A
TRAJETÓRIA DA GEOGRAFIA EM SERGIPE (1951-2006)
Danillo Felix de Santana
Graduando em Geografia –
UNIT
RESUMO
Este artigo objetiva analisar a trajetória da Geografia em Sergipe
levando em consideração os fatos e sujeitos que a compõem. A pesquisa foi
realizada a partir de referências bibliográficas bem como entrevistas com
personagens que viveram e participaram da formação da geografia em Sergipe. O curso de
Geografia surge em 1951 na Faculdade Católica de Filosofia, integrado ao curso
de História. Em 1963, surge a Universidade Federal de Sergipe e todos os cursos
das faculdades da época são transferidos para lá. Neste contexto, o curso de
Geografia se separa do curso História. Em 1981 surge o curso de bacharelado. A
seguir surge o de especialização. Com a experiência da especialização houve uma
preocupação dos professores do departamento de Geografia da UFS de organizar o
mestrado em 1983, aprovado em 1985, culminando com o doutorado em 2003. Diante
da demanda existente não só na capital, mas em diversos municípios sergipanos, a
Universidade Tiradentes e Faculdade José Augusto Vieira passaram a ofertar o
curso de licenciatura em 2003. Os cursos mais recentes desta disciplina se
encontram em Itabaiana ofertado pela UFS, agreste sergipano, e em diversos pólos
espalhados no estado, ofertado pela Faculdade de Tecnologia e Ciência
(FTC).
PALAVRAS-CHAVE: Curso de Geografia- Sergipe-
trajetória
INTRODUÇÃO
Na história do pensamento geográfico, uma das tarefas que mais
exigiu esforços teóricos dos estudiosos e que polemizou o debate político em
torno desse campo de conhecimento, foi a definição de seu objeto de estudo.
Atualmente, a Geografia é considerada, por muitos autores, como uma ciência que
estuda o espaço geográfico, na relação
sociedade-natureza.
A Geografia é uma ciência bastante antiga, e nos diversos momentos
históricos surgiram “Escolas”, correntes de pensamento e estudiosos os mais
diversos que contribuíram para o processo de construção dessa ciência. Assim,
seu desenvolvimento passou por diferentes momentos,
possibilitando reflexões distintas do “fazer geográfico”.
A história do pensamento geográfico em Sergipe, também, passou
pelo processo de reflexões e construção. Vários foram os seus colaboradores que,
muitas vezes, estavam sob influência do pensamento geográfico nacional e/ou
mundial, aderindo às correntes geográficas.
Assim sendo, o objetivo geral desse artigo é apresentar uma
análise da trajetória da Geografia em Sergipe, no período de 1951-2006, período em que aparece o primeiro curso de
Geografia no ensino superior e que surge o curso mais recente, considerando:
atores e fatos para a institucionalização dessa ciência no ensino superior. Para
isso foi necessário: levantar dados do primeiro curso de Geografia no estado,
entrevistar personagens da geografia, investigar a importância da Geografia em
Sergipe.
Esse artigo é resultado de pesquisas bibliográficas e entrevistas
com autores ou atores que participaram do processo de crescimento da geografia
sergipana.
É importante destacar e agradecer as contribuições para a
elaboração desse trabalho dos renomados professores doutores José Alexandre
Felizola Diniz e Adelci Figueiredo Santos.
1-
A TRAJETÓRIA DA GEOGRAFIA EM SERGIPE
De acordo com as informações de Campos (1999, p.
149), o surgimento do curso de Geografia e História se situa no mesmo ano
dos primeiros cursos superiores do Estado, 1951, na Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe, através de uma iniciativa da Arquidiocese de Aracaju. Isto
significa que o curso era um só, com habilitação em licenciatura, permanecendo
assim até o surgimento da Universidade Federal de Sergipe, em 1964, quando os
cursos são desmembrados e departamentalizados.
O corpo docente do curso era inicialmente formado por
profissionais da Geografia e também de diversas áreas de conhecimento que,
segundo Diniz (2006), alguns desses profissionais eram “curiosos” da Geografia.
Havia engenheiros, odontólogos e advogados.
Com o passar dos anos o quadro docente mudou devido à saída de
alguns professores para do Estado ou do curso
de Geografia, e começou o que se pode chamar de geografização do quadro docente
do curso, que foi possível graças aos formados pela FAFI (Faculdade Católica de Filosofia) e mais tarde pela UFS. Vale salientar que este
processo foi lento.
