A HIDROPONIA NO
CONTEXTO DO NOVO RURAL: UM ESTUDO DE CASO EM MONTES CLAROS
Marcos Nicolau Santos da Silva –
Unimontes
marcos.nicolau@yahoo.com.br
Resumo:
A partir da década de 1990 o meio rural brasileiro
passa a ser analisado não apenas pelo seu desempenho nas atividades
agropecuárias tradicionais. Este espaço passa a desenvolver novas funções, ainda
que em pequena escala, mas de forma intensiva. Tais funções dizem respeito à
incorporação de atividades não-agrícolas, que pouco ou nada tem a ver com as
atividades agrícolas convencionais. Assim sendo, neste artigo pretende-se
discutir o conceito de um Novo Rural e suas relações com o meio urbano,
caracterizando a atividade de hidroponia em um estabelecimento da cidade de
Montes Claros. Este trabalho apóia-se na consulta ao referencial teórico adotado
e na pesquisa de campo realizada no estabelecimento rural. Conclui-se que a
mudança na forma e no conteúdo de produção de hortaliças disponibiliza uma maior
quantidade e diversidade de produtos durante todo o ano no mercado; além disso,
o consumo destes produtos se torna diferenciado, quando se verifica que a classe
socioeconômica mais baixa não consome hortaliças mais por questão de hábito
alimentar do que econômica.
Palavras-chave: Novo Rural – novas atividades –
hidroponia – rural/urbano.
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Introdução
O final da década de 1980, do ponto de vista agrário, é
caracterizado por uma retomada dos estudos sobre o meio rural brasileiro, tanto
em nível político quanto acadêmico. Estes estudos, além de retratarem o caráter
modernizado da agropecuária, dizem respeito também à nova dinâmica observada no
meio rural, sobretudo, através da expansão de atividades
não-agrícolas.
Muitas dessas
atividades mesmo sendo antigas no meio rural ainda não eram reconhecidas como
atividades econômicas. Outras sofreram incremento a partir de uma melhora na
base técnica de produção. Além disso, destaca-se a intensa revalorização do
espaço rural como local de moradia e de lazer.
Nessa perspectiva,
os estudos sobre essa nova dinâmica do meio rural brasileiro ganham impulso,
principalmente, com os trabalhos de Graziano da Silva em meados da década de
1990 que analisa a evolução do emprego rural não-agrícola baseada no que ele
denomina de “novo rural brasileiro”.
Assim sendo,
inicialmente será feita algumas considerações sobre o novo rural precedida pela
problemática da modernização agrícola da segunda metade do século XX.
Posteriormente, o enfoque desse novo rural situa-se na relação rural-urbano em
que é abordada historicamente a noção sobre estes espaços, bem como o processo
de urbanização. Finalmente, essa análise sobre o novo rural permite caracterizar
uma das novas atividades mencionadas por Graziano da Silva (1997) a partir de
uma experiência (e pesquisa) realizada em um estabelecimento rural na cidade de
Montes Claros – a hidroponia.
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O Novo Rural: algumas considerações
A agricultura brasileira após a segunda metade do século XX
vivenciou um importante período de profundas transformações na organização de
seu espaço agrário. A agricultura que, basicamente, estruturava-se na economia
de subsistência passa a ocupar espaço de agricultura modernizada. Essa
transformação ocorreu, sobretudo, devido à expansão do setor urbano-industrial
no mesmo período. A este processo de ruptura, Graziano da Silva (1982, p. 46)
chama de industrialização da agricultura, em que a agricultura deixa de ser um
setor ‘quase-auto-suficiente’ da economia para se tornar parte integrante de um
conjunto maior de atividades inter-relacionadas.
O caráter de agricultura modernizada incorpora ao campo novas
tecnologias, máquinas agrícolas, fertilizantes, agrotóxicos, sementes
melhoradas, medicamentos veterinários, entre
outros.
A representação dessa era moderna alterou as relações entre o
rural e o urbano e, até mesmo, entre o rural e o rural. Neste último caso,
pode-se destacar os sentidos que foram atribuídos aos setores da agricultura que
não se modernizavam, como representado por Monteiro (2006, p.
