De
quem e para quem é a cidade?
-
uma análise sobre os limites e contradições da atuação dos Movimentos Sociais
Urbanos de João Pessoa-PB, Brasil
¿De
quién y para quién es la ciudad?
Un
análisis sobre los límites y contradicciones de la actuación de los Movimientos
Sociales Urbanos de João Pessoa-PB, Brasil
Xisto
Serafim de Santana de Souza Júnior
Eliseu
Savério Sposito
Doutorando
pela UNESP e bolsista CNPq
(xtojunio@yahoo.com.br)
Resumo:
A estruturação
urbana das cidades brasileiras tem sido influenciada, especialmente nestes
primeiros anos do século XXI, por uma atuação cada vez mais significativa dos
movimentos sociais urbanos. No entanto, fatores conjunturais (políticos,
econômicos e ideológicos) superpostos ao longo da formação socioespacial das
cidades apresentam-se como elementos condicionantes da atuação desses atores
sociais ao imporem limites ou proporcionarem contradições na prática dos mesmos.
A compreensão de tais limites e contradições apresenta-se, nesse contexto, como
um desafio ao estudo da cidade.
Palavras-chave: Estruturação
urbana, Movimentos Sociais Urbanos, cidade
Resumen:
La
estructuración urbana de las ciudades brasileñas ha sido influenciada,
especialmente en estos primeros años del siglo XXI, por una actuación cada vez
más significativa de los movimientos sociales urbanos. Sin embargo,
factores conjunturales (políticos, económicos e ideológicos), superpuestos a lo
largo de la formación socioespacial de las ciudades se presentan como elementos
condicionantes de la actuación de estos actores sociales al imponer límites y
contradicciones en su práctica. La comprensión de tales límites y
contradicciones se presenta, en ese contexto, como un desafío al estudio de la
ciudad.
Palabras
clave:
estructuración urbana, movimientos sociales urbanos,
ciudad
Introdução
O discurso e as
ações voltadas para se pensar a produção da cidade tendo como parâmetro os
embates evidenciados entre os atores responsáveis por sua organização
territorial, têm reduzido os laços entre o planejamento e a gestão dos espaços
urbanos. Isto se evidencia na própria ação dos atores sociais que se apropriam
do território sem compreender os reais motivos que influenciam no processo de
formação socioespacial.
Nesse contexto,
os debates emergem em meio a três perspectivas que juntas representam todo o
mosaico dialético da produção e consumo espacial: a) a econômica, porque as
mudanças na cidade são coordenadas por relações sociais de produção; b) a jurídico-política, porque o Estado
ainda se apresenta como um grande articulador do processo de produção espacial
e; c) a ideológica, porque os limites entre os interesses individuais e os
coletivos convergem enquanto visão de mundo. Juntas, essas perspectivas são
responsáveis pela reordenação das configurações territoriais, especialmente no
que diz respeito aos espaços urbanos onde as relações socioespaciais se
apresentam cada vez mais complexas (LIPIETZ, 1988).
Inseridos nesse
contexto, os Movimentos Sociais Urbanos (MSUs) têm emergido como um segmento
estratégico da sociedade na medida em que exercem uma posição de interface entre
os interesses do poder público em promover o ordenamento urbano e os interesses
de parcela da sociedade, normalmente a mais carente, pelo direito à cidadania.
Contudo, fatores conjunturais constituídos ao longo da formação socioespacial
das cidades onde os mesmos atuam, vem interferindo na eficiência da ação desses
atores sociais, impondo limites e originando contradições na prática
socioespacial desenvolvida por tais atores sociais.
Diante desse
contexto, o presente artigo tem como objetivo estimular o debate acerca da real
influência dos MSUs sobre o processo em que se efetiva a produção, apropriação e
consumo do espaço urbano, observando suas limitações e contradições. Para isso,
foi selecionada a cidade de João Pessoa tendo em vista, entre outras coisas, a
atual conjuntura urbana da cidade e o fato de que esses atores ainda estão em
fase de consolidação e reconhecimento.
Tendo em vista os
poucos referenciais de natureza geográfica, encontrados acerca da problemática
apresentada, o presente texto propõem-se, também, ao desafio de evidenciar se as
ações desenvolvidas pelos Movimentos Sociais Urbanos ultrapassam os limites de
simples relações sociais na medida em que os mesmos expressam geograficamente
suas interferências na organização socioespacial. Para isto, utilizamos como
recorte espacial a cidade de João Pessoa, localizada na porção oriental do
nordeste brasileiro.
Assim sendo, além
da introdução e considerações finais, o texto encontra-se dividido em três
partes estrategicamente delineadas. Na primeira, é realizada uma análise dos
parâmetros que sustentam a importância de se estudar como tais atores se
expressam geograficamente no espaço urbano. Ato contínuo é feito uma análise de
como os fatores conjunturais têm condicionado a estruturação urbana de João
Pessoa e a participação dos MSUs nesse contexto. A terceira e última parte
corresponde a uma análise sobre os limites e contradições que interferem na
atuação desses movimentos e uma reflexão sobre quem de fato produz e para quem
de fato a cidade é produzida.
