A
GEOGRAFIA ESCOLAR E O ESTADO-NAÇÃO BRASILEIRO NO PERÍODO
DE 1930-1964
Inia
Franco de Novaes[1]
O
sistema educacional é organizado e definido segundo critérios de valores e, com
a Geografia, não foi diferente: seu saber foi constituído e consolidado
colaborando diretamente com a organização do Estado-nação, principalmente com a
institucionalização da escola primária. Nesse contexto, a Geografia surgiu como
um discurso político-educacional, pois sua presença no meio escolar contribuiu
para apregoar nos “nascidos” a ideologia do nacionalismo patriótico, importante
para a constituição do Estado-nação, em particular o alemão, berço da Geografia
Moderna. Diante das proposições, procurou-se compreender, nesse trabalho, a
evolução do sistema educacional e da Geografia escolar no Brasil no período de
1930-1964, em especial nos primeiros anos de escolarização, pois esse nível de
ensino sofreu a influência de leis e decretos, e de concepções educacionais e
geográficas que imprimiram diferentes roupagens no seu ensino, bem como avaliar
em que medida a presença da Geografia no meio escolar contribuiu para a
consolidação do Estado-nação brasileiro. Para conhecer a trajetória do ensino de
Geografia nos primeiros anos de escolarização no período de 1930-1964,
realizou-se uma pesquisa bibliográfica a partir da análise de livros, artigos,
leis e decretos publicados em tempos diferenciados e que contribuem para
elucidar as ações político-educacionais da época. Torna-se importante conhecer a
trajetória do ensino de Geografia nos primeiros anos de escolarização e sua
presença na constituição do Estado-nação brasileiro, pois esse nível de ensino
foi, por muitas décadas, a base educacional oferecida ao povo, sendo
profundamente marcado pela organização política do país, com características que
se refletiram diretamente na sua valorização e aprendizagem.
[1] Profa.Ms. da Rede Pública de Ensino do Município de
Uberlândia e docente da Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Unidade
Universitária de Itumbiara, Brasil. inianovaes@yahoo.com.br.
Trabalho desenvolvido sob orientação da Profa. Dra. da Universidade Federal de
Uberlândia, Brasil. vaniarubia@netsite.com.br
Introdução
O
sistema educacional é organizado e definido segundo critérios de valores
impostos pela classe dominante, conforme o que se quer para a sociedade. Com a
Geografia não foi diferente; seu saber
foi consolidado em um ambiente propício, colaborando diretamente com a
organização do Estado-nação, principalmente com a institucionalização da escola
primária.
Nesse
contexto, como afirma Vlach (1991), a Geografia surge como um discurso
político-educacional na medida em que a sua presença no meio escolar contribuiu
para inculcar nos “nascidos” a ideologia do nacionalismo patriótico, importante
para a constituição dos Estados-nação, em particular o alemão, berço da
Geografia Moderna.
Diante
destas proposições, procura-se compreender a evolução do sistema educacional e a
presença da Geografia escolar nos primeiros anos de escolarização no período de
1930-1964, e avaliar a contribuição da Geografia escolar para a consolidação do
Estado-nação brasileiro. E, ao delinearmos um fragmento da História da Educação
no Brasil, perceberemos que a Geografia esteve presente de forma subjetiva,
assumindo diferentes denominações e configurações.
Buscando
conhecer a presença da Geografia no sistema escolar e sua contribuição para a
consolidação do Estado-nação foram feitas pesquisas bibliográficas e reflexões
teóricas com bases em leis e decretos que regulamentaram o ensino nesse período.
Portanto, é de fundamental importância conhecer a trajetória do ensino de
Geografia nos primeiros anos de escolarização, em especial de 1930-1964, pois a
a nosso ver, esse momento marcou
profundamente a organização política e educacional do país, com características
que se refletiram diretamente na Geografia escolar.
1.
