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Asunto: | [encuentrohumboldt] 503/06 - APORTES PARA A CARACTERIZAÇÃO DE CIDADES MÉDIAS BRASILEIRAS | Fecha: | Martes, 26 de Diciembre, 2006 10:35:10 (-0300) | Autor: | Encuentro Humboldt <encuentrohumboldt @..................ar>
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APORTES PARA A CARACTERIZAÇÃO DE CIDADES MÉDIAS
BRASILEIRAS –
ESTUDO DE CASO SOBRE JUIZ DE FORA, MINAS
GERAIS, BRASIL

Nathan
Belcavello de Oliveira
RESUMO
Muito se fala a respeito
das cidades médias. Mas quem são as cidades médias? Toda cidade com certa
dimensão demográfica pode ser considerada média? Essas e outras indagações
surgem quando este objeto de análise é proposto como a pesquisa em si, ou como
escala espacial para outras. Muitos são os debates e as posições acerca de um
perfil de cidade média. Este artigo surge como uma tentativa de se caracterizar
as cidades médias brasileiras, dentro de uma série de critérios, características
e indicadores que propomos para o delineamento de um tipo ideal de cidade média
brasileira contemporânea (inserida na lógica da globalização), a ser rebatido na
realidade (estudo de caso sobre Juiz de Fora, Minas Gerais) para averiguação de
sua instrumentalidade dentro dos fins almejados. Assim, acreditamos que
estaremos contribuindo para os debates relacionados ao tema proposto e,
principalmente, destacando a importância dos estudos ligados às cidades
médias.
Palavras-chave: cidade média brasileira, tipo ideal,
globalização, espaço urbano.
RESUMEN
CONTRIBUCIONES
PARA LA CARACTERIZACIÓN DE
CIUDADES MEDIANAS BRASILEÑAS – ESTUDIO DE CASO SOBRE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS,
BRASIL
Mucho se habla a respecto de las ciudades medianas. ¿Pero
quien son las ciudades medianas? ¿Toda la ciudad con cierta dimensión
demográfica pode ser considerada mediana? Esas e otras preguntas surgen cuando
este objeto de análisis es propuesto como la investigación en si, o como escala
espacial para otras. Muchos son los debates y las posiciones acerca de uno
perfil de ciudad mediana. Esta ponencia hay surgido como una tentativa de se
caracterizar las ciudades medianas brasileñas, dentro de una serie de criterios,
características y indicadores que hemos propuesto para el delineamiento de uno
tipo ideal de ciudad mediana brasileña contemporánea (injerida en la lógica de
la globalización), a ser testado en la realidad (estudio de caso sobre Juiz de
Fora, Minas Gerais) para examen de su instrumentalidad dentro de los fines
deseados. Así, creemos que hemos contribuyendo para los debates relacionados al
tema propuesto y, principalmente, destacando la importancia de los estudios
ligados a las ciudades medianas.
Palabras-llave: ciudad mediana brasileña, tipo ideal,
globalización, espacio urbano.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como
objetivo tentar caracterizar as cidades médias brasileiras, traçando um tipo
ideal de cidade média, a partir de características peculiares dessas
aglomerações, mensuráveis de maneira satisfatórias a partir de indicadores,
podendo-se, assim, analisar um estudo de caso. Para tal, escolhemos Juiz de
Fora, Minas Gerais, procurando verificar a aplicabilidade da caracterização
proposta neste trabalho.
Todavia, sem a pretensão de impor um conceito de cidade
média, ressaltamos que desenvolveremos nosso trabalho considerando a realidade
da hierarquia urbana brasileira, principalmente ao que tange a características
demográficas. Não obstante, acreditamos que muitas das características esboçadas
aqui podem ser levadas em consideração para o estabelecimento de um tipo ideal
de cidade média em outros países, em especial, da América Latina, que sofrem
processos sócio-econômicos semelhantes aos ocorridos no Brasil no período da
globalização. Também destacamos que o tipo ideal de cidade média que tentamos
estabelecer aqui está contextualizado no período sócio-econômico contemporâneo
ao fenômeno da globalização, não servindo de forma ideal para outras épocas e
contextos sócio-econômicos. Entretanto, isso não pode ser interpretado como um
trabalho em vão, pois acreditamos ser fundamental a comparação entre as
alterações que as características para definição de uma cidade média sofrem no
decorrer de diferentes períodos sócio-econômicos, servindo como rica fonte para
se verificar a importância destas cidades na hierarquia urbana, no fenômeno
demográfico, na economia, etc. durante o desenrolar da história
nacional.