1. Desvendando os mitos para
descobrir as máscaras: a configuração territorial em
contexto.
Para se
compreender o que de fato caracteriza a influência dos Movimentos Sociais
Urbanos no processo de estruturação urbana das cidades é importante
desmistificar algumas considerações que historicamente vêm sendo cultivadas
primeiramente no ambiente científico e depois na própria sociedade. Dentre
alguns mitos consolidados ao longo do tempo, três merecem ser destacados tendo
em vista a influência dos mesmos ao desenvolvimento da própria ciência, são
eles: a) O estudo dos Movimentos Sociais Urbanos é responsabilidade exclusiva
dos sociólogos; b) a inexistência de fundamentos que sustentem o interesse
geográfico na análise da atuação de tais atores e; c) os motivos da existência
dos MSUs são pautados na crença de que a cidade está em crise.
Embora tais argumentos estejam diretamente relacionados, por
motivos práticos, faremos uma análise de cada um,
isoladamente.
a) O
estudo dos MSUs é responsabilidade
exclusiva dos sociólogos
É
inquestionável o fato de que a maior produção científico-analítica da ação dos
movimentos sociais seja ainda elaborada pelos sociólogos os quais, ao longo do
tempo, têm fornecido contribuições substanciais para a compreensão da
organização social. Contudo, nestas décadas recentes, têm-se percebido um
crescente interesse por parte de outros profissionais pelo estudo da atuação
desses atores sociais, a exemplo dos geógrafos que cada vez mais têm observado
que os movimentos sociais possuem participação direta na produção e apropriação
espacial.
No
entanto, no caso da geografia, embora existam várias experiências sobre a
atuação dos movimentos sociais, estas ainda encontram uma maior expressão no
âmbito rural, representadas por trabalhos voltados para análise dos impactos das
relações trabalhistas e a luta pela terra. De fato, as produções geográficas
analisando as territorialidades dos movimentos sociais em ambientes rurais já se
caracterizam como eixo-temático de diversas instituições de ensino superior,
especialmente no Brasil onde o conflito territorial no meio rural propicia a
visibilidade da prática dos movimentos sociais. Quanto ao estudo da atuação
desses atores em um espaço urbano, esta ainda é incipiente sendo a produção
restrita a alguns pesquisadores que analisam os movimentos sociais como mais um
elemento das relações socioespaciais sem se preocupar com a elaboração de
fundamentos que os classifiquem como agentes estruturadores do espaço
geográfico.
Isto se
deve a resistência de alguns geógrafos em reconhecer que ao mesmo tempo em que
os atores sociais existem a partir de relações sociais desenvolvidas entre os
mesmos (objeto de estudo dos sociólogos), estes são produtos da própria formação
espacial (objeto de estudo da geografia). Isto nos remete ao segundo aspecto
destacado anteriormente.
b)
inexistência de fundamentos que sustentem a “geograficidade” do estudo dos
MSUs
No
âmbito das produções geográficas sobre os MSUs, embora exista um aceite na
utilização de textos de sociólogos na análise do urbano, a exemplo das obras de
Castells (1999; 2000) e Lefebvre (1992, 2001a, 2001b) o aceite de pesquisas
sobre os movimentos sociais, compreendidas como geográficas, ainda é limitado.
Da mesma
forma, embora tais autores, entre de outros, analisem, mesmo que indiretamente,
o espaço geográfico como o ambiente aonde as relações sociais se concretizam, os
estudos acabam sendo superficiais uma vez que não puderam contar com
contribuições mais substanciais dos geógrafos, tanto no âmbito teórico como no
empírico. O principal problema encontra-se evidenciado na dificuldade de se
reconhecer que tais movimentos possuem uma expressão
geográfica.
Resta-nos,
então, saber se existe alguma concepção que poderia servir como aporte comum aos
dois campos do conhecimento? Inicialmente sim. Basta lembrar que ambos os campos
do conhecimento possuem um aspecto comum: analisar como os indivíduos atuam e se
relacionam no território. No caso dos sociólogos a preocupação está relacionada,
entre outros aspectos, às relações sociais que produzem áreas de inclusão e
exclusão. Já na geografia este conceito encontra seu significado nas práticas
sociais relacionadas a produção, consumo e apropriação dos espaços nos quais as
relações são evidenciadas através da disputa pelo espaço.
O fato
do território e seus elementos constituintes (tipo de estrutura e relação
socioespacial) apresentarem-se como instrumentos que viabilizam a observação das
estratégias e táticas dos movimentos sociais no processo de estruturação urbana
faz desse conceito uma preocupação comum ao estudo do sociólogo e do geógrafo. O
primeiro por se preocupar com as conseqüências sociais (ética, organizacional
etc.) em um determinado espaço, e o segundo por chamar para si a
responsabilidade de analisar as conseqüências espaciais (segregação,
fragmentação etc.) da ação dos diversos segmentos sociais.
