NOVAS GEOGRAFIAS NO ESPAÇO
URBANO-REGIONAL DE JUIZ DE FORA
Nuevas geografías en el espacio
urbano-regional de Juiz de Fora
Maria Lucia Pires
Menezes
mlmgeo@terra.com.br
Universidade Federal de Juiz de
Fora
RESUMO
No município de Juiz de
Fora tem se configurado uma série de investimentos em fixos territoriais para
atender a demanda local e regional por negócios, valorização do espaço,
ampliação do consumo e ofertas alternativas de emprego. Tal processo é fruto de
uma política estruturada há cerca de sete anos pelo Plano Estratégico da cidade,
elaborado com assessoria do Programa Centro Ibero-americano de Desarrollo
Estratégico Urbano (CIDEU). O Plano Estratégico propõe organizar e garantir as
condições políticas para implantação de vários projetos. Dentre eles
destacaremos a construção do Aeroporto Regional e dos "bussines parks" como
inovações na logística dos fluxos para atender o circuito das economias
regional, nacional e do MERCOSUL. No setor das comunicações, as inovações
incluem a reformulação da Rede de Comunicação Panorama, afiliada da rede Globo e
que atua como estruturadora do mercado e da identidade regional da Zona da Mata
mineira. Tais processos contabilizam um importante incremento no mercado de
terras, setor tradicionalmente importante na economia municipal e
regional.
Palavras-chave: Juiz de Fora-Minas
Gerais; inovação; gestão do território; planejamento.
RESUMEN
En el municipio de Juiz
de Fora aparecen una serie de inversiones en fijos territoriales para atender a
la demanda local e regional por negocios, valoración del espacio, ampliación del
consumo y ofertas alternativas de trabajo. Fruto de una política estructurada a
cerca de siete años, este proceso se elaboró con la asesoría del Programa Centro
Íbero-americano de Desarrollo Estratégico Urbano (CIDEU). El plan Estratégico
propone organizar y garantizar las condiciones políticas para la implatación de
diversos proyectos. Entre ellos destaremos la construcción del Aeropuerto
Regional y de los “bussiness parks” como innovaciones en la logística de los
flujos para atender el circuito de las economías regional, nacional y del
Mercosur. En el sector de lãs comunicaciones la Red de comunicación Panorama,
afiliada de la Red Globo, estructura el mercado y la identidad regional de la
‘Zona da Mata’ minera. Esos procesos contabilizan um importante incremento en el
mercado de tierras, sector tradicionalmente importante en la economía municipal
y regional.
Palabras-clave: Juiz de Fora-Minas
Gerais; innovación; gestión del territorio; planeamiento.
Introdução:
Os anos 90 marcaram uma
profunda mudança na estrutura econômica brasileira. A privatização dos serviços,
o maior peso político e de decisão dos setores privados, os movimentos de
internacionalização dos grandes conglomerados mundiais, da liberalização
financeira e de reestruturação produtiva compõem os principais fatores da
inserção do Brasil na chamada “globalização”. Paralelamente, surge um movimento
de realinhamento espacial e igualmente territorial da indústria localizado no
que Moreira (2004) denominou de Polígono Industrial, isto é, uma grande região
industrial que se estende de Belo Horizonte para o sul até Porto Alegre. Para
entender esta nova cartografia é preciso analisar o processo que Diniz (2002)
caracterizou como de desconcentração da nova configuração urbano-industrial do
Brasil, o qual se baseia na argumentação baseada nos fenômenos espaciais: da
reversão da polarização industrial de São Paulo, do deslocamento da fronteira
agrícola e mineral e das mudanças tecnológicas incentivadas pela abertura
externa e criação do MERCOSUL.
Juiz de Fora, centro
regional, evidencia empiricamente transformações na matriz territorial que
aponta para um novo papel na atual divisão territorial do trabalho e da
reestruturação. Tais transformações aparecem na forma de investimentos fixos
(Santos, 2003) que vem cumprindo o papel de elementos da constituição do meio
técnico-científico-informacional e da renovação da
materialidade do
território. Assim, renovação e inovação de investimentos consubstanciados
em
projetos industriais, na
melhor operacionalidade da malha viária, em novas instalações do comércio
atacadista e varejista como shoppings e malls atacadistas, centros de negócios e
logística, assim como novos padrões de urbanização revelam na organização
urbano-regional de Juiz de Fora elementos de sua readequação no Polígono
Industrial brasileiro. Na organização do espaço interno da cidade e seu entorno
novos empreendimentos demonstram através de espaços de segregação e segmentação
um processo de monopolização e extração da mais valia, onde o território
constitui-se num fator fundamental, enquanto espaço de domínio político e
apropriação simbólica, ou seja, um espaço com acesso relativamente controlado
(Haesbeaert, 2001). Uma abordagem geográfica deste panorama revela, a princípio,
um mapa onde sobressai no espaço urbano eixos urbano-viários, onde sobressaem
novos padrões de moradia – como condomínios fechados, que interligam a área
produtiva e valorizável da cidade à malha viária nacional localizados juntos às
rotas de interligação com as principais metrópoles nacionais. Do mesmo modo,
revelam, também, uma capacidade crescente de empreendimentos monopolizados por
determinados atores econômicos que consorciam seus investimentos privados na
adequação funcional, implantação de infra-estrutura necessária à
operacionalidade da economia regional e seu papel na divisão territorial do
trabalho.