Para tal, dividimos o texto em três partes. Primeiramente
apresentamos os critérios, características e indicadores para a caracterização
das cidades médias brasileiras. Posteriormente remetemo-nos ao estudo de caso,
analisando as características descritas. Por fim, realizamos algumas
considerações complementares.
1. BUSCANDO CARACTERIZAR AS CIDADES MÉDIAS
BRASILEIRAS
O termo “cidade média” tem
sido amplamente utilizado na mídia, entre a população e em trabalhos acadêmicos
no Brasil e outros países. Tem sido usado para explicar o fenômeno demográfico
brasileiro contemporâneo, com a diminuição do fluxo migratório para as
metrópoles nacionais e o seu novo direcionamento para espaços urbanos menores
que as metrópoles, mas ainda maiores que as cidades pequenas (que continuam a
perder população). Contudo, esta utilização massiva não tem sido acompanhada, na
maioria das vezes, por um conceito que identifique de forma mais clara a qual
perfil de cidade diz respeito este termo. Mesmo as características que
estabeleceriam o perfil de uma cidade média têm provocado debates acalorados
entre os que estudam este espaço urbano específico, principalmente se
considerarmos a comparação entre estudos que são realizados em países distintos,
com dimensões territoriais e demográficas diferentes, o que ainda trás mais
complicadores à problemática da conceituação do termo cidade média.
Inserindo-nos nesse debate, podemos dizer que as
características para se traçar um tipo ideal de cidade média perpassa por
critérios que podem ser identificados através de indicadores. Essas
características, muitas vezes, são de difícil mensuração e com limites bastante
voláteis, mas nos aproximam de maneira eficaz ao objeto de estudo. Para tal
caracterização, portanto, vale o bom senso ao se qualificar as características
através dos indicadores.
Começamos o escopo de características das cidades médias
pelos critérios demográficos. Por mais discutível que seja entre os mais
variados autores a dimensão demográfica é uma característica que estabelece,
pelo menos, um universo de cidades onde estariam mais bem representadas as
cidades médias. Por estarmos tratando do Brasil, adotamos o indicador proposto
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estabelece uma
faixa de cidades com população entre 100.000 e 500.000 habitantes (SOARES,
1999). Outra característica que poderíamos considerar, dentro do critério
demográfico, para classificar uma aglomeração como cidade média seria a atração
demográfica que estas cidades exercem sobre as menores e também (em menor
escala) sobre as maiores. Como indicador para esta característica podemos tomar
a taxa de crescimento relativo da população municipal acima da média nacional e
da maioria das metrópoles brasileiras, principalmente no último decênio do
século XX e nos dias atuais. Este crescimento se dá muito mais pela taxa de
migração positiva e elevada do que pelo crescimento vegetativo da
população.
[...] O que se
tem observado e que foi mais uma vez ratificado pelos dados do Censo
Populacional do IBGE/1996, é que as grandes capitais do país crescem hoje num
ritmo muito mais lento, em todos os casos apresentando taxas anuais de
crescimento demográfico muito abaixo do que historicamente vinha sendo
observado. De outro lado, principalmente, mas não unicamente, no Sul e Sudeste
do Brasil, são as cidades “médias”, pólos regionais, quem vêm apresentando os
maiores índices de crescimento e conseqüentemente, maior concentração econômica
e demográfica. No suprimento dessa situação de crescimento das “cidades-pólo”
regionais, encontram-se, invariavelmente, as pequenas cidades de sua própria
microrregião, área de influência mais direta e imediata. Dessa forma, crescem
menos as metrópoles, crescem muito mais rápido as cidades de ‘porte médio’ e
definham as pequenas cidades. Esse conjunto de situações mostra, dentre várias
características, que o processo de urbanização brasileiro, a concentração dos
processos econômicos produtivos e o movimento migratório interno, ganharam novos
contornos e nova expressão territorial, e que vão demandar soluções igualmente
novas e diferenciadas (MACHADO, 1997, p. 121).
