos e rios cristalinos
(como o Serrano), áreas alagadas (como Marimbus), belas cachoeiras (como a da
Sibéria), serras esculpidas (como a região do Pai Inácio), grutas (como a Gruta
Azul) que associado ao clima ameno, devido a atitude, se tornaram por conseguinte de
grande valor para a exploração turística.
O turismo na Chapada Diamantina é intensamente explorado na forma
de lazer e recreação, sobretudo no triângulo Lençóis – Mucugê – Andaraí,
localizado na zona limítrofe do Parque Nacional da Chapada, onde o ecoturismo é a principal prática.
As
formas de relevo da Chapada Diamantina (Figura 1), responsável pelos aspectos
paisagísticos que atraem a atividade turística estão condicionadas tanto pela
sua estrutura sedimentar como pela tectônica superimposta. Na borda oeste, de
Botuporã até Rio de Contas, dobramentos mais apertados, associados a faixas de
cisalhamento, de grande extensão, favoreceram a formação de serras alongadas, de
direção N-NW, com vales suspensos, estreitos, intercalados. Aí está o Pico dos
Barbados, de 2033
m, ponto culminante da Bahia e do Nordeste. Na borda
leste, de Lençóis a Morro do Chapéu, o dobramento mais aberto, com sinclinais e
anticlinais de larga amplitude, favoreceram a formação de platôs e morros
tabulares (mesas), com altitudes de cerca de 1000 m, tais como os conhecidos Morro
de Pai Inácio, em Palmeiras e o próprio Morro do Chapéu, que dá o nome à cidade,
intercalados a vales abertos, como o vale do Paty, em Lençóis. Amplos platôs
calcários são encontrados ao norte da chapada, na região de
Irecê.

Fonte:
Figura 1 – Morro do Pai Inácio.
Assim
sendo, a Chapada Diamantina se enquadra na forma do turismo paisagístico, com
atrativos de cachoeiras (Figura 2), corredeiras, mananciais hídricos, cavernas,
grutas, canyons, balneários, entre outros. Este tipo de turismo se faz na forma
do turismo contemplativo, científico, de aventura ou ecoturismo, cultural e o
agroturismo (Bordest, 1999).

Fonte:
www.vicfoto.br.
Figura 2- Cachoeira do Sossego
Desta
forma, fica evidente a correlação entre a geografia física e o turismo na
Chapada Diamantina, uma vez que tem hoje sua atração vinculada as unidades de
conservação, por serem espaços protegidos, e que por lei preservam seus recursos
naturais e ecológicos da região.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Os
impactos do turismo em ambientes naturais estão associados tanto à implantação
de infra-estrutura nos territórios para que o turismo possa acontecer, como à
circulação de pessoas que a prática turística promove nos lugares. No que se refere à implantação de
infra-estrutura, muitos são os casos em que elas são feitas de forma
ambientalmente inadequada. Dentre eles podemos citar a edificação de meios de
hospedagem em áreas não urbanizadas bem como outras infra-estruturas a eles
associadas que podem representar riscos importantes de desestabilização dos
ecossistemas em que se inserem. Assim, o planejamento físico-territorial é o
único instrumento capaz de evitar ou de minimizar possíveis impactos dessas
estruturas sobre esses ambientes. No que se refere à circulação de pessoas, os
impactos mais comuns, decorrentes do turismo, sobre ambientes naturais, são
aqueles associados à produção de dejetos e de lixo e, em grande parte dos casos,
à incapacidade das municipalidades de lidar com a presença de uma dada população
flutuante sobre seus territórios.
Há também os impactos ambientais decorrentes do pisoteio de grupos de
turistas sobre trilhas em áreas de mata, em função de caminhadas. Se tais
impactos podem soar como um exagero para alguns, para ambientalistas atentos às
transformações impostas pelo homem aos
O
patrimônio natural da região da Chapada Diamantina é muito grande. A implantação
de áreas de proteção e criação de parques, por si só não leva a preservação
desse patrimônio, seja pela falta de fiscalização, por razões diversas que não
vamos aqui discutir, seja pela falta de uma maior conscientização da população,
visitante ou local, de que este
patrimônio é de todos e a todos cabe a sua preservação. Esta é uma questão
educacional de base, quando se incute a noção de cidadania e de coletivo.
É
evidente que falta também a profissionalização do turismo nessa região, afinal
nem nossos vizinhos menos desenvolvidos oferecem visitação de graça aos seus
patrimônios naturais. Não se trata
de privatizar a ‘natureza’ como afirmam alguns, mas regular e sistematizar o seu
uso. Isso além de trazer emprego e gerar recursos, cria uma infra-estrura básica
que protege o atrativo da ação de turistas vândalos que adoram levar um
‘souvenir’ de grutas e cavernas, ou registrar seus nomes nas rochas para a
‘posteridade’.
Tendo
em vista que nem todos os atrativos são passíveis de serem ‘fechados’, nos
locais abertos deve se sistematizar
a fiscalização e incrementar um processo de conscientização ao visitante.
Enfim,
e as agressões aos ambientes naturais podem soar como um exagero para alguns,
para ambientalistas atentos, às transformações a eles impostas pelo homem, podem
representar verdadeiros desastres ecológicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORDEST,
S.M.L. (Org.). Matutando
turismo. Cuiabá:Edufmt, 1999.
CORIOLANO, L.N.M.T.; SILVA, S.C.B. de M. e. Turismo e geografia:
abordagens críticas. Fortaleza: Ed. UECE, 2005.
CRUZ, R. de C. A. da. Introdução à geografia do Turismo. São
Paulo: Ed. Roca, 2003.
JUCÁ, F.A.; Funch, L.; Rocha, W. (Orgs). Biodiversidade e
conservação na Chapada Diamantina. Brasília: Ministério do Meio ambiente,
2005.
LEMOS, A.I.G. de (Org.). Turismo: impactos socioambientais. São
Paulo: Hucitec, 1996.
RODRIGUES, A.A.B. (Org.) Turismo e geografia: reflexões teóricas e
enfoques regionais. São Paulo: Hucitec, 1996.
YÁZIGI, E.; CARLOS, A.F.A. (Orgs.). Turismo: espaço, paisagem e
cultura. São Paulo: Hucitec, 1999.
Ponencia
presentada en el IX Encuentro Internacional Humboldt. Juiz de Fora, Minas Gerais
- Brasil. 17 al 21 de setiembre de 2007.