DESENVOLVIMENTO
URBANO E GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS: O LEGADO OLÍMPICO NAS
CIDADES
Gilmar Mascarenhas
Professor Adjunto – Departamento de
Geografia
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro
Introdução
Em
pouco mais de um século de existência, o olimpismo da era moderna evoluiu de
maneira colossal. Incontestável seu poder na reestruturação urbana, levando
cidades de todo o planeta a almejar o direito de sediar as olimpíadas, tomadas
como alavanca para a dinamização da economia local e sobretudo para redefinir a
imagem da cidade no competitivo cenário mundial.
Desfrutando
de bilhões de espectadores, tais cidades se transformam, momentaneamente, no
admirado centro das atenções em escala planetária. As competições olímpicas são
megaeventos e, como tal, têm inquestionável poder de transformação sobre os
espaços onde são realizadas. Resultam em clara oportunidade para o novo modelo
de planejamento e gestão das cidades, calcado na lógica do mercado.
Entendemos
por urbanismo olímpico o peculiar conjunto de pressupostos e intervenções sobre
as cidades que acolhem os grandes eventos olímpicos (MUÑOZ, 1996). Trata-se,
pela natureza intrínseca do fato esportivo, de dotar as cidades de instalações
específicas, que atendam às distintas modalidades, dentro de padrões normativos
internacionais. Mas trata-se também de criar condições de alojamento para os
milhares de atletas, pessoal de apoio e membros dos comitês olímpicos, bem como
para a imprensa. Além disso, quase sempre a cidade-sede requer expansão ou
melhorias em sua infra-estrutura geral (transportes, telecomunicações, malha
viária etc.). Trata-se, enfim, de um amplo conjunto de intervenções
urbanísticas; um momento-chave na evolução e no planejamento das
cidades.
Por
isso resgatamos a experiência mundialmente acumulada de realização de grandes
eventos olímpicos, no que tange especificamente à política urbana, entendida
como o conjunto de atores, pressupostos e suas ações sobre a cidade. O trabalho
consistiu em realizar levantamento histórico dos projetos de desenvolvimento
urbano diretamente relacionados à realização de competições olímpicas. A partir
das informações referentes a intervenções urbanísticas e seus atores,
estabelecemos uma periodização.
Tentaremos
demonstrar como o olimpismo, após um tímido início em 1896, foi adquirindo
grande envergadura, poder e impacto local; e como foi incorporando
paulatinamente o interesse coletivo em suas realizações, particularmente no
pós-segunda guerra mundial. Todavia, mais tarde, com o advento de um novo
contexto histórico, no qual as forças neoliberais se impõem com maior
intensidade, o olimpismo se revestiu de um caráter altamente empresarial,
distanciando-se do interesse social que o caracterizou no período
anterior.
Do amadorismo
inicial à era do legado social e urbanístico
As
primeiras décadas (1896 a 1932) de
Jogos Olímpicos (J.O.) deixaram poucos vestígios na paisagem urbana, devido ao
amadorismo reinante. A falta de apoio oficial, a pouca difusão do movimento
olímpico, o reduzido número de participantes[1],
uma série de fatores enfim somaram para um grau ainda incipiente e amador de
organização e porte dos J.O., caracterizados pelo improviso e precariedade das
instalações físicas. Segundo Muñoz (1996), somente em 1932[2]
pode-se iniciar a falar, embora timidamente, em “urbanismo olímpico”, quando a
cidade de Los Angeles utilizou os jogos como oportunidade de reerguimento da
economia local, muito abalada pela crise de 1929, e edificou a primeira vila
olímpica da história dos jogos com características de habitação permanente[3].
Em 1936, Berlin seguiu o exemplo e consolidou a nova tradição de edificação de
vilas olímpicas dotadas de alguns equipamentos específicos para os
atletas.
Após a
Segunda Grande Guerra Mundial, o olimpismo adquiriu força inédita, atraindo
maior interesse e apoio governamentais, bem como verificando crescente adesão de
atletas de diversos países. Inicia-se aqui a famosa bipolarização esportiva
entre URSS e EUA, reflexo da Guerra Fria, projetando ainda mais o evento, como
um verdadeiro simulacro da guerra entre as principais potências (BONIFACE,
1996).
