Amazônia Legal:
Uma análise sócio-ambiental a partir
da dinâmica populacional
recente
Jorge
Kleber Teixeira Silva
José Antônio Sena do Nascimento
Resumo:
A
Amazônia é um dos últimos grandes, ricos e pouco habitados espaços do planeta,
frente de povoamento e de investimentos nacionais e mundiais. Nas últimas
décadas a Região apresentou grande crescimento populacional com um conjunto
significativo de cidades com taxas de crescimento bem acima de 3,0% ao ano. Nos
aspectos referentes à origem e quantidade de migrantes, o papel dos eixos das
estradas é relevante com os maiores contingentes de migrantes concentrados tanto
nas capitais quanto ao longo dos eixos viários que constituem corredores de
povoamento. Segundo alguns estudiosos a migração cumpre uma função específica na
degradação ambiental, reforçando a pressão da população sobre os recursos e
serviços. A degradação se manifesta principalmente pelos desmatamentos que
trarão conseqüências como uma inevitável redução da reciclagem regional da água
pluvial e que acarretará uma modificação no clima.
Resumen: La amazonia es uno
de los grandes, ricos y poco habitados espácios del planeta, sitio de desarrolo
de la población y de inversiones nacionales y mundiales. En las ultimas decadas
la Región há
presentado grande crescimiento bien ariba del 3,0% al año. En los aspectos referentes a las
origenes y cantidades de los migrantes concentrados tanto en las capitales
cuanto a lo largo de los ejes viales que constituyen corridores de desarrolo de
poblaciones. Según algunos estudiosos la migración cumple una función específica
en la degradación del ambiente, reforzando la pressión de la población sobre los
recursos y servicios. La degradación se manifiesta principalmente por las
deforestaciones que trarán consucuencias como una inevitable reducción del
reciclaje regional del água llúvia y que causará una modificación del
clima.
O trabalho em questão faz parte de uma abordagem
geográfica dos autores de informações trabalhadas e desenvolvidas na Coordenação
de Geografia do IBGE na linha de pesquisa sobre a Amazônia legal, que abrange
diversos aspectos relacionados a questões sócio-ambientais. Nosso enfoque é o da
espacialização dos fatores e das variáveis que ditam a dinâmica populacional
recente da Região.
Por
conta da extrema importância da questão ecológica e particularmente das
implicações que o desequilíbrio ambiental pode assumir na Região, entendida não
como uma entidade autônoma, mas antes no contexto das relações com o conjunto do
espaço nacional, o tema em questão se revela vital, sendo inclusive tema da Campanha da
Fraternidade de 2007, uma vez que a questão ecológica é de fundamental
importância para a sobrevivência da espécie humana, de acordo com os biólogos
cristãos norte-americanos Fred Dyke, David Mahan, Joseph Seldon e Raymond Brand,
no livro A Criação redimida: a base bíblica para a mordomia ecológica, enraizada
no relacionamento dos seres humanos com o seu Criador.
A Amazônia é, ainda um dos últimos grandes, ricos e
pouco habitados espaços do planeta, é uma frente de povoamento e de
investimentos nacionais e mundiais.
Já há mais de duzentos anos a Amazônia atraía naturalistas europeus
fascinados pelas descobertas científicas, sobretudo de plantas e animais como a
expedição do rei da Baviera Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Phillipp
von Martius, citada pelo Harald Sioli (1991), que empreenderam por volta de 1817
e 1820, uma pesquisa de registro, coleta e análise sobre a diversidade da flora
e fauna regionais. Atualmente
várias outras pesquisas tanto na área das ciências naturais quanto das ciências
humanas são realizadas na Região. A pesquisa que originou o presente trabalho se
insere nos levantamentos sistemáticos que o governo brasileiro faz sobre a
Amazônia nos aspectos ecológicos, sociais e econômicos onde enfocaremos as
questões espaciais e demográficas.
Natureza, região, espaço: a multiplicidade de
conceitos não esconde a centralidade da preocupação com o espaço físico, com o
meio ambiente e suas possíveis relações com a sociedade na geografia. Ao
contrário, a diversidade revela que, embora central, esta preocupação teve
várias interpretações e diferentes apropriações no curso do desenvolvimento do
pensamento geográfico como no caso da geografia universitária que se
institucionalizou e fora
sistematizada com os alemães Humboldt e Ritter. Devemos destacar um fato
interessante inclusive Humboldt explorou a Amazônia através de uma longa viagem
realizando observações e enfrentou um contratempo com o governador do Pará que
no cumprimento de ordens régias impediu-o de pesquisar e explorar a Amazônia
brasileira.