Outro indicador para a atração demográfica são os fluxos
pendulares estabelecidos pela população da região para a cidade, com a
finalidade de suprirem sua demanda por bens e serviços, não encontrados em seus
locais de origem. Este indicador também está ligado a características dentro do
critério sócio-econômico. Entre este último, a autonomia financeira da
Administração Municipal frente às receitas de transferências da União
(principalmente vinculadas ao Fundo de Participação dos Municípios – FPM) e às
transferências do Estado (sobremaneira
àquelas distintas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS,
que se relaciona com o dinamismo econômico da cidade) é uma característica
importante no delineamento das cidades médias. Os indicadores para esta
característica podem ser levantados por meio da pesquisa Perfil dos Municípios
Brasileiros – finanças públicas 1998-2000 (IBGE, 2004). Analisando os dados da
tabela 1, percebemos que as transferências da União para municípios entre
100.000 e 500.000 habitantes corresponde a uma média de 24% de suas receitas
totais. Dessa maneira, uma das características quantitativas das cidades médias
é o percentual de transferência da União próximo a uma média de 24% do total da
receita municipal; nunca superior a 50%.
Outro indicador da característica de autonomia financeira
é a relação entre o total das receitas próprias dos municípios e as
transferências da União e do Estado. Esta relação próxima a 1,00 ou superior
(nunca inferior a 0,50) demonstra a autonomia orçamentária de que o município
dispõe perante os demais níveis de governo da federação, propiciando um elemento
a mais de barganha na denominada “guerra fiscal”.
Tabela 1 – Porcentagem de participação das transferências
da União nas receitas totais dos municípios brasileiros – 1998 a
2000
Classes
de tamanhos (habitantes) |
1998
(%) |
1999
(%) |
2000
(%) |
Média
(%) |
Até 5.000 |
54,56 |
58,26 |
56,87 |
56,56 |
De 5.001 a 20.000
hab. |
45,89 |
50,09 |
48,84 |
48,27 |
De 20.001 a
100.000 |
34,72 |
38,74 |
37,89 |
37,12 |
De 100.001 a
500.000 |
22,15 |
25,40 |
24,95 |
24,17 |
Mais de 500.000 |
19,46 |
22,74 |
23,08 |
21,76 |
Fonte: Adaptado IBGE,
2004.
Ainda considerando as receitas das cidades médias, o ICMS
corresponde a mais de 50% das transferências dos Estados. Este
indicador nos remete a outras três características fundamentais para
determinação de uma cidade média: as capacidades de absorção de investimentos,
de oferecimento de bens e serviços e de consumo (NUNES, 2005). As duas últimas
características, em especial, também podem ser verificadas pelo indicador dos
fluxos demográficos, supracitado.
Uma outra característica das cidades médias é a inserção
dessas na lógica produtiva da globalização.
São as políticas
neoliberais que, assim como no restante do território nacional [...] são
responsáveis pela inserção das cidades médias na racionalidade da produção
mundial. São elas que amparam ideologicamente e financeiramente a governos
municipais na tarefa de transfigurar o espaço intra-urbano em favor das
exigências da mais-valia global (OLIVEIRA, 2006, p.
51).
¿Cuál es el papel de las ciudades intermedias
en el mundo globalizado? ¿Cuál es la relación entre ese nuevo orden mundial, el
desorden urbano y la calidad de vida? Hoy, las ciudades intermedias parecen
consagradas a desarrollar una alta y competitiva especialización funcional
[...]. Pero ese fenómeno debe acompañarse de la permanencia de un orden urbano
basado en la seguridad, en la preservación del medio ambiente, en la imagen. ¿Y
los excluidos del modelo? Deben ser apartados para asegurar una nueva y ordenada
vida de relaciones, que permita competir, y hacerlo eficientemente, con otras
ciudades, otras provincias y otros países que tengan la pretensión de albergar
capitales y firmas, pasaporte indispensable en el viaje de la modernidad
(SILVEIRA, 1999, p. 51).