Se em meio às dificuldades de
reconstrução do pós-guerra, Londres (1948) recorreu a instalações militares e
estabelecimentos escolares para alojamento dos atletas, em 1952, Helsinki
inaugura a era dos grandes projetos habitacionais populares, geridos pelo poder
público, a partir dos J.O.. Iniciava-se um novo período, no qual este grande
evento se estruturava incorporando demandas sociais, de habitação, transporte e
infra-estrutura em geral.
Nos
jogos seguintes, Melbourne (1956) não apenas seguiu este modelo como incorporou
o uso de vasta infra-estrutura esportiva universitária. Em Roma (1960), a
novidade foi a criação de uma vila olímpica com modernas e bem equipadas
instalações, dentro de um explícito projeto de expansão urbana, incluindo a
implantação de infra-estrutura geral e de acesso. Devemos todavia considerar o
novo contexto sócio-econômico, para entender a afirmação de um “urbanismo
olímpico” multiplicador de equipamentos públicos de lazer e esporte: a
consolidação do Estado de Bem-estar Social na Europa Ocidental não apenas
garantiu maior capacidade de consumo como também oportunizou a difusão da
prática esportiva, dentro da política social “esporte para todos”. Desde então,
cada olimpíada vem deixando (ou propiciando) marcas indeléveis na paisagem das
cidades, tornando-se uma efetiva possibilidade de executar o planejamento
urbano.
Em
1964, Tóquio se valeu dos jogos para reconquistar às Forças Armadas dos EUA toda
uma área que havia sido utilizada para alojamento militar desde o final da
segunda guerra, ali instalando a vila olímpica. Outra estratégia local foi a
dispersão das instalações esportivas, envolvendo no projeto dos jogos ampla
reforma viária urbana. A seguir a cidade do México (1968), além de optar por
alocar as duas vilas olímpicas na periferia, numa perspectiva de integração da
mancha urbana, nelas erigiu 24 blocos de apartamentos, numa clara definição de
uso residencial popular após o evento.
Nos
anos 70, nota-se um aprimoramento desta conjugação entre J.O. e planejamento
urbano. Entre urbanistas, crescia naquele momento a preocupação para com a
indesejável obsolescência das áreas centrais, em favor de novos sub-centros e
subúrbios de perfil econômico elevado, processo acionado sobretudo pela difusão
do uso do automóvel. Nos J.O. de Munique (1972) e Montreal (1976) nota-se,
segundo Muñoz (1996), uma clara política de instalação ou aproveitamento de
equipamentos esportivos junto à área central, valorizando-a. Podemos afirmar que
neste momento os J.O. propiciaram a oportunidade de concretização de novas
idéias urbanísticas, que ainda hoje situam-se no centro do debate sobre a
renovação das cidades.
Moscou
(1980) retoma e demarca o ápice da política de construção de habitações
populares a partir de uma vila olímpica: nada menos que dezoito blocos de
apartamentos pré-fabricados com 16 andares cada um. O imenso investimento
soviético se explica não apenas pela conformidade de tal iniciativa com o modelo
funcional e homogêneo de urbanismo socialista, mas sobretudo por ser aquela
ocasião para a já decadente URSS uma das últimas chances de exibir ao mundo seu
poderio (atlético, financeiro e organizativo)[4].
A
década de 1980, todavia, marcaria para sempre a trajetória do socialismo e dos
estados de bem-estar social. A ascensão de governos de marcante corte neoliberal
(com destaque para Ronald Reagan nos EUA e Margareth Tatcher no Reino Unido)
sinalizavam um novo momento histórico, de recuo do interesse social em favor do
mercado, no contexto de diversos autores definem como modo de acumulação
pós-fordista. O esporte, como qualquer outra atividade econômica enquanto
dimensão da vida social, não poderia deixar de participar deste processo geral
de reestruturação.
As forças do
mercado: uma cidade para poucos
Saramanch assumiu
a presidência do COI naquele mesmo ano de 1980, imprimindo à entidade toda uma
nova filosofia, contendo uma estratégia de clara mercantilização do olimpismo.
Não por acaso, os J.O. seguintes (Los Angeles 1984) foram um marco no processo
histórico de transformação dos jogos, no sentido do crescente poder empresarial
em sua organização[5].