Primeiramente é importante localizarmos
geograficamente a Amazônia no contexto brasileiro e sul americano. Situada numa
vasta região na porção norte do continente sul americano, a Região Amazônica
compreende toda a área da bacia do rio Amazonas, a mais extensa bacia
hidrográfica do planeta, formada por um emaranhado de 25.000 km de rios
navegáveis distribuídos em cerca de 6.900.000 km², dos quais aproximadamente
3.800.000 km² em território brasileiro. A área da bacia Amazônica abrange cinco
países além do Brasil: Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela. Em relação
ao rio Amazonas é importante salientar as recentes pesquisas de cientistas
peruanos e brasileiros que estabeleceram a extensão total superior aos
6.750
km divulgados no Guiness Book, se for considerada a
nascente na Cordilheira de Chila, 90 km mais ao sul, a
5.300
metros de altitude. Este trabalho foi documentado pela
equipe da jornalista Paula Saldanha. A bacia amazônica é responsável por 20% da
água doce despejada anualmente nos oceanos por todos os rios do
mundo.
A
Floresta Amazônica ou Hiléia cobre uma área de 78% da cobertura vegetal do
Brasil e 30% das reservas mundiais e que se estende por uma área de pelo menos 4
500 000 km², e abriga cerca de 1 500 000 a 2 000 000 de espécies
vegetais e animais, das quais foram até agora classificadas no máximo 500 000, o
que resume sua grande riqueza e potencial em recursos genéticos conforme estudo
da geógrafa Bertha Becker (1991). A Amazônia possui 2/3 da biodiversidade total
do planeta – diversidade de espécies animais e vegetais. É reconhecida como o
maior banco biogenético.
O
Brasil possui 63,4% da Amazônia sul-americana sendo que a Amazônia brasileira
corresponde a mais da metade do território nacional, cuja área oficial que
constitui a Amazônia Legal foi estabelecida por legislação federal, no art. 2 da
Lei nº 5.173, de 27 de outubro de 1966, abrange a região compreendida pelos
estados do Acre, Pará, Amazonas, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso,
Tocantins, do estado do Maranhão a oeste do meridiano de 44º e cinco municípios
do atual estado de Goiás. Vide mapa
1.
Mapa 1
– Limites da Amazônia Legal

A construção geopolítica da Amazônia Legal, na década de
1960, visava definir uma área para aplicação de políticas territoriais e
econômicas que buscassem incorporar a vastidão (pouco povoada) norte do
território brasileiro ao tecido socioeconômico do país, garantindo a soberania
sobre tão vasto território. Nessa época tivemos trabalhos de destaque como de
Orlando Valverde sistematizando informações socioeconômicas dentro do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Estes objetivos ficam bastante explícitos
na própria lei que cria a Amazônia Legal. Passados 45 anos, a análise da região
é muito mais complexa e diversa do que aquela da década de 1960.
A
Amazônia Legal abrange 59% do território nacional, distribuídos por 775
municípios. Ela
abriga 12,32% da população brasileira, com 39% deste contingente concentrados em
26 municípios com mais de 100 mil habitantes. Todas as Unidades da Federação da
Amazônia Legal, de acordo com o último Censo demográfico (censo 2000), são
predominantemente urbanas, com a média regional do grau de urbanização atingindo
68,9%. Dos municípios mais populosos, desempenham função de metrópoles regionais
Belém, com estimativa para 2004 de 2.004.306 habitantes em sua região
metropolitana e Manaus, com 1.592.555 (Tabela 1).
Encontra-se na Amazônia Legal o município brasileiro com maior área territorial:
Altamira, no Pará, com 160.755 km². Existem ainda na região 48 municípios
maiores do que o estado do Sergipe (21.962 km²). Em contrapartida, mais de duas
centenas de municípios possuem área inferior a mil km². Esta fragmentação maior
é característica dos estados do Maranhão e Tocantins, do nordeste do Pará e da
região central de Rondônia.