Dentro deste contexto
este trabalho apresenta o tema das novas geografias urbano-regional do município
de Juiz de Fora. Inicialmente, propomos analisar as novas formas espaciais
presentes a partir de 1990, tomados aqui como referenciais da abertura econômica
e aprofundamento da política de reestruturação produtiva nacional em face de
inserção na economia mundial e nas formas de regionalização dos blocos
comerciais, em evidência o MERCOSUL. Pretende-se, portanto, identificar e
analisar os processos que explicam os novos equipamentos territoriais presentes
no município juiz-foranos e sua área de influência direta. Um segundo momento da
pesquisa pretende analisar um novo componente da configuração regional da cidade
e que diz respeito à consolidação de um mercado de cultura e lazer sendo a
cidade de Juiz de Fora o lugar da produção e difusão do produto cultural seja
através das mídias e seus equipamentos culturais, seja através do incremento da
atividade turística.
Por novas geografias entende-se, a
princípio, não apenas formas geográficas de per si (Correa, 1987), mas que sua
existência cumpre a função de viabilizar uma nova rede de fluxos que perpassam o
lugar articulando-o ao mesmo tempo em que o singularizando. Assim, nossa
hipótese inicial propõe que shoppings, aeroporto, centros de negócios e
inovações, assim como novos projetos urbanísticos configuram novas geografias
locais e instauram, portanto, novas territorialidades articuladas com as demais
dimensões escalares: regional, nacional e global.
Juiz de Fora de rotas e
redes:
Embora do alto da cidade
mais próspera de Minas Gerais Juiz de Fora perde a
oportunidade
de tornar-se capital para
um novo projeto de localização da capital do estado da recente
república
brasileira localizado no
centro-norte do estado e defendido por setores ligados economicamente
a
emergente mineração do
ferro, da siderurgia e da indústria têxtil, setor regional que se beneficiou em
detrimento do bloco da Mata e do sul de Minas. Defendido o projeto em função de
critérios de
salubridade, ambiência e
disponibilidade de expansão territorial a Câmara Legislativa (dezembro de 1883)
escolheu Belo Horizonte (Curral d ‘El Rei) em detrimento de Paraúna (região do
rio das
(Velhas), Várzea do
Marçal (entre São João Del Rei e Tiradentes), Barbacena e Juiz de
Fora.
A prosperidade, contudo
trouxe para Juiz de Fora cultura e educação laica, técnica e religiosa. Na
esteira da industrialização, entre a urbanidade mineira e o cosmopolitismo da
metrópole a cidade se referencia e atrai investimentos de todas as ordens,
inclusive o interesse das Igrejas que controlam importantes estoques de terra
urbana e dominam a oferta no setor educativo.
Com o declínio da
produção cafeeira se iniciando já em 1900 a cidade que
antes recebeu investimentos externos passa a ver a reinversão dos capitais
regionais na cidade e a chegada também do capital financeiro através dos bancos
de investimentos e de créditos reorientando a economia para inversões nas
atividades urbanas. A intensificação da atividade industrial e o investimento
das elites agrárias em herdeiros profissionalizados formam um quadro técnico
onde
sobressaem as escolas e o
atendimento médico de qualidade, além de contabilistas e advogados. Ao longo de
sua existência Juiz de Fora nunca perdeu a função de polarizar a prestação de
serviço e de ofertar o maior mercado de trabalho na e da região. A partir dos
anos 30 a nova política
rodoviária nacional reafirma a posição de Juiz de Fora nas rotas para o interior
da Zona da Mata, ao nordeste do país e em direção e Belo Horizonte e
posteriormente daí a Brasília. Mesmo quando as inovações tecnológicas e as novas
indústrias não mais se localizam em Juiz de Fora, quando o Rio de Janeiro não é
mais a capital do país e o novo momento da indústria nacional reorienta os
investimentos para São Paulo e seu interior, a cidade continua sendo um
ancoradouro da migração intra e inter-regional. O novo modelo econômico da era
Juscelino Kubitschek (1956-60) e que se solidifica na ditadura militar
(1964-85), tripé onde o setor estatal se ocupa dos bens de produção,
infra-estrutura e energia, marcou uma grande inflexão da corrente migratória
para as metrópoles nacionais e capitais de estado, com a proeminência também de
Belo Horizonte. A economia regional ancorada na pecuária leiteira e seus
derivados hegemoniza o setor agrário que vai perdendo a participação também como
fornecedor de produtos agrícolas para a região metropolitana do Rio de Janeiro
devido à concorrência com a agricultura modernizada de São Paulo e para o
próprio interior fluminense.
A cidade passa a se
ressentir então do menor dinamismo econômico, porém continua reafirmando sua
posição como prestadora de serviço de qualidade para a região, reforçada desde
1960 com a criação da Universidade Federal de Juiz de Fora como aglutinadora de
faculdades isoladas (muitas existentes desde o período áureo da
industrialização): faculdade de Farmácia e Odontologia, Direito, Engenharia,
Ciências Econômicas, Medicina e da faculdade de Filosofia e Letras. A
importância da universidade se expressa no alcance da região de influencia da
cidade que vê seus limites se expandirem para além da região produtora imediata
e dá uma nova racionalidade técnica e cientifica a formação de quadros
especializados para o mercado urbano regional.
Paulatinamente, decresceu
a capacidade da cidade de absorção de novos empreendimentos e, consequentemente
alavancar o mercado de trabalho. A região não modernizou as atividades
agropecuárias e manteve contínua a liberação de força de trabalho. O modelo
geral de capitalismo
tardio da América Latina
promoveu a formação de imenso exército de reserva alijado e alojado na periferia
das metrópoles nacionais. Porém a periferização era contínua e simultânea em
toda a rede urbana brasileira. As metrópoles, por questão de escala, se
preocupam, então, com a formação de grandes bolsões de miséria nas periferias
urbanas. A criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Juiz de Fora –
IPPLAN/JF em 1977 é antes de tudo o resultado do capital cultural acumulado na
cidade, das relações da cidade dentro da esfera de influencia do Rio de Janeiro
e da posição da cidade dentro da rede urbana nacional. Dentro da região de
influencia da metrópole do Rio de Janeiro, Juiz de Fora estaria localizada no
eixo Petrópolis - Três Rios juntamente com Teresópolis e Friburgo e as cidades
do médio vale do Paraíba (Cf. Davidovich, 1975).