156):
[...] o imaginário socioespacial da modernidade projetou sentidos
territoriais e territorializantes nos quais os lugares e os grupamentos sociais
que se modernizavam igualmente urbanizavam-se, e a condição rural era imaginada
como ‘atraso’.
Este
cenário moderno no campo, por outro lado, provocou profundas conseqüências
na
estrutura socioespacial e ambiental, uma vez que, aumentou a concentração da
terra, empobreceu o homem do campo, expulsando o pequeno trabalhador e/ou
agricultor para as cidades ou absorvendo-o e transformando-o em mão-de-obra
assalariada. Além disso, o maior impacto ao meio ambiente foi através da substituição da cobertura vegetal original
pela instalação das grandes monoculturas, auxiliada pela contaminação dos
recursos naturais por insumos químicos.
Diante
dessa problemática gerada pelo efeito da modernidade sobre o campo e da
dificuldade da agricultura gerar emprego, associada a uma suposta “crise”
ambiental, Monteiro (2006, p. 160) destaca e situa a discussão que emerge a
cerca de um novo rural:
“na
dialética entre os andaimes da modernidade e sua provável ruína é que situamos e
discutimos, então, a problemática do Novo Rural”. Ainda, “... o que se designa
como novo rural, é novo em contraste com os critérios de modernização, vigentes
até muito recentemente” (MONTEIRO, 2006, p. 158).
Alguns autores analisam o afirmamento de um novo rural defendendo
que sua expansão implicaria no aniquilamento do mundo rural representado pela
agricultura modernizada. Outros autores destacam que o rural está condenado a
desaparecer. Sobre esse assunto, Moreira (2005, p. 16) destaca que “[...] o
rural que desaparece não é o rural, mas sim o rural da consolidação da
modernidade burguesa. Em seu lugar emerge um novo rural, da pós-modernidade,
para alguns, e da alta modernidade, para outros”.
Baseado na perspectiva de que o novo
rural surge em oposição à agricultura modernizada adotada na segunda metade do
século passado, esse novo paradigma não vem estrategicamente sepultar a
agricultura patronal brasileira, mas representar algumas novas funções que estão
sendo adotadas no campo vinculadas ao rural agrícola e não-agrícola. Muitas
dessas novas funções se transformam em atividades econômicas e passam a
constituir importante fonte de renda para as famílias e os empregados
rurais.
A relação
rural-urbano
Durante muito tempo o rural e o
urbano foram discutidos a partir de uma intensa dicotomia, tanto no trato de
categorias epistemológicas quanto na distinção entre os territórios.
Historicamente, ao rural era concebido a imagem de local do atraso, da
incivilização, das técnicas rudimentares e onde preservava uma cultura
“inferior”, já o urbano emerge representado pelo locus do moderno, da
civilização e do desenvolvimento. Nesse aspecto, Froehlich (2000, p. 2)
destaca:
Para a história moderna e sua ideologia do
progresso, a cidade tem constituído, tanto para os citadinos como para os
rurícolas, uma representação de liberdade, de desenvolvimento, de civilização,
um lugar que possibilitava o pluralismo e uma grande variedade de estilos de
vida, enquanto que o meio rural fomentava o autoritarismo, o tradicionalismo, o
conservadorismo e a ignorância.
Partindo da premissa de que a dinâmica
do novo rural está intimamente relacionada com a dinâmica do urbano, vale
ressaltar que o caminho a trilhar neste tipo de discussão parte da
territorialidade exercida nestes espaços.
Atualmente, observa-se uma série de
transferências de rendas da cidade para o campo, principalmente, através das
famílias urbanas que utilizam o meio rural como local de moradia secundária, de
lazer ou como descanso de final de semana. Por outro lado, os membros das
famílias rurais também mantém relações com a cidade e vice-versa, através do
trabalho, dos estudos, do acesso aos serviços de saúde, comércio e etc.
Acrescenta-se ainda ao campo algumas infra-estruturas básicas, de comércio e
serviços tidas como do meio urbano.
A introdução de qualquer um desses
elementos observados na dinâmica do rural contemporâneo há quem diga que
acontece um movimento urbanizante da cidade para o campo ou uma urbanização do
campo, ficando assim estabelecida a possibilidade deste desaparecer pelo avanço
do processo de urbanização acelerado.