A
Amazônia Legal abriga (2004) 12,32% da população brasileira, com 39,00% deste
contingente concentrados em 26 municípios com mais de 100 mil habitantes. Por
outro lado, 21,00% da população regional se distribui por 522 municípios com
menos de 20 mil habitantes (Tabela 2)

Dos
municípios mais populosos (Tabela 3) desempenham função de metrópoles regionais
Belém, com 2.004.306
habitantes em sua região metropolitana e Manaus, com 1.592.555, em 2004. Os
demais municípios listados na Tabela 3 têm importantes papéis na rede urbana
regional.

Apresentando grande diversidade natural,
social, econômica, tecnológica e cultural, a Amazônia Legal constitui uma região
em crescente processo de diferenciação que contraria, em muito, a imagem
difundida pelo mundo de um espaço homogêneo caracterizado pela presença de uma
cobertura florestal que o identifica tanto interna quanto
externamente.
Primeiramente abordaremos a questão das migrações. As migrações internas têm sido alvo de
análise, não apenas como resultantes de eventuais desequilíbrios econômicos,
sociais ou demográficos, mas, principalmente, como elementos da organização
espacial de uma sociedade. Sendo assim, um dos objetivos da pesquisa em tela é o
de analisar, de maneira geral, as novas tendências na redistribuição espacial
dos deslocamentos de população no território nacional para a região da Amazônia
Legal, a partir da seleção temporal
do período de 1995-2000.
Utilizou-se como fonte de resultados o Censo Demográfico 2000 através de
uma metodologia que contemplasse os municípios com maior fluxo de população
migrante, com total igual ou superior a 5.000 pessoas.
A migração pode ser definida como mobilidade
espacial da população. Para o IBGE consideramos os fluxos migratórios utilizando
como base o lugar de residência de exatamente cinco anos antes do ano em que a
pesquisa foi realizada (2000).
Também foi feita complementarmente uma análise da população não natural
dos municípios da Região. O motivo principal de tratar do processo migratório
dos municípios selecionados, está ligado ao papel exercido pelas suas sedes
municipais que exercem poderoso fator de atração de migrantes, além de servirem
de base para a organização do mercado de trabalho. A tabela 4 apresenta os 20
municípios que receberam os maiores totais de migrantes no período compreendido
entre 1995 e 2000.

Observa-se que as capitais estaduais se destacam
no total de migrantes, especialmente Manaus, com mais de 70.000 indivíduos. Em
segundo lugar, aparecem, de forma um tanto surpreendente Boa Vista, capital do
Estado de Roraima com 34.442, superando outras capitais bem mais populosas como
Belém e Cuiabá, que não atingem o total de 30.000 migrantes. A análise dos dados
sobre percentual e origem das pessoas não naturais na Amazônia Legal revela
clara diferenciação entre as diversas áreas que compõem essa região, tanto em
termos de participação dos não-naturais na população total, quanto à origem dos
migrantes. A tabela 5 apresenta os municípios com maiores percentuais de
população não natural sobre a população
total.

Com relação ao percentual de não naturais, um
significativo número de municípios possui mais de 50% da sua população
constituída de pessoas provenientes de outra Unidade da Federação ou do
exterior. A distribuição espacial desses municípios apresenta um padrão de
concentração numa faixa de municípios que estão, em sua maioria, nos eixos das
principais estradas.
Assim, existe uma concentração de municípios na
área de influência da BR 364 (municípios de Rondônia e noroeste de Mato Grosso),
BR-163, nos municípios do norte de Mato Grosso e sudoeste do Pará, além daqueles
próximos aos eixos da PA 150 e MT-158 no sudeste do Pará e leste de Mato Grosso,
respectivamente. Outra área de predominância dos não-naturais é em Roraima, nos
municípios ao longo da eixo da BR-174. Em situação oposta aparecem municípios
que possuem menos de 5% da população composta de não-naturais, como grande parte
dos municípios do estado do Amazonas, oeste do Acre, região do baixo Amazonas no
Pará e litoral do Pará e
Maranhão.