As cidades médias desempenham a função de locus do
comando técnico da produção globalizada, abrangendo toda uma gama de
instituições de pesquisa e ensino, além de um corpo profissional especializado.
Contudo, não cumprem as funções de comando político e decisório da lógica da
produção mundial, dada, em parte, às metrópoles como São Paulo, responsáveis
pelo repasse das informações globais a nível regional (OLIVEIRA, 2006). Os
indicadores dessa característica seriam os investimentos em sistemas de
engenharia, efetuados pelas políticas neoliberais, o número de empresas
multinacionais inseridas no espaço intra-urbano das cidades médias, tanto em
atividades produtivas, quanto de consumo, além da inserção de formas
geográficas da
globalização.
Além disso, outra característica das cidades médias é a
proliferação de problemas e carências, como nos diz
Beatriz Ribeiro Soares (1999):
[...] Não
podemos pensar nessas aglomerações apenas como os eldorados brasileiros.
Elas também apresentam uma série de carências e problemas visto que estão
inseridas num quadro mais amplo de questões econômicas, políticas e sociais que
afetam o Brasil como um todo (p. 62).
Em parte, esses problemas e carências surgem da inserção
das cidades médias na lógica mundializada, sendo seu indicador também as formas
geográficas da globalização, no que
tange, principalmente, àquelas formas que expressam a exclusão social.
Considerando critérios de localização, podemos destacar
como característica a posição geográfica dentro do país (NUNES, 2005). Aqui
colocamos um ponto de vista importante em relação à caracterização das cidades
médias brasileiras. As cidades inseridas em regiões metropolitanas e as capitais
estaduais não podem ser consideradas cidades médias. No caso das cidades
inseridas em regiões metropolitanas, a cornubação, os fluxos demográficos e
econômicos, a racionalidade do espaço intra-urbano, entre outros aspectos, estão
sobremaneira vinculados à metrópole, o que impossibilita a caracterização dessas
cidades como médias, uma vez que não conseguem ter uma relevância
regional verdadeira,
“orbitando”, na verdade, em torno da importância da metrópole. Assim, poderíamos
dizer que se trata de cidades satélites da
metrópole.
Por sua vez, as capitais estaduais, dada à relação direta
entre estas e a Administração Estadual, promovem uma relevância distinta da que
exercem as cidades médias.
Desta maneira, a posição geográfica surge como
característica relevante para as cidades médias, pois estas devem estar
posicionadas de tal maneira que consigam desenvolver de maneira relativamente
autônoma suas capacidades de absorção de investimentos, de oferecimento de bens
e serviços e de consumo à sua população e de sua região, que irá variar de
acordo com a sua proximidade às principais metrópoles do país, nunca estando
inseridas nas regiões metropolitanas e não sendo capitais estaduais. A posição
geográfica também irá influenciar o controle que estas cidades estabelecerão
sobre a relação de suas regiões e as metrópoles
nacionais.
Uma última característica
que acrescentaríamos no escopo da determinação das cidades médias, muito
relacionado aos problemas e carências, é o folclore relacionado à falsa idéia de
“paraíso laboral” e de “qualidade de vida” que estas cidades disseminam no
imaginário social do país, feita através de propaganda institucional que fazem,
inescrupulosamente, muitas prefeituras e a mídia de uma maneira geral, tanto
para as populações residentes nos grandes centros e metrópoles, quanto para
a população que vive em cidades menores, principalmente dos municípios em torno
delas, exaltando o falso
bem-estar social alcançado pelas “prósperas cidades médias” (OLIVEIRA,
2006).
Temos, então, para efeito
de sistematização, a figura 1.
Figura 1
– Organograma de caracterização das cidades médias
brasileiras

2. JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS: UMA CIDADE
MÉDIA?
Juiz de Fora, uma das
principais cidades de Minas Gerais, localiza-se na porção sudeste do estado,
estando no eixo da BR 040, entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte (vide mapa
1). Tem uma população estimada para 1º de julho de 2005 em 501.153 habitantes
residentes (IBGE, 2005).