Em relação ao bacharelado em Geografia na UFS, Campos (1999, p.
154), indica que:
A criação do Curso de bacharelado deveu-se à importante
contribuição da produção científica do corpo docente do Departamento de
Geografia, que, através da Resolução nº22/79/CONEP - Conselho de Ensino e
Pesquisa - aprova o Curso de Bacharelado em Geografia, visando ao aprimoramento
e à formação de especialistas.
Desde a criação do bacharelado, em 1981, até o ano de 2006 já
foram defendidas diversas monografias no departamento de Geografia, de boa
qualidade sobre diversas áreas da geografia, englobando a área urbana, regional,
populacional e agrária.
A formação de geógrafos ficou centralizada em Sergipe com a FAFI
desde 1951 até o ano de 1962 e mais tarde com a UFS de 1963 até 2003, quando
surgem novos cursos no Estado. A Universidade Tiradentes (UNIT), a Faculdade
José Augusto Vieira (FJAV) e a Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) abriram
novos cursos de licenciatura em Geografia face à demanda existente. O curso mais novo de Geografia no Estado
é do campus da UFS, no município de Itabaiana, iniciado em agosto de 2006.
Também é importante destacar que algumas dessas instituições têm ofertado
atualmente a licenciatura em geografia na modalidade a
distância.
O primeiro curso de Geografia, na verdade era de Geografia e
História e começou a funcionar na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe,
obtendo reconhecimento após quatro anos de sua criação:
Para ingressar, os candidatos submetiam-se ao concurso de aptidão
do qual constavam matérias que variavam de acordo com o curso escolhido. Os
aprovados cursavam nos três primeiros anos as disciplinas do Bacharelado e
diplomavam-se em Bacharel em Geografia e História. Em caso de estudar mais um
ano fazendo as disciplinas pedagógicas, o estudante recebia o diploma de
Licenciado nessa área, habilitando-se para magistério nos cursos Ginasial e
Colegial. (SANTOS, 1999, p. 159).
Os primeiros professores da Faculdade tinham experiência no
magistério secundário e superior. Dentro do curso de História e Geografia, havia
os professores: Armando Leite Rollemberg, Cleonice Xavier de Oliveira, Felte
Bezerra, Fernando Figueiredo Porto, Gonçalo Rollemberg Leite, José Silvério
Leite Fontes, Lucilo Costa Pinto, Maria Thétis Nunes, José Bonifácio Fortes,
José Rollemberg Leite e outros.
A primeira turma a se formar, em 1954, formou quatro alunas:
Gildete Santos Oliveira, Magnória de Nazareth Magno, Maria Claro de Oliveira
Passos e Josefina Sampaio Leite, esta última se torna professora da Faculdade
mais tarde, com a ida de Felte Bezerra para o Rio de Janeiro (SANTOS, 1999, p.
162).
É importante ressaltar que:
[...] a Geografia de Sergipe começou como toda Geografia
brasileira, com a Geografia Clássica. Estudavam-se muito os franceses, sobretudo
De Martone, e na Geografia Urbana era Jean Brunhes. Era muito utilizado Vidal De
La Blache.
(DINIZ, 2006).
Isso mostra a influência da escola Francesa na Geografia
brasileira, e em especial na Geografia Sergipana. Esta escola influencia a
Geografia sergipana até o retorno do professor José Alexandre Felizola Diniz a
Sergipe, em 1975, com as idéias da “Geografia Quantitativa”. Segundo ele “a
partir do meu retorno a Sergipe em 1975, começou a ter uma influência da
Geografia Quantitativa aqui... e que foi forte durante certo tempo no Brasil.”
De acordo com Santos (2006), a Geografia Aplicada ou Quantitativa,
ou seja, a geografia para fins de aplicação na sociedade, começa a ser usada a
partir da criação de órgãos ligados ao planejamento, como a Condese (Conselho de
Desenvolvimento do Nordeste) e a SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste). Segundo Diniz (2006) com a criação da SUDENE foram elaborados vários
projetos de desenvolvimento regional em convênio com o Departamento de Geografia
da UFS, e também a regionalização de Sergipe com a CONDESE, também conveniado
com o Departamento de Geografia. Diniz (2006) afirma:
[...] estudamos o
litoral sul do nordeste, do Sul de Maceió até o extremo Sul da Bahia, a área
centro-ocidental de Barreiras, até o Maranhão. Estudamos depois os sistemas
urbanos regionais de Teresina, de Aracaju, de Crato e Juazeiro do Norte,
inclusive fizemos o Atlas de Sergipe ligado à antiga CONDESE, uma idéia de
planejamento de se usar o Atlas para o planejamento econômico do Estado de
Sergipe, e inclusive fizemos uma regionalização de Sergipe para fins de
planejamento. (DINIZ, 2006).