Nos aspectos referentes à origem e quantidade de
migrantes, o papel dos eixos das estradas também é relevante, aí registrando-se
os maiores contingentes de migrantes no período observado (últimos dez anos)
concentrados tanto nas capitais quanto ao longo dos eixos viários que constituem
corredores de povoamento. A concentração de municípios com os maiores
contingentes de migrantes na Amazônia obedece, de forma geral, ao mesmo padrão
de não-naturais, destacando-se duas áreas bem definidas: o eixo sudoeste
(Rondônia e Mato Grosso) e a Amazônia oriental (leste do Pará, Tocantins e
Maranhão).
Além dessas áreas destacam-se Manaus, como o
município de maior concentração numérica de migrantes, Macapá e um grupo de
municípios em Roraima, liderado pela capital Boa Vista. A origem dos migrantes
mostra a importância da migração intrarregional, principalmente nas capitais
estaduais. Dentre os migrantes extrarregionais o grande destaque fica por conta
de dois grupos: os nordestinos e os
sulistas.
Os nordestinos se concentram, basicamente, nas
cidades da Amazônia oriental, nos núcleos ao longo da rodovia PA-140 e
Belém-Brasília, além de serem bem representados em todas as capitais estaduais.
Os sulistas predominam no estado de Mato Grosso, principalmente nos municípios
ao longo do eixo da BR-163, destacando-se, também, em Rondônia, nas cidades ao
longo da BR-364.
A participação dos migrantes de outras regiões e
do exterior é bastante reduzida, com exceção dos migrantes provenientes do
Centro-Oeste em Mato
Grosso, Rondônia e Tocantins, além do aparecimento de um
contingente reduzido, porém expressivo de estrangeiros em alguns municípios
localizados próximos ou no interior da faixa de fronteira, sobretudo em Roraima
e Amapá.
Segundo
a geógrafa Bertha Becker (op.cit.) que estuda há mais de 30 anos a questão
amazônica, é o trabalho de milhares de migrantes que sustenta a expansão da
fronteira, que atualmente se caracteriza por uma fronteira tecno(eco)lógica que
se concretiza pela urbanização como estratégia de ocupação, sendo os núcleos
urbanos instrumentos de controle e de mudança social e estabelece uma
regionalização em curso na Amazônia.
De
acordo com trabalho da geógrafa Adma Figueiredo (1993) a política recente de
colonização na Amazônia passou, contudo, por diversas fases e serviu a
diferentes finalidades. Destaca que a acentuada mobilidade da população
deslocada para a fronteira amazônica
amplia o eixo de investigação ambiental também em direção ao processo de
urbanização.
Já
para a geógrafa Machado (1999) que estuda a urbanização da Amazônia a mesma não
só enquadra a região firmemente nesse início de século e a diferencia das outras
fronteiras de povoamento do século XX e essa urbanização mostra o grau de
complexidade dos processos que atuam sobre a evolução do sistema de povoamento
regional. Afirma que não há uma única rede urbana, mas múltiplas redes urbanas
locais, provavelmente induzidas pela segmentação do mercado de trabalho regional
em bacias de mão-de-obra, que acompanham a polarização, que seguem a polarização
das atividades produtivas em certos subespaços regionais, como também aponta
para a necessidade de distinguir a categoria do “urbano” no passado e no
presente de sua história territorial.
O crescimento demográfico
urbano segundo o sociólogo Oliveira (2007), resultado da complexidade e
contradições sociais dos processos em curso na Amazônia, combinado com a
consolidação de determinadas áreas e setores de desenvolvimento capitalista na
região, amplia de forma significativa o elenco de atores e instituições públicas
e sociais. Isso faz com que o autor ressalte a reconstituição do processo
evolutivo da integração da região ao desenvolvimento das relações capitalistas
dentro da questão contraditória da modernidade de diversificação dos processos
sociais em meio à pauperização e exclusão social.
As cidades na Amazônia assumem diferentes
significados para os diversos agentes sociais envolvidos na produção do espaço
urbano-rural. As estratégias dos agentes revelam redefinições do urbano em meio
a um rural em transformação.
Identificam assim, contribuições dos representantes do Estado,
representantes do setor privado comercial e industrial, migrantes e segmentos de
grupos tradicionais, visando montar uma diferenciação de tipos de aglomerados
encontrados em inúmeros municípios.