Ao final dos anos 70,
Juiz de Fora é incluída no projeto CPM – Centro de Porte Médio financiado pelo
Banco Interamericano – BIRD e gerenciado pelo governo brasileiro através
inicialmente do CNPU – Conselho Nacional de Política Urbana, depois CNDU –
Conselho Nacional de Política Urbana órgãos ligados ao Ministério do
Planejamento e pela Secretaria Especial da Região Sudeste ligada ao Ministério
do Interior. A ação do projeto pressupunha atuar sobre os centros urbanos
classificados de porte médio pela sua posição geográfica, população, importância
sócio-econômica, função regional significativa, de modo a incrementar seu
desenvolvimento com vistas à estruturação de uma rede urbana “mais equilibrada”.
Coube ao IPPLAN coordenar juntamente com as UAS – Unidades de Administração de
Subprojetos, unidade autônoma dentro da Secretaria de Planejamento - a
coordenação das atividades. Principalmente deve-se ao IPPLAN/JF uma boa
integração entre a UA e a administração municipal o que acarretou numa boa
avaliação externa do projeto e sua continuidade juntamente com a cidade de
Florianópolis, pois eram as que se encontravam mais adiantadas nas ações. As
diretrizes do Banco Mundial para o financiamento de projetos de melhorias
urbanas em países do Terceiro Mundo propunham especificamente gerar impacto
sobre a pobreza urbana. Juiz de Fora recebeu verbas e assessoria técnica para
operar sobre três metas: investimento em infra-estrutura e serviços urbanos,
geração de emprego e renda e melhoria da administração pública. Até o final do
projeto entorno de 1984 a cidade
efetivamente promoveu uma reurbanização da área central da cidade, redirecionou
novas vias de acesso e reestruturou o sistema de
transportes.
Mais uma vez a
modernização da malha viária se fez sentir sobre a cidade concomitante ao
Projeto Cidades Médias. Foi a renovação e o novo traçado da estrada Rio- Belo
Horizonte- Brasília
que impactou a cidade no
sentido do arco sul-oeste-norte inserindo novos territórios para
expansão
do mercado imobiliário,
do distrito industrial e do surgimento de bairros entorno de conjuntos ou
loteamentos de moradias populares, estes dois últimos seguindo a montante do
várzea do Paraibuna. O rescaldo do PCM significou intervenções pontuais, no caso
a área central e a construção da seletiva de ônibus na avenida Rio Branco, a
construção do Distrito Industrial, os acessos a cidade Alta – região do São
Pedro, beneficiando a comunicação ao campus universitário e a valorização de
bairros para moradias de classe média, além doas acessos a rodovia BR 040,
principalmente no eixo sudoeste ao longo da avenida Independência, atualmente um
dos espaços mais valorizados da cidade. E, principalmente, sucesso político
(devidamente capitalizado quando da redemocratização do país) aos prefeitos
empreendedores das obras com o aporte do PCM. Na verdade o PCM seguia uma
cartilha geral em que se organizava um sistema de contenção prioritária das
metrópoles através de uma desconcentração da pressão populacional, sendo a rede
urbana estudada de modo que as cidades mais apropriadas dentro deste sistemas
seriam escolhidas dentro de uma pretensa racionalidade técnica da alocação de
cidades-diques na contenção do fluxo migratório. Em tese, haveria de haver uma
mudança estrutural na economia de modo que o dique fosse por si só um gerador de
novas escalas de produção de modo que a força de trabalho ali represada fosse
completamente absorvida e gerasse um novo ciclo local de oportunidades via ao
menos uma expansão do consumo consuptivo. Nos anos 70 o PCM é incorporado pelo
II Plano Nacional de desenvolvimento – PND através do Programa de Apoio as
Capitais e Cidades de Porte Médio quando Juiz de Fora recebe dois projetos de
grande porte; a Siderúrgica Mendes Júnior e a Paraibuna de Metais, mas que não
foram capazes de gerar uma economia de efeito multiplicativo para o setor
econômico do município.
Ao revés a pobreza, cerne
principal do discurso do projeto aumenta exponencialmente por uma série de fatos
conjunturais dentre eles destaca-se a crise econômica nacional, o modelo
privativo de administração pública, a centralização fiscal da União e o rapto da
organização popular por meio de políticos conservadores e paternalistas no
tocante a questão da moradia popular em Juiz de Fora, onde se superpõem as
funções de centro regional, cidade média e cidade-pólo postulante aos
investimentos globais, nacionais e regionais. Sobre a “posição estratégica”
freqüentemente atribuída a cidade é preciso salientar que tanto a cidade drena
quanto difunde, transfere e perde recursos para as cidades da hierarquia
imediatamente superiores. Para exercer a função de cidade atrativa Juiz de Fora
precisa também cuidar dos problemas ambientais. Pobreza e meio ambiente se
inter-relacionam de maneira simbiótica, e freqüentemente conflituosa, porém sob
o ponto de vista das formas organizadas de luta social e por parte da
administração pública a defesa e a preservação do meio ambiente conquista mais
territórios do que aqueles assegurados a qualidade de vida dos
pobres.