O último evento no bloco capitalista (Montreal, 1976) vinha sendo criticado pela
ausência de um gerenciamento eficaz, do ponto de vista econômico. E assim, pela
primeira vez, o Comitê Olímpico Internacional não firmou contrato com o poder
público local, e sim com um comitê organizador composto basicamente por
empresários. Este grupo e o Comitê Olímpico dos EUA (United States Olympic Committee)
assumiram toda a responsabilidade financeira sobre o evento, que ficou conhecido
como os “Jogos Capitalistas” (ANDRANOVICH et al, 2001:119 e 121), aqui melhor
entendido no sentido de um evento altamente lucrativo e conduzido com mínima
interferência do poder público. O principal legado para a cidade foi o
aprimoramento de infra-estrutura, particularmente viária e de
telecomunicações.
Seul
(1988) e Barcelona (1992) adotaram plenamente a parceria público-privado: no
primeiro, o governo local arcou com metade dos gastos (US$3.5 bilhões), no
segundo, com 65% dos mais de cinco bilhões de dólares investido no evento (MCKAY
e PLUMB, 2001). Constituem claros exemplos de uso dos J.O. como poderosa
alavanca para o desenvolvimento urbano. Ambas as cidades investiram vultosas
quantias e implementaram projetos urbanísticos de elevada envergadura,
redefinindo centralidades e constituindo verdadeiros marcos na evolução urbana.
Ademais, conseguiram projetar mundialmente a imagem destas cidades,
proporcionando efeitos multiplicadores a curto e médio prazo: grande aumento do
afluxo de turistas, dos investimentos etc., a exemplo de Los Angeles (1984).
Há
outras inovações nos J.O. em pauta. Seul
e Barcelona promoveram não apenas uma eficiente política de renovação de sua
área central. Suas vilas olímpicas também constituem uma novidade em termos de
geração de novas moradias: trata-se de uso residencial para classes médias, e
não mais destinadas ao uso popular, marca tradicional das vilas olímpicas até
então. Mais uma vez, podemos observar a incidência de novas forças
macro-estruturais, desta vez típicas do período neoliberal que se instaura,
sobretudo com a derrocada do bloco soviético em 1990: o declínio das políticas
sociais, em favor dos princípios do mercado. A Vila Olímpica de Barcelona, muito
bem equipada e provida de amenidades naturais como a posição litorânea,
representa esta mudança evidente na política urbana, de novo crescentemente
envolvida com interesses privados. E a cidade procura afirmar ao mundo sua
capacidade empresarial.
Conhecida como Jogos Coca Cola (cidade-sede da empresa
que é uma das maiores patrocinadoras do COI), e experiência de Atlanta (1996)
consolida o modelo de organização dos jogos baseada na parceria público-privado,
concentrada no esforço de retomada de desenvolvimento e na estratégia de
profunda revitalização urbana[6]. Neste sentido, na decadente área central
foi criado um amplo e bem equipado parque (Centennial Olympic Park), fomentador
de turismo e convenções. Trata-se de investimento promovido pelas finanças do
evento, mas não diretamente relacionado a sua operacionalização, e sim destinado
à cidade. Por outro lado, o estádio de beisebol, considerado inútil após os
jogos, foi inteiramente demolido, ao mesmo tempo em que o estádio olímpico foi
radicalmente reduzido. A vila olímpica, situada em pleno campus do Instituto de
Tecnologia da Geórgia, foi erigida em estruturas para serem desmontadas
imediatamente após os jogos: uma apologia à efemeridade. Outro expressivo
impacto dos J.O. na cidade foi a instalação de 450 mil milhas de cabos de fibra
ótica, tornando Atlanta a segunda mais conectada cidade norte-americana, e
atraindo empresas de alta tecnologia (MCKAY e PLUMB,
2001).