É
possível visualizar, nesse contexto, dois tipos de territórios: o território-produto e o território-apropriado, ou seja, o
espaço como valor de troca e o espaço como valor de uso.
No que
diz respeito a observação do espaço como valor de troca (território-produto), a
triangulação da relação entre os atores sociais deve ser observada em sentido de
complementaridade tendo na esfera pública o elemento delineador.
De fato,
é a partir dos parâmetros (legais e políticos) propostos pelo município,
especialmente a da adoção do Plano Diretor, no caso do Brasil, que as
territorialidades do espaço produzido são, então, materializadas (Figura 01) pelas estratégias e táticas
socioespaciais desenvolvidas pelos demais atores sociais.
Figura
01: relação entre os atores sociais
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A figura 01 representa o
papel do poder público na definição das territorialidades
desempenhadas pelos atores sociais. A representação busca
evidenciar, pelo menos, três frentes: a) existe uma dependência
entre as ações (estratégias e táticas) a qual está representada
pelas setas; b) O poder público projeta as regras a serem seguidas
pelos atores, especialmente no contexto do ordenamento territorial
conforme representado pela sombra projetada e; c) mesmo tendo que
obedecer as regras e diretrizes postas, os demais atores sociais
mantém relações de dependência a qual influencia na própria atuação
do poder
público. |  |
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Nesse
contexto, o território-produto pode
ser compreendido como a categoria geográfica espacial na qual podem ser
valorizados os objetos, as funções, as estruturas e os processos, na mesma
perspectiva trabalhada por Santos (1997). Tal aspecto, por sua vez, é coordenado
pela esfera pública que orienta as práticas de outros atores e a seleção dos
espaços a serem utilizados como estratégicos, redirecionando as relações de
poder (disputa territorial) para os mesmos.
O espaço
se torna, assim, expressão das relações de poder entre esses atores segundo a
qual existem arranjos (políticos, econômicos e ideológicos) que coordenam os
avanços e retrocessos na configuração territorial. Cabe, nesse sentido, ao poder
público a montagem do cenário a ser trabalhado pelos demais atores sociais que
tanto são influenciados por tais práticas como também influenciam ao fornecerem
novos significados aos objetos e ações.
Já no
segundo caso, se utilizarmos como referência as concepções trabalhadas por
Haesbaert (2004), o território é também decorrente do próprio significado dado
ao espaço pela sociedade, através de seus valores, planos e relações. Este
território (espaço apropriado) é volvido de relações simultâneas que não
necessariamente precisam estar disputando, entre si, o controle do
território-produto (dar sentido a sua existência). Nessa perspectiva, o território-apropriado seria o espaço
das multiterritorialidades (Haesbaert, 2004) dos atores sociais ao disputarem o
espaço através das diversas relações sociais.
Para
este nova perspectiva, a triangulação da relação entre os três atores sociais
deve ser observada de forma superposta, sendo o elemento delineador todos os
atores sociais que desenvolvem estratégias e táticas de apropriação territorial.
Esta apropriação, por sua vez, não necessita ser apenas por substituição
(diacronias) uma vez que pode ser evidenciada em sua sincronia (simultaneidade).
Nesse
contexto, o espaço é observado a partir das práticas simultâneas entre os atores
sociais, sendo classificado pelos valores dados por seu uso e interesses(Figura 02).
Figura 02: relação entre os
atores sociais: o debate sobre a apropriação resulta na necessidade de
articulação das práticas espaciais.
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A figura 02 representa a
organização espacial a partir das práticas territoriais. Nesse
sentido, o controle do poder público não consegue apreender as
práticas cotidianas dos demais atores sociais. Estes, ao mesmo tempo
que promovem relações particulares entre si, são obrigados a
debater, entre si, as estratégias de ordenamento urbano a qual
encontra-se representada pelo ponto de interseção evidenciado na
figura ao
lado. | |
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É em meio ao
debate decorrente da relação entre esses atores sociais e suas práticas que
permeia a própria estruturação do espaço urbano. Assim sendo, a cidade é
produzida como conseqüência de um movimento maior que transcende seus domínios
(econômicos, políticos e ideológicos), influenciando nas relações e valores
socioespaciais. Por outro lado, esta mesma cidade deixa transbordar os conflitos
e contradições sociais entre os seus próprios atores.
Percebe-se,
assim, que os estudos dos movimentos sociais na produção e apropriação do espaço
urbano emergem como uma demanda transdisciplinar. Isto se deve aos interesses
decorrentes tanto da necessidade de se dominar; como pelo interesse de se
produzir e apropriar do território-produto (transformações sociais pelas
relações de poder) e do território-apropriado (relações sociais pela imposição e
disputa de poder).