Sociedade, Ensino e Nacionalismo Patriótico
A
crise das oligarquias cafeeiras, aliadas do poder estabelecido, tornou as
relações políticas instáveis, e, a partir de 1930, com a instalação do governo
provisório de Getúlio Vargas, iniciou-se o período político que ficou conhecido
como nacional-desenvolvimentismo, marcado por grande instabilidade política, mas
atendendo aos interesses de várias forças presentes na Revolução de 1930. Não
podemos ignorar que
O
ano de 1930 foi um divisor de águas na história do país. A partir dessa data,
houve aceleração das mudanças sociais e políticas, a história começou a andar
mais rápido [...] a mudança mais espetacular verificou-se no avanço dos direitos
sociais [dentre eles o direito à educação] [...] (CARVALHO, 2001, p.
87).
As
mudanças nas relações econômicas, políticas e sociais interferiram diretamente
na queda do modelo capitalista agrário-exportador, que dispensava um sistema
educacional mais desenvolvido, substituído pelo modelo capitalista
urbano-industrial, caracterizando a nova fase econômica que o Brasil trilhava,
sendo necessária uma mão-de-obra mais qualificada, de um trabalhador com mais
formação e conhecimentos. Conforme Schwartzman et al. (1984, p. 51): “A partir
da década de 1930, [...] os componentes ideológicos passam a ter uma presença
cada vez mais forte na vida política, e a educação seria arena principal em que
o combate ideológico se daria”.
Em
suma, as diferentes ideologias que consolidaram a Revolução de 1930 romperam com
a velha estrutura agrária e consolidaram a industrial e, em meio aos debates e
discussões, a política educacional fazia-se presente no contexto
urbano-industrial que estava sendo instaurado. Necessitava-se, portanto, de
escolarizar uma parcela maior da população. Ao considerar esses fatores,
Oliveira (2002, p.34) argumenta que
[...]
a extensão da escolaridade esteve associada tanto à idéia de que a escola seria
um instrumento de redução das desigualdades sociais e da moldagem da identidade
nacional quanto à necessidade de incutir nas novas gerações comportamentos
exigidos para o desempenho das funções e ocupações emergentes com os processos
de industrialização e urbanização.
Para
organizar e difundir a educação escolarizada no Brasil, em 1930, o Governo
Provisório criou o Ministério da Educação e Saúde, para consolidar o novo
projeto político-econômico que estava em ascensão. Todos os
movimentos sociais, como o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932),
que defendia a escola pública, culminaram no texto da Constituição de 1934,
quando a assembléia constituinte votou nova Constituição, estabelecendo a
obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário.
Em
1937, apoiado pelos integralistas, iniciou-se a Ditadura do Governo Vargas,
conhecida como Estado Novo, que se manteve até 1945, caracterizada como “um
regime autoritário e não totalitário”. Convém observar que, o decreto-lei n.
868, de 18 de novembro de 1938, funda, no Ministério da Educação e Saúde, a
Comissão Nacional de Ensino Primário, evidenciando a importância da educação
primária e popular para o “desenvolvimento econômico” do país, uma vez que
“[...] seu papel primeiro é, sem dúvida alguma, o de formar no homem a
consciência da Nação [...]” (LOURENÇO FILHO, 2002, p. 37).
De
acordo com o artigo 2º, do referido decreto, compete à Comissão Nacional do
Ensino Primário, organizar o plano de uma campanha nacional de combate ao
analfabetismo, mediante a cooperação de esforços do Governo Federal com os
governos estaduais e municipais e, ainda, com o aproveitamento das iniciativas
de ordem particular. E, estudar a estrutura a ser dada ao currículo primário e
as diretrizes que deveriam presidir para a elaboração do ensino primário era
outra missão destinada à Comissão; no entanto, o ensino de Geografia não fez
parte do currículo, ao contrário do que ocorreu na Europa.
Além
de contribuir para a inserção do Brasil na economia industrial, o ensino
primário teve como papel, nesse momento histórico, combater os nacionalismos, em
decorrência do grande fluxo migratório. Verificamos a preocupação com a
consolidação do Estado-nação brasileiro, preocupação essa evidenciada como um
dos temas de discussão na Comissão Nacional do Ensino Primário, designada a nacionalizar integralmente o ensino
primário em todos os núcleos de população de origem estrangeira. Percebemos, “[...] a carga ideológica da
noção de que a educação deveria ser um instrumento de construção da
nacionalidade brasileira [...]” (SCHWARTZMAN et al., 1984, p. 72), tarefa que se
tornou repressiva e não pedagógica.