Machado (1997), em artigo
elaborado sobre o município, destaca que a cidade possui uma taxa de crescimento
elevada. Este autor desenvolve várias análises a partir de dados censitários,
assinalando a importância dos imigrantes no incremento demográfico,
especialmente devido à atratividade que o município exerce na região, uma vez
que, entre os imigrantes, cerca de 88% são provenientes do sudeste mineiro e de
áreas fluminenses próximas à divisa do Estado, fortemente polarizadas pela
cidade (MACHADO, 1997).
“A cidade também possui
uma população flutuante consideravelmente elevada, que busca e utiliza os
equipamentos urbanos, bens, serviços e empregos nela encontrados” (OLIVEIRA,
2006, p. 54).
A cidade sempre
desempenhou atração econômica por questões ímpares em cada período, entretanto a
atratividade recente está ligada, basicamente, a dois fatores: o surgimento,
sobretudo na década de 1990, de uma série de instituições de ensino técnico e
superior privadas, além da ampliação de vagas e a criação de novos cursos de
graduação e pós-graduação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),
estabelecida desde 1960 (vide tabela 2); e a reestruturação logística por que o município passou (e
vem passando), principalmente na última metade do quartel final do século XX
(preparando-se para sua inserção no sistema produtivo
globalizado).
Tabela 2
– Quantidade de cursos técnicos, de graduação e pós-graduação oferecidos por
algumas Instituições de Ensino Superior e Técnico públicas e privadas em Juiz de
Fora
Instituição |
Tipo
de Ensino (quantidade de cursos oferecidos) |
Tipo |
Quantidade |
Técnico
Tecnólogo |
Graduação |
Pós-graduação |
Especialização |
Mestrado |
Doutorado |
Públicaª |
2 |
11 |
33 |
27b |
15 |
2 |
Privada |
14 |
18 |
89 |
69 |
1 |
- |
ª Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF) e Instituto de Laticínios Cândido Tostes; b Quantidade
aproximada.
Fontes: Adaptado de OLIVEIRA, 2006,
p. 56.
O município, no final da década de
1980 e durante o decênio de 1990, assistiu a preparação de seu território para
inserção no sistema produtivo globalizado, com a esperança de sair de um longo
período de decadência econômica e industrial (OLIVEIRA, LOURES et CASTRO, 2005:
10773).
A tabela 3 mostra,
cronologicamente, algumas reestruturações logísticas que se concretizaram em
benefício da inserção da cidade na globalização.
Tabela
3 – Reestruturação logística e sua periodização
Reestruturação
realizada |
Período |
Duplicação do trecho da BR
040, ligando Juiz de Fora ao Rio de Janeiro, com posterior concessão à
Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio – CONCER; |
Final dos anos 1980 (concessão
a partir de 1996); |
|
A partir de 1996; |
|
A partir de 1995; |
Implantação da rede de fibra
ótica na área urbana; |
Final da década de
1990; |
Implantação da primeira
Estação de Tratamento de Esgoto (na Barreira do Triunfo) da Companhia de
Saneamento Municipal – CESAMA, para atender às exigências da
Mercedes-Benz; |
Implementação da Usina
Termelétrica de Juiz de Fora das empresas Companhia de Força e Luz
Cataguases-Leopoldina e da Alliant-Energy. |
A partir de 2001. |
Tabela 4 – Projetos de adequação de
Juiz de Fora que estão sendo e que serão implementados
Projeto |
Período |
Via São
Pedro; |
Obras iniciadas por
volta de 2002, sem previsão de término; |
Aeroporto Regional
da Zona da Mata – localizado entre os municípios de Goiana e Rio
Novo; |
Obras iniciadas em
2002, sem previsão de conclusão; |
Centro de Convenções e
Exposições – CONEX – localizado na BR 040, próximo à represa do São
Pedro; |
Obras iniciadas em 2003, com
previsão de inauguração em março de 2006; |
Parque Tecnológico
de Juiz de Fora. |
Conversações iniciadas em
2001, com previsão de conclusão entre 5 e 10 anos. |
Fonte: OLIVEIRA, 2006.
Por sua vez, a tabela 4
mostra alguns projetos que estão sendo ou serão implantados como forma de
adequação de Juiz de Fora à economia mundializada.