Inovação e organização do espaço
urbano-industrial:
A reinversão de capitais
na indústria com o apoio do capital financeiro representado na região,
principalmente pelo Banco de Crédito Real de Minas Gerais, seguindo modelo
auto-explicativo em outras regiões cafeeiras do país iniciam o comando da
economia sobre base urbana-industrial. A cidade de Juiz de Fora veio
paulatinamente consolidando-se como centro regional da Zona da Mata (3) Centro
médio fabril prestador de serviço e polarizando uma região agrícola tradicional
Juiz de Fora sentirá os efeitos sobre o espaço urbano de um crescimento
acelerado e constante. A economia urbana cresce apoiada na difusão da indústria
fordista e no mercado imobiliário criando bairros, vilas operárias e adensando a
ocupação da área central da cidade. A princípio os vales laterais a calha do
Paraibuna são ocupados e depois na medida em que a demanda aumenta a meia
encosta das elevações no entorno da várzea são paulatinamente loteados. O
transporte de bondes chega a cidade em 1880, quando foi criada a CIA. Ferro
Carril de Bondes de Juiz de Fora. A geografia de suas linhas é capaz de revelar
a estrutura urbana da cidade, a complexificação do espaço da área central da
cidade e a formação dos bairros mais afastados ou ainda não totalmente
urbanizados como Tapera de Baixo – onde existiu a hospedaria dos imigrantes
Horta Barbosa (Santa Terezinha), Tapera de Cima (Bandeirantes), Pito Aceso
(Bonfim), Manoel Honório (homenagem ao dono da Fazenda da Divisa que tinha sede
na atual rua Américo Lobo), José Weiss - ponto da cervejaria e mais tarde por
causa do bonde – Fábrica, Passarela (final do São Mateus), Lamaçal, (futuro Bom
Pastor), Creosotagem (Francisco Bernardino), e aqueles que se estendiam numa
primeira expansão urbana ao longo de ambas as margens do rio como Poço Rico
(Três Pontes) na margem direita e Costa Carvalho (Bota n de baixo) – antigo
Caminho Novo de Garcia Paes, Vitorino Braga (Bota n´Água de cima) dentre
outros.
A Companhia Bernardo
Mascarenhas, empreendimento que reuniu investimentos em produção de energia e
iluminação pública criou as bases para uma série de inovações urbanas a partir
da atividade industrial (Cf. Menezes, 2003): a primeira usina hidrelétrica da
América do Sul passa a tender à fábrica e à iluminação pública da cidade ao
mesmo tempo. Assim como fez Mariano Procópio, Bernardo Mascarenhas cria a
Associação Promotora da Imigração, sociedade particular
que reunia os
financiadores e interessados no projeto, principalmente os mais importantes
fazendeiros. A abolição da escravatura e a crescente urbanização demandam força
de trabalho. A
subvenção governamental
apóia o projeto e uma nova onda de imigrantes chega à região e, em sua maioria,
instalam-se em Juiz de Fora. Afora os bairros de São Pedro (Colônia de Cima) e
Borboleta (Colônia de Baixo) sempre muito referenciados como localização da
população alemã; acredita-se que outros grupos de imigrantes se alojaram na
cidade obedecendo ao mercado imobiliário, incluindo pequenos promotores
particulares e assim disseminando-se pelos bairros que surgiam no entorno da
área central da cidade original.
A cidade passa próspera
pela década de 20, progressista, liberal, católica, conservadora, protestante,
imigrante, negra e acolhedora de migrantes de toda a região. Do ponto de vista
da cidade formal e oficial a cidade se modernizou se aculturou, e se embelezou.
Os anos 30 marcam o início da inflexão da cultura cafeeira, mas a atividade
urbana-industrial foi capaz de manter a
poupança interna pelo
crescimento dos setores secundários e terceiras da economia urbano industrial e,
principalmente, pelo crescimento da infra-estrutura da cidade física. Um marco
na historia e geografia urbanas de Juiz de Fora foi a enchente de 1940 que
desalojou a população pobre que morava em suas margens, além de atingir o setor
comercial da “parte baixa” da cidade. O rescaldo desta tragédia refletiu-se no
mercado imobiliário de baixa renda quando surgiu o bairro Vila Furtado de
Menezes que abrigou inicialmente os flagelados da enchente de 1940. O governo
local conseguiu verbas do governo federal para retificação do rio, liberando
assim mais terras as margens do rio e, principalmente na margem direita
aumentando o espaço que foi sendo ocupado por fábricas e grandes armazéns,
constituindo o setor atacadista da cidade, em virtude da proximidade com a
estação ferroviária.
Do ponto de vista das
mudanças estruturais Juiz de Fora subsistiu e ampliou o setor industrial,
enquanto a base industrial era a de substituição de importação, sendo a
indústria têxtil e alimentar as de maiores expressões na cidade. No entanto
quando a base industrial nacional muda para nos anos 50 privilegiar o setor de
bens de capital e bens de consumo durável, outra geografia regional tinha se
delineado na Zona da Mata Mineira e a cidade de Juiz de Fora, estabelece novas
relações de centro com sua região. Uma das expressões espaciais mais reveladoras
das novas interações espaciais se expressam na falência gradativa da rede
ferroviária e sua substituição pela malha viária rodoviária. A maior
acessibilidade dada pelos transportes terrestres e novos eixos de rodovias
federais marcam uma série de clivagens na dinâmica regional e em especial
refletem sobre Juiz de Fora de duas maneiras bem importantes. A primeira com a
construção da rodovia Rio - Bahia que adentrou na Zona da Mata no sentido
longitudinal e que vai estabelecer a ligação entre o Sudeste Oriental e o
Nordeste a leste da Zona da Mata. E, por conseqüência, impulsiona as cidades
sobre este eixo, dentre elas Leopoldina, Cataguases e Muriaé, Caratinga e
Manhuaçu, todas oriundas da produção cafeeira e interligadas na época por malha
ferroviária. A segunda diz respeito ao eixo com Belo Horizonte, como eixo
preferencial, o que ocasionou a decadência e muitas vezes isolamento das
ligações mais interiores com municípios próximos a Juiz de Fora, ligações que
passam a ser vicinais, quando órfãs da decadência ferroviária. As ligações se
tornam mais difíceis, cidades próximas devido a precariedade se tornam quase que
inacessíveis. O resultado para a economia municipal se dá em função de uma
combinação de fatores que incidem sobre uma política nacional que não reverte
investimentos para a região e que articulam outros espaços com investimentos de
ponta. Como caso modelar, o governo Juscelino Kubitishek (1956-60) e a montagem
do arcabouço da indústria automobilística, indústria motriz para o complexo
industrial que irá consolidar a liderança da economia paulista, a partir da
expansão, articulação e funcionalidade da região metropolitana de São
Paulo.