Sobre esse assunto, Neumann
(2006, p. 103) afirma que existem dois
processos distintos que caracterizam a urbanização do campo. O primeiro diz
respeito ao processo de urbanização mais tradicional, que se dá pela
incorporação de novas áreas rurais à zona urbana, por meio do parcelamento do
solo, da edificação horizontal e/ou vertical e da criação de infra-estrutura
para usos urbanos residenciais, comerciais ou industriais. O segundo processo
diz respeito à mudança de uso e de ocupação das áreas rurais para o
desenvolvimento de atividades que não aquelas essenciais e tradicionalmente
agrícolas, mesmo que sem a transformação das áreas rurais em
urbanas.
Os processos caracterizados por
Neumann de fato conferem uma alteração das relações atuais entre o rural e o
urbano, entretanto assumir uma visão de que acontece uma urbanização do campo
talvez seria afirmar que o processo urbanizante é homogeneizador e, mais que
isso:
Quando se assume esta visão do campo como espaço
atrasado e dependente do urbano, renegamos qualquer função social e necessidades
que a população rural possua, como se esta não necessitasse morar, ter momentos
de lazer e além de tudo não necessitasse de infra-estrutura. Portanto, qualquer
introdução destes elementos no cenário rural há quem afirme que houve um
processo de “urbanização”, mas na verdade são requisitos básicos de
sobrevivência de qualquer população, independentes de sua origem e de seu lugar
(FERNANDES; PONTE, 2002, p. 120).
Alentejano (2003, p. 31), reconhece que o desenvolvimento do fenômeno
urbano altera (ou alterou) as relações sociais, econômicas, culturais e
espaciais no meio rural, mas com isso, o rural não deixou nem deixará de
existir. Segundo o autor, o rural teve e está tendo seu significado
alterado.
Com o intuito de reconhecer o processo urbanizante, Souza (2004)
propõe uma saída metodológica para o fenômeno da urbanização que adentra o
campo:
Para abordar essa discussão partimos da
premissa que ocorre sim um processo urbanizatório, mas este ao invés de se
transformar numa urbanização do campo, pode ser visto como
urbanização no campo. A pequena diferença gramatical nos dá uma saída
metodológica, pois ao tratarmos da urbanização no campo estamos aceitando o
movimento urbanizante que de fato se realiza, levando inúmeras inovações típicas
da cidade ao campo, mas estamos também propondo que o rural ainda conserva
características que são só suas, não tornando-se assim continuum. As urbanidades
são levadas ao campo, mas este conserva sua essência.
Diante dessa discussão pode-se concluir que o processo de urbanização
acelerado tem conduzido entre a relação rural-urbano diversas controvérsias.
Apesar disso, essa relação não tem sido abalada devido à intensa
territorialidade que se faz presente nas estruturas sociais, econômicas,
culturais e espaciais de ambos os territórios. Esta territorialidade confere aos
meios rural e urbano a condição de territórios que estão, inseparavelmente,
interligados pelos seus processos ou
inter-relações.
A hidroponia em Montes
Claros
Graziano da Silva (1997) ao analisar a dinâmica do novo rural
brasileiro identifica e enumera uma série de “novas” atividades (agrícolas e
não-agrícolas) que estão presentes no território nacional e possuem um alto grau
de dispersão espacial. Para o autor, muitas dessas atividades são seculares no
país, mas até recentemente não tinham importância como atividades econômicas. O
autor considera que estas novas atividades originaram-se de importações de
outros países ou de atividades que não eram comerciais e que, já nasceram como
parte de uma cadeia produtiva altamente especializada e integrada a um complexo
sistema de serviços que delimitam nichos específicos de
mercado.
Como foi mencionado anteriormente, as novas atividades aproximam as
relações entre o rural e o urbano, principalmente por algumas delas fomentarem a
revalorização do espaço rural enquanto patrimônio natural e cultural. No caso da
hidroponia, destaca-se o fato desta ser uma das novas atividades que possui
maior base agrícola mantendo relações mais diretas com o meio urbano através da
produção, comercialização e do emprego.