Com isto pesquisas foram elaboradas e um grupo de professores do
departamento de Geografia passou cada vez mais a produzir. A chegada de Diniz ao
departamento não traz apenas a renovação da Geografia para Sergipe, significa um
momento de qualificação dos professores com a ajuda e atuação da professora
Adelci Figueiredo Santos, pois
possibilitou a abertura de cursos de pós-graduação, em nível de
especialização, posteriormente de mestrado e finalmente o doutorado. Foi,
portanto, marcante e de grande relevância as contribuições desses dois renomados
geógrafos para o desenvolvimento da Geografia no Estado de Sergipe, levando a
geografia sergipana a ser reconhecida no contexto nacional e até mundial com a
apresentação de trabalhos nos eventos científicos de Geografia
Agrária
A abertura da especialização em Geografia Aplicada ao Planejamento, no ano de 1976, e em
1983, em Organização do Espaço Rural no
Mundo Subdesenvolvido, marca o começo do processo de qualificação dos
professores. Em 1976, os professores Emanuel Franco e Adelci Figueiredo Santos
fizeram livre-docência bem como outros professores do
departamento começaram a se qualificar nos programas de pós-graduação fora do
Estado, como em Rio
Claro (SP), Recife, Salvador e UFS.
Após a conclusão da especialização em Organização do Espaço Rural no Mundo
Subdesenvolvido, o mestrado em Geografia foi reconhecido em 1985 pela Capes,
sendo o primeiro do Estado, seguindo a mesma linha de pesquisa da
especialização. Segundo Campos
(1999), o apoio das instituições financiadoras foi essencial para o
prosseguimento do programa e para o ingresso de alunos de outros estados no
mestrado, sendo contemplados com bolsas de capacitação docente de demanda
social. Em 2001, o programa fez uma alteração na área de concentração, mudando
para Organização e Dinâmica dos Espaços
Agrário e Regional, compreendendo em três linhas de pesquisa: Produção e
Organização do Espaço Agrário, Dinâmica Ambiental e Análise Ambiental. A
pós-graduação sempre contou com professores do Departamento de Geografia e com
professores de outros Estados desde o seu início como os de São Paulo, Minas
Gerais, Pernambuco e Bahia, além de professores de outros departamentos da UFS,
seja como professores visitantes, seja como professores orientadores de teses e
dissertações.
Em 2003
a Capes aprovou o Doutorado da UFS, em Geografia, a profa.
Josefa Eliane Santana de S. Pinto (2006) comenta
que:
[...] o Doutorado em Geografia foi o primeiro do Norte/Nordeste do
país e o primeiro da Universidade Federal de Sergipe. Isso gerou muita
responsabilidade do ponto de vista da coordenação e do corpo
docente.
Em 2004 ocorre a primeira defesa de tese de Doutorado intitulada:
Turismo, Território e Sujeitos nos Discursos e Práticas Políticas de Luiza Neide
M. T. Coriolano. Em seguida vem a defesa de Saumíneo da Silva Nascimento com a
seguinte tese: As Relações Geopolíticas da Agricultura Brasileira no Contexto
Mundial. No fim de 2006 houve mais duas defesas de doutorado: Lourdes Bertol
Rocha com o trabalho: A Região Cacaueira da Bahia: uma abordagem fenomenológica,
e de Silvana Sá de Carvalho com a tese intitulada: Organização sócio-espacial da
Região Metropolitana de Salvador: uma aplicação de tecnologias de
Geoprocessamento para Planejamento Urbano e
Regional.
Segundo Vieira (2006) o curso de Geografia surge na Universidade
Tiradentes, no ano de 2004, através de uma iniciativa de professores geógrafos
que já lecionavam na instituição, tendo em vista:
- ampliação dos cursos de licenciatura na
universidade;
-
carência de vagas no Estado, uma vez que somente a UFS ofertava o
curso;
- a presença do
curso noturno.
Pensando nessas necessidades, o curso começou a ser montado dentro
das diretrizes do MEC, em especial para a licenciatura em Geografia. A estrutura
curricular adotada permite formar um professor com perfil também de pesquisador,
através de disciplinas de Metodologia Científica, de Pesquisa e de Trabalho de
Conclusão de Curso.