A mudança da capital para
Brasília inicia um processo de desmobilização geopolítica e conseqüente
desaceleração econômica para o Sudeste Oriental. Para Juiz de fora, e obviamente
para o estado do Rio de Janeiro tal fato gerou um espaço de transição, onde uma
economia regional sem fôlego de competição e cuja base agrária sobrevivia com
problemas de renovação, ausência de inovações, inexistente processo de
beneficiamento, frágil organização de circulação e distribuição de bens e
produção. Paulatinamente se consolidam no país as multinacionais do setor de
laticínios. Localizadas no sul mineiro e em São Paulo foram uma concorrência
agravante para com a economia da Zona da Mata e em especial para Juiz de Fora.
Enquanto isto a maior parte da distribuição da produção agropastoril passa a ser
dominada pelo Central de Abastecimento da Grande São Paulo (CEAGESP),
capturando, inclusive a região metropolitana do Rio de Janeiro, antes mercado
consumidor preferencial da produção agropecuária da Zona da
Mata.
A crise regional dos anos
50 se somaria a crise nacional dos anos 60 acrescentando um quadro de crise
industrial local. Na verdade, a indústria e mais amplamente a economia regional
estavam a deriva na divisão interna do trabalho. A região perde participação na
produção e competitividade no mercado interno. “Nos anos 50, os setores que
passaram a liderar o crescimento econômico brasileiro foram os de bens de
capital e de bens de consumo durável (siderurgia, metalurgia, química e
automobilística), em detrimento dos setores tradicionais. Juiz de Fora esteve
ausente dos grandes projetos de investimentos idealizados pelo Plano de Metas,
sendo apenas beneficiada marginalmente com a instalação da Facit S.A. Máquinas
de Escritório e da Becton Dickinson Indústrias Cirúrgicas Ltda., de capital
internacional, sem alterar a tendência de decadência industrial da cidade. O
capita local entrou num processo de falência, com várias indústrias tradicionais
fechado suas portas e os novos empreendimentos não foram seguidos de similares,
razão pela qual não possibilitaram a dinamização da estrutura produtiva da
cidade.”
Os anos 70 são um
importante marco para a economia da cidade, pois significaram a inserção do
território municipal na economia regional do estado de Minas, através de
incentivos propostos pelo II Plano de Desenvolvimento Nacional. Neste processo o
espaço juiz-forano passa a compor uma complementaridade com o setor metalúrgico
da região de Belo Horizonte, integrando-se, pela primeira vez, à economia de
Minas Gerais. A instalação da siderúrgica Mendes Jr., atual Belgo Mineira e da
Paraibuna de Metais – metais não ferrosos foram capazes de revitalizar
parcialmente o mercado de empregos e a dinâmica interna da economia urbana. Além
destas plantas o município recebeu uma unidade da White Martins multinacional no
setor de gases químicos e a Paraibuna de Papéis fábrica de embalagens situada no
distrito industrial no bairro de Benfica e primeira indústria a receber a ser
atendida, recentemente, pelo gasoduto Rio – Belo
Horizonte.
Na verdade, a crise da
indústria tradicional, a nova política industrial brasileira, a centralização
fiscal e administrativa do Estado nacional pós-64, a decadência
rural e a perda de hegemonia do Rio de Janeiro aliados a emergência do Região
Metropolitana de Belo Horizonte ancorado no novo modelo da indústria de
transformação reverberaram na organização espacial da Zona da Mata. Juiz de Fora
como centro regional constrói novos espaços de expansão, acompanhando o modelo
dominante da América Latina, ou seja, a constituição de uma imensa periferia
social ocupando cada vez mais espaços sem infra-estrutura, cujo resultado é o
padrão de crescimento urbano acelerado sobre uma base econômica setorizada cada
vez mais concentrada e especializada. Coube ao Estado autoritário a função de
interventor no acoplamento de infra-estruturas de inserção numa nova dinâmica
baseada no capital monopolista de base urbana-industrial. Portanto a mudança de
modelo incorreu na necessidade de regular as forças de mercado, implantar os
setores de indústria estratégica, balizando o modo do desenvolvimento de sob um
aparato técnico
centralizado e do modelo
planejado.
Qual o lugar da região – Zona da
Mata neste modelo? Quais os efeitos sobre a cidade de Juiz de
Fora?
Inicialmente concebida
como “periferia estagnada”, onde seria necessário ordenar a força de trabalho, e
imputar a cidade, enquanto centro regional a função de reter o fluxo migratório
que congestionava os espaços metropolitanos do país. O plano adotado foi o das
Cidades de Porte Médio. No âmbito rural o governo estadual lançou o PRODEMATA,
programa destinado a recuperar a produção agropecuária em áreas de concentração
de pequenos agricultores, mas de atuação pífia. Como articulação regional nenhum
programa contemplou especialmente a Zona da Mata. O resultado não tardaria a se
apresentar na paisagem urbana.
Sobre a organização
interna da cidade assistiu-se nos últimos 20 anos a busca de modelos e as
tentativas de implantação de políticas e projetos de regulação da pobreza
urbana. Efetivamente foram realizadas obras de infra-estrutura viária, marketing
e inovações no mercado imobiliário de alta renda, com a implantação de novos
bairros exclusivamente residenciais, os primeiros condomínios fechados e a
ordenação da expansão urbana em eixos de alcance da rodovia BR-040, na direção
oeste do município. Funcionalmente a expansão urbana estruturou e equipou novos
subcentros dentro da cidade, como o bairro Benfica, no setor noroeste e uma
região de modernidades e inovação que compreende o espaço entre o Alto dos
Passos, o São Mateus, o bairro Cascatinha e a Cidade Alta no setor sudoeste da
cidade.