Qualquer
que seja a abordagem escolhida não se deve esquecer que os fluxos migratórios
não dependem somente de variáveis socioeconômicas (enfoque estruturalista)
enfatizando os fatores de expulsão, mas, como explica Bertha Becker (1990),
devem-se considerar os fatores histórico-culturais, políticos e geográficos.
Neste sentido, existem razões pessoais e individuais que justificam os fluxos
migratórios, dentre os quais destacam-se os de informação apoiados em relações
pessoais. O migrante é um ator racional que, com o avanço dos meios de
comunicação, se insere em fluxos de informação, os quais auxiliam na busca de
seus objetivos. Portanto, eles
elegem o seu destino e facilitam a sua inserção no mercado de trabalho, formando
as chamadas redes sociais.
Por
fim, pode-se afirmar que o direcionamento dos fluxos migratórios no país, no
período 1995-2000, é resultado indicativo das novas áreas de interesse do
capital e as suas necessidades de força de trabalho, provocando uma crescente
proletarização e semi-proletarização da população migrante. Porém, conforme
aponta Bertha Becker (1990, p.89),
“as
relações entre determinações do capital e mobilidade socioespacial, não se fazem
diretamente, e sim através de mediações, entre as quais o espaço e as formas
específicas de organização do mercado de trabalho regional são reveladoras de
situações históricas concretas”.
Outra
geógrafa que estuda o fenômeno migratório brasileiro, Olga Maria Becker (1999),
afirma que a migração cumpre uma função específica na degradação ambiental,
reforçando a pressão da população sobre os recursos e serviços, constitui também
um mecanismo que reflete as transformações em curso no mercado de trabalho, isto
é, as mudanças nas relações de produção. Essa degradação se manifesta
principalmente pelos desmatamentos que trarão conseqüências como uma inevitável
redução da reciclagem regional da água pluvial e que acarretará uma modificação
no clima. O processo de desflorestamento acentuou-se nas últimas quatro décadas,
concentrado nas bordas sul e leste da Amazônia Legal (Arco do Desflorestamento).
A área total desflorestada na Amazônia é da ordem de 15% da área total. O
desmatamento é realizado, majoritariamente, para a formação de pastos e áreas
agrícolas, decorrendo também da extração predatória de
madeira.
Um
outro ponto que deve ser abordado em uma análise geográfica da demografia da
Região Amazônica refere-se à espacialização do crescimento populacional,
identificando as áreas de maior crescimento nos últimos anos. De acordo com a
publicação do IBGE Tendências
Demográficas: uma análise dos resultados da amostra do Censo Demográfico
2000,
considerando os padrões do crescimento da população brasileira no período
compreendido entre 1950 e 2000 onde a mesma passou de 51,9 milhões para 169,8
milhões de pessoas com a taxa média geométrica de crescimento anual diminuindo
de 2,99% para 1,64 % pode-se
afirmar que a Região apresentou crescimento superior à média nacional, possuindo
um conjunto significativo de municípios com crescimento de mais de 3,0% ao ano
no período de 1991/2000, acima da média nacional. Em termos de área, esses municípios se
concentram, basicamente numa mancha que engloba as localidades situadas no norte
de Mato Grosso (eixo da BR 163), sudeste do Pará (margens do Rio Xingu) assim
como sudeste do Amazonas e grande parte dos municípios de Rondônia que
correspondem, conceitualmente ao Arco do Desflorestamento ou Desmatamento,
citado por muitos autores como uma área caracterizada por crescimento
populacional acelerado, altas taxas de desmatamento da floresta nativa, presença
de queimadas (focos de calor, segundo os levantamentos do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais – INPE). Além
dessa área, outras áreas de crescimento acelerado na Amazônia Legal correspondem
a quase totalidade dos Municípios de Roraima no eixo da Rodovia BR 174 e alguns
municípios do Amapá. No leste do Pará e Estado do Amapá, o grande crescimento
populacional provavelmente está relacionado à chegada de migrantes nordestinos.
