Plano
Diretor Participativo de Goiânia:
Uma nova
proposta de Planejamento Territorial baseado no Zoneamento Ecológico e
Econômico.
Maria de Lourdes Corsino
Peres1
Resumo:
Este trabalho busca discutir a proposta de Zoneamento Urbano
contida na revisão do Plano Diretor Participativo de Goiânia (PDPG/2007), que
traz discussões práticas e teóricas da relação urbano / rural, zoneamento
econômico e ecológico, relação intermunicipal.
Palavras
Chaves: Zoneamentos Ecológico Econômico,
Planejamento Urbano e bacia hidrográficas.
O município de Goiânia apresenta uma área de
802,04 km2 de acordo com a lei municipal nº 052 de 15 de julho de
1996. Sua área urbana é de 264, 04
km2 , a área de expansão urbana de 104,68 km2 e a zona
rural apresenta uma área de 443,31 km2 . A norte faz divisa com os
municípios de Goianira, Nerópolis e Goianópolis, ao Sul com os municípios de
Aragoiânia e Aparecida de Goiânia, à leste com o município de Senador Canêdo e à
oeste com o município de Trindade.
Desde de 1950 estudos mostram que as ocupações e uso do solo são
implantados em desacordo com o plano urbanístico, haja vista, que há em torno da
ocupação do solo pressões demográficas; políticas e de especulação
imobiliária.
Em 1971 inicia-se os planos de desenvolvimento de Goiânia – PDIG (Plano
Diretor Integrado de Goiânia).
__________
Em 2000 o II Plano Diretor Integrado de Goiânia -
que já foi baseado em alguns princípios contidos na constituição de 1988 e com
previsões na Lei de Diretrizes Orçamentárias do Município de Goiânia – o
principal objetivo deste plano seria de desenvolver a cidade de forma global e
integrada sem perder a interface que Goiânia possui como cidade pólo regional,
pela sua atração econômica.
Desde 2001, Goiânia vem tentando concretizar seu Plano Diretor, mas
conseguiu sua aprovação apenas em 2007, devido a vários conflitos e interesses,
após 2005 essa nova gestão vem costurando o que se chamou de revisão do Plano
Diretor de Goiânia nessa fase foi desenhada a seguinte estrutura de
planejamento:
Para conceber essa revisão pensou-se nas
seguintes estratégias estruturastes: 4 princípios (igualdade, transformação,
qualidade e oportunidade) 6 eixos
estratégicos (desenvolvimento econômico, 4 escalas de intervenção (metrópole,
município, distrito, bairro) e resultados (Sustentabilidade ambiental, econômica
e social).
Todo esse arcabouço deve levar a um modelo
espacial que corresponde a cidade desejada por todos.
Nesse sentido houve abertura para ampla
participação da sociedade que desencadeou em aproximadamente cinco audiências
publicas, duas conferencias das cidades quinze encontros regionalizados “Agenda
Goiânia” com o apoio da mídia, mais de sete mil assinaturas de reuniões que
foram solicitadas e ampla cobertura da mídia.
Goiânia possui hoje cerca de 107 áreas protegidas, legalmente
reconhecidas, algumas totalmente invadidas e nem todas estão sob a jurisdição do
poder publico municipal, que produziu relatório técnico do Plano Diretor traz o
seguinte diagnóstico:
1
- Não há plano de manejo e
utilização das APA´s;
1.1
– a atual zona rural carece de mais
unidade de conservação;
1.2
- o poder publica municipal nunca
legislou sobre as APA´s;
1.3
- Algumas das áreas de proteção fazem
parte da chamada área de expansão ou da zona urbana;
1.4
– Falta de interação entre os
órgãos parceladores e os ambientais fazem com que muitas áreas destinadas a
parques e proteção ambiental fiquem submetidas apenas a acordos do empreendedor
com os órgãos de planejamento.