Seguindo a reestruturação
logística, investimentos do capital globalizado, tanto de caráter produtivo,
quanto de consumo, passam a ser implantados em Juiz de Fora, conforme pode ser
visto na tabela 5.
Tabela 5 –
Investimentos produtivos e de consumo do capital globalizado, implantados em
Juiz de Fora
Investimento
implantado |
Principais
acionistas |
|
Grupo Arcelor, de capital
luxemburguês, francês e espanhol, além de fundos de pensão
brasileiros; |
Um dos quatros centros de
atendimento ao consumidor da Brasil Center, subsidiária da Embratel
Participações; |
Subsidiária, por sua vez, da Telmex, de
capital mexicano; |
Montadora de veículos da
Daimler Chrysler. |
Subsidiária do Conglomerado
mundial da Daimler Chrysler, de capital alemão e estadunidense; |
Hipermercado
Carrefour; |
Filial do grupo varejista
Carrefour, de capital francês; |
Hipermercado
Makro. |
Filial do grupo atacadista
Makro, de capital holandês. |
Fonte: OLIVEIRA, 2006.
Todo este movimento de
reestruturação territorial e de investimentos do capital mundial é responsável
por um drástico acirramento das alterações do espaço intra-urbano juizforano,
especialmente ao que tange aos interesses imobiliários/especulativos e à
segregação sócio-espacial. “Em par com
a chegada do capital globalizado a Juiz de Fora, as conseqüências sobre o espaço
intra-urbano passam a ser percebidas” (OLIVEIRA; LOURES et CASTRO, 2005:
10774).
A
chegada dos investimentos do capital mundial e o surgimento de novas linhas de
financiamento, favorecidas pela inserção da cidade no sistema econômico mundial,
impulsionam o surgimento de um novo mercado imobiliário, que abrange a população
vinculada à produção globalizada, o que provoca a efervescência de novos
produtos imobiliários por parte dos agentes empreendedores deste setor.
O outro processo que se exacerba, a
segregação sócio-espacial, desvela-se maquiavelicamente com a entrada de Juiz de
Fora na reprodução do capital mundializado. Esta se dá através da inserção de formas
geográficas da globalização em todos os aspectos do espaço cotidiano (produtivo,
de consumo e de moradia), materializando os antagonismos próprios do período,
como visto no capítulo 1, onde uma parcela da população privilegiada pelas
benesses da economia mundo contrasta com uma grande maioria que, não
interessantes à mais-valia global, por não terem “muito que oferecer”, se
inserem precariamente ou simplesmente são alijados da
lógica.
Dessa maneira, além dos
investimentos produtivos e de consumo implementados diretamente pelo capital
globalizado no espaço intra-urbano da cidade, conforme esboçados na tabela 5,
surge o projeto do Independência Shopping, com inauguração prevista para outubro de
2007, que caracteriza a concretização, no
consumo, de uma forma geográfica da globalização.
Mas também a proliferação de
pequenas fábricas, sobretudo malharias, de camelôs, vendendo produtos
contrabandeados e/ou falsificados, e o próprio crescimento do narcotráfico em
Juiz de Fora em certos lugares da cidade é a materialização contraditória do
processo de globalização e de maximização da segregação
sócio-espacial.
Ainda um último aspecto a se
considerar são as receitas da Administração Municipal (vide tabela 6). Podemos
perceber que a cidade conseguiu manter, no período com as informações
disponíveis, uma receita tributária superior à cota-parte do FPM. Isso também
pode ser visto com relação ao total das receitas próprias e as transferências da
União e do Estado, o que configura em uma relação entre eles superior a 1,00.
Também podemos notar que o ICMS corresponde a uma média superior a 60%, o que
traduz uma participação considerável da comercialização de bens e serviços nas
transferências do Estado para a Administração Municipal de Juiz de
Fora.