Em
Sydney (2000), os gastos públicos voltaram a consistir no principal aporte
financeiro à realização do evento, e sua vila olímpica expressa o maior grau de
sofisticação já alcançado na história do olimpismo. Pressionada pelos militantes do
Greenpeace (a maior organização ambientalista do planeta), e seguindo os novos
parâmetros delineados pelo COI, a organização do evento primou pela preocupação
ecológica. Neste sentido, a vila olímpica constitui um sofisticado bairro
litorâneo com energia solar e outras modernas tecnologias relacionadas ao meio
ambiente, numa área antes abandonada, utilizada como pasto de animais e depósito
de armamentos. Um grande empreendimento imobiliário, com
dois mil imóveis de elevado padrão, muita vendidas antes mesmo da realização do
evento (MCKAY e PLUMB, 2001).
Dispersando as
instalações esportivas, Atenas (2004) pôs ênfase no sistema viário e de
transporte, enfrentando um grande problema local. Sua imensa vila olímpica,
contendo 366 edifícios de dois, três e quatro andares (2.292 apartamentos no
total), e unidades habitacionais de três a cinco quartos, não deixa dúvida
quanto ao elevado perfil sócio-econômico de seus futuros usuários, e já atraindo
novos centros comerciais (BURGEL, 2004:81). Ocupando 80 hectares,
possui um parque ecológico e completa zona comercial (MCKAY e PLUMB,
2001).
Certamente, os
Jogos Pan-americanos não mobilizam as atenções (e os recursos) nesta mesma
escala[7].
Todavia, considerando as condições sócio-econômicas das cidades-sede, a maioria
pertencente a países periféricos, o impacto de cada evento adquire relativamente
maior envergadura. Num cenário urbano de escassez de infra-estrutura básica, um
evento desta dimensão pode contribuir para sanar determinados problemas. Mas
pode também comprometer as igualmente escassas finanças públicas, e inclusive
acirrar o nível de desigualdade social, conforme a distribuição espacial dos
investimentos realizados.
No
caso da última edição dos jogos, em Santo
Domingo (2003), foram gastos 240 milhões de dólares, oito vezes
mais do que o inicialmente previsto, gerando alto endividamento junto ao FMI. A
vila olímpica, seguindo à risca o modelo em vigor nos últimos vinte anos, é
composta de pequenos edifícios, amplos apartamentos, completa infra-estrutura,
voltados para a classe média e alta local. Para melhorar a imagem do entorno, no
miserável bairro de Las Flores, a poucos metros da vila, barracos de zinco foram
substituídos por outros de madeira, mantendo problemas básicos como a falta de
abastecimento de água (ALCÂNTARA et al, 2003).
O
Pan-2007, no Rio de Janeiro, parece corresponder a este novo paradigma de
planejamento urbano, por refletir basicamente interesses empresariais,
envolvendo gastos públicos, e por eleger a intervenção em zonas restritas da
cidade, beneficiando, sobretudo áreas nobres (no caso, a Barra da Tijuca).
Recusa-se uma abordagem integradora, que busque enfrentar a problemática geral
da cidade e que vislumbre a possibilidade do desenvolvimento sócio-espacial,
como, por exemplo, ocorreu, ainda que parcialmente, nos Jogos Olímpicos de
Barcelona (MASCARENHAS, 2006).
Considerações
finais
A
história dos jogos olímpicos da era moderna abriga certamente um capítulo
especial da história mais geral do planejamento e das políticas urbanas no
século XX. Muitas lições podemos colher desta larga experiência internacional.
Sobretudo quando estamos diante da realização de um evento desta mesma natureza
em nossa cidade.
Vimos
que a experiência acumulada em um século apresenta diversas formas de se
modificar uma cidade quando se pretende organizar um evento olímpico. Dependendo
do projeto político dos governantes, dos interesses empresarias em jogo e das
normas que os regulam, bem como do grau de conscientização e mobilização da
sociedade local, o resultado pode ser bastante diferente.
Neste
sentido, observamos que as primeiras décadas de jogos olímpicos (J.O.) deixaram
poucos vestígios na paisagem urbana, devido ao amadorismo reinante e à
incipiência do movimento. Todavia, após a Segunda Grande Guerra Mundial, o
olimpismo adquiriu força inédita, atraindo maior interesse e apoio
governamental. Iniciava-se um novo período, no qual este grande evento se
estruturava incorporando demandas sociais, de habitação, transporte e
infra-estrutura em geral.