Desta forma,
assim como ocorre com a compreensão do processo de estruturação urbana, os
movimentos sociais passam a ser compreendidos a partir de três perspectivas: a)
a política – representada pelos
movimentos de bairros que emergiram na cidade em meados dos anos 1970; b) a econômica – representada,
predominantemente, pelos movimentos que passaram a se preocupar com luta pela
inclusão social, a exemplo do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM),
Central dos Movimentos Populares (CMP), Movimento de Luta nos Bairros (MLB)
etc.; e c) a ideológica – pautada na
busca por autonomia e pela luta em defesa da descentralização administrativa e
melhorias em infra-estrutura e equipamentos urbanos.
Esta
descentralização fez com que os atores substituíssem as reivindicações
sócio-ambientais por reivindicações que transformassem de fato a estrutura
social, o que resultou no surgimento de novas demandas como o debate sobre o
direito à cidade (GOHN, 2004). Por outro lado, as transformações políticas,
associadas às mudanças econômicas e sociais, passaram a influenciar em mudanças
nas relações sociais, tornando, cada vez mais fragmentada.
c) os motivos da existência
dos movimentos sociais urbanos estão pautados na crença de que a cidade está em
crise
Há pelo menos
duas inquietações relacionadas à observação acima. A primeira corresponde ao
fato de que as relações sociais produzidas entre os MSUs acabam reproduzindo as
desigualdades sociais ao confirmarem uma posição de inferioridade no que diz
respeito a outros segmentos da sociedade com melhor poder aquisitivo. A segunda
diz respeito ao fato de que sendo as preocupações voltadas primordialmente para
melhorias sociais (trabalho, moradia, saneamento, etc.) o debate sobre o direito
ao uso do espaço urbano da cidade ficou relegado a um segundo plano. Ambas,
estão pautadas na tese de que existe uma crise na e da cidade.
Em decorrência
disso, a espoliação urbana, decorrente principalmente da luta por diversos
segmentos da sociedade por melhoria nas condições de sobrevivência na cidade
(KOWARICK, 2000), segregação espacial e fragmentação urbana, emerge como uma
questão difícil de ser analisada sem a observação das intencionalidades e
práticas dos atores sociais.
Nesse contexto, a
crise da cidade seria, na verdade, uma crise da sociedade. De fato, é mais
apropriado compreender que a crise está vinculada à sociedade e não a cidade uma
vez que a cidade é a expressão da sociedade a qual, por sua vez, emana da
própria complexidade que identifica as nossas atuais organizações. Por sua vez,
aparenta-nos ser limitada a compreensão de que se trata de uma crise da
sociedade uma vez que o evidenciado na atualidade é apenas um recorte dos mesmos
arranjos vivenciados anteriormente. A idéia da existência de uma crise da
sociedade é, portanto, aparente uma vez que as contradições, valores,
ideologias, disputas, etc., sempre existiram ao longo da história, embora com
repercussões distintas. Nesse sentido, essa crise nada mais é do que uma crise
socioespacial representada pela necessidade dos atores sociais descobrirem o seu
ideal de arranjo espacial a partir de suas territorialidades, expressas em
fatores conjunturais da sociedade: político, econômico e
ideológico.
No contexto
político a chamada crise socioespacial é, ao mesmo tempo, uma “crise política”,
na medida em que os gestores se sentem pressionados a retomar o planejamento
urbano como forma ideal de administração da coisa pública; e uma “crise da
política” devido à atuação mais efetiva de outros segmentos da sociedade,
especialmente os Movimentos Sociais Urbanos que lutam pelo direito à cidade e
que nas décadas recentes tem colocado em xeque as decisões políticas,
especialmente as relacionadas ao ordenamento territorial.
No âmbito da
conjuntura econômica evidencia-se uma situação decorrente de uma seqüência
histórica segundo a qual os interesses da minoria prevalecem sobre o da maioria.
Nesse sentido, as cidades são palcos de contrastes históricos refletidos em
espaços segregados e fragmentados tanto socialmente como
espacialmente.
Finalmente, a
expressão ideológica da crise socioespacial encontra-se refletida nas
contradições dos próprios atores sociais quanto à organização do espaço urbano
da cidade. De fato, se por um lado o poder público se autodenomina conhecedor da
cidade em sua totalidade tendo, assim, dificuldades de apreender as
particularidades na escala do cotidiano; por outro lado, a sociedade limita-se a
vivência no seu recorte do urbano, na maioria das vezes representado por um
bairro sendo, portanto, ineficiente em sua intenção em lutar pelo direito à
cidade.
2.
A estruturação urbana de João Pessoa:
um desenvolvimento condicionado por elementos conjunturais.
O processo de
formação e estruturação espacial da cidade de João Pessoa foi significativamente
influenciado por uma diversidade de fatores sócio-econômicos, políticos e
ideológicos, produzidos tanto por conseqüência das relações sociais como em
decorrência das próprias relações de produção.