1.5
- Transformar a captação da estação de
tratamento de Goiânia que se localiza na confluência dos Ribeirão cão Domingos e
Rio Meia Ponte na região Noroeste de Goiânia – em Área de Proteção Ambiental APA
da bacia hidrográfica do São Domingos que envolveria os municípios de Goiânia e
Goianira.
1.6
- A ETE trata de 70% dos esgotos
provenientes da margem direita do Rio Meia Ponte e não coleta os que são gerados
na margem esquerda do Rio Meia Ponte, isso ocorre sobretudo na bacia hidrográfica do Ribeirão
Caveirinha na região Noroeste da capital com população de 150 mil habitantes,
isso sem considerar outros bairros das regiões Leste e sudoeste que não são
atendidas com coleta e tratamento de esgoto.
1.7
- Em 2003/4 não foi aprovado o
Plano Diretor de Drenagem de Goiânia1; (Que traz questões de
comportamento das vazões, relações de valores conforme a ocupação, recomendações
de ocupação conforme características das bacias
hidrográficas);
1.8
– Desarticulação entre as
competências federadas;
1.9
- Falta de capacitação técnica e
operacional do órgãos ambientais;
1.10
– falta de ações
preventivas
1.11
- Falta de
fiscalização;
1.12
– mais de cinqüenta ações no
Ministério Publico, a contar de 2000 pra cá.
Novas Demandas e Diretrizes de Ocupação Urbana
A desconsideração do meio ambiente como parâmetro básico do planejamento
e a desarticulação com as outras políticas setoriais tem sido ao longo da
história das ocupações urbanas no Brasil uma pratica recorrente, o que justifica
o distanciamento que estão as cidades hoje, das recomendações do Zoneamento
Ecológico Econômico.
Nesse sentido podemos destacar que não só essa nova proposta de ocupação
que considera o meio ambiente, propõem novas concepções novas de planejamento, o
que também contraria interesses e praticas que estão calcificadas, o que faz com
que os conflitos em torno da implantação dessa nova proposta de planejamento
embora com forte apelo da opinião publica entorno da proteção ao meio ambiente,
por ter um caráter de defesa e proteção ao meio ambiente colocam em choque
alguns interesses e traz as seguintes propostas:
1.
Plano Diretor de Água e Esgoto de
Goiânia;
2.
Plano Diretor de resíduos
sólidos;
3.
Levantamento e estudos das
principais fontes poluidoras dos recursos hídricos (esgotos in natura, postos de
combustíveis, lavanderias, tinturarias, marmorarias, clubes de lazer e
recreação, cemitérios, oficinas mecânicas, garagem de ônibus, transportadoras,
hospitais, laboratórios, banco de sangue e clinicas, descargas de entulho da
construção civil e lixos em terreno baldio e fundo de vales).
Princípios Norteadores do Plano Diretor de Goiânia
Pensou-se de forma articulada quatro princípios
basilares da política urbana de Goiânia, a saber:
Seguindo recomendações da Constituição de 1988,
da Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Convenção Européia dos
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais o PDPG busca como principio a
igualdade pensada de forma articulada com os outros princípios de transformação,
oportunidade e qualidade e trata o Plano Diretor como Instrumento da Política
Urbana.
Visa entre outras demandas criar mecanismos de
desenvolvimento e controle, reconhecer todas as interfaces das relações
inter-regionais, criar estruturas de apoios às demandas
externas.
O uso do solo deve exercer o papel de vetor
dinamizador de sua liderança regional que é uma das premissas do Estatuto das
Cidades para os Planos Diretores enfoquem o município como um todo, o que não
ocorria antes, pois Goiânia se restringia a zona urbana e de expansão deixando
em segundo plano a zona rural.
Um exemplo é a Lei de Zoneamento que trata apenas
das zonas de Preservação ambiental das zonas urbanas, outro exemplo e a unidade
de conservação Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco que é
estadual.