O termo hidroponia significa trabalho em água e
origina-se do grego hydro (água) e ponos (trabalho). É uma técnica de cultivo de
planta sem o uso do solo, ou seja, cultivo em água contendo os elementos
minerais que a planta necessita para sua nutrição, bom desenvolvimento e
produção.
A ausência de contato com
o solo evita contaminações e produz uma mercadoria de
qualidade com os mesmos nutrientes da que é cultivada no solo. Os mesmos
nutrientes que estão presentes no solo, tais como o ferro, cálcio e outros são
acrescentados à água em quantidades balanceadas. A alimentação ou “irrigação”
dessa “horta aérea” é feita através de um sistema de bombeamento que retira a
água de uma caixa d’água e passa por todo o cultivo até ser captada novamente
para o mesmo reservatório. Sendo, portanto, esse sistema de cultivo e irrigação
feito em canaletas de PVC. Além disso, as hortaliças ficam encobertas por uma
estufa que as protegem da incidência direta dos raios solares que podem
danificar as folhas. Todo o processo de cultivo leva em torno de sessenta dias,
desde a germinação da semente até a colheita (Figura
1).
Esse tipo de sistema de cultivo em hidroponia garante uma série de
vantagens ao produtor, sendo que: diminui os riscos de doenças provenientes dos
solos e contaminações por água de irrigação e agrotóxicos, previne quanto a
possíveis danos climáticos, permite um maior número de colheitas em qualquer
época do ano, exige atenção diária do produtor o que permite detectar, no
início, doenças e pragas e a combater com aplicação de produtos naturais e
biológicos e, ainda é possível produzir com menor custo de
mão-de-obra.

FIGURA 1: HIDROPONIA – ESTÁGIO FINAL DE PRODUÇÃO
APÓS 60 DIAS.
Foto:
SILVA, M. N. S. da. Trabalho de Campo, 2006.
No caso da cidade de Montes Claros, os resultados da pesquisa
realizada no estabelecimento rural que desenvolve a produção de hortaliças no
sistema de hidroponia foram obtidos através de visita ao local e da realização
de uma entrevista com o proprietário através da aplicação de um questionário
semidirigido.
O estabelecimento visitado é legalmente uma
propriedade agrícola que paga o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano),
pelo fato de estar localizado no sítio urbano. Segundo o proprietário, o
estabelecimento é uma propriedade rural de cerca de dois hectares e a atividade
desenvolvida é agrícola e, devido à expansão horizontal da cidade de Montes
Claros, hoje está inserida dentro da área
urbana.
Ao ser perguntado, o sócio da empresa disse que a
propriedade é de origem familiar e utiliza a mão-de-obra de dez funcionários que
são do meio urbano. Segundo o sócio, ele faz questão de empregar moradores
locais por se tratar de um bairro onde a maioria da população é
carente.
Numa abordagem feita ao proprietário a fim de
saber se ele se considera um produtor rural e o porte, ou seja, se é pequeno,
médio ou grande produtor, obteve-se a resposta de que é um pequeno produtor
rural. Tal resposta permite entender, que mesmo desempenhando uma atividade que
não depende diretamente da terra como elemento de produção, o sentimento de
pertencimento à terra é presente ao se considerar um produtor rural. Este tipo
de sentimento é a expressão da ruralidade que configura a identidade do homem do
campo.
As hortaliças cultivadas na hidroponia são a
acelga, agrião, almeirão, mostarda, cebolinha verde e, principalmente, a alface.
Além disso, são cultivadas também couve, cebolinha verde e mostarda no solo
enquanto são feitos testes de adaptação dessas hortaliças com o sistema de
hidroponia.
No que se refere à comercialização, foi
perguntado ao proprietário onde os produtos são comercializados e se o mercado
de consumidores é diferenciado. A informação obtida foi a de que os produtos
abastecem aos maiores supermercados da cidade, sacolões, hospitais, restaurantes
e lanchonetes, conforme o Gráfico 1.

GRÁFICO 1: DESTINO DA PRODUÇÃO DAS
HORTALIÇAS.
Elaboração:
SILVA, M. N. S. da., 2006.