Ao contrário do
que ocorreu com outras capitais do Nordeste Oriental, a cidade de João Pessoa
teve sua organização espacial iniciada a partir do continente indo, tardiamente,
em direção ao litoral, e sendo fortemente influenciada pelos elementos
físico-naturais (relevo colinoso) que serviam de proteção contra os ataques
indígenas (AGUIAR E MELO, 1989). Este fator de localização do seu sítio
geográfico acabou delineando os próprios desdobramentos e contrastes de suas
configurações espaciais, especialmente no que diz respeito a sua função e a sua
configuração territorial. De fato, as políticas destinadas a melhorias do
ordenamento urbano, além de terem sido restritas as principais ruas da época,
eram predominantemente voltadas para beneficiamento de parte da população
economicamente mais favorecida uma vez que os mais pobres encontravam-se
residindo em pequenos casebres, embora os hábitos rurais fossem característicos
de todos (AGUAR e MELO, 1989).
Assim sendo, até
as primeiras décadas do século XX, a cidade permaneceu urbanamente pouco
desenvolvida, sendo sua dinâmica espacial influenciada pelos valores e dinâmicas
socioespaciais desenvolvidas na Cidade de Recife, em Pernambuco, especialmente
no que diz respeito às questões econômicas (relações de entrada e saída dos
produtos comercializados), políticas e ideológicas. Desta forma, o primeiro
grande recorte sobre a formação socioespacial da cidade esteve relacionado aos
seguintes valores conjunturais:
a)
Econômicos - representados pela dependência
direta da economia pernambucana e adoção, como estilo de vida, de hábitos e
valores norte-americanos que começavam a se infiltrar no estilo de vida do
cidadão;
b)
Políticos - representado pela dificuldade de
se criar ações que propiciassem uma mudança efetiva na qualidade de vida do
cidadão; atraso na expansão do perímetro urbano e; uma participação efêmera da
população no debate político, pelo menos até a morte de João Pessoa (1930) que
serviu de estopim para a primeira grande mobilização
popular;
c)
Ideológico - a sociedade mantinha presa a si
valores patriarcais que não mais se adequavam aos valores que deveriam ser
adotados por uma sociedade urbana.
A partir da
década de 1930, com a morte do presidente (governador) João Pessoa, a política
desenvolvida para a cidade passou a ser direcionada a busca pela melhoria das
condições de vida da população. Foram, então, criadas diversas obras de
melhoramento urbano, especialmente as relacionadas à melhoria na coleta de
esgoto (canais pluviais) e criação de residências, além do asfaltamento,
iluminação pública, abastecimento d’água e serviços públicos em geral.
Emerge, nesse período, as primeiras e mais significativas
mobilizações sociais expressas na nova denominação da cidade que passa a ser
chamada de João Pessoa em decorrência do aceite popular aos ideais políticos do
ex-governador. No âmbito da forma urbana, a ocupação do leste da cidade, indo
tanto no sentido norte como no sentido sul, representa uma “ruptura” na forma de
se pensar o ordenamento urbano da mesma, ou seja, a negação do rio e a
visualização de um desenvolvimento urbano voltado para o mar. Neste momento, o
crescimento urbano passa a ter como referencial o planejamento espacial.
Durante os anos
de 1970, fatores externos relacionados à migração provocada pela seca no
semi-árido e a atração pelo parque industrial emergente, assim como os próprios
contrastes internos inerentes as disparidades socioespaciais, são responsáveis
por uma nova fase da estruturação urbana da cidade. Nesse contexto, entre as
décadas de 1970-1990, a cidade de
João Pessoa apresentava, em sua configuração urbana, uma divisão socioespacial
alicerçada em pelo menos setes frentes (mapa 01):
Mapa 01: Divisão espacial
por tipo de padrão de ocupação
Os setores
evidenciados no mapa trazem as seguintes características:
a) Um setor leste voltado para
o turismo e ocupado por parte da população com maior poder aquisitivo, isolado
do resto da cidade por conta de dois elementos físico-naturais: o rio Jaguaribe
ao norte e a falésia morta ao sul;
b) Um setor norte limitado pelo rio
Sanhauá ao norte, inviabilizando a expansão urbana, e ocupações com fortes
problemas estruturais, especialmente por ser uma das áreas mais
antigas;
c)
Um centro
histórico-comercial com problemas estruturais significativos, ocupados, em suas
funcionalidades, por um comércio mais popular e pela concentração de serviços
básicos;
d)
Um setor
centro-sul onde foram estabelecidos os principais loteamentos habitacionais
(Bancários, Mangabeira, Valentina Figueiredo, etc.), criados para absorver o
excedente populacional já presente no contexto urbano (1970-1980), especialmente
para a classe média. Isso se justifica no fato de que esta, ao mesmo tempo em
que demonstrava interesses em se afastar dos setores mais pobres (oeste e
leste), não tinha recursos para ocupar as residências localizadas no setor leste
(Manaira, Miramar, Tabaú, Cabo Branco etc), com preço de ocupação bem mais
alto.