Tabela 6 –
Receitas da Administração Municipal – 1998 a 2000
Receitas |
1998 |
1999 |
2000 |
Média |
IPTU |
22.704.292,00 |
22.760.290,83 |
25.011.701,56 |
23.492.094,80 |
ITBI |
4.057.807,00 |
4.655.274,23 |
4.809.826,70 |
4.507.635,98 |
ISS |
17.952.116,00 |
17.413.577,69 |
20.874.758,06 |
18.746.817,25 |
Taxas |
13.039.832,00 |
13.321.748,20 |
11.060.205,90 |
12.473.928,70 |
Outros
Tributos |
0,00 |
0,00 |
0,00 |
0,00 |
Receitas
Tributárias |
57.754.047,00 |
58.150.890,95 |
61.756.492,22 |
59.220.476,72 |
Receita
de Contribuições |
- |
0,00 |
7.734.981,96 |
3.867.490,98 |
Receitas
Patrimoniais |
804.232,00 |
2.660.879,32 |
4.236.021,86 |
2.567.044,39 |
Outras
Receitas Correntes |
15.960.905,00 |
10.766.924,31 |
24.446.247,37 |
17.058.025,56 |
Total
das Receitas Próprias (RP) |
74.519.184,00 |
71.578.694,58 |
98.173.743,41 |
81.423.874,00 |
Cota-parte do FPM |
- |
11.727.845,59 |
13.032.753,72 |
12.380.299,66 |
Transferências do
FUNDEF |
- |
3.836.999,20 |
4.336.818,68 |
4.086.908,94 |
Outras Transferências do
Governo Federal |
- |
62.379.475,24 |
59.451.438,89 |
60.915.457,07 |
Transferências
da União (TU) |
70.181.091,00 |
77.944.320,03 |
76.821.011,29 |
74.982.140,77 |
Cota-parte do ICMS |
- |
34.732.553,06 |
44.605.094,96 |
39.668.824,01 |
Cota-parte do IPVA |
- |
8.773.334,93 |
10.844.261,73 |
9.808.798,33 |
Transferências do
FUNDEF |
- |
8.921.928,00 |
11.088.246,78 |
10.005.087,39 |
Outras Transferências da
Administração Estadual |
- |
1.994.345,93 |
2.110.407,49 |
2.052.376,71 |
Transferências
dos Estados (TE) |
46.795.245,00 |
54.422.161,92 |
68.648.010,96 |
56.621.805,96 |
Outras
Transferências Correntes (OT) |
1.949.360,00 |
2.640.650,48 |
3.217.097,78 |
2.602.369,42 |
Total
das Transferências Correntes (TT) |
118.925.696,00 |
135.007.132,43 |
148.686.120,03 |
134.206.316,15 |
Total
das Receitas Correntes (RC) |
193.444.880,00 |
206.585.827,01 |
246.859.863,44 |
215.630.190,15 |
Operações de
Crédito |
60.507.639,00 |
360.591,15 |
7.102,60 |
20.291.777,58 |
Alienações de
Bens |
0,00 |
11.450,00 |
1.400.089,56 |
470.513,19 |
Transferências de
Capital |
1.708.088,00 |
818.959,72 |
12.037.539,16 |
4.854.862,29 |
Outras Receitas de
Capital |
623.738,00 |
305.332,40 |
5.522,87 |
311.531,09 |
Total
da Receita de Capital (RK) |
2.331.826,00 |
1.496.333,27 |
13.450.254,19 |
5.759.471,15 |
Total
das Receitas (TR) |
195.776.706,00 |
208.082.160,28 |
260.310.117,63 |
221.389.661,30 |
Relações |
Relação
entre o RP e TU |
1,06 |
0,92 |
1,28 |
1,09 |
Relação
RP e TE |
1,59 |
1,32 |
1,43 |
1,44 |
Relação
RP e TT |
0,63 |
0,53 |
0,66 |
0,61 |
Relação
ICMS e TE |
- |
0,64 |
0,65 |
0,64 |
Fonte: IBGE, 2004.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A princípio, poderíamos
dizer que Juiz de Fora já estaria fora do universo que determinamos, o qual
conteria as cidades médias. Entretanto, por se tratar de uma estimativa e de uma
diferença irrisória, consideremo-na como dentro de um limiar de transição a se
iniciar. Como podemos verificar de forma generalizada, a cidade apresenta todas
as características propostas para caracterização de uma cidade
média.