Ao longo do processo de
espacialização atualmente verifica-se a implementação de novos empreendimentos
que operam com agentes complementares que envolvem a ação do mercado imobiliário
local com soluções de equipamento territoriais e inserção no livre mercado da
economia
globalizada. A cidade
passa a ser servida pelo sistema de cabos de fibra ótica e por gás natural.
O
gás natural associado que
é comercializado em Juiz de Fora é processado na bacia de Campos (Petrobrás/RJ)
e bombeado até Minas, através de uma rede que liga Rio de Janeiro a Belo
Horizonte. Atualmente a maior consumidora de gás natural é a siderúrgica Belgo
Mineira.
Os novos tempos da
economia aberta e da chegada de novas tecnologias parecem redundar no abandono
por parte do inconsciente coletivo do ideal da industrialização fordista,
perfeitamente compreensível e muito desejado por sua capacidade de empregar
força de trabalho. Mas, segue preponderante a estratégia do investimentos em
terras e patrimônio. A permanecia histórica do setor imobiliário, feliz em
tempos de bonança e seguro em tempos de desânimo, segue como agente fundamental
sobre o espaço urbano com sua generosa capacidade de açambarcar alianças com
diferentes agentes sociais e econômicos legais e ilegais. Sua contra face é a
necessidade da
regulação do espaço
geográfico sobre o uso e a ocupação do solo. Seu ethos incentiva o prazer
juiz-forano de cultuar a casa. Casamento duradouro... mesmo porque, ambos,
ampliam a reprodução do capital.
Ainda o grande motor da
economia de Juiz de Fora é o mercado imobiliário, Sua tradição tem sido
continuamente sua capacidade de inovação e reinvenção. Ele está presente em
parceria com todos os grandes empreendimentos aqui citados, seja no mercado
urbano ou de conversão para o urbano, através do granjeamento (áreas com mais de
2000m² que funcionam como áreas de lazer e segunda residência da classe média) e
dos condomínios fechados que abundam no entorno das
áreas remanescentes
rurais seja acoplados a projetos de preservação ambiental onde o setor
imobiliário pode aparecer cheio de regras e controle urbanístico para que
agregue sempre e sempre mais valor ao solo. Segundo a prefeitura o mercado varia
desde as construções de moradias em mutirão, com atividades sociais nos fins de
semana, até às camadas média alta e média, formadas por empresários,
comerciantes e profissionais liberais, cujos rendimentos excedentes permitem a
aquisição de imóveis com a finalidade de ampliar o patrimônio, ou visando a
renda extra, decorrente do aluguel e ainda por compradores das cidades-pólo para
manter uma segunda residência na cidade grande ou para os filhos que vêm estudar
em Juiz de Fora. Ultimamente, de acordo com os sindicatos do mercado imobiliário
a lucratividade se mantêm em baixa, em razão de considerável aumento da matéria
prima, principalmente do cimento, além dos preços de imóveis terem se mantido
estáveis nos últimos dois anos, ao contrário da década de 80, quando se obteve
altos lucros. Ainda, segundo a Prefeitura, as obras oferecem oito mil empregos
diretos à classe operária e se levarmos em consideração os vários segmentos que
envolvem uma construção, deve chegar a 20 mil, contando com empregos indiretos.
A movimentação lucrativa fica por conta do recolhimento de impostos, IPTU, ISSQN
e ICMS dada a extrapolação pelas áreas do comércio, indústria e profissionais
liberais, decorrentes do mercado imobiliário. Deste modo a “rota BR
040” parece ser o
lugar da vez, pois o governo federal, o estadual, as prefeituras e os agentes
locais se movem no sentido de viabilizar a inserção da economia regional a
partir da melhoria das condições logísticas, do fortalecimento do mercado
interno regional e da promoção de negócios de lucratividade crescente dos
setores econômicos urbanos. A produção da renda urbana torna-se fundamental para
garantir o continuar do ciclo de crescimento e torna-se simultaneamente o maior
desafio.
Recentemente, a região
recebeu aporte financeiro federal para que a rodovia Rio–Juiz de Fora se torne
melhor e mais segura. “Com um financiamento de R$ 42,18 milhões do BNDES, a
Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora - Rio (Concer) duplicará
37 km de pistas
entre
Matias Barbosa e Juiz de
Fora, em Minas Gerais”. O projeto contribui para a redução do número de
acidentes, além de diminuir o tempo de viagem entre o Rio de Janeiro e Juiz de
Fora. O investimento total da Concer no projeto, já aprovado pelo DNER, é de R$
108 milhões. Serão duplicadas cinco pontes, além de construídos dois retornos e
barreiras separando os dois sentidos das pistas. Com sua conclusão, a empresa
homogeneizará a qualidade dos seus serviços, uma vez que o restante da rodovia
administrado pela Concer já possui pistas duplas. A realização das obras
permitirá a redução dos custos logísticos associados aos transportes de produtos
numa estrada vital para a integração econômica da Região Sudeste. Os
investimentos ao longo do eixo rodoviário deverão significar a montagem de uma
estrutura territorial que deverá transbordar para conexões com outros sistemas
viários inter-regionais e intra-regionais e, especificamente intermodal no caso
do Aeroporto da Zona da Mata, cujo projeto se inscreve na diretriz estadual que
busca através do planejamento regional definir e potencializar cluster
econômicos regionais mineiros.