e)
Um setor
sul que se caracteriza como uma importante alternativa para expansão dos limites
territoriais urbanos da cidade, sendo, portanto, a área mais cobiçada pelo
planejamento urbano e empreendedores imobiliários, além ser o setor aonde se
localiza o distrito industrial da cidade;
f)
Todo um
perímetro oeste ocupado pela população mais carente expulsa do centro da cidade
ou oriunda de outras localidades. São as ocupações dos terrenos mais elevados
(bairros como Alto do Céu e Alto do Mateus) e das terras
baixas;
g)
Os
diversos aglomerados subnormais espacializados de forma fragmentada em todo o
perímetro central da cidade, ocupando, especialmente, as áreas de maior risco
ambiental como a mata do buraquinho e as áreas alagadas e de
manguezais;
Este é o quadro socioespacial encontrado
em João Pessoa
no final da década de 1990, o qual tem, em sua estruturação urbana, os seguintes
valores conjunturais:
d)
Econômicos – a dependência com Recife passa a
ser, prioritariamente, relacionada ao comércio. A cidade tem uma configuração
econômica delimitada, passando a ser composta por um centro bastante dinâmico e
popular e um setor leste que passa a assumir uma posição de área central,
especialmente após a construção dos Shoppings Manaíra, sendo ocupado pela
população com maior poder aquisitivo. Da mesma forma, evidencia-se uma difusão
maior de outros subcentros, os quais ganham uma importância maior durante a
década de 1990;
e)
Políticos – O município passa a desempenhar
um novo papel cujas ações produzem um rebatimento na estruturação urbana. Nesse
contexto, o poder municipal é responsável pela criação de espaços funcionais,
com responsabilidades bem distintas, reestruturando o espaço através da
segregação. Emerge, em meio a este contexto, a figura de outros atores sociais
que passam a identificar as seqüelas deixadas pelo processo de formação
socioespacial. Um desses atores são os movimentos sociais urbanos (MNLM, NDV,
MLB etc.) que passam a reivindicar ações mais eficazes na melhoria da qualidade
de vida da população de baixa renda, especialmente no que diz respeito a
moradia
f)
Ideológico – Os valores urbanos do pessoense
são colocados em Xeque, especialmente no que diz respeito aos elementos
espaciais que os identificam. As propostas de expansão do turismo associadas
as estratégias para uma participação mais efetiva da cidade na região passam a
ser utilizados como elementos principais na definição do pessoense através de
sua cidade: segunda cidade mais verde do mundo; ponto mais oriental das
Américas; Cidade onde o sol nasce primeiro etc.
Por
conta dessas características, a cidade de João Pessoa vivencia, em meados do
século XXI, um paradoxo: por um lado têm conseguido, especialmente nas últimas
três décadas, criar elementos, especialmente os legais, relacionados ao controle
urbano que influenciam em melhorias na qualidade de vida do pessoense e; por
outro, não consegue despontar em termos de participação na dinâmica regional
sendo, ainda, uma capital ainda dependente das relações com a capital
pernambucana.
No que
diz respeito a atuação dos Movimentos Sociais Urbanos, esta se fez mais presente
em meados da década de 1990, embora antes desse período já tivesse suas bases
consolidadas nas pastorais da Igreja Católica, em um momento em que a
problemática do urbano não estava mais restrita as demandas por assistências
sociais e equipamentos urbanos. Entre os principais eventos que explicam essa
mudança de postura desses novos movimentos sociais, destacam-se: A conferência
sobre o Meio Ambiente realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992 (ECO92);
uma maior rigidez no ordenamento territorial da cidade através da
obrigatoriedade de constituição da Agenda 21 e do Plano Diretor para os
municípios com um contingente populacional superior a 20 mil habitantes; e o
interesse das administrações municipais em estimular a participação da sociedade
no debate sobre a formação socioespacial da cidade.
Assim sendo, o
direito à cidade deixa de ser limitado a obtenção de melhorias na estrutura
urbana e aquisição de equipamentos e passa a apreender, também, a luta pelo
direito a vivência urbana, ou seja, ao uso do espaço urbano. Esse discurso de
inclusão, argumentado na concepção de que a cidade é de todos, não é bem aceito
pelos integrantes dos movimentos sociais urbanos. Estes questionam a
operacionalidade desse discurso ao enfatizarem que a cidade está sendo
construída para a população de maior poder aquisitivo, único segmento a se
beneficiar de fato dos elementos constituintes da estrutura
urbana.
3. Os Movimentos Sociais Urbanos de
João Pessoa: limites e contradições no processo de estruturação urbana da
cidade.
Assim como ocorre
em outras cidades, os movimentos urbanos presentes em João Pessoa
estão diretamente relacionados a questões de luta pela cidadania e igualdade
social, a exemplo do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM); da União
Nacional de Moradia Popular (UNMP); a Central dos Movimentos Populares (CMP) e o
Movimento de Luta nos Bairros (MLB); entre tantos outros que, embora não se
caracterizem diretamente como um movimento social, têm exercido atividades
voltadas para atendimento aos direitos da sociedade. Tais movimentos têm, em
comum, a busca pela cidadania, com atenção especial aos direitos dos
trabalhadores, igualdade de gênero, qualidade ambiental e inclusão social,
utilizando como rótulos algumas das principais demandas estruturais da sociedade
(moradia, transporte, saneamento etc.).