A Universidade Tiradentes é a segunda do Estado a oferecer o Curso
de Geografia: Licenciatura Plena para atender a demanda do mercado de trabalho,
visto que o quantitativo de profissionais dessa área de conhecimento formados a
nível superior, ainda era pequeno, no Estado.
O currículo para o Curso de Geografia: Licenciatura Plena
fundamentou-se nas Diretrizes Curriculares integrantes dos Pareceres CNE/CES
492/2001 e 1.363/2001, estabelecidas pelo MEC segundo a Resolução CNE/CES 14, de
13 de março de 2002.
A licenciatura plena é de formação em três anos e, em dois
turnos: tarde e noite, ampliando o número de vagas no estado. Destaca-se, ainda,
com a oferta deste curso na modalidade a distância.
Ainda em 2004, surge o curso na FJAV, no município de Lagarto.
Segundo a profa. Maria dos Prazeres de Araújo Santana (2006) o curso surgiu para
atender a necessidade da população trabalhadora local que não podia ter acesso a
UFS pela sua distância. De acordo com a citada professora o objetivo desta
proposta era preparar o aluno especialmente para a carreira docente. A professora deixa bem claro: “A
faculdade veio para atender a necessidade local”.
Com o surgimento de novos cursos
de Geografia no estado, naturalmente aparecerão novas linhas ou abordagem do
pensamento geográfico. O papel do geógrafo é de suma importância não apenas pela
sua formação, mas também como identificador de paisagens e das transformações
que ocorrem no espaço geográfico. O geógrafo estuda essas mudanças vislumbrando
novas teorias, novos paradigmas e uma nova
realidade.
2-CONSIDERAÇÕES
Este artigo é uma
reflexão sobre a trajetória da Geografia em Sergipe. A Geografia
sergipana teve uma trajetória de muitas conquistas e desafios. As conquistas se
referem a formação de profissionais gabaritados e também à abertura do programa
de pós-graduação em nível mestrado e de doutorado, tornando-se conhecido e
respeitado à nível nacional na
figura de alguns geógrafos sergipanos. O grande desafio se refere à época em que
os professores Adelci Figueiredo Santos e José Alexandre Felizola Diniz ajudaram
e incentivaram vários colegas do departamento de Geografia a se qualificar em
outros estados do Brasil.
Com a abertura dos novos cursos surge um
novo desafio, o de se ofertar cursos de qualidade para evitar abaixar o nível já
atingido e reconhecido pelo mundo geográfico brasileiro. Por outro lado, esses
novos cursos podem representar novas linhas ou abordagem de pensamento
geográfico no estado. A caminhada continua e novos desafios se apresentam. O
importante é não temê-los e sim
enfrentá-los.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M.C.
Geografia - Ciência da Sociedade: uma introdução à análise do pensamento
geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.
CAMPOS, Antonio Carlos.
O espaço da Geografia na História da UFS. In: TAVARES, Maria Stella;
SANTOS, Lenalda Andrade (Org.). UFS: História dos cursos de Graduação. São
Cristóvão, 1999. (mimeo.)
FERREIRA, C. C.; SIMÕES, N. N. A Evolução do Pensamento
Geográfico. São Paulo: Gradiva,
1986.
MORAES, A.C.R. Geografia: Pequena História Crítica. São Paulo:
HUCITEC, 1981.
SANTOS, Lenalda Andrade. Curso de História: Resgate de Memória.
In: TAVARES, Maria Stella; SANTOS, Lenalda Andrade (Org.) UFS: História dos
cursos de Graduação. São Cristóvão, 1999. (mimeo.)
ENTREVISTAS
DINIZ, José Alexandre Felizola. Entrevista concedida em 31 de maio
de 2006.
PINTO, Josefa Eliane Siqueira. Entrevista concedida em 23 de
agosto de 2006.
SANTANA, Maria dos Prazeres de Araújo. Entrevista concedida em 8
de agosto de 2006.
SANTOS, Adelci Figueiredo. Entrevista concedida em 6 de junho de
2006.
VIEIRA, Lício Valério Lima. Entrevista concedida em 14 de junho de
2006.
Ponencia presentada en el IX Encuentro Internacional Humboldt. Juiz
de Fora - Minas Gerais, Brasil. 17 al 21 de setiembre de 2007.