Arantes (2001) apresenta
a idéia de cluster econômicos, enquanto concentrações de empresas e entidades do
mesmo ramo de atividades associadas numa mesma região geográfica, cuja
interligação se dá por um eixo rodoviário, o que gera a necessidade de se ter
também na área fornecedores especializados provedores de serviços e
instituições. O autor analisa a Rota 459, a partir da
cidade mineira de Poços de Caldas até a cidade paulista de Lorena no vale do rio
Paraíba e constituída oficialmente como fórum regional e que congrega os
municípios de vocação industrial do sul de Minas e parte do Vale do Paraíba,
onde identifica um processo de organização de uma infra-estrutura para
operacionalização produtiva.“ Pelo fato de estarem situadas próximas umas das
outras e produzirem produtos característicos de uma região, empresas que fazem
parte desses nichos, além de influírem significativamente nas exportações,
desempenham também um importante papel no desenvolvimento regional, na medida em
que um espaço comum de trocas e, o que é mais importante, de complementaridade
entre os diversos atores envolvidos, sejam eles governamentais, empresariais
e/ou comunitários”.
É fato que Juiz de Fora e
seu entorno não apresentam núcleos urbanos capazes ainda de compor uma divisão
territorial do trabalho e do consumo que seja capaz de estruturar especialmente
a aglomeração urbana, como por exemplo, as cidades do Vale do Aço. No entanto, a
capacidade de polarização de Juiz de Fora se expande para além do limite
administrativo político estadual, muitas vezes este se tornando um entrava à
análise geográfica. Pode-se afirmar que Juiz de Fora assume um espaço de
competência para comandar a distribuição e redistribuição de fluxos que atendam
ao crescimento de uma urbanização extensiva espraiada por toda a rede urbana
hierarquicamente inferior da Zona da Mata e do Vale do Paraíba, estendendo-se em
território constituído por vários municípios do estado do Rio de Janeiro. Ao
contrário do sul de Minas que sofre influência de Campinas, São José dos Campos
e Ribeirão Preto, além obviamente de São Paulo; Juiz de Fora sofre influência
apenas da metrópole global representada pelo Rio de Janeiro e da metrópole
nacional Belo Horizonte, capital do estado de Minas
Gerais.
É provável que muito
breve, além do eixo preferencial na BR 040, possa se estabelecer uma
complementaridade espacial através do eixo da rodovia que no sentido nordeste em
relação a Juiz de Fora e que alcança Ubá, centro microrregional com função
industrial e a cidade de Viçosa, importante centro universitário federal com
ênfase nos cursos de Agronomia e, mais adiante Ponte Nova, já bem próximo da
região metropolitana do Vale do Aço. Deste ramal, Juiz de Fora enlaça e conecta
para o eixo que enlaça as cidades de Barbacena, São João Del Rei e Lavras,
centro universitário de ciências agrárias e florestais e onde, também, está
previsto a construção de um Parque Tecnológico e de um Centro de Convenções. A
cidade de Lavras já se encontra às margens da BR 381 que faz a ligação de Belo
Horizonte com o sul de Minas, atingindo o vale do Paraíba, São Paulo e a região
de Campinas.
Seria possível para os
pesquisadores investirem na análise da efetiva área de influência da cidade se
destravado do território estadual, para compreender melhor a configuração da
região comandada por Juiz de Fora e a importância dos eixos e circuitos de
escalas territoriais mais ampliadas. Por sua vez, o governo de Minas ao lançar o
Projeto Cresce Minas de 2000, concebido e coordenado pela FIEMG tem por objetivo
fomentar o crescimento de Minas Gerais, captando investimentos e reunindo os
talentos capazes de colocar o Estado num eixo de desenvolvimento. Alega a
necessidade de reforçar a dinâmica do desenvolvimento auto-sustentado de setores
e regiões geográficas de Minas Gerais, reduzindo as disparidades e viabilizando
o crescimento das indústrias existentes, incentivando a competitividade
inter-regional, a atração de investimentos complementares, o implemento de
atividades de suporte técnico e de produtos de padrão internacional. Segundo o
projeto, Juiz de Fora, se insere nos seguintes clusters: automobilístico,
laticínios, mobiliário, têxtil e vestuário. Interessante notar que não são
elencadas as maiores indústrias presentes na região e que são do setor de
transformação, no que revelam por sua natureza e importância geopolítica o
caráter de complementaridade e junção no projeto econômico
nacional.
No âmbito regional,
recentemente consolidou-se a expansão do setor de informação, comunicação e
cultura, a partir da organização Rede Panorama de jornal, rádio, rádio via
internet, televisão e todos os serviços da internet; como afiliadas do Sistema
Globo de Telecomunicações e da Globo.com, em que ambas buscam atender a um
determinado perfil regionalizado de produção. É importante apreender que a
regionalização da mídia, além de cumprir um preceito constitucional, significa
muitos outros valores em jogo, Dos mais éticos aos mais competitivos. Na
verdade, o sistema de comunicação regional atende aos anseios de consolidação do
mercado interno regional, da ampliação do mercado interno nacional, da ampliação
geral do consumo, do reforço da identidade regional, da auto-estima e do
regionalismo, impulsionando a produção de mão de obra qualificada local, de
talentos e tecnologias geradas na própria região. É com este conceito que o
ipanorama.com pretende-se como referência em conteúdo, informação e
entretenimento regionalizados, com foco no dia-a-dia dos mineiros. No discurso
são incorporados a novidade, a inovação e, portanto, o caráter de modernidade
que aporta a região com ao empreendimento. Uma idéia inovadora que já nasce com
grandes parcerias e investimentos maciços, visando a criação de serviços
diferenciados e conteúdos exclusivos. Além de um rico conteúdo local que abrange
informação, entretenimento, diversão, relacionamento, serviços on-line e
comércio eletrônico, o ipanorama.com cria produtos para as mídias interativas,
sempre associadas à Internet: web, WAP, banda larga e TV interativa são alguns
exemplos. O ipanorama.com oferece um
espaço completo ao 'internauta', fidelizando a audiência de um mercado que
cresce a cada dia, com milhares de consumidores em potencial, acessando,
comprando e vendendo pela Internet. A partir de agora, pensou em internet na
região da Zona da Mata e Vertentes, pensou em ipanorama.com. Apostando na
interatividade e na integração regional o sistema amplia o tempo em sua grade
programação e no investimento de consumidores internautas do provedor Globo.com,
incluindo a transmissão diária do noticiário local pela internet de modo a
atingir os internautas de todos os cantos das Minas Gerais e do mundo. O espaço
destinado ao jornalismo foi ampliado de 16 para 40 minutos diários e são
divulgadas informações de 129 municípios da Zona da Mata e Vertentes atingindo
um público de um milhão e 700mil telespectadores. Uma equipe foi criada em
Barbacena para a cobertura de 43 cidades. A rede empregou jovens profissionais
formados pela Universidade Federal de Juiz de Fora, incorporou novos talentos e
profissionais já estabelecidos na região, trouxe assessoria externa introduziu
uma nova competição na mídia local enfatizando a importância de garantir ao
cidadão o seu direito de expressão e da possibilidade de conquista a da
auto-imagem local e regional.