Embora
a mesma tenha por base apenas a sistematização de uma das abordagens traçadas na
entrevista aplicada junto aos líderes dos movimentos, podem-se evidenciar duas
características importantes: a) a seleção de espaços para atuação e; b) a
evidência de embates quanto ao futuro da cidade, especialmente no que diz
respeito as políticas públicas de desenvolvimento urbano.
No
primeiro caso, sendo a atuação fragmentada, tem-se percebido uma dificuldade dos
agentes dos movimentos em captarem os espaços realmente necessitados de uma
transformação urbana uma vez que a escolha nos locais de atuação decorre, em
grande parte, do vínculo (direto ou indireto) com o espaço selecionado. Já o
segundo aspecto, os embates ideológicos, talvez seja o mais preocupante uma vez
que tem impossibilitado a formação de atividades em conjunto.
Nesse contexto, o olhar para o futuro da cidade é tanto
seletivo, por levar ao questionamento do caráter social do movimento; como
desarticulado, uma vez que rompe com a própria natureza de um movimento social:
capacidade de mobilização; articulação e mudança social.
Isto tem sido um
dos fatores responsáveis pela consolidação de algumas contradições entre os
movimentos, a saber: a) Ao mesmo tempo em que lutam pelo direito à cidadania os
movimentos selecionam espaços de atuação a partir de conveniências pessoais -
algum membro ser, por exemplo, residente no local – ou políticas; b) embora
defendam a necessidade de atuação em conjunto, na prática, os movimentos têm
realizado ações isoladas mesmo quando atuam em um mesmo espaço; e c) Apesar de
concordarem com a necessidade de promoção do diálogo com o Estado os movimentos
compreendem a mudança social de forma diferenciada: uns defendendo a importância
de serem inseridos no sistema e outros compreendendo que tal inserção
corresponderia a um retrocesso no papel a ser
desempenhado.
Em
decorrência disso, pode-se evidenciar, em João Pessoa,
pelo menos dois grandes problemas de ordenamento urbano: a) um espacial
representado pela segregação e fragmentação urbana produzida tanto pelo poder
público (através das ações de ordenamento) como pelos próprios segmentos
sociais; b) e outro social, representado pela reprodução da injustiça social, ou
seja, a exclusão pelo direito à cidade. Outrossim, esta relação apresenta-se
como em espiral produzido pelas diversas relações e interesses socioespaciais
oriundas das relações entre as diferentes escalas.
Tal
quadro de referência nos remete a evidencia de uma crise socioespacial
representada por contradições nas formas e objetos criados no ordenamento urbano
da cidade assim como na própria forma com que a sociedade pensa o futuro da
cidade. Assim sendo, esta crise, na qual os movimentos sociais em João Pessoa
emergiram e estão se desenvolvendo, é uma crise
do próprio processo de estruturação urbana da cidade.
De
fato, não se trata de um problema da estrutura ou forma urbana uma vez que a
cidade tem conseguido manter condições propícias à qualidade de vida.
Igualmente, não se trata de um problema nas relações sociais que atuam na cidade
uma vez que a mesma ainda não apresenta o grau de complexidade evidenciado em
outras capitais. Trata-se, e isso é um fato, de um problema de estruturação
urbana representado pela relação entre os fatores estruturantes (organização dos
objetos no espaço) com os estruturadores (ações desenvolvidas no
espaço)
Tais
resultados foram decorrentes da análise feita através do uso do Método
Qualitativo, tendo como técnica a análise de discurso. Com base nas informações
presentes nessa análise, a participação dos Movimentos Sociais Urbanos
externalizam quatro posicionamentos: a) vínculos com a cidade (NDV, MLB e CMP);
b) preocupações com as políticas de desenvolvimento e exclusão social (CMP, MLB
e MNLM); c) lutas por políticas públicas (NDV) e; d) preocupações com a
fragmentação das atuações (MNLM e NDV).
Com
base nessas análises percebe-se que os Movimentos Sociais Urbanos participam da
produção do espaço criando territorialidades, mesmo que fragmentadas, tendo o
poder público como o principal responsável pela formulação de tais espaços. Por
sua vez, embora demonstrem não serem naturais de João Pessoa, apresentam
identidades com a cidade, fato que conferem aos mesmos os aportes necessários
para representar a sociedade pessoense na luta pelos direitos ao acesso a
cidade.
A
análise de como os mesmos se expressam no espaço (produzem e se apropriam de
territórios) não foi possível de ser realizada no primeiro item da entrevista
uma vez que corresponde aos discursos proferidos em outros itens. Contudo,
percebe-se que os debates sobre as políticas publicas, exclusão socioespacial
etc., já são apresentadas como uma das preocupações espaciais desses atores.
Além
disso, pode-se perceber que a
proposta do ordenamento urbano, pautada na opção pelo planejamento e gestão
democrática, é compreendida com algumas ressalvas uma vez que reproduzem um
discurso político ainda limitado aos interesses do poder público e de empresas
privadas, especialmente as agências de imóveis.