Lourenço
Filho (2002), em sua obra Tendências da educação brasileira, evidencia a
situação político-social que afunilava para a consolidação da nação brasileira,
relatando que, em 1917, o governo federal fechou escolas particulares nos
Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde brasileiros natos recebiam
instrução contrária aos interesses nacionais.
2.
A
Lei Orgânica do Ensino Primário e a presença da Geografia no currículo
escolar
Após
a queda de Vargas, no governo provisório de José Linhares, o então ministro da
educação, Raul Leitão Cunha, por meio do decreto-lei n.8.529, de 02 de janeiro
de 1946, promulgou a Lei Orgânica do Ensino Primário. Até esta data, o ensino
primário não era objeto de preocupação; sua administração estava sob o poder dos
Estados, sujeito as diferentes formas de legislar e implantar esse nível de
ensino. A ausência de diretrizes centrais criava uma desorganização no ensino,
pois cada Estado fazia o que julgava necessário, e como demonstra Romanelli
(1997, p. 160):
O
ensino primário até então praticamente não recebera qualquer atenção do Governo
Central, estando os sistemas de ensino ligados à administração dos Estados e,
portanto, sujeitos às condições destes para legislar e inovar. Não havia
diretrizes traçadas pelo Governo Federal para esse nível de ensino e isso era
uma tradição que estava ligada à nossa herança colonial.
Nessa
lei, a constituição da nação continuou a ser objeto de preocupação do governo
central, de acordo com o artigo 33, que rege a liberação dos estabelecimentos
particulares de ensino primário. Um dos critérios para autorizar o funcionamento
da escola era provar que a instituição educacional seria dirigida por um
brasileiro nato.
A
Lei Orgânica do Ensino Primário, conhecida como Reforma Capanema, teve como
objetivo traçar diretrizes gerais para esse nível de ensino, que, de acordo com
os artigos 39 e 41, deveria ser gratuito e obrigatório, evidenciando a
importância da educação para o desenvolvimento econômico. Tal lei, promulgada em
um momento de crise, marcada pelo fim do Estado Novo e pela volta da democracia,
foi elaborada em substituição à lei de 1827, primeira lei de instrução
elementar, que fundou as escolas de primeiras letras que nunca entrou em prática
no Brasil. Tais fatos confirmam o desinteresse do governo com a educação do
povo.
De
acordo com artigo 2º da Lei Orgânica do Ensino Primário, o ensino nesse nível
foi organizado em duas categorias: o primário fundamental, ministrado em dois
cursos sucessivos, o elementar e o complementar, para crianças de sete a 12
anos, e o primário supletivo, destinado a adolescentes e adultos, com o objetivo
de alfabetizar uma grande parcela da população brasileira que havia ficado fora
das escolas. Nesse contexto,
Romanelli (1997, p. 63) enuncia a concepção de alfabetização vigente na
época:
[...]
até 1950 foi considerado alfabetizado, todo aquele que simplesmente respondesse
à pergunta: “Sabe ler e escrever?”. Os casos duvidosos eram resolvidos mediante
a exigência de que a pessoa inquirida apenas traçasse o seu nome. Já após essa
data só foram consideradas alfabetizadas as pessoas capazes de ler e escrever um
bilhete simples [...].
Como podemos verificar, a educação
escolarizada limitava-se a adestrar o indivíduo a escrever o nome. A leitura do
mundo, que requer um sujeito crítico, com capacidade de observar e analisar os
fatos que ocorrem a sua volta, não era interesse da classe política que
planejava os investimentos sociais.
Com
a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Primário, regulamentou-se a estrutura
curricular desse nível de ensino, quando, pela primeira vez, a Geografia passou
a fazer parte do currículo oficial do ensino primário no país. Todavia, a
diferença relacionada ao gênero e aos conteúdos de aprendizagem perdurou na nova
lei, a exemplo do currículo das alunas, ao qual se deveria acrescentar, o ensino
de economia doméstica e a puericultura.