Uma
questão fundamental em nossa investigação é a verificação da confluência de
interesses entre dois campos emergentes no cenário neoliberal contemporâneo: a
nova economia do esporte e o novo paradigma de planejamento e gestão das
cidades. Tal confluência resulta, por um lado, em profunda mudança na
organização das competições olímpicas, tornadas megaeventos de ampla projeção
midiática, crucial envolvimento do setor privado e, portanto com capacidade
crescente de impacto urbanístico; por outro lado, resulta na incorporação do
esporte (enquanto campo portador de sentidos e significados) na veiculação de
uma imagem positiva da cidade que organiza tais eventos: imagem de cidade
competitiva, disciplinada, saudável, vigorosa e empreendedora, pronta para
competir com êxito no atual contexto de “guerra dos lugares”, pela atração de
investimentos privados.
Sem
dúvida, o planejamento urbano tradicional, modernista, sistêmico-funcional e
integrador do ponto de vista físico-territorial (o master plan), vem sendo mundialmente
substituído por um novo paradigma de planejamento e gestão das cidades, no
contexto internacional de afirmação do neoliberalismo.
Este novo paradigma, também conhecido por
planejamento estratégico, sugere a intervenção urbanística pontual, limitada no
tempo e no espaço (os GPDUs - Grandes Projetos de Desenvolvimento Urbano), e se
estrutura em aberta parceria com o capital privado, pela via do “empresariamento
urbano” (HARVEY, 1992).
A
história dos jogos olímpicos da era moderna abriga certamente um capítulo
especial da história mais geral do planejamento e das políticas urbanas no
século XX. Muitas lições podemos colher desta larga experiência internacional.
Sobretudo quando estamos diante da realização de um evento desta mesma natureza
em nossa cidade.
[1] Na primeira olimpíada
da era moderna, em Atenas (1896), compareceram apenas 285 atletas, de treze
países. Atualmente os jogos atraem mais de dez mil atletas. Nas duas edições
seguintes (Paris 1900 e St Louis, 1904), utilizou-se uma estratégia para
garantir público expectador mínimo: realizar os jogos no mesmo lugar e momento
de eventos bem mais importantes, es exposições universais. Ainda assim, em 1904,
na cidade norte-americana de Saint Louis, apenas nove países compareceram aos
jogos.
[2] Os jogos anteriores,
realizados em Amsterdã, foram os primeiros a contar com expressiva cobertura
midiática internacional: emissoras de rádio e jornais. O evento perdera seu
conteúdo romântico e amador.
[3] Em 1924, Jogos de
Paris, alguns atletas se alojaram em área de barracas, próxima ao estádio
olímpico, organizada e servida (correios e atendimento médico, por exemplo) pelo
comitê organizador do evento. Até então normalmente os participantes das
olimpíadas se alojavam por conta própria, seja na rede hoteleira, seja
informalmente em quartos alugados ou cedidos por particulares. Paris não
apresentava limitação quantitativa de leitos, de forma que a montagem de
barracas respondia não propriamente a uma necessidade logística, mas a uma
idealização do Barão de Coubertin, como fundamento ecumênico do olimpismo,
acentuado no contexto pós-primeira guerra mundial: reunir pacificamente pessoas
de diversas nacionalidades.
[4] Foram investidos três
bilhões de dólares, envolvendo construção de novo aeroporto internacional,
ampliação do metrô, e formidável conjunto de instalações
esportivas.
[5] Com a venda do direito
de transmissão televisiva do evento levantou-se quantia inédita. A rede americana de televisão A.B.C.
pagou 325 milhões de dólares pelo direito da transmissão dos jogos com
exclusividade.
[6] Segundo Andranovich et
al (2001:122), a ausência de instalações esportivas em quantidade e qualidade
compatíveis com o evento, além de outros aspectos de infra-estrutura,
inviabilizaram a aplicação do modelo integralmente privatista utilizado
em Los Angeles,
recorrendo-se pois a recursos públicos.
[7] Para se ter uma noção
da diferença de aportes financeiros, enquanto os
direitos das Olimpíadas de 2012 foram vendidos à rede americana NBC por 1 bilhão
de dólares, os da transmissão do Pan 2003 custaram apenas 4 milhões de dólares à
Organização da Televisão Ibero-Americana, que congrega as emissoras
latino-americanas.
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