Da
mesma forma, os movimentos (mesmo apresentando diferenças) defendem que as
divergências econômicas e sociais estejam igualmente sendo reproduzidas nesta
atual política de desenvolvimento urbano, além das próprias contradições de
ordem ideológica entre os movimentos sociais urbanos: alguns defendendo a
reforma urbana total (quebra do estado), posicionamento defendido pelo MLB, e
outros (MNLM) ponderando para a necessidade de intensificação do diálogo. Isso
pode ser evidenciado na análise de alguns trechos de músicas ou palavras de
ordem expressos pelos movimentos, conforme pode ser observado a seguir
(Figura 3).
Figura 03: Expressões dos
Movimentos Sociais Urbanos de João Pessoa.
MNLM |
MLB e CMP |
O Estatuto da
Cidade
Autora: Teresinha
Ferreira da Silva
(Composição Maria de
Nazaré)
Música:
Salete
(Com. Ilha do
Bispo)
“O Estatuto da Cidade
precisamos
conhecer.
Ele garante os
direitos
De morar bem e viver
(bis)
O direito e a
moradia,
Está na
Constituição,
É o humano,
principal,
Direito do cidadão”.
(bis)
“Ele garante o direito
Da terra a
regularização,
De área pública ou
privada,
Concessão ou Usucapião.
(bis)
Se você quer
reivindicar
Seu direito na
justiça,
a assistência é
gratuita,
é direito garantido.
(bis)”
Fonte: Saule
Júnior et al, 2005, p. 42 |
“Eu sou da luta, é pra
vencer
Sou de ação, sou do
MLB”
“1, 2, 3, 4, 5,1000,ou faz
reforma urbana ou paramos o Brasil’
“Com luta, com garra, a casa
sai na marra”.
“Um povo unido é um povo
forte,
Não teme a luta e nem a morte.
Avança companheiros”.
“Daqui não saio, daqui ninguém
me tira.
Onde é que eu vou
morar
Se derrubaram meu barraco é de
lascar
Ainda
mais com sete filhos,
Onde é que eu vou
morar”.
“Tché, Zumbi, Antônio
Conselheiro.
Na luta por justiça somos
todos companheiros”.
Fonte: I Encontro Nacional de
Habitação – CSA/UFPE – 02/02/07 |
Como
se pode perceber, o discurso proferido pelos representantes do MNLM apresenta-se
mais como um clamor feito à população mais carente para que esta participe do
debate sobre o direito à cidade através do conhecimento dos seus direitos postos
no Estatuto da Cidade: “O Estatuto da Cidade precisamos conhecer. Ele nos
garante os direitos de viver”. Procura evidenciar a gratuidade de lutar pelos
direitos pela conquista e ocupação. A melodia da música aproxima-se das trovas
nordestinas recitadas em forma de cordéis. Já no que diz respeito as expressões
do MLB, estas buscam estimular uma participação mais ativa; uma participação
reivindicatória com caráter ameaçador a permanência do Estado: “Um povo unido, é um povo forte. Não teme a
luta e nem a morte” e ainda “1, 2, 3,
4, 5, 1000, ou faz reforma urbana ou paramos o Brasil”. Possui, assim, uma
postura mais agressiva e transformadora. A forma de expor os seus ideais são,
assim, similares às reivindicações sindicais da década de 1970 e 1980 que
caracterizavam os movimentos operários dessa época.
Diante
desse quadro de referência, subentende-se a própria dificuldade de se
estabelecer um diálogo entre os atores sociais, embora os objetivos finais sejam
semelhantes: luta pelo direito à cidadania. O mesmo pode-se afirmar quanto às
intencionalidades e práticas estabelecidas para a ocupação urbana: produção e
apropriação socioespacial. Evidencia-se, nesse contexto, a associação de que se
trata de uma crise, efetivamente, socioespacial.
Considerações
Finais
Estas condições
socioespaciais evidenciadas na cidade de João Pessoa têm influenciado na
evidencia de um agravante ao contexto urbano da cidade: João Pessoa
caracteriza-se, ao mesmo tempo, como uma cidade de porte médio – se for
observado que a capital paraibana passa por um momento atual de consolidação de
sua metrópole – e como uma cidade média – se for observado o real papel que a
cidade desempenha no contexto do desenvolvimento regional.
Dessa forma, a
atuação dos movimentos sociais urbanos em João Pessoa
está sendo consolidada em meio a contradição relacionada ao próprio papel
desempenhado pela cidade no contexto de sua área de expansão metropolitana e no
contexto de sua função para o desenvolvimento do nordeste oriental. De um lado,
existe a necessidade de luta pela apropriação urbana (o direito ao uso do espaço
e da confirmação quanto ator social) e, por outro, emana a necessidade de
participar diretamente da produção da cidade (definir a estrutura urbana que se
planeja para a cidade).
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Ponencia presentada en el IX Encuentro Internacional Humboldt.
Juiz de Fora, Minas Gerais - Brasil. 17 al 21 de setiembre de 2007.