Conclusão:
É importante assinalar
que a despeito do quadro acima descrito sobre empreendimentos negócios e
inovações no espaço urbano de Juiz de Fora é importante contemporizar em relação
a atual situação econômica do pais, onde os investimentos tem sofrido com as
altas taxas de juros e esforços de contabilidade interna e externa que
praticamente paralisaram a economia interna, No caso de Minas Gerais e mais
especificamente do setor produtivo de Juiz de Fora a maioria das empresas que
pesam no Produto Interno Bruto de Minas não tem comando no Estado. O poder
decisório via de regra encontra-se fora de Minas e cada vez mais podem estar bem
longe de Minas.
As empresas privatizadas
pertencem a fundos de investimento e de pensão, cujos interesses nada têm a ver
com os interesses do Estado. Percebe-se claramente a expectativa de determinados
setores econômicos pela maior presença do Estado tanto na esfera decisória,
reguladora, normativa e executora, principalmente, na capacidade de aporte de
investimentos, como fica claro o impacto econômico que virá com o investimento
do Banco de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) no principal eixo
rodoviário que cruza a cidade e a região.
Em Juiz de Fora,
principal centro urbano de uma região em fronteira estadual, portanto, com
seções específicas de competência, o fenômeno urbano-regional se organiza ao
sabor do mercado e das influências geográficas mais diretas. As políticas
estaduais efetivamente não se realizam, enquanto que a municipalidade se lança
com ousadia na estratégia dos negócios, descuidando do setor social,
incentivando a privatização da cultura e cuidando para que a classe média
continue se
embalando no sonho
realizado de seu mais caro território – a casa. Um menu variado impele às novas
formas de localização: perto da mata, do shopping, na estrada, na reserva de
proteção ambiental, próximo ao verde, às margens da represa. Como exemplo, um
dos novos negócios da empresa Pangea consta de um projeto de interligação entre
o Park Sul e a Reserva de Patrimônio Natural (RPPN) de 300 ha. do
Instituto Celso Juarez de Lacerda, empresário e latifundiário na região, onde se
pretende construir um corredor ecológico e futuramente criar um projeto
imobiliário dentro da concepção de desenvolvimento sustentável. Enfim, um enorme
apelo às paisagens variadas, mas que paradoxalmente ainda longe do rio, já que
este só visto de longe – o rio Paraibuna, um dos ícones mais exaltados da
história urbana de Juiz de Fora.
A despeito das inovações
introduzidas pelo Planejamento Estratégico de Juiz de Fora, as novidades se
referem muito mais ao marketing do próprio plano e à promoção de projetos
pontuais
localizados nas áreas
mais bem estruturadas da cidade, do que propriamente a soluções dos graves
problemas sociais e da promoção da cidade como um todo articulado. A Prefeitura
capitaneou um plano “estratégico” para a cidade que no discurso e na
apresentação da metodologia se apresenta como participativo, mas que na prática
é extremamente competitivo e empresarial. Na paisagem, em resumo, vislumbramos a
cidade atrativa do oeste, enquanto que tentamos encobrir o “panorama” da cidade
esquecida do leste. Apesar da assessoria do CIDEU – Centro Ibero-americano de
Desarollo Estratégico Urbano a rede de cidade ibero-americana precisa saber
conhecer melhor a cidade latino americana nas diferenças fundamentais que
apresentam em relação as cidades ibéricas. Uma das diferenças fundamentais é a
presença de uma periferia social de baixa escolaridade, excluída da formação
atualizada do trabalho. Do ponto de vista espacial a população habita um estoque
de terras mal localizados, isto é, em área de risco ambiental; sem
infra-estrutura urbana básica e sem plena cidadania e sobre a qual se reverte
minimamente investimentos e nenhum empreendimento.
Recentes investimentos
imobiliários apontam para monopólio do mercado de terras e dos empreendimentos,
sendo esta estratégia configurada espacialmente também de maneira concentrada,
em especial o setor sudoeste da cidade. O que aponta a necessidade da análise
geográfica para os objetivos de: mapear as conexões dos empreendimentos locais
com outros equipamentos na região para demonstrar seu papel (Juiz de Fora) de
articuladora do espaço regional e nacional. Para, então: evidenciar e analisar a
estratégia de localização dos principais empreendimentos da economia urbana
local, geradores do capital local, associado ou não, porém necessário a
reafirmar o papel de centro regional e, portanto, manter o comando do processo
de articulação e desconcentração produtiva do espaço
nacional.
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