Sem dúvida que tal caracterização
irá traçar um conjunto de cidades concentradas mais na região concentrada do
Brasil (SANTOS et SILVEIRA, 2002), mais especificamente na região sudeste e no
estado de São Paulo. Mesmo assim, poderemos encontrar cidades com perfil próximo
em outras regiões brasileiras, sobretudo, no nordeste.
Isso, porém, não invalida este tipo
ideal aqui traçado. Talvez tal informação venha a corroborar com Santos (2005),
ao analisar a descentralização concentrada da urbanização, fruto de uma expansão
dos investimentos produtivos sobre o espaço geográfico próximo às metrópoles
nacionais, especialmente São Paulo.
Estas foram algumas contribuições
para o estudo das cidades médias, longe de serem conclusivas ou definidoras de
um conceito, pois não exaurimos (nem tínhamos pretensão) as opções de análise
referentes ao tema das cidades médias e sua caracterização. Esperamos que o
debate a ser realizado a partir deste trabalho possa ser enriquecedor e,
principalmente, venha salientar a importância e a necessidade de mais estudos
sobre estas cidades, atuais focos de tensões e interesses sócio-econômicos e
espaciais.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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ESTATÍSTICA. Perfil dos municípios
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Internacional Cidades Médias: Dinâmica Econômica e Produção do Espaço
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CHAVES, T. S. Assentamentos de submoradias, segregação sócio-espacial e
condições sócio-ambientais em Juiz de Fora, Minas Gerais – estudo de caso no
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2005. 1 CD-ROM.
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CHAVES, T.S. et GONÇALVES, O. de O. Assentamentos de submoradias, segregação
sócio-espacial e dinâmica social em Juiz de Fora, Minas Gerais – estudo de caso
no Alto Santo Antônio. In: I Simpósio
Internacional Cidades Médias. Anais do I Simpósio Internacional Cidades
Médias: Dinâmica Econômica e Produção do Espaço Urbano. Presidente
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OLIVEIRA, N. B. de;
LOURES, A. G. R. et CASTRO, L. F. S. de. Globalização, neoliberalismo, formas e
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SOARES, B. R. Repensando
as cidades médias brasileiras no contexto da globalização. Formação. Presidente Prudente, n. 6,
p. 55-63, 1999.
O total das receitas próprias são as
receitas que o próprio município arrecada, sem a dependência da União e dos
Estados, tais como: receitas tributárias (provenientes da competência do
município de tributar, conforme o disposto na Constituição, tais como: Imposto
sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU; Imposto sobre Transmissão
“Inter Vivos” – ITBI; Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS; taxas e
outros tributos), receita de contribuições (resultante das contribuições sociais
e econômicas, tais como: contribuição previdenciária, royalties pela produção de Petróleo ou
Gás Natural, entre outras), receitas patrimoniais (resultado financeiro
decorrente do patrimônio, seja de bens imobiliários – aluguéis, arrendamentos,
foros, laudêmios, etc.; ou mobiliários – juros sobre aplicações financeiras;
seja de participação societária – dividendos e bonificações) e outras receitas
correntes (receita agropecuária, receita industrial, receita de serviços,
indenizações e restituições, multas e juros de mora de receitas de origem
não-tributária, etc.) (IBGE, 2004).
“Problemas e
carências ampliados pela inserção das cidades médias no sistema produtivo
globalizado, traduzindo na geração, cada vez maior, de espaços intra-urbanos de
marginalidade aos moldes das grandes cidades e metrópoles nacionais. Com um
agravante ainda mais sério: a dependência que a maioria dessas aglomerações
passa a contrair do capital global que nelas instalam suas plantas produtivas,
ameaçadas constantemente pelo fechamento parcial ou completo dessas, a fim de se
garantir a manutenção ou a ampliação das vantagens locacionais e tributárias a
ele dado, pois, uma vez fechadas, o que fazer com toda infra-estrutura
constituída em favor das empresas e com a massa de desempregados que surgiria? É
uma indagação que muitos prefeitos não querem, nem por um instante, cogitar em
responder durante seus mandatos” (OLIVEIRA, 2006, p.
53).
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