A
formação profissional de nível primário foi evidenciada na nova lei. De acordo
com o artigo 5º, que rege a articulação do ensino primário com outras
modalidades de ensino, percebe-se a preocupação com a formação de mão-de-obra. O
curso primário elementar e o curso supletivo deveriam articular-se com os cursos
de artesanato e de aprendizagem industrial e agrícola, e o curso primário
complementar com os cursos ginasial, industrial, agrícola e de formação de
regentes para atuar no ensino elementar. Porém, devido à falta de investimentos
na estrutura educacional do país, caracterizada pela desvalorização do ensino
primário, a formação do professor para atuar no ensino primário era
complementada com apenas mais um ano de estudos primários, apesar da existência
da Lei Orgânica do Ensino Normal; no currículo, não apareciam disciplinas
relacionadas à didática e à metodologia, que poderiam colaborar para a prática
dos professores nessas séries. Tais fatos agravaram a situação educacional, que
era insuficiente e não atendia às necessidades reais do povo.
Conforme
Vlach (2004, p. 188), “[...] as inextrincáveis relações entre a escola, o ensino
de Geografia e à construção do Estado-nação brasileiro se colocam [tardiamente]
em evidência [...]”. Percebe-se que a educação primária brasileira e o ensino de
Geografia trilham caminhos pedregosos; somente na década de 1940 foram
necessariamente solidificados. Em decorrência desses fatos, surgiram a
domesticação, a castração da cidadania e o sentimento de abandono que o povo
brasileiro carrega, fruto do descaso com a educação básica desde a independência
política o que remonta à colonização. A nosso ver, esse descaso também se
reflete na política do país, colaborando para a ascensão de governantes
populistas.
Mesmo
com todas as tribulações, em 1946 foi publicado o livro didático de Cláudio
Maria Thomas, Geografia – Atlas, destinado para o primário, organizado em
perguntas e respostas, intercalado por mapas que não eram citados nos textos
(COLESANTI, 1984), o que evidencia a metodologia tradicional, descontextualizada
e mnemônica, utilizada para o ensino de Geografia, que não colaborava para a
construção dos conceitos e para a compreensão da realidade, impossibilitando o
desenvolvimento pleno da cidadania (FERREIRA, 1993).
Como
podemos verificar, o ensino de Geografia não colaborava para o desenvolvimento
da Nação brasileira e, sentindo a carência desse sentimento na população, por
meio do decreto n.50.505, de 26 de abril de 1961, o então presidente Jânio
Quadros consolidou as disposições relativas à educação moral e cívica nos
estabelecimentos de ensino, tornando-a obrigatória em todos os graus e redes de
ensino. Passou a ocorrer, nas escolas, por exemplo, a execução dos hinos
Nacional, da Bandeira e outros que expressassem as “tradições”, “conquistas” e o
“progresso brasileiro”, bem como a divulgação dos princípios essenciais de uma
educação para o desenvolvimento nacional.
A
Lei Orgânica do Ensino Primário ficou em vigor até a promulgação, em 20 de dezembro de 1961, após 13 anos de
intensas discussões da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), da lei n. 4024, que manteve a essência da Reforma Capanema, mas
procurou unificar e descentralizar o sistema
escolar.
A
diferença significativa, em relação à Reforma Capanema, foi à abdicação de um
currículo fixo para todo o país. Passou a existir um currículo mínimo,
determinado pelo Conselho Federal de Educação (CFE). Embora o currículo ficasse
aberto e flexível, o que possibilitava às escolas incorporarem ao currículo
disciplinas optativas, concordamos com Romanelli (1984), quando diz que foi um
avanço, em se tratando de legislação, apesar de as escolas organizarem seus
currículos reais a partir dos recursos humanos e materiais disponíveis. Porém,
a
desvalorização da Geografia se manteve. Como afirma Zotti (2004, p.
120):
[...]
cabia a cada Estado e ao Distrito Federal a determinação do currículo e dos
programas das escolas [...]. Entretanto, a orientação e o conteúdo de ensino não
diferem muito nos vários estados, sendo o enfoque central no ensino da escrita,
leitura e cálculo, com a utilização de uma metodologia tradicional e
verbalista.