O primeiro gráfico apresenta os principais locais
de comercialização dos produtos cultivados na hidroponia com destaque para os
supermercados que compram mais da metade de toda a produção, seguido dos
sacolões com 35% e, os outros 10% correspondem à comercialização feita com os
hospitais, restaurantes, lanchonetes e vendas externas para o consumidor final.
Ainda, disse que quando começou com essa atividade, há cerca de dez anos atrás,
o mercado de consumidores era diferenciado, no entanto hoje, o produtor afirma
que o segmento da população que não adquire seus produtos, mais precisamente a
classe socioeconômica de nível de renda mais baixo, é devido essas hortaliças
não fazerem parte de seu consumo ou hábito alimentar. Isto permite concluir que
o consumo de hortaliças e legumes é muito mais uma questão de hábito cultural do
que econômica.
A pesquisa ao sistema de produção de hortaliças
em hidroponia, possibilitou constatar o que Graziano da Silva (1997) chama de
mudança de forma e de conteúdo. Pois, ocorreu primeiro uma mudança na base
técnica de produção (estufas, hidroponia) e depois, novas formas integram essa
produção ao circuito das mercadorias, já que a maior parte da produção é feita
sob encomenda, principalmente através da verticalização com os supermercados da
cidade. Por último, tem-se um aumento da variedade de produtos e agregação de
valor, através da embalagem, entrega, entre
outros.
Verificou-se que os produtos cultivados em
hidroponia apresentam um maior valor no mercado; ao perguntar para o produtor o
motivo dessa diferença de preço em relação ao mesmo produto cultivado em solo,
ele destacou que o sistema de hidroponia garante um produto de melhor qualidade
e livre de contaminações que eventualmente podem estar presentes no solo, como
por exemplo, os coliformes fecais.
Além disso, o que aumenta os custos do produto
são a energia elétrica utilizada no sistema de bombeamento, o tipo de semente,
os nutrientes e adubos, a embalagem e a mão-de-obra, conforme o Gráfico 2. As
outras fontes de custos incluem serviço de entrega, outros materiais de produção
e serviços administrativos.
É
importante destacar ainda que há uma outra fonte de custo a ser considerada,
correspondente à origem das sementes e de
alguns materiais utilizados na produção das hortaliças, pois a maior parte é
comprada em São
Paulo e na Bahia, o que aumenta os custos de produção e,
conseqüentemente, reflete no preço final da
mercadoria.

GRÁFICO 2: PRINCIPAIS FONTES DE CUSTOS DA
PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS.
Elaboração:
SILVA, M. N. S. da., 2006.
Contudo, verifica-se que o cultivo de hortaliças através do sistema
de hidroponia vem promovendo alterações nas relações entre o rural e o urbano,
assim como nos meios de produção, de comercialização, nas técnicas, nas
tecnologias e, até mesmo, no hábito alimentar da população. Isso reflete a
necessidade de ampliar os estudos, principalmente na perspectiva geográfica, a
fim de buscar novas interpretações e contribuições para as questões agrárias e
urbanas.
Considerações
Finais
Os processos presentes no meio rural brasileiro nas últimas duas
décadas têm mostrado a dinamicidade deste espaço. A expansão dos pequenos
negócios agrícolas e não-agrícolas no campo tem contribuído para aumentar a
renda dos agricultores, além de gerar novos postos de trabalho. Os novos
empreendimentos vão desde a instalação de hotéis-fazenda, pesque-pague,
vaquejadas, festas de rodeio (com pouca ou nenhuma base agrícola), até o cultivo
agrícola incorporado a novas técnicas, como é o caso da
hidroponia.
O caso da hidroponia em Montes Claros a partir do
contexto do novo rural, mostra que o uso desta técnica coloca no mercado uma
maior disponibilidade e melhor qualidade de produtos durante todo o ano. Além
disso, a mudança no conteúdo possibilitou a verticalização com supermercados e
outros segmentos do mercado, numa maior diversificação de produtos, acrescido do
valor agregado pela embalagem e outros
custos.
Nesse sentido, o desafio para o produtor é superar os altos custos de
produção e percebe-se que, atualmente, há um acréscimo do consumo de hortaliças
no hábito alimentar dos consumidores em geral, exceto para o segmento da
população de nível de renda menor, que não tem uma dieta alimentar equilibrada
em legumes e hortaliças.
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