A preocupação com a questão ambiental não significa estancar o
desenvolvimento regional, mas pensá-lo em outros termos. Desta forma, a análise detalhada da
dinâmica populacional da Região levando em conta os aspectos do crescimento
populacional, correntes migratórias, urbanização e inserção e acesso ao mercado
de trabalho devem ser efetuadas e utilizadas como subsídio ao planejamento
regional. As estratégias visando alcançar o desenvolvimento equilibrado deverão,
portanto, buscar o aproveitamento das potencialidades naturais da Amazônia como
forma de implementar um desenvolvimento auto-sustentável sofisticado, mediante o
aproveitamento de recursos naturais com tecnologias avançadas que permita a
obtenção de produtos certificados e com a participação da sociedade civil
organizada na gestão dos processos de transformação da sociedade local, pois
conforme Marina Silva o conceito de sustentabilidade tem que ser encarado nos
seus aspectos: econômicos, ambientais, sociais, culturais, políticos e éticos,
sendo para isso imprescindível a participação dos grupos sociais envolvidos nos
processos em
questão.
Em países como o Brasil, em que a dimensão territorial
continental abriga um enorme patrimônio ecológico, como é a Amazônia, definido
constitucionalmente, a manutenção da qualidade do meio ambiente é parte de uma
problemática maior, de forte cunho social e econômico por isso a necessidade do
trabalho ora focado. Finalizamos
colocando um trecho da música do cantor brasileiro Roberto Carlos
“Terríveis sinais de alerta, desperta pra selva viver Amazônia, insônia do
mundo”.
Bibliografia
BECKER,
Bertha K. Migração
e mudança ocupacional na fronteira amazônica brasileira: estratégia, trajetória,
conflitos e alternativas.
In: BECKER, Bertha K. et al. Fronteira Amazônica: questões sobre a gestão do
território. Brasília:UNB; Rio de Janeiro:UFRJ, 1990, pp. 89-109.
___________________. Amazônia.
2ª edição. São Paulo. Editora Ática,
1991.
BECKER,
Olga M. S. Mobilidade
espacial da população: conceitos, tipologia, contextos.
In: CASTRO, Iná E. et al.
Explorações Geográficas. Rio de Janeiro. Ed. Bertrand Brasil.
1997.
CAMPOS,
Rui Ribeiro. A
escola alemã de geografia.
In: GEOGRAFIA. Vol. 26, nº 2. Rio Claro, São Paulo: Associação Brasileira de
Geografia Teorética. 2001.
DEL
AGUILA, Carlos Peñaherra. Geografia
General del Peru. Tomo 1.
Aspectos físicos. Lima,
Peru: Sintesis, 1969.
DYKE,
Fred V. et al. A
criação redimida: a base bíblica para a mordomia ecológica.
São Paulo. Editora Cultura Cristã.
1999.
FIGUEIREDO,
Adma Hamam. As
formas de intervenção pública na apropriação e uso do espaço
amazônico.
In: MESQUITA, Olindina Vianna e SILVA, Solange Tietzmann (coordenadoras).
Geografia e Questão Ambiental. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Geografia,
1993.
IBGE,
Censo Demográfico 2000 : Migração
e deslocamento – resultados da amostra.
Rio de Janeiro, IBGE, 2000.
IBGE.
Tendências Demográficas: uma análise dos resultados da amostra do Censo
Demográfico 2000.
Rio de Janeiro. IBGE, 2004.
MACHADO,
Lia Osório. Urbanização
e mercado de trabalho na Amazônia Brasileira.
In: Cadernos IPPUR. Vol. XII nº 1, jan./jul. Rio de Janeiro: UFRJ-IPPUR,
1999.
MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE. Projeto
Macrozoneamento da Amazônia Legal: mapas temáticos selecionados - texto explicativo.
Brasília,
2006.
OLIVEIRA,
Luiz Antônio Pinto. Dinâmica
Populacional e Social na Região Amazônica. (http://www.fundaj.gov.br/docs/iesam/L-A-OLIVEIRA.html
acesso em fevereiro de 2007)
SILVA,
Marina. Desafios
e perspectivas para o desenvolvimento sustentável.
In: MATA, Raimundo Possidônio C. e TADA, Cecília. Amazônia, desafios e
perspectivas para a missão. São Paulo. Editora Paulinas,
2005.
SIOLI,
Harald. Amazônia:
fundamentos da ecologia da maior região de florestas tropicais.
3ª edição. Petrópolis. Vozes, 1991.
VALVERDE,
Orlando. A
Amazônia brasileira: alguns aspectos sócio-econômicos.
Boletim
Geográfico. Rio de Janeiro, 28 (208): 43-50, jan./fev. 1969.