Além
dos fatos citados, um outro elemento que pesou contra a LDB foi a aprovação do
artigo 30, referente à obrigatoriedade do ensino primário, e que determinava que
não poderia exercer função pública, nem ocupar emprego em sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviço público, o pai de família ou
responsável por criança em idade escolar, sem fazer prova de matrícula desta, em
estabelecimento de ensino, ou de que lhe estava sendo ministrada educação no
lar. Porém, no parágrafo único, foram previstos casos que permitiam aos pais ou
responsáveis deixar a criança fora da escola, dentre eles o estado de pobreza, a
insuficiência de escolas, o encerramento das matrículas e, a nosso ver, o único
motivo aceitável, doença grave que impedisse a criança de freqüentar as aulas.
Tais
fatores reforçam a falta de compromisso político e social dos dirigentes com o
povo. Concordamos com Romanelli (1997), no que diz respeito ao artigo 30, que
isenta o poder público de cumprir e fazer cumprir a obrigatoriedade do ensino
básico, tão necessário para a inserção da população no sistema geral de
produção. Um país como o Brasil, cuja história é marcada por uma ausência dos
direitos sociais e políticos, necessita de um projeto de escolarização que
contemple toda a população. Acreditamos que a educação popular de
qualidade
[...]
possibilita [a população] uma participação mais efetiva nos destinos políticos
da Nação, porquanto habilita o indivíduo ao exercício de sua cidadania, a
educação popular [e o ensino de Geografia nesse nível] o coloca numa situação
perante o sistema de produção que o torna não só mais produtivo, mas também o
capacita a uma participação mais concreta e mais extensa nas riquezas que criou.
[...] pode funcionar num esquema de desenvolvimento como fator de distribuição
mais eqüitativa e mais justa da riqueza criada (ROMANELLI, 1988, p.
184).
Nesse
momento histórico, fica evidente, no sistema educacional, a luta ideológica
entre as correntes progressistas que defendiam a democratização do ensino e a
participação do Estado como provedor da educação, em detrimento das correntes
conservadoras, favoráveis à educação como privilégio de classes e a não
participação do Estado na organização e manutenção do ensino. Temendo a
democratização do ensino, os conservadores reproduziam o discurso: “[...] a
desigualdade econômica, política e social é uma condição natural (grifo da
autora), que não precisa ser combatida e muito menos compensada pela
distribuição eqüitativa da instrução [...]” (ROMANELLI, 1988, p.
190).
Percebe-se
que a falta da educação era necessária para continuar reproduzindo uma população
alheia aos fatos e fenômenos que permaneciam enquanto resquícios das forças
conservadoras. Impossibilitou-se o desenvolvimento educacional, pois é sabido
que a sua melhoria poderia contribuir para a organização política das classes
populares.
Considerações Finais
O ensino de Geografia conheceu avanços com a sua
institucionalização, por meio da Lei Orgânica do Ensino Primário, mas, também
retrocessos, com a pseudo-abertura dada pela LDB/61. Em face disso, a Geografia,
nos primeiros anos da escolarização, passou por várias reformas, aparecendo
diretamente nos currículos escolares, a partir da Lei Orgânica do Ensino
Primário, de 1946. Embora institucionalizada como conteúdo curricular, desde
então, a Geografia não cumpriu efetivamente o seu papel, devido às carências
estruturais e pedagógicas da educação no Brasil, não atendeu as reais
necessidades da população urbana em expansão.
Há muito o que se pensar sobre o ensino de Geografia e sobre o seu
papel no meio educacional, em especial nos primeiros anos de escolarização.
Acreditamos que há uma grande parcela de “analfabetos geográficos” na sociedade.
O anacronismo educacional limitou o ensino da Geografia na educação básica e
impôs à sociedade uma visão limitada do espaço
geográfico.
Em face disso, desenvolver um texto que recua no tempo, significa
assumir que os acontecimentos históricos interferem na sociedade e na história
de vida das pessoas que a compõem. Por isso, observamos a influência da
legislação e como o momento histórico-político repercutiu no processo pedagógico
interferindo diretamente no processo de ensino dos conhecimentos geográficos.
Portanto, a educação geográfica pode colaborar para a leitura crítica das
relações de poder existentes na sociedade, levando o povo a desmitificar os
fatos e a refletir sobre a consolidação da Nação.
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