No geral a zona rural de Goiânia tem sido
gerenciada e legislada pelos poderes públicos Federal e Estadual já que a zona
rural é de domínio do INCRA, IBAMA e Agencia Ambiental do Estado.
Fundamentos da idéia de
Macrozonas
Considerando que a água é a biodiversidade de importância
fundamental e a gestão dos recursos hídricos um desafio, propõem-se como
desafios a serem superado a proposituras de atividades próprias do
desenvolvimento regional e urbano, a gestão do uso do solo, gestão da drenagem
urbana, hidroelétrica, saneamento e esgotamento, gestão da agricultura irrigada,
resíduos sólidos, áreas verdes e agroindústria.
Por essas orientações foi proposta a divisão do
território de Goiânia em macrozonas levando em consideração seu espaço
construído e suas sub bacias como unidades territoriais e naturais de
planejamento.
A utilização das bacias hidrográficas para
definição do perímetro das macrozonas, surgiu em função das características
físico-ambientais do território e do caráter de agenciamento do espaço urbano.
Visa ainda criar uma identidade geográfica para referencia da população. Assim
sendo definiram oito macrozonas, Macrozona Construída, Macrozona do João Leite,
Macrozona do Legeado, Macrozona do São Domingos, Macrozona do Barreiro,
Macrozona do Alto Dourados, Macrozona do Alto Anicuns I, Macrozona do Alto
Anicuns II.
Que foram adotados os seguintes critérios:
Aplicação do Estatuto das Cidades que recomenda tratamento equânime para todo o
território e sua inter-relação regional, manter a qualidade da água e da
biodiversidade; Estabelecer a gestão dos recursos hídricos; adotar bacias
hidrográficas como unidades naturais de planejamento territorial articulando –as
com outros municípios que compõem essas bacias.
Esse modelo de zoneamento propôs inicialmente o
rompimento da dicotomia rural e urbano. Isso provocou forte repercussão na mídia
e entre os atores urbanos, pois essa proposta poderia fugir do controle e de
alguns interesses. As Macrozonas que possuem restrições ambientais para a
ocupação não terão restrições legais, mas de mercado uma vez que as ocupações
seriam dificultadas ou até mesmo inviabilizadas.
Um outro conflito foi com os ambientalistas que
acreditam que a possibilidade de divisão territorial ilimitada legalmente
provocaria a ocupação total do território, mas acreditar que o fato de termos
zonas Urbana, de Expansão e Rural exista alguma proteção, podemos observar isso
em alguns estudos que mostram que há atividades rurais nas áreas urbanas e vice
versa
Inovação da proposta de Macrozonas
Há a substituição das três macrozonas anteriores
- zona urbana, de expansão urbana e rural - rompendo assim com a dicotomia rural
e urbano com isso o uso do solo será resultante de regras claras e
pré-estabelecidas.
Nessa nova proposta está contido a idéia de uma
cidade mais compacta 180 hab/h que hoje é de 28 hab/h, evitando a difusão urbana
ou a urbanização dispersa do território. Adota-se o modelo radial difusor das
ocupações urbanas que a partir da zona urbana (macrozona construída) como núcleo
concentrador das densificações, irradiando para as demais
macrozonas.
Acredita-se que esse modelo propicia um
tratamento mais equilibrado do território, sem que se produza a dicotomia
rural/urbano, adotado pela legislação em vigor.
Os eixos de transporte públicos, a rede viária, e
as rodovias são estruturadores nesse modelo da ocupação do território e de
integração intra-regional. Segue ainda os princípios da distribuição espacial
racionalizada e de complementaridade das funções urbanas que segue alguns
instrumentos tais como a idéia do impacto de vizinhança (tabela de índice
incomodidade) e aplicação de controle de poluição, acredita-se que esses
instrumentos possam ajudar nos efeitos de uma cidade com suas atividades
miscigenadas, o que rompe com o modelo de uso do solo setorizado por
atividades.
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